Sangue

Capítulo 12 - Felipe Andrade Perez


Eram mais ou menos nove da manhã quando Felipe chegou à cidade. Era a primeira vez que visitava Alvinópolis, desde seu nascimento que sua família não mantinha relações com a cidade. Poucos dos Perez sabiam que Fip estava morando ali, e, apenas um deles, estava disposto a visitá-lo: ´´Bem, essa deve ser a casa do velho Francisco´´-pensou-´´E a julgar pelos desenhos na parede e pelas rosas no jardim, é a casa do Francis”. ´´Será que ele está em casa agora? O único jeito de saber é tocando a campainha.``. E era exatamente o que ele ia fazer se não tivesse sido interrompido por Flavius:

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—Quem é você? O que quer com o Fip?

Meio desconcertado e constrangido, Felipe interrompeu o caminho de seu dedo até a campainha, olhou para o garoto e, estranhando a situação, respondeu:

—Meu nome é Felipe, meu primo se mudou para essa casa a pouco e eu decidi fazer uma visita.

—Seu primo? Você é primo do Fip? É, vocês são muito parecidos mesmo.

—Fip? Você está falando do Francis? Err... Francisco Ivan Perez III?

—É sim, mas ele gosta que chame ele de Fip.

—Fip? Interessante. Você sabe se ele está em casa agora?

—Não sei. Eu ia fazer uma visita também, nós tivemos uma pequena briga ontem e eu vim me desculpar.

—Briga? Com o Francis? Hehehe, pelo visto ele não mudou nada mesmo!

—Por que você diz isso? Vocês costumavam brigar sempre?

—E quem não costuma brigar sempre com ele? Todo mundo sabe como ele é!

Flavius sorriu timidamente enquanto levava a mão até a nuca:

—Nossa, pensei que ele só fosse assim comigo.

—Não, ele é brigão com todo mundo. -sorriu- Há quanto tempo vocês se conhecem?

—Aaa, desde quando ele chegou, faz algumas semanas, sei lá.

—Entendo... como é mesmo seu nome? Desculpe, esqueci de perguntar.

—Flavius. Me chamo, Flavius.

—Prazer, Flavius. Você mora aqui faz muito tempo?

—Desde sempre, eu acho. Por que?

—Não sei, você não tem cara de ser daqui.

—Não?

—Não, você parece ser muito maior do que esse lugar.

Flavius abaixou a cabeça um pouco constrangido, sorriu, mordeu levemente os lábios e disse:

—Você se parece muito com o Fip... digo, fisicamente.

—Você acha?

—Acho, tirando a cor dos olhos e o corte de cabelo eu diria que vocês são praticamente iguais.

—E isso é bom ou ruim?

—Sei la... acho que é bom, não sei. Você não vai tocar a campainha?

—Agora não, deixa pra lá. Acho que perdi a coragem.

—Coragem? Ta aí uma coisa que eu não tenho. - sorriu.

—Nem eu. Gostaria de ter a metade da coragem que o Francis tem.

—Eu não. A coragem dele só serve para machucar as pessoas.

—Desculpa, mas sou obrigado a discordar, a coragem dele serve para localizar as pessoas. Ele só machuca porque nos faz ver a verdade que queremos esconder.

—Você não vai mesmo tocar essa campainha?

...

´´Estava dormindo com a Natasha quando a campainha tocou. Não consegui calcular quem poderia ser, levando em consideração a conversa tensa que tinha tido com o Michel e com o Flavius. Por isso dei uma espiadinha pela janela e quase capotei tamanho foi meu susto. Era o Felipe, meu primo, filho do irmão mais velho do meu pai. A gente tinha tido um caso há três anos atrás, mas nossos parentes descobriram e mandaram ele para outra cidade. Foi quando eu comecei a me relacionar com meu tio, não o pai dele, mas outro, o irmão mais novo do meu pai... Não “me relacionar” nesse sentido que você está pensando. Não foi nada sexual, embora todos achassem que sim... o mesmo que me deixou toda essa herança. Eu ainda não entendi por que a casa do meu avô estava no nome do meu tio... mas acho que isso não é assunto pra mim.

Nossa jamais esperaria que ele viesse me ver. Faz dois anos que não nos vemos! E o que o Flavius está fazendo com ele? Como ele sabe que eu estou aqui? O jeito é abrir a porta.``

E foi o que Fip fez: abriu a porta.

...

´´Ele parecia interessante, esse tal de Felipe. Era bonito como o Fip e estava longe de ser tão prepotente. Eu tinha vindo me desculpar, mas não sabia se realmente o faria, mas, de repente, ao conhecer esse primo cuja existência eu ignorava, pensei duas vezes no caso. Encarei essa visita como uma possibilidade de conhecer mais o Fip, saber mais sobre sua vida e tal. Ele era brigão com todo mundo. Até que foi divertido ouvir isso. Era estranho ouvir outra pessoa falando no Fip. Era estranho saber que chamam ele de Francis. Francis soava tão formal, tão frio, tão distante do Fip. Não consigo imaginar as pessoas chamando ele assim. De repente eu senti uma familiaridade inesperada por ele, senti vontade de abraça-lo e lhe dizer coisas bonitas. Aquele primo não parecia saber compreendê-lo como eu sabia... o que será que ele queria com ele? O Fip não deve gostar dele nem um pouquinho, pensando bem, ele parece ser meio sem graça, não parece o tipo de pessoa que atrairia o Fip. Sei lá, meio apático demais. Esse sorrisinho falso dele não convence, essas roupas são muito formais e ele parece ser uma pessoa que cansa de ficar perto por muito tempo.

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O Fip abriu a porta, me cumprimentou antes de cumprimentar o primo dele, não que isso fizesse diferença, mas tenho certeza que ele sorriu mais para mim. Ele não pareceu estar chateado com o que aconteceu ontem. O tal de Felipe olha para ele de um jeito estranho, como se esperasse que o Fip pulasse nos braços dele e chorasse, que patético:

—O que você ta fazendo aqui? - o Fip perguntou para o primo dele com certa frieza na voz.

—Precisamos conversar. - o Felipe respondeu.

—Então entra .- respondeu - Você veio sozinho? Tem onde ficar?

—Sim, eu vim sozinho, mas não pretendo passar a noite aqui.

—Pretende sim. Agora entra.

O menino entrou, depois disso Fip se virou para mim e disse:

—E você? O que veio fazer aqui?

—E.... eu... queria... fa... pe... pedir...

—Desculpas?

—... é ...

—Tudo bem, desculpas aceitas.

Fechou a porta e me deixou ali plantado de fora. Pensei em bater na porta de novo, mas depois me senti muito humilhado e fui embora. Idiota, tenho certeza que, se esse tal de Felipe não tivesse chegado, ele não teria me tratado assim, panaca.

...

´´Ele entrou com a mesma cara de tapado que sempre teve. Olhando para tudo como se dissesse: ´Nossa, como isso se parece com meu primo`. Parecia meio retardado olhando para os quadros e para o teto como se tudo fosse novidade, mas admito que esse jeito de menino sonso me atraía nele. Ele em si não me atraía, mas seu jeito sonso sim. Não sabia exatamente o que sentir em relação a presença dele por aqui. Fui pego de surpresa, por isso os sentimentos estavam mesclados. Era uma certa mistura de nostalgia com ´o que será da vida agora?´. Felipe era um assunto superado, mas, com certeza, ele era uma interferência que eu não queria agora. Por que veio atrás de mim? Como ele me achou aqui? Natasha estava no quarto no andar de cima, Flavius devia ter voltado para casa, eu não queria ter batido com a porta na cara dele mas, de certa forma, não poderia ter agido diferente:

—O que exatamente nós precisamos conversar? - eu perguntei.

—Faz muito tempo, não é? Senti sua falta.

—Você atravessou metade do país pra me dizer isso? Podia ter mandado um e-mail, ou uma carta, não acha?

Ele ficou sem jeito, acho que não conseguiu pensar em nada pra me responder, por isso decidi continuar falando antes que ele soltasse alguma idiotice pela boca:

—Ou então isso não era a única coisa que você tinha pra me dizer. Desembucha, vai direto ao assunto!

—Você não mudou nada, Francis. Nada mesmo.

—Suponho que isso não seja ir direto ao assunto...

—Por que você é sempre tão grosso?

—Então? O que você precisa conversar comigo?

—Ta bom, eu vou direto ao assunto.

—Se você tivesse feito isso na hora em que eu te pedi nós já estaríamos terminando a conversa.

Ele olhou pra mim com cara de raiva. Eu tinha me esquecido o quanto adorava irrita-lo. Então ele respondeu:

—Eu to encrencado, Francis, eu preciso de você.

Havia verdade nos olhos dele, havia desespero de verdade. Por isso eu decidi levar aquela conversa a sério:

—O que ta acontecendo?

—Seu pai. Ele está atrás de mim...

Eu tentei, com todas as minhas forças, disfarçar o que realmente estava sentindo. Falar no meu pai, ou ao menos me lembrar que ele existia, definitivamente, não estava nos meus planos. Tentei falar da forma mais fria possível:

—E onde eu entro nessa história?

—Ele quer me matar, Francis. Eu preciso de você!

—Ah, ele quer matar você também? Bem vindo ao time. - disse com desprezo.

—Eu to falando sério, Francis... ele...

—E O QUE TE FAZ PENSAR QUE EU NÃO ESTOU FALANDO SÉRIO, LIPE?! O QUE TE FAZ PENSAR QUE EU POSSO TE AJUDAR?!

—E VOCÊ QUERIA QUE EU RECORRESSE A QUEM???? QUEM MAIS VOCÊ ACHA QUE ME AJUDARIA???

—OLHA PRA MIM, LIPE! OLHA ONDE EU ESTOU MORANDO! EU VIM PRA CÁ PRA FUGIR DELE TAMBÉM! VOCÊ ACHA QUE EU GOSTO DESSE LUGAR?

—Então por que não lidamos com isso juntos?

—Por que? Por que ele quer te matar?

—Porque... eu sei onde está minha tia.... e me recusei a dizer para ele...

—Que tia?

—...a tia Bianca...

—Você sabe onde está a minha mãe????

...