Inesperado

Um passo pra frente


A sala de espera estava cheia, Hinata reconheceu Sasuke, do grupo de apoio, sentado numa poltrona no canto mais afastado possível. O rapaz enrolava e desenrolava as mangas de um moletom azul marinho, como se lhe desse prazer o fato de uma das mães, ali presente, tapar os olhos todas vez que os cortes - alguns cicatrizados outros com curativos - ficavam à mostra.

“Pare com isso, irmãozinho tolo.” um homem alto pediu ao se aproximar dele.

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“Você não é meu pai Itachi e eu já sou maior de idade.” o Uchiha respondeu.

“Não, mas…” o mais velho deixou a frase morrer para tocar a testa do caçula, um gesto que Hinata julgou ter algum significado íntimo, pois o garoto sorriu minimamente — apesar de ter revirado os olhos, o que fez a mulher ao lado dos dois homens sorrir abertamente.

“Senhora Hyuuga, é a sua vez, me siga, por favor." a voz de Shizune, secretária de Kakashi, a tirou do transe causado pelas atitudes de Sasuke.

Hinata se levantou e, colocando a bolsa no ombro, seguiu sua guia pelo amplo corredor, que estavam repletos de fotos de cães, retratos tirados por Ino Yamanaka, uma famosa fotógrafa e esposa de um dos professores de artes da escola onde a herdeira Hyuuga lecionava.

Shizune abriu a porta e pediu que hinata aguardasse um pouco, pois o dr. Hatake já a atenderia, antes de sair batendo a porta atrás de si.

Aquela era a primeira vez que Hinata ficava sozinha por alguns instantes esperando o médico chegar para atendê-la, mas ela não estava reclamando; quer dizer, ela não havia reparado antes como a sala era bem iluminada e também ornada com retratos de cães, apesar desses parecerem bem mais íntimos que os do corredor. Num deles, Hinata podia ver Kakashi deitado na grama com um Pug sobre sua barriga, no outro, um pug e um par de Huskies siberianos puxando um brinquedo de corda - cada um em uma ponta - e no último havia uma mulher com os cabelos trançados e olhar selvagem sentada entre as pernas de Kakashi, provavelmente em algum parque, ladeada por dois Huskies siberianos, sorrindo, assim como ele também sorria.

“Desculpe a demora, senhora Hyuuga.” o dr. Hataque pediu entrando na sala, antes de fechar a porta atrás de si e senta-se na cadeira do lado oposto da mesa, onde a paciente estava acomodada.

“Seus cães e sua esposa são muito bonitos.” Hinata disse quando notou que o médico voltará a atenção novamente para si, depois de ter ligado o gravador.

"Bem, parece que você finalmente reparou na decoração da sala, isso é um grande avanço. Eu marquei esta consulta contigo, pois já fazem dois meses desde que você começou a ir no grupo. Quero saber sua opinião sobre tais reuniões." o médico disse. "E obrigado."

"As reuniões têm me ajudado bastante, obrigada." Hinata agradeceu. "Já faz duas semanas que eu tenho conversado com Hanabi sobre voltar à trabalhar, gostaria de saber a sua opinião. Eu ganhei peso e tenho comido melhor, além disso é doloroso ficar o tempo todo naquele apartamento, tudo me lembra demais o Neji." ela falou com a apreensão nítida na voz, pois a opinião dele seria determinante para sua volta à sala de aula.

"É bom que você queria voltar à trabalhar, senhora Hyuuga. Interagir com outras pessoas em um ambiente que já lhe é familiar com certeza ajudará no processo de renormalização da sua vida." Kakashi disse escrevendo alguma coisa no bloco de notas à sua frente."Leve esse atestado de liberação para o seu trabalho, estou te autorizando a voltar ao trabalho em estado de observação. Qualquer coisa, me ligue." ele disse antes de estender o papel para ela.

"Muito obrigada, dr. Hatake."Hinata agradeceu, antes de se despedir e sair.

(...)

Num feriado qualquer, que era a única época que Hinata se lembrava de ver as ruas e avenidas da cidade de São Paulo mais vazias, o trajeto entre a avenida Paulista, onde o consultório de Kakashi se localizava, e o bairro da Liberdade, onde ela morava e trabalhava, feito de bicicleta levaria cerca de quatorze minutos, tempo impossível numa segunda-feira de manhã.

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Hinata gostava de pedalar, considerava um bom exercício e apreciava a passagem, mesmo que fosse a de uma selva de concreto.

O trânsito pesado do horário de almoço não a intimidava, como filha mais velha de Hiashi Hyuuga e uma das herdeiras de uma das maiores empresas alimentícias do mundo, a Nissin, a jovem morou em vários países, incluindo Japão e China, portanto, andar de bicicleta em vias movimentadas não era novidade alguma. Colocando os itens de segurança, Hinata começou a pedalar rumo à escola. Konoha School era uma escola trilíngue, com aulas ministradas em japonês, inglês e português, e essa unidade na capital Paulista era a primeira da renomada escola fora do Japão.

O trajeto foi realizado em pouco mais trinta minutos, e Hinata parou a bicicleta na frente da escola a tempo de ver um grupo de crianças, lideradas por Deidara Yamanaka e Sai, seu cunhado, enfileiradas para subir no ônibus, provavelmente para irem ao MASP, já que ambos davam aula de Arte.

"Hyuuga-san, por favor, diz que você pode ir nessa excursão com a gente." Deidara disse assim que ela passou por eles.

"Eu preciso conversar com Sarutobi-sama para ver quando eu posso voltar ao trabalho, Yamanaka-san." ela disse.

"O ônibus sairá em meia hora, vou ficar torcendo aqui." ele disse antes dela se afastar.

Hinata encarou um pouco o prédio antes de entrar, pois não importava quantas vezes antes ela já tinha visto o prédio, que lembrava templos budistas, sempre ficava impressionada.

Era horário de aula, portanto o pátio estava vazio, então, Hinata automaticamente seguiu para a sala de Kurenai e bateu na porta, já que a secretária dela fez um sinal de positivo, indicando que a diretora estava desocupada.

"Entre." com a autorização recebida, a professora abriu a porta e entrou, antes de fechá-la atrás.

Assim que a viu, Kurenai levantou de sua cadeira e caminhou até a garota abraçando-a em seguida.

"É tão bom vê-la, querida." a mulher disse ao se afastar um pouco para examiná-la de cima a baixo.

"É bom vê-la também, Sarutobi-sensei." Hinata disse sorrindo.

"Já disse que pode me chamar de Kurenai." a diretora lembrou-lhe.

"Certo, Kurenai-sensei." a garota concordou, vendo a mais velha revirar os olhos, mas apesar de ser sua madrinha, Hinata não conseguia tratá-la informalmente no trabalho.

Ambas sentaram ao redor da mesa e a Hyuuga tirou o atestado da bolsa e colocou-o sobre o tampo de vidro.

"Eu quero voltar ao trabalho. Já vinha comentando com minha irmã há semanas, porque ficar naquele apartamento não vai tornar a perda de Neji mais fácil, tudo lá me lembra ele. Conversei com o dr. Hatake e ele me deu seu aval, apesar de ser em caráter de observação." a moça disse.

" Isso é ótimo Hinata. Você sabe que sabe que todas as minhas portas estão abertas pra você, à qualquer momento, certo? " a Sarutobi perguntou.

"Sim." Hinata concordou, dando-lhe um sorriso, mas não queria fazer sua madrinha reviver a dor que ela sabia — agora por sentir na própria pele —, que a mulher mais velha sentiu quando Asuma morreu oito anos atrás.

"Shion está prestes à entrar em licença maternidade, daqui duas semanas, você acha é tempo o suficiente para você se organizar e voltar?" Kurenai perguntou delicadamente.

Foi impossível para a Hyuuga não sentir um leve aperto no coração, pois a recordação de que não teria isso com Neji, entretanto suprimiu a sensação antes de dizer:

"Na verdade, encontrei os Yamanaka, e Deidara me pediu para ir com ele na excursão, gostaria de ir, não quero ir pra casa agora, por favor." pediu ela. "E diga à Shion que assumirei a turma dela com muito prazer."

"Se você tem certeza disso, pode ir."A Sarutobi autorizou, sorrindo.

Hinata vestiu um uniforme do corpo docente sobressalente, que pegou emprestado no armário de Shion e correu para o ônibus.

A maioria dos alunos da Konoha School era japoneses, filhos de homens e mulheres de negócios, ou seja CEOs de grandes empresas asiáticas com sede no Brasil, isso também incluía cônsules e diplomatas e toda a gama de trabalhadores do corpo diplomáticos. Mas também havia alunos filhos de ricos brasileiros, o que incluía empresários e celebridades — em outras palavras crianças e adolescentes sem uma criação como a japonesa, por exemplo —, o que tornava tais discentes menos disciplinados e respeitosos com professores, pelo simples fato de se considerarem importantes e terem dinheiro. E Deidara raramente tinha muita paciência com esse tipo de comportamento, por isso, o loiro deu graças à Kami-sama quando viu Hinata entrar no busão.

"Bem-vinda, Hinata-sensei!" as crianças disseram ao vê-la.

"Arigato!" a professora disse antes de se sentar para que Sai começasse a contagem do alunado.

O silêncio, entretanto, não perdurou, uma vez que Sai tinha acabado a chamada e sentou-se, as crianças começaram o falatório, que era alto, sem sentido e necessário na opinião de Deidara.

Hinata ficou de pé e se apoiou nas barras de ferro laterais, encarando os alunos, ela começou a cantar:

"Habataitara modorenai to itte

mezashita no wa aoi aoi ano sora."

"kanashimi wa mada oboerarezu

setsunasa wa ima tsukami hajimeta." a criançada continuou a cantar. Recomeçando a música sempre que ela acabava no decorrer do caminho até o museu.

(...)

“Por que tem fotografias aqui no MASP, Sai-sensei?’’ Alicia perguntou, fazendo Deidara revirar os olhos e Hinata segurar o riso causado pela careta do loiro.

“Bem, pra começar fotografia é uma forma de arte.” o professor requisitado pontuou. “E essas fotos,, em específico, são de Cássio Campos Vasconcellos, um fotógrafo nascido aqui mesmo, na cidade de São Paulo em 1965 e eu proponho que façamos nossa própria releitura da coleção intitulada ‘Noturnos’ desse fotógrafo, ou seja, vocês terão duas semanas para fotografar seus lugares favoritos aqui na capital, mandar revelar e nos entregar.” o professor explicou à turma, que se mostrou bastante animada com a ideia.

O restante do passeio passou como um borrão para Hinata, que só deu conta que eles saíram do museu quando entraram num shopping na avenida Paulista.

Guiar vinte e seis crianças ali dentro, até a praça de alimentação mostrou-se mais difícil do que a docente esperava, já que elas paravam para olhar praticamente todas as vitrinas, especialmente as das lojas de brinquedos e jogos.

A fim de facilitar a organização, a Hyuuga sugeriu que todos os alunos dissessem onde gostariam de comer e, por sorte, todos responderam McDonald's ou Burger King, então, Hinata pegou o dinheiro dos alunos e anotou os lanches que cada um queria, bem como o que ela e seus colegas de profissão queriam também.

Deidara mais que depressa se ofereceu para ir ao McDonald's, enquanto ela ia ao BK e Sai ficava na mesa com as crianças.

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"Hinata-chan, você não vai voltar com a gente?" Sai perguntou depois de todos terem se alimentado.

"Não, vou ficar e ver um filme qualquer." ela respondeu simplesmente, sem entrar no detalhe de que não estava pronta para encarar o apartamento vazio, ainda, antes de ambos se despediram e cada um seguir um caminho diferente.

Hinata assistiu Frozen dois, na sessão das cinco horas da tarde, e chorou quando Kristoff pediu Anna quase no final do filme. Saiu de lá com o coração aquecido e faminta, mas não queria ir pra casa e precisava conversar, então, vasculhando a bolsa, encontrou o cartão que Minato tinha lhe dado dois meses atrás e ligou pra ele, que atendeu dizendo:

“Pronto, Minato Namikaze falando.”

“Alô, Namizake-sama, aqui é Hinata Hyuuga do grupo de apoio, o senhor me deu seu cartão e disse que eu poderia ligar, caso eu precisasse conversar, e eu preciso. Poderia me encontrar agora no Outback Shopping Cidade São Paulo, na avenida Paulista?” ela disse de um fôlego só pra não perder a coragem.

“Claro, chego aí em dez minutos, acabei de atender um cliente no Japão, por videoconferência e meu escritório não é longe desse shopping.” ele disse antes de desligar.

(...)

“Boa noite, senhor, mesa para quantas pessoas pessoas?” a recepcionista perguntou assim que viu o homem entrar.

Ele varreu o ambiente com o olhar, até encontrar Hinata sentada numa mesa perto da janela.

“Tenho uma amiga me esperando, ela está naquela mesa.” o Namikaze disse apontando a direção com um movimento de cabeça, o que foi o suficiente para ser levado até lá.

Hinata notou que assim que seu acompanhante entrou várias cabeças femininas voltaram-se na direção dele. O que não lhe surpreendia já que o homem era realmente muito bonito, pelo menos era o que a Hyuuga pensava ser a opinião feminina de forma geral.

“Domo arigatou gozaimasu por ter vindo, Namikaze-sama.” a jovem agradeceu ao se levantar e fazer uma reverência para o recém-chegado.

“Dōitashimashite, Hyuuga-san.” ele agradeceu ao retribuir a reverência antes de se sentarem, quando a atendente já havia se afastado. “Pode me chamar de Minato.” ele disse.

“Certo, Minato-sama.” ela concordou.

“Não, apenas Minato.” ele a corrigiu com um sorriso.

“Tá bem.’’ murmurou constrangida, pouco antes de um garçom se aproximar com uma porção de Bloomin’ Onion e duas latas de Coca-Cola. “Tomei a liberdade de pedir, espero que não se incomode.

“Muito pelo contrário, estou faminto”. Minato disse antes de pegar uma fatia de cebola frita, mergulhá-la no molho e levá-la à boca, Hinata fez o mesmo antes de ouví-lo dizer, ainda de boca cheia,, que ele era todo ouvidos.

“Hoje de manhã fui ver o dr. Hatake, disse-lhe que quero voltar ao trabalho, sou professora de educação infantil.” ela disse apontando para a blusa do uniforme. “Ele permitiu, mesmo que eu em período probatório. Então, fui à Konoha School, depois da consulta. Já no portão, encontrei os professores de artes, um deles me pediu para que eu fosse com eles à exceção, conversei com minha diretora, que aceitou, e depois do passeio ao MASP e uma visita, com os alunos à praça de alimentação mais cedo, decidi ficar e ver um filme. Não quero voltar pra casa, como você fez pra voltar pra casa, após seu primeiro dia de trabalho após a morte de sua esposa?" perguntou, esquecendo-se das boas maneiras que Hiashi lhe dera.

"Meu filho foi me buscar no trabalho, nessa época ele ainda tava na faculdade. Ao chegar em casa, fizemos um altar em memória de Kushina e, desde então, converso com ela toda noite, contando-lhe como foi o meu dia. Isso me ajudou muito nos primeiros meses e ao Naruto, meu filho, também." ele respondeu prontamente.

"Acho que vou tentar, muito obrigada." Hinata agradeceu. "Você pode me falar um pouco sobre você e perdoar minha falta de educação por não ter perguntado antes?" pediu envergonhada.

"Não tenho nada a desculpar." ele garantiu. "Bem, meu nome é Minato Namikaze e sou viúvo de Kushina Uzumaki há quase dois, mas isso você já sabe."Minato pontuou." Sou advogado e pai Naruto, que é filho único de 22 anos. Tenho 42 anos."

Hinata sabia que o encarava boquiaberta, mas era incapaz de mudar sua expressão fácil naquele momento, pois parecia-lhe impossível que o loiro à sua frente tivesse quarenta e dois anos de idade e um filho de sua idade.

O resto da refeição foi feita em silêncio e ele levou-a em casa, pois moravam próximos e, ao chegar em casa, Hinata chegou à conclusão — depois de duas horas de tentativas frustradas — que precisaria da ajuda de Hanabi para fazer o memorial dedicado à Neji, mas isso ficaria para amanhã.