II - Do Sonho Ao Pesadelo

A gratidão por aquele garoto que havia ajudado sua irmã, mesmo correndo o risco de ser descoberto por sua família, fez com que Rodrigo procurasse Henrique, um menino com a mesma idade que a sua (3 anos a mais que Milena) para conversarem e ser amigos.

Apesar de todas as restrições impostas pelo pai, ele ainda era mais livre que a irmã mais nova, agora uma linda jovem que encantava a todos com sua beleza e carisma; com sua pele branca como a neve, seus grandes olhos castanho-esverdeados e o liso e brilhante cabelo castanho.

Henrique, por sua vez, foi criado livremente pelo pai, já como uma estratégia política para o garoto que representaria o grupo da Esquerda algum dia e que deveria, portanto, estar sempre próximo ao povo. Cresceu um lindo rapaz relativamente alto e forte, de pele um pouco bronzeada, cabelos pretos e levemente ondulados um pouco acima dos ombros, e dono de lindos olhos cor de mel um pouco puxados.

Mirela havia mantido, mesmo que às escondidas, o contato com Henrique. Um lindo amor nasceu e cresceu no mesmo tempo e medida que a amizade de Rodrigo e o jovem Monte Azul. Seu pai, porém, não podia saber de nada, ou tudo estaria arruinado por culpa da guerra política que amaldiçoava suas famílias há tantas gerações.

...

Milena e Henrique se encontravam todos os dias na estufa ao lado das ruínas de uma cabana abandonada que ficava no alto de um pequeno morro. Rodrigo era confidente e vigia, responsável por avisar os apaixonados sobre qualquer aproximação de jagunços ou empregados que poderiam colocar o segredo em risco.

— Você não vai me alcançar!_ Gritou Milena para Henrique, os cabelos voando conforme ela corria morro acima e o vento soprava em seu rosto.

— Tenha certeza que vou. Só estou te deixando correr na frente como bom cavalheiro que sou._ Ele gritou, ofegante, alguns metros abaixo.

— E eu vou apenas fingir que acredito como boa dama que sou._ Ela sorriu.

Foi então que Henrique acelerou a corrida e, assim que chegaram ao alto do morro, ele alcançou a namorada e a abraçou, jogando-os no chão.

— Acho que te alcancei._ Ele sorriu e a beijou.

— Não vale!_ ela protestou_ Eu tô de saia.

— Ninguém mandou vir de saia. Aceite que perdeu!

— Tá bom! Admito que você foi realmente muito rápido e me surpreendeu. Impressionante. Agora me deixa levantar porque a minha roupa vai ficar toda suja.

— Não quero te soltar._ Ele a beijou mais um pouco.

Foi então que o romance foi interrompido por Rodrigo, que chegou correndo ofegante à base do monte.

— Milena!_ Ele gritou.

Ela se levantou e, ao perceberem que se tratava de um assunto sério, os dois correram até Rodrigo.

— O que foi?_ Ela perguntou quando chegava perto do irmão.

— Papai mandou te buscar. Tenho uma péssima notícia.

— Que seria..._ Ela perguntou, assustada.

— Venha ver.

— É alguma coisa com a mamãe?

— Não. Só vem, por favor.

— Amanhã eu volto pra te ver, meu amor._ Milena beijou Henrique.

— Vou estar aqui te esperando, como sempre.

Os irmãos Castelo correram até a casa principal.

...

— Pode me falar do que se trata agora?_ Milena perguntou preocupada para o irmão, enquanto caminhavam para o jardim de frente para a casa.

— Não, não posso, porque o papai me proibiu. E se eu não chegar com você em casa, sabe que vou sofrer as consequências. Só te desejo sorte.

— Mas pra que eu preciso de sor..._ A garota parou sua pergunta ao abrir a porta e ver um garoto sardento, alto, de cabelos pretos e curtos, com uma fina barba cuidadosamente alinhada e um pouco mais gordinho que Henrique, apesar de igualmente bonito.

"Não deve ser muito mais velho que eu", ela pensou. "Mas o que tá fazendo aqui? E quem é aquele homem com cara de mau ao lado dele?"

— Milena, o Roger veio te conhecer.

Roger. Agora tudo fazia sentido. Alguns dias antes ela havia escutado seu pai a elogiando para alguém no telefone e falando do tal Roger. Não era possível que ele teria sido capaz disso... Não. Roger não podia estar lá para conhecer a futura esposa...