Outono

Introdução


- Você lembra quando resolvi me calar de vez? - as ondas à quebra mar soavam em estrondo, como relâmpagos durante tempestades. - E eu te disse que havia me calado porque minhas palavras faziam pessoas irem embora. Aprendi com o silêncio de um ex-namorado: o silêncio é confortável e amigo. Você estranhou, e o estranhamento fez com que eu voltasse a falar. E temesse o silêncio.

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O corpo pequeno sentado a mureta observava o pôr-do-sol tão belo da baía. O sol alaranjado pintava a pele alva em tom de pêssego reconfortante, quase que amigo demais para ser real. Aquecia o coração, e desviava o ar de melancolia que cercava a bela mulher vestida de forma destoante ao cenário. As roupas sociais e o salto alto, de quem aparentava ter acabado de fugir de uma reunião de negócios, fazia contraste completo as pessoas que bebiam à beira mar.

- Você ainda me ama, Eric? - o tom de voz feminino soou arrastado ao mesmo tempo que o céu era pintado de cinza, e a tempestade que antes parecia ser imitada pelo mar, naquele momento era invocada pela fúria dos deuses das tempestades de tantas mitologias diferentes. - Às vezes me pergunto o porquê de ainda doer toda vez que tenho que te guardar no baú das minhas recordações… - o ar que escapava por entre os lábios femininos era um tanto quanto sôfrego, quase como se aquela dor pudesse se materializar em sua frente.

E ela não só pôde como aconteceu, logo a figura alta deixava as costas agora virada aos boêmios que se embriagavam em um bar qualquer, de frente para a mureta. O sorriso nos lábios do homem era de carinho, de alguma forma era ali que ele tentava arrancar a dor dela. Os dígitos brutos, com ela tão carinhosos, roçavam pela base do vestido negro que a mulher usava, e o corpo esguio curvava-se para que um beijo fosse depositado no topo da cabeça, perdido por entre os fios negros tão cheirosos.