O Quartel General dos Aurores estava uma confusão infernal. Sirius sentiu-se sufocado de estar ali, mesmo que um dia tivesse sido seu maior sonho se tornar um auror. Era como se alguém tivesse lhe deixado em uma sauna, quente e barulhenta. O sangue ainda grudado em sua pele, misturava-se com o seu próprio suor e o deixava cada vez mais enjoado.

Permanecia sentado em uma cadeira em um corredor apertado que levava para sala de Alastor Moody. Era como assistir uma loucura sem fim, de idas e vindas, vozes altas, lamentos e euforia. Havia uma atmosfera contrastante de felicidade pelo fim de Voldemort e de um luto pesado pelas perdas irreparáveis. Enlouquecedor, ele diria.

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Calado. Sirius permaneceu em um silêncio perturbador, que nem mesmo conhecidos foram capazes de fazê-lo falar. Ele não sentia a mínima vontade de vibrar por um fim de guerra que havia lhe tirado tantas coisas.

Foram necessárias doze horas para alguém finalmente conseguir fazê-lo ter alguma reação. Doze horas calado, sem pronunciar uma mínima palavra. Não havia lágrimas, gritos, respostas ou defesa de si próprio, uma vez que ainda estava indefinido o que havia acontecido naquele bairro trouxa.

Doze horas, até o levarem para uma sala ainda mais apertada, posto ao lado de Peter, que agora estava acordado e o mirava com o mais puro terror. Doze horas não foram suficientes para seus sentimentos serem postos em ordem, pois no instante em que Pettigrew gaguejou em uma acusação ridícula em que ele era o traidor de James e Lily, ele simplesmente não foi capaz de controlar sua magia e foi necessário ser imobilizado por lançar Peter longe sem nem ter em mãos sua varinha.

Durou cerca de quatro horas um interrogatório ridículo, até finalmente Pettigrew relevar a verdade, alegando que estava sob efeito de uma imperdoável. O dispensaram quase que imediatamente, após isso.

Ao se ver caminhando sem rumo, Sirius, sentiu o peso do mundo despencar mais uma vez em seus ombros. James estava morto e ele não tinha para onde ir. James havia partido e ele simplesmente não suportava aquele fato.

A chuva ainda caía, quando ele aparatou em frente da sede da Ordem. Esperava que ninguém estivesse lá e de fato, não encontrara ninguém, até ao banheiro com banheira que ele sabia que existia na casa que Albus Dumbledore havia arrumado para ser a sede.

(...)

Sirius esperou a falta de ar ser insuportável para emergir mais uma vez. Pela primeira vez em anos, sentiu aquela vontade de sumir e simplesmente não precisar lhe dar com todos os problemas ao seu redor. A diferença é que quando se sentia assim durante as férias com sua família, ele sabia que ao retornar para Hogwarts, James estaria pronto para o salvar daquele vazio insuportável. A diferença é que naquele momento, ele não tinha para quem correr.

Mergulho outra vez. Talvez, conseguisse suportar o ardor de suas vias respiratórias clamando por oxigênio e apagasse antes de ser forçado a emergir novamente. Era óbvio que isso não ocorreria, pois as mãos buscavam sem ele ordenar a borda da banheira e o corpo subia em busca desesperada pelo ar.

Ofegante pelas diversas tentativas de simplesmente afogar-se, Sirius, esfregou os braços para tirar todo o sangue seco dos trouxas. A pele clara ficou avermelhada devido a força exagerada que fizera, mas ele não se importara. Qualquer dor física seria insignificante diante do sentimento de fracasso por não ter conseguido manter James salvo.

Ao secar-se e colocar novamente a roupa que estava anteriormente, suja de sangue e fuligem, Sirius finalmente ajoelhou-se diante do vaso e vomitou. Vomitou até sentir-se fraco e não ter nada mais o que sair de dentro de si.

Sentou-se ao lado do vaso, encolhendo os joelhos em direção ao peito, abraçando as pernas e mantendo-se naquela posição por alguns minutos. E finalmente, chorou. Chorou como uma criança. As lágrimas deslizaram por sua face de um modo descontrolado, misturado com sussurros e soluços indecifrável até mesmo para si.

Permaneceu ali, até as lágrimas não mais escorrerem e o corpo finalmente ceder ao cansaço. Levantou-se, saiu da sede da Ordem ainda vazia e aparatou para um ponto próximo a um bairro trouxa de Londres.

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