2005 - Bar Ciclus, Quadrante Keycode

20 dias para a véspera de Natal

— Pago uma bebida para todo mundo!

Jean gritou enquanto dançava em cima do balcão, havia comprado uma jukebox de um viajante terráqueo e insistido para o Circe colocá-lo em seu bar. Poucos dançavam junto a ele o rock dos anos 80, outros estranharam a música e apenas gritavam porque iam ter uma bebida de graça. Circe tirou Jean de seu balcão com um de seus tentáculos, o colocando sentado no banco à sua frente enquanto seus outros tentáculos preparavam das mais diferentes bebidas para os clientes.

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— Deixa eu me divertir, ma chérie — Jean caiu da cadeira, deu de cara no chão e seu rosto se contorceu em nojo ao sentir que caiu na gosma de Shumway, Circe riu e o levantou.

— Eu deixo quando você pagar as bebidas dos 200 clientes que tem aqui. — Jean bufou e pegou sua carteira, folheando o dinheiro roxo e verde.

— E no que vai me cobrar hoje? Dinheiro de Júpiter, moeda keynesiana, dinheiro maltês-binário, dólar…?

— Da onde é o dólar?

— Da Terra, lembra que eu fiz uma visita?

— E nessas suas “visitas” tem faturado bastante dinheiro, hein? Isso aqui paga todas as bebidas — pegou as duas notas de maltes-binário, as que tinham maior valor tributário entre todas as outras, e as guardou em seu cabelo flutuante.

— Ei! Não pode sair pegando minhas coisas assim! — Circe acariciou o rosto de Jean com um de seus tentáculos que estavam desocupados. Jean estremeceu. — Você tem duas mãos iguais a minha, porque insiste em me acariciar com os tentáculos?

— Porque vocês humanos têm gostos estranhos.

— Argh! — Ficou vermelho — Eu já disse que aquele mangá não era meu, era do meu amigo e eu estava curioso, sabe quanto tempo faz que eu deixei a Terra?

— “Amigo”, sei.

— Colorido, claro. Mas mesmo assim!

— Se é do seu amigo, você já pensou que ele deveria estar querendo uma amiga sua que tenha tentáculos?

— Não é assim que acontecia no mangá… — sussurrou.

— Ah! Então, você leu aquela esquisitice? — Jean estremeceu e escondeu seu rosto nos braços que estavam apoiados no balcão, Circe riu. — O chefe mandou um novo trabalho para você. — Entregou o papiro velho e surrado — Disse que vale o dobro do que você e que se…

— Eu não conseguir ele me vende de volta pro meus sequestradores, já entendi já. Ele salvou minha vida e blá blá blá, um fils de pute. — Bebeu sua última bebida do dia, olhou para uma alienígena de pele azul escura, cabelos escuros e crespos e quatro olhos sem pupila. Ela também tinha quatro braços e usava um maiô preto, tinha tatuagens de tinta branca com símbolos que ele entenderia no final daquele dia. Jean abaixou seus óculos e piscou, os quatros olhos desviaram de si e a pele azul foi ficando um pouco arroxeada na região das bochechas. — Tímidas… Bom é isso, vou me divertir com ela — recebeu um olhar de reprovação de Circe — e ser totalmente sincero… — Circe acenou em aprovação — Ou quase. Que foi? Você sabe, sou um caçador e se ela roubar meu prêmio?

— Só porque seu ex fez isso, não quer dizer que ela vai fazer. — Jean saiu antes de Circe terminar, chamando a azulada para conversar dentro de sua nave e ignorando o conselho do polvo humanoide.

Jean acordou sobressaltado no dia seguinte com uma puta dor de cabeça, olhou para a janela e viu o Bar Circus fechado e concluiu que era dia. Irritado com o barulho que o fez acordar, jogou qualquer coisa no aparelho irritante. Quando o som irritante parou, voltou a deitar pronto para dormir mais um pouco com aquele cheiro estranho de mirtilo, mas o aparelho começou a tocar novamente e Jean escondeu sua cabeça embaixo do travesseiro. Ao perceber que o aparelho não ia parar de tocar, Jean levantou-se irritado e atendeu o aparelho, um espelho de bolso que funcionava como um Skype holográfico.

— Ah, menino! Cobre isso aí! — o chefe cobriu seus olhos com uma das mãos, virando-se de costas esperando que Jean se vestisse, o que não aconteceu. — Já começou a missão? Eu quero a recompensa na véspera de Natal.

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— Você nem sabe quando é o Natal — retrucou depois de colocar uma calça e pegar a xícara de café que sua nave preparou.

— Não, idiota, eu não comemoro suas festas humanas, é diferente. — Virou-se para olhar Jean e seus olhos pararam na azulada seminua deitada na cama. — Ully?!

Ela acordou com o grito, meio sonolenta e chapada olhou para o holograma do chefe e sorriu.

— Oi, pai. Mamãe mandou dizer para você pagar as contas e devolver o que é dela. — Jean engasgou com o café e a cabeça do chefe cresceu como um balão pela súbita raiva.

— Você está dormindo com a Ully?! Minha filha?!

— Como eu ia saber?!

— Não vê a semelhança? — Jean bagunçou os cabelos castanhos, olhou para a azulada que sorriu em sua direção, uma batida do coração do francês parou por um instante, e depois olhou para seu chefe.

— Não, não mesmo.

— Temos a mesma cor de pele.

— E você espera que eu ache que toda pessoa de pele azul é da sua família? Isso é no mínimo bem racista, é como você que espera que eu conheça todos os humanos.

— Seu planeta é minúsculo! E se eu sei o nome de todos os meus filhos, você tem que saber de todos os terráqueos. Enfim, me entrega o tesouro na véspera, sem falta ou você volta para o buraco negro de onde veio.

— Mas eu preciso de detalhes, você só mandou uma foto num papel velho. — Ully havia se levantado e colocado uma blusa de Jean, ela comia mirtilo de panqueca que a nave havia feito para ela. — Por que tudo cheira a mirtilo nessa nave?

— É um velho do Planeta Y, barbudo e tem uma risada estranha. Família rica pra caralho, vai dar uma boa grana. A esposa dele disse que o velho sumiu faz uns meses, a polícia e os elfos dele não conseguiram encontrar ele em nenhum lugar, acham que foi alguém do planeta vizinho, eles se odeiam. O velhote só trabalha no Natal, ainda não acredito que outro planeta além do seu comemora essa idiotice — suspirou decepcionado — Ully! Você tá de castigo, volta para cá! Você também, Jean!

— Pai! Eu tenho 90 anos!

— E eu já tenho 18!

— E eu com isso? — desligou e deixou dois jovens frustrados.

— Vai voltar para casa, mon ange? — Ully colocou as botas plataformas, colocou as pulseiras e as argolas, suspirou e sentou no colo de Jean.

— Nem pensar, parte da recompensa é minha.

— Quê? O mirtilo drogou você é?

— Quem você acha que deixou o papel com a Circe? O mirtilo drogou foi você, idiota, eu peguei o papel da recompensa primeiro.

Jean deu um leve empurrão em Ully, a tirando de seu colo enquanto ela ria. Ully deu as coordenadas para a nave, Jean deu a ordem de expulsar Ully da nave e assim foi feito. A nave retirou Ully através de seus robôs de limpeza, enquanto a máquina subia a azulada xingava Jean em sua língua.

— Vamos ver quem caça o Papai Noel primeiro, idiota — Ully murmurou para si e foi em direção a sua nave, que estava estacionada em frente ao Bar Circus. Dentro do bar, Circe ria da situação. Em meio às estrelas, um caçador começava a viagem de uma semana para o Planeta Y, sem perceber a confusão que tinha se metido.

“L’occasion fait le larron”