For Grissom

Novo rumo, caminho inesperado


Ninguém esperava por isso. Nem em seus piores pesadelos havia a ideia de que aquilo pudesse acontecer. Não ele, não um deles. Lidavam com a morte todos os dias de suas vidas, mas era quase impensável que algo como aquilo ocorresse com alguém da família.

Descobriram da pior forma que eram feitos de carne e osso e que não estavam alheios às tragédias da vida.

Madrugada. Era um momento para ser comemorado. Warrick sofrera um golpe que quase encerrou a sua carreira, tudo porque queria trazer justiça, mas não pelos melhores meios. Foi enganado. Acusado de crimes que não cometeu e feito de suspeito. Perdeu muito e ainda lhe foi tirado mais. Feridas profundas demais para alguém que não queria tanto, apenas ser feliz num mundo turbulento.

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Aquela reunião foi o fio de esperança que as coisas pudessem ficar bem, que iriam ficar. Nada melhor que terminar a noite tensa em família como costumavam fazer. Eles conversaram, riram, e dedicaram a noite em homenagem a ele. Um pouco de paz ao menos, ele merecia, todos eles.

Aos poucos cada um foi se levantando para ir embora. Grissom foi o primeiro, e assim como ele, cada um fez questão de se despedir de Warrick do seu próprio jeito. Protetor do jeito que era Grissom não deixou de recomendá-lo um descanso. Greg se levantou logo após Grissom, lembrando-os de que em breve precisaria pegar o avião. Catherine lhe falou algo próximo do seu rosto e lhe beijou a bochecha. Nick permaneceu mais um tempo com ele e até ofereceu uma cerveja para tomarem juntos, porém Warrick recusou. Preferiu chamar a noite e tentar apagar da mente todos aqueles momentos conturbados, recomeçar de novo como uma nova pessoa.

Ele saiu do restaurante, vindo a tomar a direção até o carro. Só que algo o chamou atenção; alguém, na verdade. Ao ver Warrick, o homem sorriu mostrando um semblante quase aliviado.

Warrick devia muito a ele. Grissom foi sua âncora e boia no momento mais difícil e não foi a primeira vez. Para ele o supervisor era mais que um amigo; Warrick o considerava um pai, o pai que não teve e que se pudesse o escolheria para si.

— Hum, vai seguir o meu conselho? — Ele perguntou brincando. Acabara de se despedir de Greg após conversarem momentaneamente a uns seis metros do restaurante.

— Depois do que aconteceu... — Warrick retrucou exaltado, mas no mesmo tom que ele.

Os dois riram por espontânea vontade. O riso foi se esvaindo, dando lugar ao silêncio. Eles observaram o movimento pela rua enquanto um novo assunto não se iniciava. A situação ficou daquele jeito por quase um minuto quando Warrick resolveu falar:

— Eu devo muito a vocês.

Grissom o encarou com afeto. Quase não o ouvia se desculpar diretamente porque na maior do tempo se mostrava alguém reservado. Mas por tudo o que houve nas últimas semanas, Grissom viu um novo homem ou pelo menos um homem com novas perspectivas.

— Não vou me esquecer disso. — Ele ajeitou a jaqueta sobre o ombro enquanto olhava para o chão.

O supervisor sorriu.

— Só não quero que se esqueça que tem gente que ama você e está por perto quando precisar. — Grissom tocou no ombro descoberto de Warrick e o apertou levemente.

— Obrigado.

— Vá descansar, Rick. Logo, logo estaremos de volta ao trabalho.

— Tá bom.

Cada um tomou o seu caminho. Warrick seguiu em direção a um beco aonde estacionou seu carro enquanto o supervisor foi pela via contrária, numa viela ao sul. Pretendia passar numa banca no caminho de casa como costumava fazer. Ele entrou no carro e, de janelas fechadas, baixou a cabeça e fechou seus olhos. O semblante havia mudado, dando lugar à melancolia, a uma sensação de desespero. Pensou que perderia um dos seus e isso seria um golpe duríssimo, inaceitável.

Grissom pressionou o volante com as mãos e encostou a testa nele a fim de se recuperar. Quando se ergueu ele respirou fundo, pensando em dar a partida. Todavia não percebeu que alguém se aproximou e parou em frente à janela do carona. Grissom levou um breve susto ao ver a figura parada a sua frente, que fez um gesto para que baixasse o vidro. Era o sub-xerife Jeffrey McKeen.

Surpreso e um tanto confuso, o supervisor baixou o vidro para saber o que o homem tinha a falar.

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— Ei, Grissom. Parabéns.

— Não tem que agradecer a mim. Tem que agradecer ao meu time. Todo ele. — Grissom fez questão de reiterar que Warrick fazia parte de sua equipe.

— Ah, claro. — O sub-xerife riu, olhou para baixo rapidamente e depois voltou a dar atenção ao outro homem. — Olha, eu não quero demiti-lo — disse referindo-se ao CSI Brown. — Nunca quis e não vai ser agora que vou mudar de opinião. Warrick é um ótimo CSI, um dos melhores. Mas você sabe que... se ele continuar com aquela busca desenfreada...

— Eu sei, eu sei. — O supervisor ergueu a mão direita. — Já conversei com ele e dei um jeito de se afastar dessa história.

— Que bom. Bom ouvir isso.

— Mas eu não posso deixar isso passar — reafirmou. — O caso ainda não foi resolvido completamente e sei que tem alguém à solta — afirmou, terminando de falar encarando o policial. — Confio no meu CSI. Acredito nele.

— Já sei com quem Warrick aprendeu a agir.

— Se tenho culpa em algo foi ensinar a meus subordinados a buscar justiça. Desta vez ele exagerou um pouco. — Ele deu de ombros. — Mas foi por uma boa causa.

— Você é um ótimo CSI, Grissom.

Fazendo um gesto positivo com a cabeça, McKeen observou o interior do carro disfarçadamente. Sem ter mais o que dizer, Grissom já esperava por uma despedida, tanto que olhou para o botão do vidro carona. Foi a última vez que viu seu rosto.

McKeen saiu da posição que estava e fez o mesmo com o braço. Foi um movimento breve. Erguendo sua mão, McKeen apontou uma arma para dentro do carro e, sem demora, o sub-xerife atirou contra o supervisor.

Grissom não teve tempo de olhar para lado após o primeiro tiro. Não sentiu nada. Apenas uma sensação incômoda de que havia algo de errado com o seu corpo. Por instinto, tentou tocar na ferida aberta em seu pescoço. Não gritou, não gemeu, a voz não saiu. Não podia fazer mais nada.

E então, McKeen atirou novamente.