A Primeira Garota

Somos Eu e Você


Tina e Blaine subiram no palco, sorridentes. Rachel os acompanhou, saltitando no caminho.

"O que ela estava fazendo ali?"

— Nós estamos aqui para anunciar os vencedores.- Falaram os dois de uma vez.

Eu estava em pé, doida para a reunião acabar. Ao meu lado, Puck permanecia inquieto, enquanto me lançava olhares com um misto de curiosidade e carinho. Todos pareciam ansiosos para o resultado, na inclusão de Finn Hudson, que andava de um lado pro outro no meio das poltronas, os olhos fixos em Rachel e no placo.

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— Então, senhoras e senhores- disse Blaine, suas mãos arrumando chapeuzinho preto e piscando para Kurt no meio da platéia- algo realmente inusitado aconteceu. Três dos times ficaram empatados, não nos pergunte como, também ficamos assustados.

Tina riu ao lado do garoto.

— Então- Rachel agarrou o microfone antes de anunciar- todos os participantes irão ganhar jantares no Breadstix!

Escutei Sam pular orgulhoso, dando soquinhos no ar.

— Rachel, eu nunca agradeci tanto pelos seus pais serem ricos...- Brittany falou, causando risadas a todos. Dei um sorrisinho de lado.

— Obrigada, Brittany. Eu acho. Bem, os jantares obedecerão a ordem de apresentação. Sendo assim, Finn e eu iremos jantar amanhã. Sinto muito, Artie, mas quem não participou vai ter que pagar pelo jantar.- Do palco, pude ver os olhos da morena brilharem em minha direção. Apertei os pulsos com força, sentindo o nervosismo que esse jantar me causaria.

"Finn e Rachel, juntos pela primeira vez como amigos. Ele tentaria algo, é claro", respirei fundo, tentando manter minha razão. Só me restava deixar ir, e eu não deveria perder a cabeça dentro de meus próprios medos.

— Quinn,- escutei Puck dizer discretamente, seu hálito batendo em minha bochecha direita e a arrepiando levemente- posso passar aqui mais tarde?- Sua voz era pingava desejo e logo entendi o que ele queira.

Meu estômago revirou com a ideia.

— A casa é da Rachel, acho que ela deveria decidir isso.- Falei séria.

— Finn também virá, Rachel o convidou para conversarem sobre o projeto teatral.

Trinquei o maxilar e revirei os olhos. A raiva queimando qualquer vontade de permanecer com o garoto. Virei meu rosto para o nível de Puck e disse:

— Pergunte a Rachel. E, Puckerman, você sabe que não passaremos dos amassos, não é?

Pretendia deixar o garoto sozinho, mas me senti que algo me impedia. No palco, Rachel me olhava angustiada, analisando a situação com certo peso e culpa.

As mãos de Puck escorregaram entre as minhas, desviei meus olhos do palco e observei o movimento surpresa.

— Você sabe que pode terminar essa coisa que temos a qualquer momento, não é?

Assenti, ainda olhando nossas mãos e sentindo o calor do garoto.

— É isso que você quer, Quinn?- Ouvi ele perguntando, sincero. Suas palavras adentraram meu coração e fechei as pálpebras antes de responder, com uma verdade mais sincera do que parecia poder suportar:

— Não sei, Noah, não sei se é o que eu quero. Apesar de tudo, no final eu só quero ser amada.- Olhei para os olhos do jovem de moicano, aumentando nossa proximidade e analisando sua expressão apaixonada.- Paixão é tudo que eu preciso.

— Você não me ama, certo?

Respirei fundo.

— Não.

— Não sei se consigo aguentar, estou criando esperanças, Quinn.

— Dê um jeito de vir hoje à noite, precisamos resolver isso.

Soltei nossas mãos devagar, sorrindo tristemente e indo em direção ao palco. Escutei o garoto suspirar e meu coração quebrou-se novamente.

— Hey, robozinha.- Escutei Kitty dizer atrás de mim.

— Olá, Kitty, como vai?- Virei-me para ela.

— Estou bem.- Ela chegou perto e cochichou em meu ouvido, indo direto ao assunto.- Você sabe qual foi o trio que não empatou?

"É, eu também queria saber."

— Não, senhorita. Não participei da contagem.- Falei calma.

— Entendo, valeu.- A loira retirou-se e foi se sentar junto à Marley, que fez questão de aumentar a distância entre as duas. Havia algo de estranho nelas, isso era certo.

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Voltei minha atenção para o palco e vi que Rachel se aproximava, hesitante. Atrás dela, Mercedes, Santana e Brittany nos encaravam com uma concentração hilária. As três estavam simplesmente aficcionadas por qualquer interação nossa em público, e Santana era de longe a mais descarada, sussurrando coisas como "você consegue a garota" e "arrumem um quarto" sempre que estávamos juntas.

— Hey.- A cantora me disse, passando as mãos pela saia com certa força.

— Está nervosa?

— São muitas coisas novas- sinalizou os garotos com a cabeça, seus olhos analisando o auditório que ela mesma havia moldado- não sei como Will aguentava.

— Você é feita para os palcos, Rachel. A Arte e você são encaixes perfeitos, mas isso não te impede de sentir nervosismo. Você sabe que não.

Ela piscou repetidas vezes antes de varrer meu rosto com seus olhos e sorrir tímida.

— Você tem razão...

Dei de ombros, rindo levemente, sem tirar minha atenção da morena.

— Eu pensei que talvez pudéssemos comer algo juntas hoje.- Rachel pronunciou, para a minha surpresa- Porque todos irão sair e se divertir, acho que você merece o mesmo, apesar de todas as circunstâncias.

Cruzei o braço e troquei o peso das minhas pernas, não me importando com os outros ao redor.

— Estou ouvindo.

— Talvez a gente possa fazer o almoço juntas, o que acha?- Suas sobrancelhas se ergueram com o olhar divertido.- Meus pais estão ocupados durante essa semana e eu já teria que cozinhar, de qualquer forma.

Assenti levemente.

— Comida vagana?

— Claro.

— Acho que já me acostumei depois de todo esse tempo.

A imagem de um bacon crocante passou pela minha mente. Abaixei a cabeça, tentando me distrair da tentação e me lembrar das coisas saudáveis que estava comendo.

— Então vou te ensinar a cozinhar hoje.- Afirmou feliz.- Espere, Noah está me chamando.

Rachel se afastou e vi as três cupidos me olharem sorrindo. Desisti das garotas, fingindo chateação, e fui ajudar alguns dos novatos.

...

— O jeito que vocês humanos colocam os sentimentos em música é extremamente cativante.

C-3PO estava na cozinha comigo, fazendo-me companhia. O recinto estava completamente organizado, como qualquer lugar na casa da morena. A calma daquela tarde era encantadora.

O som do violão em minhas mãos espalhava-se pelo recinto claro, enquanto eu me esperava ansiosa por Rachel, minhas roupas escuras destacando-se no meio dos móveis brancos e prateados.

Não me culpe por me apaixonar

Eu era apenas uma garotinha

Não me culpe pela ligação bêbada

Eu não estava preparada para tudo isso

Comecei cantando baixinho, olhando a porta no canto, esperando um rosto específico passar por ela.

Você não pode me culpar, meu bem

Nem mesmo um pouco, eu estava ausente

Eu sou apenas uma filha da puta arrogante

Que não consegue admitir quando se arrepende

Não me chame de amor novamente, você tem suas razões

Sei que está tentando que sejamos amigas, sei que está falando sério

Não me chame de amor novamente, é difícil para mim ir para casa

Ficar tão sozinha

Eu só espero que você me veja um pouco melhor

A sombra de Rachel apareceu no meu campo de visão, e logo o corpo da morena surgiu na cozinha. Ela estava uma graça: o cabelo preso em um coque informal, a saia, meia três quartos e blusa cinza quase escondidos por um avental (onde estava escrito "I'm vegan" em letras coloridas). Sorri para a garota, que me olhava curiosa.

Você acha que é fácil ser do tipo ciumento?

Porque eu sinto falta do formato dos seus lábios

Sua sagacidade é apenas um truque

É isso aí, então me desculpe

— Senti falta da sua voz normal para cantar.

— É, eu também senti. Aquele modificador vocal já está me incomodando.

Rachel riu um pouco, seus olhos variavam entre mim e a tecnologia ao meu lado.

— Como vai, senhorita Berry?- A robô perguntou.

— Vou bem, obrigada.

— Ela não para de falar sobre o almoço por um segundo- revelei- ela está doida ajudar a preparar as coisas.

— Eu nunca utilizei um talher antes.- Falou C-3PO.

Rachel sorriu balançando a cabeça e olhando para mim.

— Meu pai e papai vão ficar tão orgulhosos em saber...- Ela passou por mim, esbarrando em meus ombros por querer- Quinn! Estava quase esquecendo, você precisa usar um avental, é a regra da casa. Não se preocupe, C-3PO, você não precisa usar.

A cantora abriu uma gaveta próxima a pia e dela tirou um avental que parecia antigo, nele estava escrito "Broadway baby" cercado de símbolos musicais e máscaras da tragédia e comédia. Estendi as mãos para pegá-lo com cuidado, enquanto Rachel entusiasmava-se com a minha expressão desengonçada.

Vesti o protetor delicadamente com os olhos de Rachel presos a mim. Com um sorriso envergonhado, falei com a garganta seca:

— Pronto, agora estamos combinando...

— Sim, estamos.

Ela piscou com força e pegou alguns ingredientes em um armário de madeira, algumas coisas que nunca tinha visto antes.

— Então, senhorita Fabray.- Ela se virou para mim, apoiando-se no balcão.- Como é a primeira coisa vegana que você vai cozinhar, decidi fazer hambúrgueres veganos de grão de bico.

Ergui minha sobrancelha, confusa.

— Desde quando grão de bico faz hambúrguer?!

— Fique em silêncio e aprecie a arte da gastronomia consciente.

Revirei os olhos rindo, os sorrisos estampados em ambos os rostos. Fiquei atrás de Rachel enquanto ela picava alguns legumes e me passava o alho, a garota gargalhava espontaneamente de vez em quando.

— Sabe, eu estava pensando se depois do almoço nós poderíamos ver...- Começou a garota, mas eu interrompi.

— Ver um filme, claro, Rachel, eu estava pensando o mesmo.

Rachel me olhou impressionada e pisquei para a garota.

— Quer ver algum em específico?

Franzi o cenho.

— Rachel Berry me dando possibilidades? Algumas coisas mudam.- Recebi um leve tapa no braço em resposta.- Okay, okay, que tal Moulin Rouge?

— MOULIN ROUGE!- Exclamou, largando a faca e dando passos espantados para trás.

— Tá tudo bem?

— Moulin Rouge! Nós devemos fazer um teatro de Moulin Rouge no projeto! Quinn você é perfeita, obrigada. Nós vamos ver esse filme hoje e depois podemos começar a selecionar os personagens e pensar na personalidade de cada um.

— Sim, claro, acho que funcionaria bem, parabéns pela-

Fui surpreendida por um abraço apertado, que impossibilitou minha fala. Parecia que todo o ar havia fugido de meus pulmões e eu só sentia os braços de Rachel em meu pescoço. Suspirei, retribuindo com força.

— Desculpe.- Disse a morena com as bochechas vermelhas.

— Não há necessidade.- Respondi, afastando um cabelo que caía em seu rosto e o escondendo atrás da orelha. Eu nunca me cansaria dos traços de Rachel, e naquele momento, me sentia a melhor pessoa do mundo por proporcionar sua felicidade. Afastei-me devagar, voltando meus olhos para a comida vegana que preenchia a cozinha. Rachel ficou ao meu lado, distribuindo suas ideias para o mais novo roteiro teatral de Lima.

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...

— É, até que tinha gosto de hambúrguer...

— Vamos lá, Quinn, admita que estava gostoso!

— Tá, talvez estivesse.

Rachel Berry e eu estávamos espalhadas pelo sofá, a garota passava suas mãos pelo meu cabelo enquanto me apoiava em seu colo. Não sabia em que hora exata essa posição foi tomada, ela ocorreu naturalmente, como a maioria das coisas que nos envolvia. As mãos da morena eram leves e sabiam exatamente que caminho percorrer, causando me arrepios espontâneos e acelerando meus batimentos cardíacos.

— Está gostando do cafuné, Fabray?

— Bastante.- Falei desnorteada.

— Você está quase dormindo, Quinn.

— Isso nunca aconteceria.

Na verdade, eu tentava manter meus olhos abertos para não perder a sensação desse momento. E até iria falar isso, se o som da campainha não tivesse ecoado pelo ambiente, despertando-me por completo com um arrepio frio:

"Eles estavam aqui".

Rachel olhou ao redor assustada, erguendo-se junto comigo rapidamente para atender a porta. Assim que aberta, Finn e Puck adentraram nervosos.

— Oi.- O garoto de moicano disse, olhando somente para mim.

— Oi.

Finn aproximou-se de Rachel, sorrindo com esperança.

— Finn, a Quinn teve uma ideia tão boa, eu realmente tenho que te contar!

Ele virou-se em nossa direção, o olhar entre surpresa e desdém.

— Fico feliz, Rach.

Segurei a mão de Puck com força, tentando acalmar minha raiva.

— Estaremos no meu quarto, okay?

A morena assentiu, um sorriso triste marcando seu rosto.

Puxei Noah entre os corredores e senti que ele estava tenso como nunca antes. Nós nos sentamos em minha cama e permanecemos em silêncio, nós dois sabíamos com aquilo terminaria, e queríamos fazer da forma correta.

O ambiente era silencioso, tudo o que se escutava eram nossas respirações. Fiquei totalmente de frente para Puck e segurei suas mãos, as quais estavam gélidas e tremiam. Comecei a fazer leves carinhos enquanto olhava o rosto do homem, corroído em dor e mágoa.

— V-você chegou em uma conclusão, certo?

— Cheguei.- Meu coração batia acelerado, parecia querer aproveitar os últimos minutos com sua integridade.

Puck respirou fundo e fechou os olhos com força, ele aparentava ser uma criança assustada e senti lágrimas me marejarem. Continuei falando, com a voz falha.

— Noah...Nós não podemos continuar com isso.- Puck deixou seu rosto cair e começou soluços fortes, seu choro juntando-se ao meu.

Esperei que ele conseguisse me olhar, minhas mãos eram apertadas com intensidade, como se eles tivesse medo que eu desaparecesse. Retirei minha mão de entre as dele e as coloquei em seu rosto.

— É o melhor para nós, Puck. Você não pode ser o único a amar em um relacionamento.- Minha mão metálica passeou por sua bochechas molhadas, os olhos brilhando em dor.

— Você está certa, Quinn. Eu não deveria ter criado expectativas.

— Não, Puck. Eu deixei que você criasse, não deveria ter feito isso. Você é um grande homem, merece um sentimento saudável e recíproco.

O garoto me puxou para um abraço apertado, era possível perceber seus tremores e batimentos cardíacos irregulares. Suspirei com o sofrimento do rapaz, mas eu sabia que isso era melhor do que enganá-lo por mais tempo.

— Eu te amo, Lucy.- Ele disse.- Obrigado por confiar em mim.

— Também te amo, Puck.

Ficamos um tempo presos no abraço, até que nos acalmassemos. Minhas mãos faziam carinhos em seu rosto, enquanto o garoto estava agarrado as minhas costas.

O meu corpo tensionou com o som de passos próximos e apressados. Quando vi, Rachel estava parada perto da porta, as mãos e ombros frouxos no corpo e o olhar espantado e confuso.

Puck se afastou e cumprimentou a garota. Eu continuei a encará-la.

— Desculpe atrapalhar, mas Finn já está indo embora.- A cantora permaneceu no quarto.

— Claro.- Falou ele, levantando-se e me lançando um olhar profundo.- Tchau, Quinn. Nós falamos depois.- Minhas mãos fizeram carinho nas dele pela última vez. Rachel e o garoto atravessaram a porta, a morena parecia ensinar o caminho até a sala.

No momento que fiquei sozinha, um peso enorme deixou meus ombros e passei a respirar normalmente, enxugando a trilha deixada pelas lágrimas no meu rosto.

Ergui o rosto, tentando encontrar alguma emoção boa dentro da minha bagunça. Puck se afastou pelo corredor, mas Rachel continuava na porta, inquieta.

— Precisa de algo?- Minha voz soou cansada, mas não tinha ânimo para disfarçá-la. A morena apertou os olhos antes de dizer:

— Sua mãe me ligou, Quinn.- Meus olhos se arregalaram.- Seu pai sabe.

A fala foi como um tiro, atravessando minha pele e atingindo em cheio meu coração já dolorido, passando desespero em cada partícula e me contagiando rapidamente.

A morena assentiu e disse algo que não entendi, para depois sair triste pelos corredores, deixando-me destruída por completo. Encostei-me na parede e me permiti chorar pelo resto da noite.

Sozinha mais uma vez.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.