Girassol

Promoção


— 3 —

Ergo minhas mãos e balanço os quadris enquanto Elvis toca no meu rádio. São cinco e meia da manhã, e eu estou animada para o meu primeiro dia no trabalho após a promoção. Tenho alguns pãezinhos no forno e o leite ferve devagar para ser misturado ao chá. Ao contrário do que imaginei, estou me sentindo ótima. Estou com meu pijama de arco-íris que meus pais sempre debocham por ser a mesma roupa de dormir desde o final da minha adolescência. Não consigo me livrar dele, cada um dos seus furos e rasgos possuem um valor sentimental. Minhas meias deslizam sobre o chão de madeira envernizada e percebo pela janela que o dia será frio. O inverno está cada vez mais próximo.

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Tomo um banho rápido, prendo meus cabelos em um coque discreto e visto uma saia muito parecida com a que usava em Hogwarts junto com camisa social branca. No espelho me sinto de volta à escola, então troco a saia por uma calça social preta e me sinto muito mais profissional assim. Sirvo o café para mim mesma enquanto ouço meu pai acordando e minha mãe tomando banho, e fico repetindo mentalmente que está tudo perfeito, mas só consigo imaginar como será o dia. Bichento vem ronronar em meus pés e eu acaricio o topo de sua cabeça, colocando três xícaras sobre a mesa e o jornal do dia que já foi entregue.

Quando meus pais se sentam e nos damos bom dia, conversamos aleatoriamente sobre a vida. Me sinto confortada nesse momento e termino o café depois de alguns minutos. Com minha pasta em mãos, calço os sapatos de salto baixo e cruzo a lareira rumo ao Ministério. Não levo mais do que alguns instantes para ter o corredor de acesso dos funcionários diante dos meus olhos, satisfeita pela ligação da lareira ter sido rápida e funcional, ainda que seja apenas provisória até que eu encontre minha nova casa. Certamente, um dos melhores departamentos do Ministério quando o assunto é prestação de serviços.

Para chegar até a minha área são três corredores e um elevador, mas tenho vinte minutos ainda. Assim, vou direto até a área dos Aurores para cumprimentar Ron e, talvez, Harry que não é tão ansioso pelo trabalho como nós. Não agora que se casou e parece estar em lua de mel eterna. Ainda que, na verdade, Ron também não seja realmente um fã de chegar cedo e provavelmente só o faça porque acompanha o pai.

Ele tem dois cafés sobre a mesa da sua sala e pego um deles, sabendo que é meu como de costume. Por mais que já tenha tomado chá em casa, sempre tomo café com Ron e Harry antes de começar o expedirnte. Certas coisas nunca mudam e esse é o nosso jeito de relembrar os bons tempos de desjejum na mesa da Grifinória. Então me sento em uma das cadeiras e ele diz algo sobre já ter recebido duas corujas antes mesmo do expediente começar, enquanto dou uma olhada no Profeta Diário sobre a mesa que fala sobre o desaparecimento de uma jornalista.

— Não faço a menor ideia de como será meu dia hoje — confesso, balançando o pé que está no ar com minhas pernas cruzadas discretamente. É o meu primeiro sinal de ansiedade e inquietação.

— Tenho certeza de que se sairá bem, independente do que te pedirem — ele sorri e percebo pela sua expressão que quer me dizer algo, mas não sabe como.

— Vamos, Ron — dou duas batidinhas com o pé na madeira de sua mesa, causando um “toc toc”. — O que é?

Ele suspira e sei que está procurando as melhores palavras.

— Eu conheci uma garota — revela ele e eu quase cuspo meu chá. — O que?

Tento disfarçar por um instante, mas depois me lembro que posso ser direta com ele. Temos amizade suficiente para isso.

— Bem, é só que... não imaginava que você fosse se interessar por alguém tão cedo.

Ele não parece ofendido, mas tampouco parece ter entendido o que eu quis dizer.

— Já fazem anos desde que nós tentamos algo, Mione — ele rola os olhos, como se eu tivesse sugerido que era por minha causa. — No começo eu fiquei me perguntando por que não podíamos dar certo, confesso, mas isso já passou há muito tempo. Estou seguindo em frente.

Estou sem reação, é isso.

— Espero que você não me leve a mal e que não sinta algo depois de todo esse tempo. Seria... complicado.

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Balanço a cabeça rapidamente, sem nem mesmo acreditar que ele possa considerar isso.

— Ron, eu não imaginava você se interessar por alguém porque você não parece fazer muito o tipo de relacionamentos — ergo minhas sobrancelhas para ele. — Nada além disso.

Agora sim ele parece um pouco ofendido, mas não me importo. Fico feliz por saber que conheceu alguém e que gosta dessa pessoa, de verdade. Quanto tentamos um relacionamento há muitos anos não só não estávamos no melhor momento, tentando curar nossas feridas juntos, como também não havia como transformar nosso relacionamento de quase irmãos em um relacionamento amoroso. Jamais teria dado certo. Quando percebi isso fugi dele durante dias sem saber como explicar de uma forma que não acabasse com nossa amizade. Por sorte, mesmo o magoando acabou ficando tudo bem.

— De todo modo... — ele limpa a garganta, se recompondo. — Já faz algum tempo que eu queria te pedir alguns conselhos. Você me conhece melhor do que ninguém, exceto Harry, é claro, mas você é uma mulher. E me rejeitou por um motivo. Eu quero saber o que preciso fazer para essa garota gostar de mim.

Uh, isso pode dar muito certo ou muito errado, então meço minhas palavras para não estragar tudo. Não sou uma pessoa muito experiente com relacionamentos, já que não tive muitos. Fora Ron, o mais próximo de um namoro que tive foi durante o último ano de Hogwarts com um corvino com quem terminei por não querer distrações bobas ao finalmente iniciar minha vida adulta e um colega de quadribol que Gina insistiu para que eu conhecesse, e que era um cara muito legal, mas durou apenas alguns meses porque ele iria jogar fora do país e não nós gostávamos tanto assim para tentar algo a distância.

Ron resmunga baixinho, vendo que estou distraída com meus pensamentos e volto minha atenção para ele.

— Ela pode não te ver como eu vejo, Ronald. Talvez não exista nada para ela em que você precise trabalhar. E o que tivemos não serve como base, você sabe que éramos muito amigos para isso.

Ele é quem balança a cabeça dessa vez.

— Eu sei que realmente não sou o melhor tipo de cara para um relacionamento. Mamãe já me disse que preciso me endireitar — Ron coça a cabeça, fazendo uma careta. — Seja lá o que isso quer dizer.

— Talvez você precise cortar esse cordão umbilical com a sua mãe para começar — meus ombros se erguem e faço uma expressão sugestiva para ele. — Digo, sua mãe é ótima e é maravilhoso ficarmos perto dos nossos pais, mas você precisa demonstrar para essa garota que é independente. Mulheres não querem sentir que serão as novas mães dos homens com quem se relacionam.

Parece fazer sentido na cabeça dele e fico aliviada por isso. Seria péssimo ter que explicar o quão criança ele parece na maior parte do tempo, como se não tivesse passado sequer um ano desde que deixamos Hogwarts para trás.

— Mulheres também gostam de homens confiantes, mas não demais ou se tornam esnobes — termino meu café, colocando o copo de volta em sua mesa. — E elas precisam saber do seu interesse. Passe segurança, mostre que é ela que você escolheu e só ela. Mandar algumas flores seria um bom começo.

— Flores? — questiona Ron, provavelmente achando isso uma perda de tempo. — Se eu mandasse flores para alguém, me sentiria, sei lá, o meu pai.

— Seu pai conquistou a sua mãe, não foi? — rolo os olhos para ele. — Flores são sempre um clássico. Até as mulheres que dizem não gostar delas ao ganhar um buquê se sentem felizes.

Como eu sei disso? Nunca ganhei flores e sempre digo que não gostaria de ganhá-las, que flores morrem, mas se imaginar um homem pelo qual sou apaixonada me mandando algumas como fazem nos filmes, é claro que eu só consigo achar que é o presente mais doce de todos.

Ele parece convencido.

— Sabe o que mais? — concluo, me levantando para começar a trabalhar. — Mande uma coruja para o seu irmão. Gui conquistou Fleur, a mulher mais bonita que todos nós já vimos. E com mais pretendentes na Terra, provavelmente. Ele deve ter ótimos conselhos para você.

— Todos dizem que Gui é ótimo — concorda, me vendo já perto da porta. — Talvez você tenha razão, Mione.

— Sempre tenho — digo já do corredor e vejo Harry rindo ao se aproximar.

— Discutindo logo cedo? — questiona ele sem parar, passando por mim.

— Apenas dando alguns conselhos amorosos para o mais novo pombinho.

Olho para trás e a expressão de Harry é confusa, e sei que a primeira coisa que ele fará ao ver o rosto de Ron é perguntar por que ele precisa dos meus conselhos amorosos. Ron ficará furioso, provavelmente, mas sei que nosso amigo também pode dar bons conselhos a ele, não porque tenha precisado conquistar Gina em si, mas porque é o único de nós três que realmente tem a experiência de um relacionamento duradouro e um casamento.

Não tenho problemas em chegar ao meu novo local de trabalho, já que como alguém que trabalhou na recepção do Ministério tenho seis meses de experiência em indicar o caminho dos lugares para as pessoas. Logo me apresento ao simpático senhor que fica logo na primeira mesa do lugar indicado. É um lugar tranquilo e vejo que ele está feliz por ver um rosto novo, provavelmente o primeiro em décadas, já que uma olhada rápida basta para eu perceber que todos ali são praticamente da sua mesma faixa etária. Ginevra com certeza estaria rindo de mim nesse momento se pudesse ver essa cena. Porém, eu não me importo e até prefiro. A nova leva de funcionários do Ministério me incomoda. Em sua maioria, são pessoas da minha idade que já se consideram donas do mundo por arquivar papéis. Uma grande bobagem. Eu sou uma heroína de guerra condecorada pelo Ministério e estou saltitante porque recebi minha primeira promoção para trabalhar com idosos em um cubículo, e quero mais do que isso porque sei que ainda estou longe de quem quero ser um dia.

O velho homem se apresenta e me explica que eu preencherei pedidos de avaliação, grandes formulários que servem para autorizar e patentear feitiços, poções e todo o tipo de coisa que bruxos podem precisar. Se você tiver um vira-tempo não registrado, por exemplo, precisará passar por aqui. Os outros senhores e senhoras com rostos amigáveis registram animagos, chaves-de-portais e coisas do tipo. Esses formulários são depois encaminhados para cada departamento. Ainda não sou oficialmente parte de um departamento, mas esse é o primeiro caminho, ainda que pareça que os demais ficaram empacados nele toda a vida. Isso me assusta um pouco.

De repente, me pergunto por que não comecei por cima com o cargo de Auror que me foi oferecido quando me formei, assim como Harry e Ron fizeram. Bem, talvez porque eu seja Hermione Granger e teime em fazer as coisas do jeito mais difícil apenas para manter minha consciência em dia e provar que sou capaz. Às vezes acho que eu deveria deixar isso de lado um pouco pelo meu próprio bem.

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Sento em minha nova mesa e sou apresentada ao formulário padrão. Bertie, o responsável, explica como preenche-lo adequadamente e eu finjo prestar o máximo de atenção, mas por dentro estou distante, pois basta olhar para o papel que se torna óbvio o que fazer. Não é como se precisasse de um grande treinamento. De repente, já não estou mais tão motivada. Não me sinto desafiada, tampouco valorizada. Acho que isso é o que trabalho significa para a maioria de nós, não é mesmo?

Quando ele me deixa a sós, vejo que também não atenderei muitas pessoas. O dia está fraco ou não é sempre que bruxos sentem a necessidade de pedir avaliações ao Ministério da Magia. Fico com a última opção. Por que entregar que você é um animago quando pode utilizar isso discretamente para facilitar a sua vida, como fazia Rita Skeeter?

Pego os formulários que já estão preenchidos em uma pasta ao lado, os divido em categorias e organizo por data, querendo me manter ocupada e ser útil mesmo que o universo pareça conspirar para que o contrário ocorra. Posso ver Bertie do meu lugar – e isso significa que estou no seu campo de visão todo o tempo também – e ele parece muito atarefado. Todo mundo que precisa de algo passa por ele primeiro antes de ser encaminhado para uma das mesas no cômodo. Ao meu lado há um senhor com a barba tão grande quanto a que me lembro de ver no rosto de Dumbledore e ele é quem parece atender mais pessoas. São três em vinte minutos e eu sei que as atenderia em até dez, mas não posso culpá-lo. O homem está tentando fazer o seu dia ser produtivo.

Depois de longas horas que se arrastam e me fazem querer choras, Bertie sai do seu lugar e vem até mim.

— Dia tranquilo, não é? — diz ele com um riso de quem encontrou o neto fazendo travessuras no quintal. — Não se preocupe, Srta. Granger, é assim na maioria dos dias, mas o seu serviço é muito importante para o Ministério.

Eu duvido muito.

— Obrigada — respondo com um sorriso muito educado. E ensaiado, já que não me sinto assim tão grata. Ele não parece perceber a diferença ou talvez não se importe, ninguém parece realmente feliz por estar ali. — Eu organizei os formulários e me lembrei de não ter perguntado uma coisa. Quem os encaminha ao setor responsável? Devo leva-los?

Ele franze o cenho, talvez se dando conta de que deveria ter me explicado isso logo de início.

— Oh, não, não — sua resposta me tira a única oportunidade de fazer algo de verdade. — Eu os levo pessoalmente no final do dia, não precisa se preocupar com isso.

— Certo — me rendo, derrotada. — Se o senhor estiver atarefado demais, basta dizer. Posso fazê-lo.

Seu rosto parece contente com o que eu falo e ele acena em concordância.

— Bem... — ele dá uma rápida olhada para o relógio em seu pulso. — Já estamos quase no horário de almoço. Não temos ninguém aqui por hora, então pode se adiantar se quiser.

Agradeço aos céus por pelo menos ter isso. Me curvo para Bertie em agradecimento e deixo a sala me contendo para não correr. Estou livre por algum tempo.

O refeitório do Ministério é gigantesco e funciona de forma muito semelhante ao Salão Principal de Hogwarts, com elfos trabalhando aqui e ali. Me sento na mesa que é de costume e não tenho fome, então apenas espero por Harry e Ron enquanto arrasto minha comida no prato para lá e para cá com o garfo. Quando eles chegam, alguns minutos depois, já podem dizer pela minha cara que as coisas não andam bem e eu os conto tudo.

— Isso é absurdo, Mione! — Ron resmunga profundamente indignado entre uma mordida e outra em sua torta de frango. — Você tinha as melhores notas de toda a Grifinória. Além disso, todos conhecem o seu nome, o seu rosto e sabem como você é inteligente. Como podem te colocar em uma tarefa tão estúpida?

Eu respiro fundo apenas, pois sei que esse é o procedimento normal do Ministério. Minha primeira promoção me levou ao setor que organiza a papelada a ser despachada para os Departamentos e só quando receber uma nova promoção é que poderei ser parte de um deles.

— Talvez nós possamos dar um jeito nisso — sugere Harry. — Podemos falar com alguém e ver se conseguimos algo melhor para você.

Coloco minhas mãos diante do corpo e as balanço quase que freneticamente.

— Não, não, não — a vergonha me corrói nesse momento. — Eu não quero que façam nada. Nada, entendido? — olho para ambos e garanto que concordem comigo. — Se é preciso passar por isso, vou passar por isso. Tudo bem. Talvez amanhã seja melhor.

Os dois se olham e sei que acreditam que não será. Eu também, na verdade. Devem estar me achando uma tola por escolher continuar na tortura ao invés de fazer algo a respeito, mas eu tenho meus princípios. Não posso desistir apenas porque trabalho em um setor tão pequeno que nem mesmo é listado entre as dependências do Ministério.

— Bem, nos deixe saber caso precise de algo — Harry me sorri com algo que não sei dizer se é simpatia ou pena. — Faremos o que estiver ao nosso alcance.

— Eu vou passar por isso — digo mais para mim mesma. — E quando minha próxima promoção vier, em alguns meses ou talvez um ano, eu estarei feliz.

— Você é boa demais para esse mundo, Hermione — Ron sorri para mim, mas o seu sorriso é mais alegre, espontâneo.

Talvez eu seja mesmo e por isso o universo está me testando.

No final do dia, quando finalmente estou em casa, vou para o quarto e deixo meu corpo cair na cama logo após atravessar a lareira. Ainda que não tenha feito absolutamente nada de importante, me sinto exausta. Minha cabeça dói. Tiro os sapatos, abro os botões da camisa e jogo o sutiã longe, e relaxo no melhor momento dessas vinte e quatro horas. Só nós mulheres sabemos como é maravilhoso livrar-se de um sapato e um sutiã depois de um longo período.

Só depois de relaxar o corpo é que vou até o pequeno armário no canto do cômodo e pego uma poção para aliviar a dor. Então tomo um banho, visto o pijama e como a sopa que minha mãe fez com pressa, pois tenho que aproveitar a noite para visitar uma das casas que posso alugar e também não quero dizer aos meus pais como foi o dia. A sopa me conforta nesse momento. Conto sobre o dia, tirando a parte de que minha nova função é deprimente. Não quero que eles se preocupem ou reclamem, aumentando o meu desânimo.

Aparato na área residencial ao sul do Beco Diagonal e procuro pela casa que vi nos classificados do Profeta Diário, mas não consigo encontrá-la em lugar algum. Quando já estou entrando na terceira rua seguida sem sucesso vejo uma simpática senhora aguando plantas em um jardim frontal e pergunto se ela sabe me dizer onde fica o endereço que tenho em mãos. Ela vê o classificado nas minhas mãos e diz que não sabe me dizer, mas que a sua casa está disponível pela locação há algum tempo e que ela acha muito triste ver as flores do jardim solitárias.

Sinto como se os planetas se alinhassem e decido dar uma olhada. É uma casa pequena, mas charmosa, construída em pedra polida como a de Gina e com flores lindas no quintal antes do muro baixo com portão. Os cômodos são espaçosos apesar da residência pequena e possui um quarto extra que posso transformar em escritório, então fecho o acordo por um valor justo me sentindo feliz. Combinamos que leverei minhas coisas no final da semana e volto para casa satisfeita.

Me jogo na cama outra vez com um livro como companheiro. Porém, antes que possa abri-lo, vejo que Gina está me chamando pelo espelho. Sim, é disso que eu preciso.

— Ei, Mione! — ela diz com um sorriso grande que deveria me contagiar, mas não o faz dessa vez. Ela percebe minha expressão e me olha como uma mãe olharia para o filho antes de puxá-lo para o seu colo. Eu sei que ela me confortaria se estivesse aqui e depois, quando eu já tivesse dito todas as minhas frustrações, ela ligaria o rádio e me faria melhor. — Harry me contou sobre como foi difícil o seu dia. Eu sinto muito por isso — sei que ela sente, todos nós sentimos. Mais uma vez, fico agradecida por ter amigos tão bons. — Mas você vai se sair bem, sempre se sai. E logo dará o fora dali para outro departamento muito melhor, você vai ver.

Isso é o que mais gosto em Ginevra. Ela me conhece bem demais e sabe o que dizer para que eu me sinta melhor. Ao contrário de Harry e Ron que ficam inconformados e sugerem fazer algo para resolver a situação, ela me motiva a seguir em frente e focar no próximo passo, exatamente como eu faço comigo mesma.

— Obrigada, Gina — me sinto emocionada e sei que é porque estão acontecendo muitas coisas nesse momento. A promoção foi decepcionante, mas preciso me recompor. — Eu sei que vai dar tudo certo. É questão de tempo.

Vejo seu rosto sardento ir de cima para baixo, concordando comigo.

— Eu estive pensando e acho que seria legal se fizéssemos algo na sexta-feira, não? — eu quase grito que sim, preciso disso. — Podemos ir ao Três Vassouras como nos velhos tempos.

Meu coração se enche de luz. Estou tão grata por Gina estar em minha vida, deixando de aproveitar uma sexta-feira à noite com seu amado marido para me incluir em um programa, me alegrando, cuidando de mim, que nem sei como expressar isso, então apenas concordo. Marcamos para sexta-feira, oito e meia da noite, e já estou contando os dias ansiosamente.

Ela me conta algo engraçado que ocorreu no treino das Harpias, manda um recado de Molly que me parabeniza pela promoção e pede por uma visita, e termina me contando que Angelina confessou que ela e George estão namorando. Um namoro sério. Nós rimos como adolescentes e Harry aparece, debochando de como nós somos maldosas. Depois de um breve debate sobre isso, nós três nos despedimos e me sinto melhor.

Ginevra me chama mais uma vez.

— Oi! Não é nada importante — ela ri. — Harry só pediu para eu dizer que Ronald está finalmente pronto para o primeiro passo.

Antes de sumir outra vez, posso ouvi-la perguntar a ele o que diabos isso significa e começo a rir.

Molly estava certa. O amor parece estar no ar.