Tome Tenência, Rapaz
Garoto Bom
Depois de ajudar a recolher o gado no curral, Caíque deixou-se ficar de papo com os peões. Ficou impressionado de ver como tinha assunto com aquele pessoal, tantas coisas já havia aprendido naqueles meses na fazenda de tia Rita, e como estava gostando daquilo. Não tinha pressa, o tempo lá passava a um ritmo próprio. Aproveitou para comentar com seu Caetano uma coisa que tinha reparado.
— Eu estou notando que uns novilhos estão com umas bolhas no focinho, parecem umas afitas.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Seu Caetano meneou a cabeça antes de responder.
— Isso dá muito, mas vai e vem. Não liga não!
Mas Caíque andava bolado com aquilo, e abordou o assunto com tia Rita, que de início também não deu importância. Mas quando ele começou a descrever como os animais que exibiam aqueles sinais ficavam magros e tinham um andar claudicante, a tia ficou preocupada.
— Será a aftosa que voltou? Mas já estava erradicada por aqui! Vou chamar o veterinário.
Quando o veterinário chegou, Caíque de pronto sentiu uma empatia por ele. Permaneceu ao lado do doutor enquanto ele examinava o gado, dando informações precisas sobre quais animais pareciam doentes, e ouvindo muitas explicações que o deixavam interessado. O veterinário, por fim, confirmou que se tratava de febre aftosa, e distribui medicamentos e vacinas.
— Foi bom a senhora ter descoberto logo! - Disse o veterinário a tia Rita - Está começando uma nova epidemia na região, e quanto mais rápido os fazendeiros aqui começarem a vacinação, melhor!
— Foi esse garoto aqui que descobriu - Disse a tia, orgulhosa, colocando as mãos no ombro de Caíque - Garoto bom!
Caíque foi dar uma volta na cidade, e passou como de costume na pensão de tia Judite. Teve a impressão de que todos lá o olhavam com certa admiração, e lembrou-se das palavras da tia: garoto bom. Sua reputação estava decididamente melhorando entre o pessoal ali, pensou. Só faltava ter melhor sorte com a mulherada, mas agora estava decidido: entre regaterias e patricinhas, dava mais lucro ficar sozinho. Conversou animadamente com a prima Márcia, que contou-lhe de seus planos de fazer faculdade ano seguinte em uma cidade maior. Caíque subitamente lembrou-se de que uma hora precisava retomar a escola, após haver perdido aquele ano.
Ao retornar à fazenda, foi recebido na porta por tia Rita com ar de novidade.
— Tem visita para você!
Lá dentro, Caíque surpreendeu-se ao encontrar a mãe, que tinha um expressão bem alegre no rosto. Abraçou-a e beijou-a, escutando os rasgados elogios da tia, que informava o quanto ele havia melhorado desde que viera, e foi a vez da mãe desfilar as mais sinceras palavras de agradecimento a tia Rita pelo bom trabalho que fizera com ele.
Sentados no sofá, as novidades foram postas em dia. A maior delas era que a irmã mais velha estava de casamento marcado. Mas a mãe tinha planos para ele também.
— Agora depois da virada de ano você vai voltar para casa! Eu sei que você está gostando muito daqui, a sua tia já me falou, mas você precisa retomar a escola! E está todo o mundo com saudade de você...
Caíque sorriu, mas não disse nada. Por sua vontade, ficaria mais tempo ali, mas sabia que o dia da volta chegaria inevitavelmente. Ficou meio taciturno escutando a conversa da mãe com a tia, e soube de mais uma novidade: estava quase certo que a prima Márcia ficaria hospedada na casa dele para fazer faculdade.
— Vai ficar no quarto da Lucinha, que vai ficar vago depois que ela casar, para mim está muito bom!
Saber daquilo deixou Caíque mais animado. A amizade que ele tinha com a prima Márcia fora mais uma coisa que ele descobrira em sua temporada ali.
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