Tome Tenência, Rapaz

Cadê as Minas?


Vendo que Caíque não se dava mais com as más companhias, ou como dizia o pessoal ali, estava tomando tenência, tia Rita liberou-o para voltar a fazer seus passeios pela cidade. De início ele nem queria muito, tão envolvido estava com os novos trabalhos que vinha aprendendo a fazer com os peões da fazenda, mas a tia insistiu:

— Vai lá ver sua prima Márcia e a sua tia Judite, elas estão com saudades!

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Caíque trocou suas roupas de peão por um conjunto que mal lembrava seus velhos tempos, e pôs-se a caminho da cidade. Chegou na pensão da tia Judite, onde ela o aguardava com o ar afável de sempre, e ordenou às meninas ajudantes que lhe servissem um café com bolinhos.

Caíque ficou olhando o vai-vem das três adolescentes que a prima Márcia chamava as regateiras, que estavam lá porque haviam aprontado poucas e boas. Tia Judite as mantinha a rédea curta, tal como tia Rita fazia com ele próprio, e tudo isso sem perder o sorriso agradável no rosto. Caíque agora admirava-se da união e dos costumes solidários de sua família, algo que poucos meses atrás ele nem reparava.

Neuzinha veio servir o café com um sorriso malicioso, que Caíque fingiu ignorar, mas ainda se lembrava da desfeita que ela lhe aprontara no baile. Na pia, Ju e Karol cochichavam uma para a outra entre risadinhas enquanto lavavam a louça sob as ordens de Isabel, a empregada da pensão. Estariam falando dele? De repente Caíque sentiu um vazio. Onde estavam as minas naquela cidade? Fazia tempo não tinha uma ficante, ele que não se julgava particularmente bonito, mas a quem nunca faltara ficantes enquanto estava na cidade grande. As meninas que ele conhecera até então naquela cidade pequena foram decepcionantes: ou eram feias, ou eram bobas, ou eram falsianes. Mas no fim das contas, em termos de caráter, não eram muito diferentes de todas as outras ficantes que ele já tivera.

Nesse momento a prima Márcia chegou e veio conversar com ele. Caíque ficou satisfeito, ela era muito legal e a presença dela sempre subia seu astral, e olha que até pouco tempo atrás ele quase não lhe dava valor, era mais uma daquele mundo de primas do interior.

— Vai ter uma hoje lá na igreja, que ir?

Caíque não ficou muito entusiasmado de cara com aquele convite, só o fato de ser uma festa da igreja já jogava um pouco de água fria, mas como estava a fim de conhecer gente, topou. Quando chegou lá, porém, viu que não era um ambiente muito diferente das outras festas dali; muita gente jovem com roupas de cowboy e cowgirl, as mesmas músicas, só não tinha bebidas alcoólicas. Caíque resolveu ir à luta. Viu uma menina de chapéu de vaqueiro e saia jeans curta, morena bem roliça, que parecia estar dando bola para ele. Aproximou-se.

— Como é que você se chama?

— Kátia. Mas todo o mundo me chama de Katinha.

— Eu me chamo Caíque.

Caíque sentiu um misto de atração e desconfiança por aquela morena de sorriso que prometia mais, sem revelar o quê. Não demorou para conseguir dar uns beijos e trocar algumas carícias, mas ela teve que sair mais cedo por um motivo que não explicou bem. A prima Márcia veio ao encontro dele.

— Olha, cuidado que essa menina é regateira. Dizem que já deu em cima até de homem casado!

Caíque não respondeu nada, mas não escondeu seu desapontamento. Será que todas as meninas ali eram regateiras? Ou a prima que era implicante? Notando decepção dele, a prima disse:

— Vou te apresentar a Rosana. Ela está ali!

Caíque foi apresentado a uma menina bonita e muito bem vestida, paramentada de cowgirl. Estava em meio a um grupo, mas não parecia estar com nenhum rapaz. A conversa dela era educada, mas não deixava transparecer se ela estava interessada nele. Caíque achou por bem ser prudente e avançar devagar. Dançaram e se tocaram, e no fim Caíque conseguiu dar-lhe um beijo, mas ela não pareceu muito entusiasmada. Mesmo assim na saída trocaram telefones.

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No dia seguinte Caíque veio de novo à pensão da tia Judite, desejoso de uma boa conversa com a prima Márcia, em quem sentia crescente confiança. Sentado à mesa, escutou um zum-zum vindo da cozinha. Tia Judite havia pego Neuzinha pelo braço, e na outra mão segurava uma bainha de facão, de couro.

— A Neusinha roubou o namorado da Karol ontem no baile - Explicou a prima.

Tia Judite puxou Neuzinha até um quartinho dos fundos, e pela porta entreaberta Caíque pôde contemplar a adolescente pulando como se o chão lhe queimasse os pés, enquanto a bainha flexível do facão carimbava com competência suas coxas nuas. Na pia, Karol tinha no rosto um sorriso feliz de vingança, enquanto Ju ria descontraída, e no fogão Isabel tinha a expressão séria de sempre. Caíque não pôde deixar de admirar-se como o pessoal ali resolvia sem delongas qualquer problema, coisa que a mãe não soubera fazer. Mas também lhe veio uma certa frustração, e criando coragem, perguntou à prima:

— Mas por que as meninas aqui são tão regateiras?

— Sabe o que é? - Respondeu a prima sem hesitar - Falta de homem! Então quando aparece um, elas caem m cima!

Caíque ficou pensativo com aquela resposta. Não sabia se era uma vantagem para ele, por ser homem, ou uma desvantagem, por serem as meninas ali tão interesseiras.