Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas

Tem certeza que você vai se controlar?


Capítulo 30

Tem certeza que você vai se controlar?

Donostia, Espanha

18 de janeiro de 2008

I

Era dia. Os raios de sol entravam pelos vidros da janela transparente e iluminava o recinto. Alguns feixes de luz caíam delicadamente sobre a face de Syaoran. O chinês dormia um sono profundo. Há uma semana não despertava.

Gotzone entrou no quarto e sorriu. Sentou-se do lado dele e acariciou a sua testa, como sempre fazia todas as vezes que o visitava. Era sempre assim antes de ir para o trabalho na Real Sociedad. Naquela manhã, o sorriso da loira rapidamente azedou. Seu rosto ficou triste e seus olhos, cabisbaixos.

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Hoje era o último dia do prazo que Beatriz deu para ela tentar recuperar Syaoran. Depois de uma semana de tentativas e mais tentativas frustradas, ele não despertava. Ele até que gemia e fazia um espasmo ou outro com o rosto, mas despertar que é bom, nem sombra. Gotzone até que sentia que havia dentro dele um pingo de consciência tentando lutar, mas a crosta em volta da mente era densa, profunda e afetava seu corpo. As lágrimas escorreram dos olhos dela lembrando das tentativas frustradas e ela beijou ternamente a testa dele, como uma despedida.

— Por favor, Shorancito… Não faz isso comigo!

Uma lágrima caiu nas pálpebras do jogador e ele abriu os olhos lentamente. Os músculos de seu rosto se contraíram e a loira ficou assustada. Os olhos dele abriram-se de vez e Gotzone ficou sem ar.

— Onde… Eu tô?

— Shorancito, é você mesmo! — A loira de tranças abraçou o chinês, quase sufocando o rapaz. Shoran arregalou os olhos, mas logo colocou as mãos nas costas dela.

— Gotzone… É verdade… Eu tô no País Basco, né?

Syaoran fez um esforço para se levantar, mas seu corpo doía. Gemeu de dor e Goti ficou preocupada.

— Por favor, Shorancito! Não se esforce! Você acabou de se recuperar!

— Quanto tempo?

— Uma semana, meu querido… — disse Gotzone, acariciando o rosto dele.

— Uma semana! — Syaoran gemeu e contraiu o rosto de dor. — Eu tô me lembrando… Foi a armadura… A armadura me deu um choque… Pior que qualquer coisa que eu senti…

— Syaoran… Você se lembra de mais alguma coisa depois que você usou a armadura?

— Não… Eu só me lembro que… minha vista ficou embaçada, vermelho… Eu só me lembro de ouvir uns gritos… Parecia que eu tava sendo triturado vivo…

Gotzone fez uma cara de lamento e apertou as mãos dele.

— Syaoran, se recupera, tá? Eu vou trabalhar agora. Não se esforça demais… O Kerberos tá aqui… Se você precisar de alguma coisa… Me fala, tá? Pode ser o que for…

O chinês sorriu.

— Tá, eu prometo. Do jeito que eu tô, não vou conseguir fazer muita coisa mesmo…

Gotzone deu mais um beijo no rosto dele e partiu.

II

A jogadora passava pelas as estradas cheias de montanhas e florestas de Euskadi, rumo ao trabalho. Ao lado dela, flutuando no banco do carona, estava Kero. Ele estava sério, de olhos fechados, com a aura brilhando em amarelo.

— Me diz, Gotzone, o pirralho não acordou por vontade própria, né? — perguntou o guardião.

Gotzone ficou em silêncio, apenas prestando atenção na estrada.

— Me explica antes, Kerberos, como foi mesmo que você achou o Syaoran? Eu não consigo ler a mente de criaturas como você…

— O Rashinban, oras! Eu segui a direção que ele indicou e trombei com a Bea no caminho. Ela não quis nem saber e me colocou naquele pote de picles! Me perguntou onde eu tava indo…

— Queria saber o que ela tava fazendo no meio do seu caminho…

— Sei lá, ela disse que tava investigando a “Ordem do Dragão”

— Sei… Tava no meu pé faz tempo, isso sim…

— Você não respondeu minha pergunta, mocinha! O Shoran não acordou porque ele quis, né?

— Não. Ele nunca ia acordar se eu não tivesse interferido. Ele ficaria em coma pra sempre.

Kero calou a boca e abriu os olhos.

— Ele nunca ia acordar então, sei…

— Seria o mesmo que ele morresse. Eu entrei na mente dele e tive que buscar a consciência no fundo do inconsciente… Isso sempre acontece quando tentam controlar a mente dos outros… Mas dessa vez foi diferente…

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— Diferente como?

— Seja lá quem tentou controlar a mente dele… Colocou uma crosta pra que ele não pudesse voltar mais… Eu consegui quebrar a crosta, mas não é por muito tempo… Se eu não voltar e entrar na cabeça dele de novo e ficar alargando a crosta, ela vai se fechar…

— Eu não sou bom com magia mental, mas… Seja lá quem fez isso, é um cara dos bons mesmo! Sinistro! Simplesmente sinistro!

— Eu só conheço uma pessoa em toda a Espanha capaz de uma coisa dessas… Quero acreditar que não é quem eu esteja pensando…

— Quem?

— Nada do seu interesse… Assunto da Ordem…

— Você sabe que o pirralho não pode ficar assim por muito tempo, né? Dependendo de você sempre pra ter ele de volta…

Gotzone estava tão estressada com aquele interrogatório que berrou para o guardião.

— Eu sei, eu sei! Tô cansada de dizer que “eu sei”. Pode dizer pra piranha da Sakura que eu vou devolver o Shorancito do jeito que ela encontrou!

— Hey, quem você chamou de piranha? Olha que eu dou com a língua nos dentes e falo pro pirralho que foi seus amigos que quebraram ele na porrada!

Gotzone sorriu.

— Você não vai dizer isso… Você até achou graça quando eu te contei a história da invasão no castelo… Você é um cretino, Kero!

— Só não shippo ele muito com a Sakura, só isso!

O carro de Goti continuou viagem, espalhando as folhas secas das árvores pelo ar.

III

— Impressionante! Ele conseguiu voltar! — disse Bea, reclinada na cadeira executiva da sala da presidência. A subdelegada de governo resolveu aparecer para visitar Gotzone no CT da Real, usando seu poder político para que o presidente do clube cedesse a sala para o encontro delas.

— Eu sou eu, não sou? Eu me garanto! — disse Gotzone, orgulhosa, inflando os bustos volumosos que tinha para ela.

Bea olhou atentamente para Gotzone depois que ela disse aquilo.

— Sabe o mais engraçado, sua peituda? Eu tava falando com ele na sua casa e, do nada, ele apagou. Esse feitiço que você usou é bem chinfrim, não é?

— Eu vou preparar outro pra que ele tenha uma vida normal depois do ataque que ele sofreu.

— Ele nunca vai ter uma vida normal. Eu já vi de cara! — Disse Bea, com os dedos cruzados na altura dos olhos. — Eu senti a crosta dentro da cabeça dele. É um tumor de verdade que só gente como a gente vê! O pior que aquilo é como um tumor que não dá pra arrancar.

Gotzone ficou séria, suando frio. Bea perguntou:

— Não sou boa em magia mental, mas você realmente acredita que ele vai ter uma vida normal?

— Eu acredito sim! — gritou a loira.

— Goti, Goti, qualquer esforço que você faça vai ser que nem colocar uma prótese. Não vai ser a mesma coisa que ter um braço ou uma perna de verdade. A mesma coisa é com o cérebro dele. O risco de ele perder a consciência de novo e agir irracionalmente é grande. Você entende? Mesmo assim, quer que eu confie em você?

— Eu sou sua melhor alternativa! Não tem ninguém em Euskadi melhor que os Bengoetxea em magia mental!

Beatriz levantou-se da cadeira e andou até ela.

— Minha ameaça tá valendo ainda. Eu devia ter contado pra Dom Alfredo dessa situação, isso sim! O homúnculo que eu fiz pra substituir ele não vai durar muito tempo, você sabe disso…

— Dona Beatriz, eu peço mais uma semana!

— Mais uma, Gotzone?

— Sim, mais uma! Eu garanto que vou fazer alguma coisa pra evitar que ele saia por aí, atacando sem razão! — disse a loira de tranças, com o olhar firme. Bea Fanjul fez uma cara desconfiada para ela.

— Vamos falar de outra coisa, Dona Beatriz? Que mania é essa de me perseguir? Resolveu montar acampamento na frente da minha casa, é?

— Eu recebi uma denuncia da Agência nacional japonesa de um roubo de uma armadura vermelha como sangue há uns cinco anos. Quem quer que seja que roubou a armadura, usava uma espada grande, enorme e tinha cabelos loiros como o seu! Que maravilha! Conhece? — disse Bea, com ironia.

— A armadura é propriedade da Ordem!

— Quem usava a armadura, cometeu um crime no Japão! Você não tinha que ter se metido! Você tá na minha mão, mocinha, você sabe disso!

Gotzone não falou mais nada, apenas olhava firme para a mulher. Então, Bea disse:

— Agora, eu tô querendo saber: pra quê? Pra que tudo isso? O que vocês tão querendo?

— Não é da sua conta! É assunto da Ordem!

— Eu devia era ter ficado mais tempo com aquele boneco amarelo e ter investigado essa história direito… Tenho certeza que esse ataque, esse boneco e esse roubo estão ligados de alguma forma! Uma hora, eu te pego de vez! Eu odeio segredos! — disse Bea, batendo a porta da sala! Tudo o que Gotzone podia fazer era olhar com raiva para ela. Nem sequer podia mandá-la para o inferno como fazia com seu padrinho Zigor.

IV

Donostia, Espanha

22 de janeiro de 2009

Passou-se uma semana desde que Syaoran despertou do longo sono imposto pela magia de Hernán Cuesta. O rapaz estava nos jardins da casa dos Bengoetxea, jogando bola com Kero. Ele chutava a bola e o leão amarelo devolvia com o focinho, com a cauda ou com o lombo.

Num canto distante do jardim, Koldo, tio de Gotzone, olhava ao longe com a sobrinha, sentados em um banco de pedra. A loira sorria.

— Ele melhorou muito desde a última vez, né? o que você fez?

— Magia da Ordem. Eu coloquei uma “garra de dragão” no cérebro dele, assim… Ele não vai cair ao controle da magia que colocaram nele assim tão fácil…

— Você sabe que isso não vai adiantar, como eu te falei…

— Mas é o que tem pra hoje, tio! Até a gente achar uma solução definitiva, não tem outro jeito.

— Você tá usando aquela garra de dragão que eu te dei como uma antena pra controlar a mente dele, não é?.

Gotzone arregalou os olhos. Tio Koldo continuou:

— Você não me engana. Você foi falar com a pessoa que mais conhece de ingredientes mágicos da família. Eu sabia que só aquela garra não ia resolver…

— Tio, você pensa que a Dona Beatriz tem uma resposta? Duvido que ela tenha! Isso que tá na cabeça dele é magia da Torre! O pior é que a gente conhece pouco pra criar um antídoto…

— Que isso, Goti! A gente tem um exemplo de como eles podem atacar bem na nossa frente… — disse Koldo, olhando para Syaoran. — A garra de dragão foi só a nossa primeira vitória nessa guerra… Uma vitória pequena, mas vai dar pra ele viver… Por enquanto…

Gotzone se calou e ficou olhando para a grama.

— Você tem certeza, Goti?

— Certeza do quê?

— Você tem certeza de que você vai se controlar?

— Como assim?

— Aquela garra de dragão é uma antena. Ela faz a ponte entre a alma dele, presa dentro da crosta, com o mundo exterior. Pra isso, alguma coisa tem que fazer o transporte entre a realidade e o inconsciente dele. Essa coisa é o seu próprio poder mágico, que você colocou no cérebro dele.

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Gotzone ficou boquiaberta.

— Você dá pequenas induções na mente dele e ele reage. É como tirar água de um poço. Ele se tornou dependente de você pra ter uma vida normal de alguma forma, e você… De certa forma, acha isso bom… — disse Koldo, sorrindo.

— Titio! Como o senhor diz uma coisa dessas?

— E eu tô mentindo? Você tirou o controle da Torre, ou sei lá mais quem, para o seu controle. Em vez de ser um boneco dele, ele se tornou um boneco seu.

— Tio, não fala isso pra ele! Ele pode me odiar a vida toda se souber o que eu fiz!

— E teve outro jeito? No seu lugar, não sei se eu teria feito o mesmo…Se o Shoran fosse uma pessoa que eu gostasse muito… Só peço que você se contenha. Você não enxerga ele só como um rapaz, não é? Você é jovem, ele também e…

— Eu vou me segurar, tio, pode ter certeza! — disse Gotzone, com a cara séria. O tio Koldo sorriu e deu um beijo na testa da sobrinha.

— Eu tenho que trabalhar e daqui a pouco eu volto… Adoraria ter uns sobrinhos pra descontrair… Essa casa só tem adulto… — disse o homem, levantando-se do banco. Gotzone continuava a ver Syaoran e Kero jogando bola.

V

Já era fim de tarde. O sol se punha do outro lado do golfo de biscaia e as sombras das árvores se projetavam mais largas ainda nos jardins da mansão Bengoetxea.

Syaoran não jogava bola mais. Estava sentado na beira da falésia, olhando as ondas indo e vindo no mar, abaixo dos pés dele. Estava um pouco melancólico.

Gotzone veio atrás dele, trazendo uma bandeja com um suco e um sanduíche para ele.

— Tá entediado?

— Não… Só tô pensando se tá tudo bem com o homúnculo que vocês criaram pra me substituir…

— Não se preocupa com isso… Isso é responsabilidade da Beatriz e eles não vacilam quando a situação é proteger a nossa identidade e os nossos problemas no mundo dos comuns…

— É tão esquisito escutar isso… Esse negócio de mundo dos comuns… Eu vivo nele, sabia? Você também… — disse o Chinês, sorrindo um pouco. Gotzone ficou mais aliviada por dentro.

— Você vai escutar isso direto! — Gotzone sorriu e empurrou levemente o jogador para o lado. Ele respondeu ao gesto dela com um sorriso. — Aliás, Shorancito, você não é muito acostumado a viver com magos, não é?

— Não mesmo, a minha família é fechada que nem um clã, sabe? A gente guarda nossos segredos com a gente mesmo…

— Que nem os magos das antigas, né? Hoje em dia, aqui na Espanha, ninguém liga com esse negócio de segredos, todo mundo compartilha um pouco o que sabe…

— Seria bom se eu vivesse num mundo assim, dava pros magos, pras pessoas que tem poderes se ajudar uns aos outros nesses casos. Tudo é tão secreto…

— Shorancito… A Sakura não desenvolveu magia nenhuma, né?

— Nada! Só as cartas Clow…

— Sei… Tem muita gente no mundo dos comuns que não desenvolve nada… Prefere guardar seus poderes em segredo e eu acho ruim isso também…

— Você não tá querendo falar disso, né? Tá querendo saber da Sakura? — perguntou o Chinês. Gotzone se surpreendeu com a esperteza dele.

— Sim. Quero saber que tipo de pessoa ela é. Afinal, estão atrás das cartas Clow e eu quero entender o porquê disso…

— As cartas são… Uma coisa que faz a gente superar o próprio poder. Qualquer um capaz de dominar as cartas é capaz de dominar qualquer coisa…

— Entendi. Elas são uma magia que aumenta os poderes do próprio usuário?

— Exato. Mas, o que elas podem fazer, depende de pessoa pra pessoa…

— Agora a ficha caiu… — disse Gotzone, séria.

— Caiu como? — perguntou o chinês, em dúvida.

— Nada, nada não, Shorancito! — disse Gotzone, tentando disfarçar a seriedade com um sorriso. — Mudando de assunto, você só conheceu ela, né? De mago fora da sua família…

— Sim.

— De mulher também?

Syaoran se calou por um tempo, mas depois sorriu.

— Não seria mais fácil ler a minha mente?

— Sabia que é uma falta de respeito fazer isso? Entrar na intimidade dos outros?

— Me desculpa, eu não sabia… — disse Syaoran, envergonhado, coçando a cabeça. As bochechas de Gotzone ficaram vermelhas e quentes vendo-o assim.

— Você é um bebezinho, Shorancito… — disse a loira, fazendo carinho nas bochechas dele.

— Eu só, eu só conheci ela sim… Eu já beijei a minha prima, mas… Só por que ela quis mesmo! E meio que… Me obrigou a isso…

— Você não acha que é pouco?

— Pouco por quê?

Gotzone agarrou o queixo de Syaoran e deu um beijo nele. O Jogador arregalou os olhos, sentindo a língua dela dançar com a sua, mas depois, não sabia por que, se entregou àquela sensação. Ficou assim um tempo com ela até empurrá-la de leve, assustado.

— Eu vou me casar esse ano! Como você faz um negócio desses?

— Você pode se casar com quem você quiser, você nunca vai deixar de ser meu bebezinho!

— Os caras com quem você ficou tavam fácil assim?

— Nenhum dos caras que eu fiquei eram tão gentis, bonzinhos e cavalheiros como você…

Syaoran ficou vermelho com o elogio. Gotzone lascou-lhe outro beijo nos lábios dele. Dessa vez, ele não conseguiu resistir e deixou aquilo rolar até ela dizer chega. Desgrudaram-se e um fio de saliva vindo da loira ainda ligava os dois corpos. A face dela estava rubra e quente.

— Eu posso fazer isso a tarde toda, se você quiser…

— Isso só pode ser um encantamento… O que você colocou nesse suco? — perguntou Syaoran, desesperado. A loira sorriu com uma leve malícia no olhar. — Você é uma bruxa mesmo, Goti! — disse Syaoran, um pouco apavorado com a face malévola dela, sem querer ofender a moça.

— Eu sei que eu sou… Sempre gostei mais de bruxa que de princesa da Disney… — Gotzone deu um terceiro beijo nele. Dessa vez, ela inclinou o corpo para ele, deitando em cima do jogador.

Continua…