Rigor mortis
Livrai-nos do fogo do Inferno
Eustáquio respirou fundo e fez o sinal da cruz sobre o peito. A queimadura lhe ardeu como brasa sob a camisa, mas ele travou os dentes e tentou ignorar a dor.
Tinha de fazer aquilo enquanto ainda dispunha de tempo. Göhr lhe mostrara a ampulheta quando deixaram o carro de aluguel, e a quantidade de areia que restava não era animadora. Já está feito.
Padre Jonas o recebeu com um sorriso de velhaco, o fez entrar no confessionário abafado e pigarreou três vezes – como previra. Eustáquio contou-lhe pecados inventados e ouviu as penitências. Seus punhos estavam cerrados sobre as pernas, um reflexo para tentar controlar a dor.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Eustáquio estava já na Salve Rainha quando a porta do confessionário se abriu. Ele estremeceu, mas não abriu os olhos. Venha, seu ordinário, interrompeu a oração para uma anátema.
O padre Jonas aproximou-se e levantou a batina. Venha.
Quando ele estava próximo o bastante para que Eustáquio pudesse sentir seu calor, Göhr cumpriu sua parte do acordo. Houve um estalo e o padre ardeu sob chamas negras.
Eustáquio deleitou-se com a expressão horrenda e os gritos por misericórdia.
Pouco lhe importava que não teria mais uma alma depois disso. Estava livrando-se do mal.
Fale com o autor