Rigor mortis

Terra santa


O sino do cemitério ecoava as baladas do carrilhão na torre da catedral. Helena tinha pouco tempo. Em alguns minutos, os portões se fechariam e ela ficaria presa com os mortos até o nascer do sol.

“Mais rápido, mais rápido!”, berrava a voz em sua cabeça.

Lágrimas sorumbáticas rolaram por suas bochechas sujas de terra. As mãos estavam em carne viva, mas se recusavam a parar. Seus dedos se enterravam na terra e arrancavam punhados que pesavam como chumbo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Se não cavar mais depressa, vai ser pega!”

Helena choramingou, cavando mais e mais. Terra voava para seus olhos, sobre a saia do vestido. Se misturando ao seu suor, ao sangue que brotava sob suas unhas e nós dos dedos.

“Precisa voltar antes que te descubram!”

Contorceu-se, fazendo aglomerados de terra descerem sobre seu corpo. Gritou a plenos pulmões, desejando que alguém pudesse livrá-la daquela cova tenebrosa.

A terra preencheu sua boca, sufocando-a. Helena desistiu da escavação. Precisava das mãos para se descabelar, enquanto berrava por sobre as badaladas dos sinos.

Ela acordou de um sobressalto, com os sinos da catedral batendo a hora dos mortos. Então, com uma sensação estranha, descobriu as mãos e os lençóis sujos de terra.