Rigor mortis

Os olhos que te seguem


Lídia espiou por cima do livro novamente. O homem continuava a encará-la, sem nem ao menos ter se mexido no banco.

Nojento. Ela crispou os lábios, pensando na quantidade de assentos que os separavam. Era o bastante para mantê-la fisicamente segura? E se aquele idiota se levantasse?

Com certeza, ela gritaria e tentaria acertá-lo com força. O problema era que estavam sozinhos naquele vagão, na madrugada; não havia para quem pedir socorro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Lídia contou quantas estações faltavam para que desembarcasse. Na próxima vez que tivesse de fazer hora extra, tomaria um Uber para casa.

Nojento, nojento. Os olhos dele não piscavam, nem a boca ligeiramente aberta se fechava. Ela quis arremessar o livro contra aquela expressão moribunda.

O trem estava quase chegando à sua estação quando Lídia atingiu seu limite. Determinada, ela baixou o livro sobre a bolsa e fechou o sobrecenho.

— Perdeu alguma coisa, babaca? — O lábio inferior e a voz tremeram.

Sua estação foi anunciada e o trem começou a reduzir a velocidade. Perto da plataforma, a frenagem deu um tranco, e o homem se inclinou para frente até tombar inerte no chão.

Lídia soltou um grito de horror quando um gosmento globo ocular bateu em seu sapato.