Rigor mortis

Pele de mármore


Edgar afastou-se da mesa de cavaletes para admirar seu progresso. A escultura estava quase acabada. Faltava uma lixada aqui ou ali, talvez alguns retoques com o cinzel. Mas a expressão de absoluto horror ainda o incomodava.

— Não é adequada para um rosto tão bonito — resmungou, deslizando o dorso de um dedo pelas bochechas salientes.

Ele deixou que a mão experimentasse a textura do mármore branco pela enésima vez. Podia jurar que a peça original ainda conservava a quentura, que os veios suavemente coloridos da pedra estavam pulsando. O pensamento o fez sorrir.

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— Ah, essa cara de susto realmente não combina com você, Evangeline — disse terno, beijando a fronte da escultura. — Se tivesse ficado parada, como uma boa modelo, teríamos conseguido um resultado muito mais gracioso.

Evangeline não lhe respondeu. Não podia. Estava congelada para sempre dentro de seu casulo delgado e caro. Jamais levantaria a voz outra vez, ou valsaria com outros rapazes. Na opinião de Edgar, ficava mais bonita assim: em silêncio.

— Não se preocupe, vou dar um jeito nisso, querida.

Edgar apanhou um lápis e um cinzel na mesinha de ferramentas, mas se deteve. Perguntou-se se deveria apanhar também um pano para o caso de sua escultura sangrar.