Um grito estridente ecoa na madrugada. A noite corria silenciosa e calma quando Richard despertou e interrompeu toda a serenidade noturna com seu choro esgoelado, que já durava quase cinco minutos.

Sara se levanta de sua cama com um sorriso, imaginando que, mais uma vez, a ama não fora capaz de fazê-lo se acalmar, o que acontecia com mais frequência do que a rainha esperava. Ela nunca havia cuidado de um bebê antes e por isso nunca cogitou que tais comportamentos representassem qualquer desvio de normalidade, muito pelo contrário, ter a sua presença tão requisitada pelo próprio filho parecia fazer a recém-criada feliz e realizada.

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― Posso ir em seu lugar? – questiona Cassis ainda deitado, com a luz do luar atravessando a janela e iluminando a pele branca de seu tronco despido, fazendo a rainha se perder em sua beleza por alguns segundos antes de finalmente concordar com a cabeça.

Os olhos do rei cintilam em contentamento, pois, apesar de conseguir controlar seu semblante e ocultar suas emoções novamente, ele ainda sentia dificuldade em esconder a expectativa que tinha de cuidar do bebê pela primeira vez, como um pai.

Cassis se levanta, vestindo uma camisa amarrotada qualquer e despedindo-se de Sara com um beijo demorado, como se pretendesse ficar fora por dias, caminhando para o quarto do bebê mesmo sem nunca tê-lo visto antes. O choro estridente lhe dava uma grata direção de sua localização, como uma bússola, só que feita de fortes pulmões, e, ao que tudo indicava, Richard havia assumido os aposentos reais de seu homônimo, pois tudo naquele lugar ainda possuía uma aparência infantil e animada, o que na opinião dos humanos sempre combinava com bebês.

O choro tornava-se cada vez mais alto conforme se aproximava, entretanto, quando estava a apenas alguns metros de distância da porta que o separava de Richard, seu pranto cessou abruptamente, fazendo o vampiro arregalar os olhos e verificar, através de seus sentidos elevados, que seu coração ainda batia e o ar ainda fazia ruídos ao entrar e sair do pequenino corpo.

Cassis acelera o passo, abrindo a porta do aposento com rapidez e enxergando primeiramente a ama, sentada em sua poltrona com o semblante cansado e sem o bebê nos braços. A mulher se levanta apressada, cumprimentando com uma reverência e momentaneamente se envergonhando por estar com trajes de dormir em frente ao rei.

― Eu não entendo porque faz isso – começa a ama –, sua alteza chora como se pedisse por algo, mas nada parece fazê-lo se sentir melhor, nem o colo, nem o leite, nem a troca das roupas, nada. Sua majestade, a rainha, sempre se vê obrigada a vir até aqui. Sinto-me mal por não conseguir cumprir meu trabalho, contudo, ele parece se acalmar apenas quando ela está por perto, como se realmente exigisse sua presença – desabafa rapidamente, parando logo em seguida para tomar fôlego. – Às vezes, acho que ele sabe quando estão por perto. Sua alteza se calou pouco antes de vossa chegada, sem que fizesse nada, como acontece com Lady Sara.

― Ele faz isso com muita frequência? – questiona Cassis, achando aquele relato bastante fantasioso, mas ousando se aproximar do berço lentamente a fim de verificar.

― Sim, pelo menos uma vez ao dia e independente do horário.

O vampiro encara Richard por um momento, apreciando mais uma vez as bochechas coradas e os olhos castanhos em seu pequeno rosto. Seu coração batia regularmente e Cassis sabia que poderia sentir o sangue correndo por seu corpo miúdo, caso o tocasse. Ele seria um inofensivo e indefeso bebê humano, se não fosse por um detalhe que pareceu gritar e se iluminar diante dos sentidos atentos do rei.

Cassis se debruça sobre o berço de repente, aproximando o nariz do pescoço de Richard e puxando o ar com força, fazendo sua espectadora se arrepiar em protesto. O rei se coloca de pé, apanhando o bebê no colo ao mesmo tempo em que esboçava um semblante chocado, trazendo-o novamente para perto do rosto e o cheirando novamente, desta vez, lenta e profundamente.

― Majestade, permita-me pegá-lo para o senhor – começa a ama, sendo ignorada pelo vampiro que novamente mudava a sua expressão, parecendo ainda mais atônito do que no início.

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― Seu cheiro não é humano – sussurra ele para o bebê, que o fitava sem nada entender, colocando também uma intensa confusão no rosto da babá. – Seu coração bate, mas seu sangue não me é tentador, não tem cheiro de gente humana.

O rei se cala por alguns segundos, perguntando-se como não havia reparado em tão grande detalhe quando o pegara pela primeira vez. Porém, logo lhe veio a mente que seu descontrole emocional deveria ter sido o principal culpado de sua cegueira, para um fato que agora lhe parecia tão nítido. Suas pernas se movem em direção a lamparina acendida pela ama, e, quando a luz parca do fogo iluminou os olhos intensos de Richard, a resposta para toda aquela situação pareceu borbulhar em seus pensamentos:

― Pelos céus, como pude ser tão cego? Você não é humano, é um híbrido! – revela com a voz engasgada, causando igual reação na humana que ainda o observava. Tal fato, revelado assim, em voz alta, o fez finalmente perceber que as coisas não conseguiriam mais ser como antes, porque já não era o único vampiro residindo naquele castelo.

FIM DO LIVRO I

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.