Magia Literária

Anamnese epistolar


Haviam se passado duas semanas da última reunião da Ordem da Fênix, e a carga disso sobre Tonks era notável. Os cabelos estavam secos e sem cor, a pele tinha uma aparência mórbida, sem contar o péssimo humor, que só piorava à medida que o Ministério exigia ainda mais de sua presença, e a Ordem lhe ocupava o restante do tempo. Haviam diminuído o número de reuniões, acontecendo quinzenalmente, alternando estrategicamente entre as casas dos aliados, bem como redobraram as medidas de segurança e buscavam novas formas para se comunicarem, sem que fosse rastreados ou pelo ministério, ou por Voldemort.

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Porém, naquela noite, a metamorfomaga não estava com ânimo de ficar sentada em uma cadeira e escutar os monótonos informes de Snape, nem os avisos de Dumbledore, ou qualquer assunto que algum membro da Ordem fosse trazer. Tinha o pressentimento de que cada vez que aquelas reuniões aconteciam, oportunidades para enfrentar diretamente o lado inimigo eram perdidas. E era aquilo que Lupin estava avisando, e ela começara a entender o seu sentimento de revolta...mas, o que ela poderia fazer, se ele sumira do mapa?

Ou quase sumido, pois ao chegar em casa, a bruxa teve um breve choque ao encontrar um pedaço surrado de papel, com seu endereço, em letras caídas para o lado e borradas com manchas amarelas. Subiu rapidamente para o quarto e, com as mãos trêmulas e o peito arfante, leu o conteúdo:

Para a primeira pessoa que conheci que gosta de usar o segundo o nome, Ninfadora….Dora, Tonks,

Por favor, me permita explicar algumas coisas. Estou em um bar, escrevendo esta carta com a ajuda de uma amiga, na esperança que as coisas possam melhorar….ou que aliviem o peso da minha consciência, e de nossas vidas. Assim, volto a me repetir quando digo que você merece coisas melhores, pessoas melhores, e momentos felizes, que somente um jovem poderá lhe proporcionar.

Agora, imagino a cara de pavio que você deve estar fazendo, e a vontade de rasgar essas palavras , mas, do que vai adiantar essa teimosia, se estou sendo mais verdadeiro do que a própria poção Veritaserum? Nestes tempos em que vivemos, as condições estão mudando velozmente...pessoas se tornam outras, envelhecem, e, igualmente, se transformam...para o bem, ou para o mal. E a questão disso tudo é que a “metamorfose de vida” , além de nos deixar diferentes, nos afasta e, às vezes, pode nos machucar.

Só que esses machucados, ninguém consegue ver, são iguais as marcas de amor, mas dolorosas e ainda mais difíceis de se esquecer. E eu tenho medo que você continue a se lembrar de mim, e deixe esses machucados abertos e sensíveis a dor...que essa lembrança a faça andar para trás, para um caminho sem transformações, e também falo no sentido literal, pois temo que, por minha culpa, perca esse maravilhoso dom de metamorfomagia. Sendo honesto também será árduo para mim, sua energia sempre me contagiou, e não quero que ela acabe, quero que permaneça a mesma brincalhona, e até desastrada, Tonks de sempre...nem que seja necessário nos afastarmos por completo.

Então, se for lembrar de mim, tenha isso em mente: estou ficando velho, e vivendo arriscadamente, as coisas dificilmente irão mudar para a melhor e passaremos por um período ainda mais sombrio do que 17 anos atrás,. Tenho certeza que você entenderá que essa decisão será necessária, afinal, é uma mulher inteligente e saberá escolher entre o essencial e o descartável.

Obs: perdoe-me por aquela noite e também por estar lhe dando sermões novamente, mas, é o que se faz quando se preocupa com alguém que, mesmo não estando perto, está mais presente do que nunca.

Com respeito e sinceros votos,

Remo J. Lupin