Um pequeno problema

Menino homem.


A mulher sentou-se ao seu lado e também sem saber o que fazer alegou:

— Vamos juntos entender o que está acontecendo! O que você foi fazer naquela casa ali atrás?

— É a casa de meus padrinhos. Mas eles não estão mais lá!

— Quem são seus padrinhos?

— Helias e Alice. Mas eles sumiram! Tem um velhinho morando lá!

— Ouça menino, ali onde você foi não moram Helias e Alice. Aliás, nessa rua não mora esse casal. Eu conheço todo mundo por aqui.

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— Eu venho na casa deles todos os dias! Eles moram naquela casa! Mas por que a rua está tão diferente? A rua não tem asfalto. A rua da minha casa também é diferente! Minha casa é diferente. E meus pais não estão lá! Tem outra mulher morando lá.

— Venha comigo — levantou-se Luciana, arrastando-o pela mão. — Vamos agora conversar com a tal mulher que mora na casa de seus pais.

Ele a acompanhou, entrando e sentando-se no banco traseiro do carro, enquanto Luciana gritava:

— Filha, eu vou com esse menino na casa da avó! Você vem com a gente?

— Não! — Respondeu ela ainda no quarto.

Em poucos segundos o carro já deixava a garagem e o portão tornava a se fechar sozinho.

— Quem fechou o portão? — Questionou-a o menino.

— Um leve toque com o dedo nesta alavanca e ele me obedece — riu Luciana, mostrando ao pequeno a alavanca do farol alto do veículo.

Não se passara nem cinco minutos e o carro estacionava seu em frente a mesma casa em que o menino estivera de manhã.

— Esta é a sua casa? — Perguntou virando-se para o menino.

Ele acenou que sim, depois questionou:

— Como você soube vir aqui se eu não disse onde era?

— Também preciso entender esse mistério — deu de ombros ela. — Também preciso encontrar meu marido.

— O que aconteceu com seu marido?

— Ainda não sei! Venha comigo.

Ambos desembarcaram e mesmo sem chamar abriram o portão e adentraram, chegando até a sala de estar onde encontrou sua proprietária, que já caminhava a seus encontros.

— Foi ele quem esteve aqui pela manhã, dona Maria?

— Foi! Encontrou seus pais, menino?

— Este menino acordou em minha cama usando as roupas do seu filho e sequer sabe quem é ele. Disse que mora aqui! Não sei o que está havendo. Ele deve ter passado por algum trauma e deve estar com algum tipo de amnésia.

— Não sofri trauma e nem tenho esse negócio que você falou! — Protestou o pequeno.

— Tadinho! — Comoveu-se a idosa. — Como ele foi parar lá? Regis o levou?

— Não sei! Não o vi ainda hoje! Nem sei aonde foi parar!

— Aonde a senhora mora? — Perguntou o menino à idosa. — O que está fazendo em minha casa? Por que minha casa está tão diferente? Onde está a minha mãe e o meu pai… e meus irmãos?

— Menininho… — insistiu Luciana. — Preste atenção. Esta aqui não é a sua casa! Igual a outra casa que também não é de seus padrinhos! Aqui só mora esta mulher! Que por sinal é a minha sogra… mãe do meu marido. Todos os filhos dela estão casados.

— O que está acontecendo? — Assustado ele só podia mesmo era chorar. — Eu quero encontrar os meus pais!

— Calma que a gente vai encontrar seus pais! Vamos agora à polícia!

— Não! — Apavorou-se mais. — Na polícia não!

— Precisamos ir. Meu marido também está sumido e eu não sei aonde ele foi parar.

— Não quero ser preso!

— Você não será preso! Imagina!

— Nem quero ir pro orfanato!

— Você não vai pro orfanato! Claro que não! Eles irão nos ajudar a encontrar seus pais.

— Não quero ir na polícia!

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Luciana aproximou-se do aparelho de televisão desligado e mostrando a ele perguntou-lhe:

— Sabe o que é isso?

— Televisão.

Ligou-a e assim que as imagens em nitidez perfeita surgiram, o menino emendou:

— Imagem colorida.

— Você já viu televisão?

Ele balançou os ombros como a dizer “poucas vezes”

— Por que você diz que aqui é a sua casa?

— Eu moro aqui! — Foi convicto. — Está diferente, mas eu moro aqui faz mais de um ano!

— O que está diferente nesta casa e a que você diz morar?

— A varanda era pequena. Não existia garagem. A sala era até aqui — mostrou onde dividia a sala no lugar que separa tais dois ambientes. — Deste outro lado ficava a cozinha. Aqui no canto tinha o fogão …

— O fogão está na outra cozinha — emendou Luciana.

— Não era aquele — negou o menino choramin-gando. — Ele era vermelho, feito de cimento.

— Preste atenção, você disse que faz mais de um ano que mora nesta casa. Onde você morava antes?

— No sítio, ué!

O menino dirigiu-se a uma pequena estante ao lado do sofá maior e apontando para uma moldura com a foto de um bebê, perguntou à idosa:

— Por que a senhora tem esta foto?

— É uma linda moldura! — Alegou dona Maria. — Você gostou dela?

— Na foto sou eu… quando bebê.

— Ele pode até se parecer com você bebê — riu a idosa. — Mas com certeza não é! Ele é meu filho.

— Esse cabelo pra cima e essa roupa que ficou parecendo vestido, faz meus irmãos rirem de mim todos os dias. Por isso eu sei que sou eu.

— Como é o seu nome, menino? — Arrepiou-se Luciana.

Ele apenas balançou os ombros como a perguntar “o que isto ajuda? ”

— Você… mora aqui?

— Eu moro. Mas está muito diferente.

— Em que ano nós estamos?

Deu de ombros como a não saber.

— Quantos anos você tem?

— Nove…

— Em que ano você nasceu?

Novamente os ombros responderam em negativa.

— Quantas vezes o Brasil foi campeão na copa do mundo de futebol?

Os ombros pequenos disseram que nem sabia o que era copa do mundo.

— Em sua casa você nem tem televisão!

— Só rico tem televisão — foi incisivo o menino.

Luciana estava apavorada. Virou-se para a sogra:

— Esse menino veio do passado! — Disse ela.

— Não vim do passado! — Protestou ele.

— Já andou em um carro igual ao meu?

— Nunca! Ele é muito bonito e gostoso de andar.

Voltou-se para o pequeno e especulou-o:

— Você entrou em algum tipo de máquina que fez alterar suas coisas?

— Não entrei em nenhuma máquina!

— Dona Maria, esse menino embarcou em alguma máquina do tempo que o trouxe do passado para o nosso presente. A questão d’ele ter vindo sem suas roupas explica isso. Ninguém conseguiria viajar no tempo levando consigo coisas, porque elas são moléculas mortas. O estranho é que com isso meu… esposo desapareceu.

— O que significa? — Estranhou a idosa.

— Significa que eu acho que acabei de ganhar um lindo filho e perder um lindo marido…

O menino não entendia nada. Nem mesmo a mulher idosa estava entendendo e emendou:

— O que você quer insinuar?

— Que eu não sei se vou ficar com ele ou devolvê-lo pra senhora. Este menino é o filho da senhora, do passado.

A idosa observou com atenção o menino de pé naquela sala e então concordou:

— Ele se parece muito com Regis quando pequeno. Mas como isso aconteceria? Como ele viria do passado?

— Eu já falei, não vim de nenhum passado! — Protestou o pequeno.

— Lembra que eu disse que uma vez recebemos a visita de uma pessoa que dizia nosso filho? — relembrou dona Maria.

— Sim! A senhora comentou quando passei aqui.

— Então! É o mesmo caso. Inverso. Esse menino se diz meu filho. E se parece com Regis.

— Qual é o seu nome, garoto? — especulou Luciana.

— Alex. Mas eu queria chamar Regis Alexander Cordeiro dos Santos.

— Nossa! Pra que tanto?

— É meu nome! — Deu de ombros.

Luciana sempre chamava o marido apenas pelo primeiro nome que sequer se ostentava que o mesmo tinha um nome tão longo.

— Pronto! — Suspirou ela perdida. — Uma parte do mistério está resolvida. Vou para casa, depois aviso a senhora o que vai acontecer.

— E ele? — Perguntou-lhe a idosa.

— Vou levá-lo comigo. É seu filho, mas é meu marido!

— Não sou seu marido! — Protestou o pequeno. — Sou muito pequeno pra ser casado!

— Pois é! — Riu desajeitadamente Luciana. — Vou ter que providenciar urgente mamadeiras e fraldas!

— Não uso fraldas e nem tomo mamadeira!