A Volta da Raposa

Monastário Faz Concessões


Como Don Alejandro previa, Diego tinha entrado em contato com o advogado da família, o experiente Dr. Ávilla. Embora a noite já tivesse caído, os dois se dirigiram apressadamente ao quartel.

— Capitão! – bateu um soldado à porta enquanto já entrava.

— O que é, soldado? – perguntou Monastário secamente.

— Don Diego de La Vega e seu advogado estão aqui e desejam vê-lo, senhor. Don Diego exige poder falar com o pai.

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— Exige é? E quem esse moleque pensa que é, para exigir alguma coisa? – perguntou o capitão sem saber ao certo se se irritava ou se animava com a audácia de seu inimigo - Mande-os entrar.

O soldado obedeceu à ordem e logo os dois entraram no escritório, enquanto o soldado se retirava.

— Eu exijo ver o meu pai imediatamente, Capitão Monastário. – falou Diego, sem rodeios.

— Boa noite, De La Vega. Achei que os filhos dos fazendeiros recebiam uma educação melhor do que essa... – observou Monastário de forma arrogante - Eu disse que só seria permitido falar com ele amanhã de manhã e como o senhor pode ver, ainda é hoje, então a resposta é não.

— Capitão, eu sou Antonio Ávilla, advogado da família De La Vega e não vejo motivos para Don Diego não poder falar com o seu pai. Até onde eu sei, não há nenhuma lei que o proíba de fazer isso. Eu também desejo falar com meu cliente.

Monastário refletiu por alguns instantes e sabia que o advogado tinha razão e não podia impedi-los de falar com o prisioneiro, então, muito insatisfeito, permitiu a vista.

— Tudo bem. Vocês têm vinte minutos, cada um, para conversar com o prisioneiro aqui nesta sala.

— De acordo, Capitão. – respondeu o advogado – Fale com ele primeiro, Don Diego, depois será a minha vez.

— Obrigado, doutor. – agradeceu Diego, já mais aliviado em poder trocar algumas palavras com o pai, mesmo que fosse por pouco tempo.

— Tragam o prisioneiro Alejandro de La Vega! – berrou Monastário irritado para o soldado mais próximo enquanto deixava a sala.

Pouco tempo depois a ordem já tinha sido cumprida e pai e filho puderam se reencontrar.

— Meu pai, como o senhor está? – perguntou Diego, preocupado.

— Eu estou bem, filho. Obrigado por vir e obrigado ao senhor também, Dr. Ávilla.

— Eu estou aqui para servi-lo, Don Alejandro, mas deixarei que os senhores conversem primeiro e depois eu volto.

Assim que disse isso, o advogado se retirou e aguardou o momento de falar com seu cliente do lado de fora da sala, juntamente de um soldado que guardava a porta. Monastário, que se mantinha há uma certa distância, olhava impacientemente para seu relógio de bolso, cronometrando o tempo das visitas.

Lá dentro, pai e filho finalmente puderam terminar a conversa que tinham começado naquela manhã, quando foram abruptamente interrompidos pelos soldados.

— Então, Alejandro De La Vega, quero que me explique tintim por tintim o que o senhor e seus amigos andaram aprontando. Um certo sargento gorducho esteve lá em casa hoje a tarde para me mandar notícias suas.

— E não é que ele foi mesmo! – Don Alejandro riu, ao ver que Garcia tinha realmente ido até a fazenda, mesmo com todo o medo que sentia por seu comandante – Bem, Diego, eu vou te contar o que fizemos, ou melhor, o que tentamos fazer.

Os dois se sentaram e Don Alejandro contou todo o malfadado plano para o filho, mas também observou que talvez nem tudo estivesse perdido, já que havia uma remota chance de o governador ter recebido a carta sem Monastário saber.

Diego ficou desapontado com o pai por ele não ter esperado como havia prometido, mas viu que não era justo desaprovar sua atitude, quando ele próprio já tinha descumprido tantos tratos feitos com o pai. Ele concordou em esperar por mais um dia e caso não tivesse notícias do governador, Zorro agiria. Apesar de Don Alejandro querer evitar que mais sangue fosse derramado, principalmente o do seu filho, ele concordou com a ideia de Diego. Eles queriam ter mais tempo para conversarem, mas seus vinte minutos tinham se esgotado e Diego cedeu a vez ao advogado.

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Diante do Dr. Ávilla, Don Alejandro foi obrigado a contar toda verdade e admitir a culpa por conspiração. Embora o advogado entendesse os motivos de seu cliente e até mesmo concordasse com eles, reconheceu que a situação seria bastante complicada, caso o próprio governador não interviesse a seu favor. Também disse que se reuniria aos advogados dos demais fazendeiros para tentar organizar uma defesa coletiva.

Don Alejandro aproveitou a oportunidade para contar da situação precária em que os prisioneiros se encontravam, assim como da necessidade de um médico, que o Capitão se recusava a chamar.

E assim, os vinte minutos dos dois também se esgotaram e eles se despediram com um forte aperto de mão, enquanto Monastário já voltava para a sala, não permitindo que as visitas permanecessem nenhum segundo sequer além do tempo estipulado.

— Vejo que todos já falaram o que tinham que falar e as visitas estão encerradas.

Rapidamente, um soldado com cara de poucos amigos pegou Don Alejandro pelo braço e o levou de volta para sua cela, onde ele permaneceria junto dos outros pelo resto da noite.

— Preciso falar com o senhor, Capitão. – disse o advogado.

—Pois bem. O que deseja, doutor advogado? Não me diga que é falar que seu cliente é inocente? – disse Monastário com uma grande gargalhada.

— Bem, Capitão, eu acabei de falar com Don Alejandro e ainda não estou preparado para iniciar sua defesa, mas várias coisas me chamaram a atenção nas circunstâncias das prisões, não somente de Don Alejandro, assim como de todo os outros.

— Eu não vejo nada de errado, advogado. A única coisa que vejo aqui é a lei sendo cumprida com rigor. – replicou Monastário descaradamente.

— Pois então, deixe-me elucidar algumas questões para o senhor. – começou o advogado com um ar bastante sério. – Essas pessoas são prisioneiras, é verdade, mas nem por isso deixaram de ser seres humanos. Eles estão sendo tratados sem um pingo de dignidade.

— Eu educadamente discordo de seu ponto de vista, doutor, mas diga-me, em que acha que podemos melhorar para tornar mais agradável a estadia de nossos ilustríssimos convidados? – perguntou ironicamente.

— Primeiramente, além de as celas estarem lotadas, as mulheres não deveriam jamais estar juntas dos homens. Exijo que elas fiquem na cela que está vazia.

— Isso pode ser providenciado. Algo mais doutor advogado? – concordou o Capitão.

— Eles devem receber comida e água suficientes para se sustentarem.

— Eu garanto que eles estão recebendo o suficiente e que nenhum deles vai morrer de fome em meu quartel.

— Acreditarei em sua palavra. – disse o advogado a contragosto - Alguns dos prisioneiros já passaram de certa idade e deveria haver acomodações suficientes para todos nas celas.

— As celas, por padrão, possuem apenas uma cama. Posso no máximo acrescentar mais um colchão em cada cela, sem cama. Se queriam conforto, não deveriam ter infringido a lei.

— Aceito. E por último e mais importante: há dois homens feridos que precisam imediatamente de auxílio médico. Se eles morrerem em sua prisão, Capitão, ainda mais devido a maus tratos, pode ter certeza de que farei questão de fazer com que isso chegue aos ouvidos do magistrado.

O capitão ponderou por alguns instantes. O advogado era experiente e duro na queda, então ele decidiu concordar.

— De acordo, advogado. Vou pedir para trazerem o médico. Algo mais em que posso lhe ser útil, senhor? – perguntou calmamente com um olhar frio, mas incapaz de intimidar o Dr. Ávilla.

— Por enquanto não Capitão, mas aguarde notícias minhas. Voltarei em breve com a defesa de meu cliente.

— Não sei se terá tempo para isso, doutor... Boa noite e o horário de visitas está encerrado.

Monastário se despediu praticamente expulsando o advogado de seu gabinete e deixando-o com uma pergunta em sua cabeça: “O que ele quis dizer com não sabe se terei tempo para isso?”