Sereno

Sereno


O dia amanheceu ensolarado, mas um vento frio era sentido cortando os rostos dos moradores de Konoha. Hinata despertou vagarosamente e olhou para o seu despertador. Era cedo, mas, como estava de folga naquele dia, ele não tocou.

Olhou para o pequeno calendário, que sempre estava ao lado do despertador, e suspirou ao ver o círculo vermelho em volta do dia.

Era o primeiro dia de Obon depois da Quarta Grande Guerra Ninja, e o seu clã era extremamente tradicional com todas as comemorações. Mas aquela era de suma importância para ela, muitas pessoas queridas haviam falecido na vida de Hinata: sua mãe, seu tio e, há pouco tempo, seu primo havia dado a sua vida para salvar ela e Naruto.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Uma pequena lágrima escorreu no canto dos olhos da Hyuuga assim que se levantou. Queria poder voltar no tempo e mudar muitas coisas, queria poder defender as pessoas que amava com unhas e dentes, queria que Neji nunca precisasse ter feito o que fez.

Secou a lágrima e foi se trocar; respirou fundo mais uma vez e foi comer algo junto com sua irmã, que já a esperava à mesa. Sabia que hoje o dia seria longo.

Algumas ruas mais adiante do clã Hyuuga, estava a casa de Tenten. Que encontrava-se enrolada em uma coberta quente, tomando seu chá e olhando o pouco movimento pela janela da sala. Ela, seu sensei e seu companheiro de equipe, Rock Lee, também iriam para o primeiro dia de Obon. Hinata fizera questão de chamar os amigos de Neji para que ajudassem na prática do Mukaebi, dentro do clã Hyuuga. E, para Tenten, aquele convite era uma honra, pois pouquíssimas pessoas de Konoha foram chamadas para adentrar o clã sem fazer parte dele.

Tenten olhou pesarosa para o porta-retrato com todos do seu time, e pensou no quanto uma fotografia era importante. Eternizava uma vida inteira, um momento; com toda certeza, uma das melhores invenções do ser humano. Só não gostava de fotografia quem realmente não gostava da nostalgia que ela trazia.

Pegou o porta-retrato de madeira em suas mãos e sorriu para o olhar fechado de Neji naquela fotografia. Uma lágrima rolou por seu rosto e caiu no vidro que protegia a foto. Nesse momento, também quis agradecer a quem inventou o vidro, por proteger a fotografia, por proteger o sentimento e a saudade que estavam ali, tão frágeis, tão tristes, mas ao mesmo tempo felizes por já terem sido vividos.

Três ruas atrás da casa de Tenten, estava o campo em que Rock Lee e Gai sensei treinavam. Naquele dia, haviam combinado que treinariam só o aquecimento inicial que sempre faziam, 4000 flexões, 5000 abdominais e 60 voltas por Konoha plantando bananeira.

Acordaram antes do sol se pôr e já haviam feito o suposto aquecimento, mas tanto Rock Lee quanto Gai estavam tristes demais, choravam a cada passo que davam, a cada contagem das flexões e dos abdominais. E estavam exaustos sem ao menos fazer um treino normal deles.

— Lee, temos que ser fortes. Neji não gostaria desse nosso comportamento — Gai falou, tentando engrossar a voz assim que terminaram o aquecimento inicial que haviam combinado. Mas se sentiam mais fracos e cansados, como nunca haviam se sentido.

— Eu sei, Gai sensei — falou Lee, com os olhos vermelhos e com o beiço de choro —, mas eu queria que tudo tivesse sido diferente.

— Eu também queria! — respondeu Gai, chorando junto com seu discípulo.

Resolveram, então, permitir esse descanso, por Neji. Pararam os treinos e foram para suas casas; iriam se arrumar para aquele dia, exclusivamente para o Hyuuga que tanto amavam.

O dia foi passando, os Hyuugas fizeram uma fogueira não muito grande no meio do jardim do clã. Algumas lanternas de papel já estavam preparadas, e poucas pessoas, convidadas dos Hyuugas, entravam pelo grande portão do clã.

Hinata estava, apesar de triste, ansiosa para que seus amigos chegassem. Sabia que era algo totalmente fora do comum pessoas de fora entrarem no clã, precisava ser uma boa anfitriã acima de tudo, para que seu pai afrouxasse mais as rédeas algumas vezes.

Gai, Rock Lee e Tenten foram pontuais com o horário que Hinata os passou para a prática do Mukaebi, sabiam o quanto o clã era rigoroso e não queriam fazer feio, ainda mais em um dia tão especial.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Rock Lee e Gai-sensei não conseguiam esconder a cara de choro, Tenten era melhor nisso do que eles, mas, mesmo assim, também parecia abatida. Hinata os recepcionou no portão do clã e levou os três até um grande salão onde haviam colocado uma farta mesa com comidas, sucos e chás.

— Fico feliz que puderam vir — Hinata falou baixinho, mas todos ouviram.

— Claro que viríamos, Hinata-chan — falou Gai-sensei. — Neji era muito importante para todos nós. Está eternizado em nossos corações.

— Fico feliz em saber que meu primo era tão querido. — Hinata sorriu e recebeu um abraço inesperado de Tenten.

— Obrigada, Hinata. Não imagina o quanto estou grata por participar de algo tão significativo como isso. — Lee e Gai se aproveitaram da deixa e também abraçaram Hinata junto com Tenten, no meio do salão do clã.

Todos os outros Hyuugas, que não eram muito carinhosos com as pessoas, olharam aquela cena e arregalaram os olhos, mesmo tendo noção do porquê de aquelas pessoas abraçarem Hinata.

A Hyuuga, de início, ficou com vergonha de todos estarem abraçando-a desse jeito, mas, no fim, se rendeu a demonstração de afeto dos amigos e do sensei.

Depois do abraço em conjunto, Hinata fez questão que eles três comessem, mas, por incrível que parecesse, Gai e Rock Lee comeram muito pouco.

Um pouco mais de duas horas que as pessoas já estavam todas reunidas no grande salão do clã Hyuuga, Hiashi, o líder do clã e pai de Hinata, subiu em um pequeno palco de madeira e todos ficaram quietos imediatamente.

Hiashi começou a falar como a prática do Mukaebi funcionava e sobre a importância dela. Enquanto isso, cinco mulheres, contando com Hinata e Hanabi, distribuíam as lanternas de papel para cada um ali presente.

— A fogueira já está acesa lá fora, como podem ver — falou Hiashi, apontando para o jardim. — Minhas filhas passaram acendendo cada uma dessas lanternas que demos a vocês. Peço para que cada um aqui presente mentalize qual ou quais pessoas vocês gostariam de presentear com essa prática milenar. Mentalize coisas boas para essa pessoa; hoje não é bem um dia de tristeza, é um dia de respeito para com essas almas.

Lee e Gai se seguravam o máximo que podiam para não fazerem um escândalo ali mesmo.

— Lee — Gai o chamou —, vamos respirar profundamente e soltar o ar aos poucos, recuperando nossas emoções, tudo bem?

— Sim, Gai sensei — respondeu Lee, segurando firmemente a lanterna de papel que Hinata acabara de lhe dar.

— Ei, meninos — falou Tenten —, Neji estará aqui hoje, devemos nos alegrar.

— Tenten tem razão — Gai concordou, olhando para Rock Lee. — Devemos contemplar Neji Hyuuga hoje.

Lee afirmou com a cabeça e respirou profundamente mais uma vez, soltando o ar vagarosamente junto com Gai e Tenten, que fingiu não fazer o mesmo que os dois.

Ela estava nervosa, ansiosa e morrendo de vontade de chorar, mas já estava farta de tanto fazer isso. Neji não ficaria feliz em vê-la assim.

Hiashi saiu de cima do palco e foi ao redor da fogueira do jardim, fazendo com que todos do salão o seguissem. Hinata e Hanabi pegaram, cada uma, um galho e passaram perto de cada pessoa para acender a lanterna de papel. Depois, com cuidado, acenderam cada uma a sua lanterna, com cuidado. Quando Hiashi deu o comando, todos os Hyuugas começaram a cantar uma canção que só quem era do clã entendia o significado.

Rock Lee, Tenten e Gai se entreolharam e viram Hinata cantando com sua doce voz, de olhos fechados. Era nítido seu sentimento e sua dor, mas o que eles não puderam ver foi a lágrima que ela deixou cair de seus olhos.

Depois da linda canção, Hiashi soltou a sua vela de papel, e um súbito vento a levou para longe. Logo em seguida alguns outros Hyuugas fizeram o mesmo.

Hinata mentalizou sua querida mãe, que pouco conhecera; seu tio, que só se lembrava por foto, mas sempre gostava das boas histórias que contavam dele; e seu primo que morreu há tão pouco tempo. Mentalizou como gostaria que todos ainda estivessem perto dela, mas também desejou que essas almas tivessem paz e descanso onde quer que estivessem. Abriu seus olhos perolados, olhou atentamente para a fogueira e soltou a lanterna de sua mão. Aos poucos foi notando que o espírito de sua mãe estava ali, ao lado de seu tio; os dois sorriram para ela e acenaram antes de sumir. Hinata sorriu, aliviada em ver que os dois estavam bem. Depois de alguns minutos, pôde ver o espírito de seu primo, Neji, também. Alto, com seus longos cabelos, com o uniforme que usou na guerra e com os braços cruzados. Sua cara já não era mais fechada, parecia sereno. Ele acenou com a cabeça e sumiu aos poucos. Mais uma lágrima rolou dos olhos de Hinata, mas ela estava com seu coração em paz agora.

Rock Lee olhou com dúvida para o sensei ao seu lado e para a amiga do outro. Respirou profundamente, pensou em como gostaria de ver Neji bem, abriu os olhos e soltou a lanterna. Olhou em direção à fogueira e pôde ver o espírito de seu amigo, que tinha um pequeno sorriso na boca, mas que já significava tudo para ele.

— Neji! — Lee gritou sem querer, e tapou a boca no mesmo minuto, olhando atento para os lados. Mas ninguém ligou muito para o que ele havia feito.

Maito Gai, assim que mentalizou seu querido aluno, também soltou sua lanterna e viu Neji com o mesmo sorriso que Rock Lee o viu. Aquilo fez os olhos do sensei se encherem de lágrimas e ele fez um bico grande, parecia um bebê chorão, mas voltou a respirar fundo e presenciou o espírito de Neji rindo com a mão na boca. Neji desapareceu para Gai e Lee ao mesmo tempo, e ambos se abraçaram quando ele se foi.

Tenten observou toda aquela cena e resolveu que era a sua vez de ver o amigo. Respirou profundamente, fechou os olhos e falou consigo mesma:

“Vamos Tenten, seja forte.”

Mentalizou o Hyuuga de longos cabelos negros, olhos claros e jeito sério. Apesar do jeito recluso de Neji, Tenten amava ver o quanto ele gostava de cuidar de todos.

Imaginou Neji em seu treino, ele adorava treinar todos os dias e tinha o seu próprio ritmo; mentalizou como ele era feliz naquela época e o quão bonito ele estava ficando a cada dia. Tenten abriu os olhos e, antes que pudesse pensar em soltar a lanterna, viu o espírito de Neji em sua frente, colado com seu rosto.

Tenten se assustou, mas não falou nenhuma palavra. O espírito de Neji levou o dedo indicador até a boca, um sinal para que que ela ficasse quieta, e Tenten obedeceu, sentindo um ar gelado em sua espinha. A mão do espírito de Neji tocou a sua. Parecia mágica, mas ela sentia o toque. Neji fez menção de levantar as duas mãos de Tenten e ela o seguiu, soltando a lanterna de papel para que ela voasse.

Os dois abaixaram as mãos ainda se encarando, Neji com um sorriso sereno no rosto e Tenten com cara de assustada. Mas gostaria de ficar naquele momento para sempre.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Neji aos poucos foi soltando as mãos de Tenten, e tocou-a no rosto, sorrindo de um jeito mais terno enquanto olhava nos olhos castanhos dela. Tenten não fechou os olhos por nenhum segundo, não queria perder absolutamente nada daquele momento.

O Hyuuga percebeu o quanto ela estava assustada, apesar de feliz, e sabia também que isso não aconteceria novamente, conhecia muito bem como tudo isso funcionava. Então, se inclinou para frente, tocando-a com um beijinho na ponta do nariz de Tenten. A menina se arrepiou inteira em sentir o toque no seu nariz. Não falou nada e não teve reação nenhuma. Depois de alguns minutos Neji desvinculou o toque, olhando-a novamente nos olhos e sorrindo. Tenten sorriu também e respirou profundamente; estava repleta de felicidade.

E, para se despedir, Neji piscou um dos olhos, fazendo com que Tenten se surpreendesse. O espírito dele foi se dissipando aos poucos e sumiu reverenciando-a, como se falasse “obrigado”.

Outra lágrima grossa rolou no rosto de Tenten. Ela se sentia feliz, completa e serena, assim como Neji estava.

Olhou para seus amigos, que ainda choravam abraçados, e se vinculou ao abraço dos dois. Neji não estava mais presente ali, mas ainda estava entre eles, e seria assim para sempre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.