Choose Me. Love Me.

Desde o Fim


Sara morreu um pouco naquela manhã.

Alguma coisa de muito errado estava acontecendo ali. Sua garganta doía pelo choro sufocado que se manifestou numa lágrima solitária a princípio. Na verdade, seu corpo todo doía. Seus pulmões, seu estômago, as pernas vacilavam. O peito formigava. Sua alma tremia só de imaginar que ele pudesse estar partindo. No fundo ela sabia, bastou fitá-lo por um instante para uma certeza se firmar em seu coração, e isso foi triste demais.

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Parte sua queria sair correndo dali numa velocidade que nunca conseguiria alcançar, para fugir da dolorosa realidade que já sabia estar por vir. Mas fugir para onde? Não havia nenhum lugar no mundo onde pudesse encontrar consolo ou que magicamente transformasse aquele cenário num pesadelo do qual acordaria, olharia para o lado e ele estaria lá, sorrindo lindamente enquanto a tranquiliza dizendo que não precisa ter medo de perdê-lo.

Não tenha medo, estamos juntos agora e eu não vou a lugar nenhum”, ele disse.

Mas ele estava indo agora. Será que não podia ficar? Se ela nunca pedisse ele jamais poderia negar e então ainda lhe restaria alguma esperança. Poderiam ficar ali se encarando para sempre, mas lhe arrepiava a incerteza do futuro mais feliz que poderia imaginar ter refletido naquele par de olhos azuis. E então num surto de coragem ela perguntou.

— Grissom, aonde você vai? – diz vacilante por já saber a resposta. Com todas aquelas malas ele só poderia estar indo a um lugar.

— Estou indo embora. Preciso voltar a Vegas, eu... - seu tom é de quem pede desculpas sem dizê-lo de fato. – Não posso mais ficar aqui.

Os braços cruzados de Sara se apertaram ainda mais contra seu corpo magro, o toque da camisa de Grissom que vestia era macio sobre a pele. Nenhum dos dois saberia dizer quanto tempo se passou até que falassem novamente, pois naquele instante era como se não existe mais nada no mundo além deles mesmos, e por isso se encaravam, pois não havia mais nada para olhar.

Grissom queria memorizá-la, guardar aquela imagem do sol refletindo no cabelo de Sara o fazendo ficar alguns tons mais claros, os olhos semicerrados lhe dando uma expressão sonolenta. Como adorava vê-la descalça, como estava agora. Queria levá-la para dentro e fazer amor mais uma vez.

— Eu terminei com Nick, conversei com ele ontem e acabamos tudo. - Sara diz pesarosa.

— Sara, eu sinto muito. Sinto muito que tenha feito isso por minha causa.

— Não, eu fiz por mim. - tratou logo de esclarecer. Deus! Como Grissom conseguia ser tão tolo?! - Eu não seria feliz ao lado de alguém que não fosse você – e isso lhe partia o coração. No fundo nenhum dos dois queria que fosse desse jeito. Mas essa era a verdade triste e inevitável que paira entre eles há tanto tempo. - Eu me arrependo do que fiz com ele, eu fui horrível durante todos esses dias e... – levou a mão até a boca num gesto incrédulo. Não é como se conseguisse não chorar agora. - eu me sinto péssima por isso, porque não sou esse tipo de mulher...

Grissom sente o corpo de Sara tremer quando avança o espaço na calçada que os separa e a acolhe num abraço. É um tanto quanto egoísta já que antes de tudo ele se delicia por senti-la tão perto outra vez.

— E você não é, Sara. Não é assim. - diz firme. - O que fizemos parece sujo mas eu não sinto como se fosse… - o que viveram nessas últimas semanas o fez mais feliz do que tem vivido há anos. Como pode isso ser errado? - Simplesmente não é.

— Ele me odeia agora, não importa o que eu faça, não posso consertar isso. - se separa o suficiente para seus olhos se encontrarem - O estranho é que eu o amo. Eu amo o Nick... - confessou. - Mas amo ainda mais você. Eu sempre te amei.

— Eu sei, querida. – verdade seja dita, Grissom pode até sentir -. Por isso eu queria que as coisas fossem diferentes, que nossas vidas acontecessem de outro jeito... - interrompe o abraço que ainda mantinham, deixando os braços caírem ao lado do corpo como quem se dá por vencido. - Porque eu também te amo!

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— Se você me ama então porque está indo embora? Nós nunca ficamos juntos. Nunca podemos ficar juntos.

— Ninguém pode ficar do jeito que quer, Sara.

— Você está sempre saindo da minha vida e eu acabo sozinha, sem ninguém. Só dessa vez, uma única vez, me escolha. - Evitou citá-la durante as últimas semanas em que passaram juntos, mas agora é inevitável. Sentiu como se tivesse levado um soco muito forte no estômago, fazendo a palavras serem vomitadas de sua boca. - Se me ama então porque prefere voltar pra ela? Você sempre a escolhe.

Ali mesmo da calçada Sara acompanhou o táxi em que Grissom estava até não conseguir mais avistá-lo. Com as costas da mão enxugou as lágrimas que ainda molhavam seu rosto. Na sua cabeça uma voz que lhe congelava a espinha dizia que era assim que terminava.