Quatervois

Capítulo VI


O acontecimento na festa de Tomás me deixara especialmente atento à ameaças. Passei a evitar música alta e festas, não que houvessem muitos convites antes disso: meu único conhecido era Tomás. No fim daquele mês, consegui pagar o aluguel que ele tinha proposto, e fiquei satisfeito com isso. Coloquei o dinheiro num envelope azul (ou será que era verde?), e entreguei à Tomás.

Eu ainda estava com o lábio inchado, e colocava gelo constantemente no meu joelho para que ele não doesse. Todas as noites, eu tinha o mesmo sonho: eu acordava dentro da boate, sem música, sem pessoas, e ouvia Tomás do lado de fora. Eu corria até lá, e o troglodita estava me esperando para me acertar.

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Por causa de um mal entendido. Mesmo que não fosse! Não importava o motivo, ele estava errado. Era agressão. Era homofobia. E isso me corroía por dentro. Por não ter percebido a intenção dele, por ter perdido ele na multidão. E se não fosse eu ali fora? Se Tomás tivesse encontrado ele antes?

O ódio cega, e ele me cegou também. Demorei vários dias até perceber como Tomás se sentia. A culpa que ele emanava era tamanha que quase podia-se tocá-la! E por mais que eu quisesse dizer que o abracei e o confortei, seria mentira. Eu prometi a mim mesmo que iria contar apenas a verdade, e a verdade é essa: eu deixei ele lá, desolado. Ele continuava indo ao trabalho todos os dias às oito da manhã, e voltava às três da tarde, mas o resto do tempo ele ficava sozinho e calado. Seus pensamentos eram sobre a morte, e seus sentimentos eram soturnos.

E eu não fiz nada, senão buscar a luta. Eu deixei que a raiva vencesse, e me arrependo disso. Mas a história deve continuar: com o dinheiro que sobrou depois de pagar o aluguel, eu busquei uma academia de krav magá.

Seria demais pedir para que eu lembrasse do nome da academia, mas ao menos eu lembro do nome do treinador: Saulo. As primeiras aulas foram uma porcaria, e eu apanhei bastante. A p [trecho ilegível e linha reta, como se a caneta tivesse sido arrastada bruscamente pelo papel até o limite da folha]

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.