Jemima

Narração por Jemima Ferraz Dolabella

Ser a irmã do meio de uma família de sete filhos é absurdamente odioso. No início só éramos eu e os meus três irmãos mais velhos então eu era a xodó da casa. A caçulinha mimada por todos. A primeira menina da família. Mas aí veio as gêmeas logo em seguida e meu reinado só durou cinco anos. Aos cinco eu fui deixada totalmente de lado porque agora tinham duas lindas bebês para darem atenção. Achei interessante dois garotos baderneiros na escola que conseguiam todas as atenções para eles e decidi me aproximar. Ser simpática não rolava com eles, então precisei me impor.

No início eu seguia Quirino e Ivo para todos os lados mesmo eles fugindo de mim e obviamente não querendo a minha presença, mas como eu disse, eu precisei me impor. Quirino foi a minha primeira paixão de escola e ao perceber isso ele começou a fugir de mim. Eu tinha por volta dos onze anos nessa época, e foi justo quando nasceu mais uma das minhas irmãs.

Acabei me envolvendo em muitos rolos entre Ivo e Quirino, eu queria afastar aqueles dois daquela amizade tão unida que me deixava de lado. Queria EU ser a namorada do Quirino E a melhor amiga do Ivo. E não que eles fossem melhores amigos que me aturavam por perto. Meu ciúmes era óbvio e isso me irritava. Porque eu era tão estúpida?

Meu único amigo de verdade era o Abreu, meu irmão mais velho. Quando eu tinha 14 ele já estava com 19, era meu conselheiro e também quem me ouvia gritar e reclamar de todo mundo. Abner, meu outro irmão de 18 anos me odiava por algum motivo e Jeremias o de 16 era totalmente indiferente com todo mundo, menos com a minha mãe com quem ele era grudado. Adivinha qual deles sofreu um acidente de moto e morreu? Justo o único com quem eu me importava.

Meus pais falam que isso não é motivo para eu me rebelar contra o mundo , mas o que eu faria se em casa todas as atenções de meus pais eram para as três meninas mais novas, se meu agora irmão mais velho me tratava mal e me batia se eu aparecesse no caminho dele e o outro idiota era como um fantasma vagando pela casa sem falar com ninguém? Eu era uma solitária e a minha esperança estava em fazer Quirino ou Ivo me amarem como minha família não me amava.

Mas nada adiantou. Eu sempre estragava tudo com eles que por sua vez acabaram encontrando duas idiotas para gostarem. Quirino apaixonado pela mais ridícula da escola, loira e metida, além de super esnobe e materialista. E Ivo, o burro do Ivo, se apaixonando pela mais certinha e insuportável. Fiz de tudo para isso acabar, esses relacionamentos que obviamente estavam fadados ao fracasso, contudo nada adiantou.

Segui sozinha pelo ensino médio e decidida que me afastaria de todos e iria para bem longe o mais rápido possível após aqueles anos de inferno.