Vendados

Sand


O filme acaba, e tateio o lençol até encontrar o controle para desligar a TV. Ele não diz nada, e eu também não. Nossas mãos ainda estavam juntas, e eu não ousaria perder aquela posição perfeita.

— Você é areia, Klaus.

— Hã?

— Você é areia. Você é leite com açúcar, brisa quente de verão e areia. Não areia molhada. Areia seca, tipo a de um deserto.

— Ah, saquei. Você quer me definir sem usar adjetivos.

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— Explicar tira toda a graça! — reclamou, apertando minha mão com seus dedos. — E eu? Como você diria que eu sou?

— Preciso pensar, Pyotr. Você é meio que difícil de definir.

Ele não se importa, e eu relaxo os ombros. Coço a nuca, e puxo minhas pernas para cruzá-las sob meu quadril.

— Acho que você é tipo café. Você cheira a uma cafeteria tocando lo-fi, e seus olhos são da cor de um capuccino bem preparado. — digo. — E… não sei. Não sou bom com essas coisas.

Hm.

Um choque subiu por meu braço, passou pelo ombro e chegou ao peito. Uma súbita consciência de quem sou e onde estou, e percebi o quão estranha era toda aquela situação.

Puxei minha mão de volta para perto de mim.

Eu sabia exatamente como continuar a frase.

Pyotr era a maçã do Éden. Eu sabia que, depois de prová-lo, não teria volta. Seria expulso do paraíso que é ser alguém comum numa sociedade heteronormativa.

E, mesmo assim, eu o beijo.

A memória vai se formando à medida que ele explora meu corpo com os dedos. E, a cada toque, estremeço e arrepio. Ele sobe até meu cabelo, e desce até meu pescoço. Não ousa ser mais ousado, e não teme ser repetitivo.

Não consigo me mover. O movimento de sua língua contra a minha é quase hipnótico, mas consigo me afastar. Seus olhos escuros, como um capuccino bem preparado, não fitam nada. Ficam ali, parados, ansiando, clamando por um retorno. “Continua!”

E obedeço.

Mas não porque ele mandou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.