Segunda Chance

Capítulo IX


— Não acredito que precisamos tolerar a presença dele até hoje.

— Nem me fale. O que o Hokage tem na cabeça para permitir que esse menino fique na vila?

— Já faz oito anos, não é? Desde que estamos suportando a presença dele.

— Pois para mim parece uma eternidade.

Naruto estava acostumado a escutar aqueles comentários maldosos ao seu redor enquanto caminhava pela rua, mas tinha dias que ficava pior. Às vezes sentia todas as pessoas ao seu redor fuzilando-o com o olhar sabe Deus porque. Homens, mulheres, crianças, idosos… todos pareciam irritados com o fato de ele existir. E tinha dias em que nem pichar as casas dos outros para chamar atenção e gritar aos quatro ventos que um dia se tornaria Hokage o fazia se sentir melhor.

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Começou a correr para longe daquelas pessoas e só parou quando chegou na Academia, dentro da sala de aula mais precisamente. Iruka brigou com ele por ter chegado atrasado para a aula, mas Naruto não se deu ao trabalho de inventar uma desculpa e apenas se sentou em seu lugar.

A aula daquele dia era teórica. Naruto copiava o que Iruka dizia, sem realmente prestar atenção no assunto. Embora tenha fingido indiferença, ouviu os risos dos colegas de turma quando Iruka o repreendeu por ter chegado atrasado. Nem mesmo as crianças gostavam dele e Naruto não conseguia entender o que havia feito para ser tão odiado assim.

A aula pareceu se arrastar e quando finalmente chegou ao fim a maioria dos estudantes guardaram seus pertences de qualquer jeito e saíram correndo às pressas para fora da sala. Naruto se apressou em ir embora também. Só o que desejava no momento era ir para casa. Pelo menos não teria ninguém para julgá-lo lá.

Nunca teve. Naruto vivia em um apartamento pequeno e solitário desde que se lembrava. Aprender a cuidar do lugar foi uma tortura e, sinceramente, havia algumas coisas que ele não tinha aprendido até hoje. Como se monta um armário afinal? Ele sempre teve o mesmo armário, mas ele estava velho e uma das portas ameaçava se soltar das dobradiças a qualquer momento.

Bem, quem se importa com um armário caindo aos pedaços quando o verdadeiro problema é o fato de você não ter pais para ajudar a consertá-lo? Nem para te dar afeto, te proteger e ensinar as coisas mais básicas da vida. Aprendeu a falar muitas coisas erradas porque repetia o que os adultos ao seu redor diziam, sem saber que eram “palavras feias”. Dependeu várias vezes de Iruka para lhe pagar uma (digo, várias) tigela de ramen quando estava sem dinheiro para comprar comida. E precisou que outra criança lhe explicasse de onde vinham os bebês quando isso aparentemente era função dos pais ou algum outro adulto. Sua vida estava pior do que imaginava.

~~~~~X~~~~~X~~~~~

— Então é hoje?

— Isso explica porque ele saiu correndo daquele jeito.

— Ei — Sasuke se aproximou de Shikamaru e Chouji. Viu Naruto correr assim como o resto da turma, mas, pela cara do garoto, ele parecia querer ficar sozinho — Sabem o que aconteceu com o Naruto?

— Que milagre você falando com a gente — Shikamaru comentou. Era verdade. Sasuke não se lembrava de já ter falado com eles antes — Não se preocupe, o Naruto sempre fica assim nessa época.

— Que época?

— Relaxa. Amanhã ele deve voltar ao normal — Chouji falou com a boca cheia de batatinhas.

Sasuke revirou os olhos e desistiu de tentar arrancar alguma informação daqueles dois. Olhou ao redor e viu que havia um pequeno grupo de meninas reunidas na primeira fileira da sala. Fora elas e aqueles dois os demais estudantes já tinham ido embora. Talvez uma delas tivesse a informação que ele desejava. Não acreditava que iria apelar para isso… bem, Naruto dizia que ele era popular, certo? Vamos ver se isso servia para alguma coisa.

— Ei… hm, quero dizer, oi — ele tentou ser educado.

— Sasuke! — a mais próxima exclamou, parecendo ter visto um oásis no meio do deserto — Nós estávamos falando de você!

— Jura? — ele estava realmente surpreso.

— É claro! — outra menina se aproximou— Estávamos tentando decidir quem vai sentar do seu lado amanhã.

— Mas as carteiras são reservadas…

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— Por isso também estávamos pensando em como faremos para convencer o Iruka-sensei a deixar uma de nós sentar do seu lado. O que você acha? — a menina segurou sua mão.

— Eu não sei… escutem, eu preciso perguntar uma coisa — ele puxou a mão de volta mas continuou encarando a menina. Qual era mesmo o nome dela? Ah sim, Sakura — Alguma de vocês sabe por que o Naruto saiu correndo daquele jeito no final da aula? Ele parecia triste com alguma coisa — comentou. Um coro de desapontamento se fez presente.

— Ah, ele só deve estar chateado porque completou mais um ano de travessuras que ele acha engraçado, mas só aborrece as pessoas — Sakura abanou a mão como se fosse algo irrelevante.

— Mais um ano?

— Sim, hoje é aniversário dele — a menina que ele lembrava ser do clã Yamanaka contou.

— Minha mãe me mandou ficar longe dele nessa época do ano porque o Naruto pode aprontar algo realmente grande — outra garota falou.

— Ele deve estar triste porque vai passar o aniversário sozinho de novo — uma quarta menina comentou e as demais concordaram, fazendo comentários parecidos.

— Me digam, vocês não ficariam tristes se passassem o aniversário sozinhas? — Sasuke interrompeu a conversa delas.

— Eu jamais passaria meu aniversário sozinha — a menina Yamanaka riu — Meus pais não permitiram isso.

— Bom para você. Porque o Naruto não tem pais. Ou por acaso se esqueceram disso? — perguntou e as meninas ficaram em silêncio — Foi o que pensei — Sasuke deu meia-volta, caminhando a passos duros e ignorando a expressão de culpa que as garotas exibiam — Ah, sim. Obrigado pela informação — falou à porta, deixando a sala em seguida.

~~~~~X~~~~~X~~~~~

Naruto estava quase pegando no sono quando ouviu alguém batendo na porta. Decidiu ignorar e continuou deitado. Quem iria até lá afinal? Deviam estar procurando algum vizinho e se enganaram de apartamento. Mas a pessoa era insistente. Continuava esmurrando a porta com força e depois de quase dois minutos Naruto levantou bufando antes que a visita incômoda derrubasse sua porta.

— O que você… Sasuke? — ele olhou surpreso para o menino que estava socando a porta do apartamento — O que veio fazer aqui?

— Não é óbvio? Te visitar — ele respondeu. Naruto estava mesmo com uma aparência horrível. Os cabelos estavam mais bagunçados do que de costume e os olhos estavam inchados — Posso entrar?

— Ah… é claro — Naruto abriu espaço para o garoto passar, fechando a porta atrás de si — Como achou meu apartamento?

— Eu já te vi voltando para casa algumas vezes, mas nunca tinha vindo aqui. Ainda bem que acertei o apartamento — ele contou, olhando ao redor. Tentava disfarçar a curiosidade mas era inútil.

— É bem diferente da sua casa, não é? — Naruto comentou. O apartamento era menor, estava com algumas embalagens de ramen vazias espalhadas pela mesa e o material escolar estava jogado em cima do sofá. No quarto havia algumas roupas jogadas em cima da cama que Naruto tinha medo de tentar recolocar no armário e ele quebrar de vez por excesso de roupas.

— Lugares menores devem ser mais fáceis de cuidar — Sasuke comentou apenas — A propósito, você devia se cuidar melhor também.

— Como assim?

— Você está com uma cara horrível o dia todo e nem me disse o motivo — ele falou e Naruto se balançou na ponta dos pés, sem saber o que responder. Sasuke suspirou — Quando pretendia me contar?

— Contar o que?

— Que temos a mesma idade de novo. Hoje é seu aniversário, certo? — perguntou retoricamente — Por que não me contou?

— Bem, você também não me contou sobre o seu! — Naruto replicou — Além do mais, se eu contasse iria parecer que eu estava pedindo para você ficar comigo ou coisa assim…

— Então você prefere ficar sozinho?

— Não! — Naruto apressou-se a dizer — Quero dizer… passar o aniversário sozinho é uma droga — acrescentou e o menino assentiu — Como descobriu sobre isso?

— Perguntei para algumas meninas da classe.

— Uau! Não acredito que precisou recorrer às suas fãs — Naruto tentou imaginar a cena.

— Garotas podem ser assustadoras — Sasuke murmurou mais para si mesmo ao recordar de como foi encurralado pelas meninas — Enfim, trouxe uma coisa para você.

Ele tirou uma caixa de madeira da mochila que carregava e entregou a Naruto. Tinha passado em casa para pegar o objeto antes de ir visita-lo e como estava com pressa não teve tempo de embrulhar, embora a caixa estivesse selada.

Naruto encarou o objeto em silêncio por alguns instantes com os olhos azuis arregalados antes de abrir a caixa. Havia shurikens e kunais em seu interior, tão novas que chegavam a reluzir.

— Shurikens e Kunais?

— Eu não sabia o que te dar. Além do mais, você treina usando as da Academia, certo? As lâminas delas raramente são afiadas, então é mais difícil para você melhorar suas habilidades. Deveria ter suas próprias armas — Sasuke explicou.

— Não precisava ter comprado isso…

— Na verdade eu não comprei… pertencia ao meu clã — ele admitiu — Temos uma tradição de presentear os membros mais jovens com novas armas até que se forme na Academia. Mas não havia ninguém para cumprir essa tradição no meu aniversário. E você ainda é alguns meses mais novo do que eu, então… espero que não se importe… ei, Naruto! — ele interrompeu-se quando o menino deixou a caixa com Shurikens na mesa e atirou os braços ao redor do pescoço dele, quase o enforcando.

— Não importa se fazia parte de alguma tradição. Essa é a primeira vez que alguém me dá um presente de aniversário — ele murmurou com a voz levemente embargada. Era difícil de acreditar que isso realmente estava acontecendo.

Que tinha se tornado amigo do menino-prodígio e mais popular da classe. Que estavam tão próximos a ponto de treinarem juntos, explicar as coisas mais estranhas um ao outro e até comemorarem o aniversário juntos.

Era a primeira vez que Naruto tinha alguém para comemorar o aniversário junto com ele. Continuava não tendo pais e isso jamais iria mudar, mas a sensação de ter um amigo ao seu lado naquele dia era incrível. Não precisaria fingir que era um dia como outro qualquer. Nem tentar dormir até que aquele dia acabasse. E tinha até ganhado um presente! Bem, receber um presente era ótimo, mas não era isso que realmente importava, e sim ter uma pessoa para passar aquele dia com ele. Alguém que não o odiava e se afastava como se ele tivesse alguma doença. Alguém que ele podia abraçar e dividir sua felicidade.

Aquilo também era novo para Sasuke. Sempre comemorou seus aniversários anteriores com sua família, mas nunca com pessoas de fora do clã Uchiha. Também não comemorava aniversários de outras pessoas de fora do seu clã. E fazia muito tempo desde que alguém demonstrava algum tipo de afeto para com ele. Meses, na verdade. Desde que sua família foi morta.

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Lembrou que Naruto nunca comemorou o próprio aniversário com outras pessoas e se perguntou como ele conseguiu suportar isso durante oito anos. Sentiu algo molhado escorrer pelo seu rosto e ergueu uma das mãos, bagunçando os cabelos de Naruto em uma tentativa desajeitada de animá-lo.

— Eu espero que essas lágrimas sejam de alegria. Ou não virei te visitar no ano que vem.

— Eu não estou chorando! — Naruto mentiu, esfregando os olhos com força na manga da camisa e soltando o menino — Obrigado pelo presente Sasuke — ele abriu um largo sorriso.

— Já disse que não foi nada — Sasuke virou o rosto e começou a caminhar a esmo pela casa até encontrar a cozinha. Então, me deixe adivinhar: Você é fã de doces então deve ter comprado um bolo ou algo assim?

— Não. Eu pretendia dormir até o dia de hoje acabar.

— Deprimente, mas compreensível — Sasuke comentou enquanto examinava as prateleiras — Quer tentar cozinhar alguma coisa?

— Eu só como comida pronta. Você é que é o gênio da cozinha aqui — Naruto sentou-se em uma das poucas cadeiras que havia na cozinha — Aprendeu alguma coisa nova?

— Bem… lembra que tentamos fazer takoyaki alguns meses atrás? — Sasuke recordou — Ele está com uma aparência melhor agora. E eu também aprendi a fritar ovo.

— Espere aí. Você consegue fazer takoyaki, mas não sabia fritar ovo? — Naruto exclamou pasmo.

— É mais difícil do que parece — Sasuke defendeu-se — Posso te mostrar se quiser.

— Não quero comer ovos fritos no meu aniversário. Nem ovo eu tenho aqui — Naruto levantou-se e abriu a geladeira. Havia uma caixa de leite, algumas frutas e ramen. Muito ramen.

— Você só come ramen? — Sasuke franziu uma sobrancelha.

— A maior parte do tempo sim. Mas tenho outras coisas no armário — Naruto contou — Quer tentar fazer bolo?

— Naruto, eu não sei fazer nem chá. Já disse, doces e eu não somos compatíveis — Sasuke lembrou — Você sabe fazer bolo?

— Na verdade nem fritar ovo eu sei — ele admitiu — Quanto mais fazer bolo.

— Podemos comprar um pronto então — Sasuke disse a única opção que lhes restava e Naruto assentiu.

~~~~~X~~~~~X~~~~~

Os dois foram até o mercado mais próximo e ficaram um bom tempo lá. Primeiro porque não sabiam em qual sessão ficavam os bolos e segundo porque demoraram bastante para escolher. Depois de muita discussão Naruto escolheu um bolo pequeno com glacê branco. Estavam contentes porque não tinha fila, no entanto o olhar mal-humorado da mulher do caixa arruinou a felicidade deles.

— O que está fazendo na minha loja, moleque? — ela estreitou os olhos para Naruto.

— Comprando um bolo — Naruto respondeu o óbvio, aproximando-o para que ela pudesse ver o preço mas a mulher o afastou.

— Não vou vender nada para você. Saia do meu mercado!

— Mas eu preciso do bolo!

— Não me interessa! Eu mandei você ir embora! — ela repetiu.

— Anda Sasuke. Vamos tentar outro mercado — Naruto suspirou.

— É sempre assim? — ele indagou pasmo.

— Às vezes. Já estou acostumado.

— Espera aí — Sasuke voltou-se para a mulher do caixa. — Ei, moça. Por que não quer vender o bolo?

— Já disse que não vou vender nada para aquele pirralho. Isso não é algo com que você…

— Não é assunto meu, blá, blá, blá… já cansei de ouvir isso — Sasuke se pendurou no balcão. Ser pequeno era tão incômodo — Então me explique uma coisa: Isso aqui é um mercado, cerdo? E mercados servem para que as pessoas peguem os produtos que precisam e paguem por eles. Ou por acaso eles estão na prateleira só de enfeite?

— É claro que não! Nós temos os melhores preços e o melhor atendimento…

— Não têm não — Sasuke discordou — Eu quero falar com o gerente.

— Você o que?!

— Não me ouviu, moça? Você não quer vender o bolo então eu quero falar com o gerente.

A mulher trincou os dentes, encarando o menino pendurado no balcão. Receber uma queixa de uma criança significaria a perda do seu emprego, com certeza. Não tinha outra escolha.

— Está bem. Você pode comprar o bolo, Uchiha — ela disse apenas para tentar manter seu orgulho.

No fim das contas eles receberam desconto e ainda ganharam um pacote de batatinhas de brinde.

— Isso foi incrível — Naruto comentou enquanto voltavam para a casa dele — Como fez aquilo?

— Arranjei encrenca. Para ela, no caso.

— O que você ia dizer para o gerente?

— Não faço ideia — Sasuke admitiu — Meu pai dizia isso quando alguém o contrariava e sempre dava certo. Eu estava torcendo para que funcionasse comigo também.

Eles chegaram ao apartamento e deixaram o bolo em cima da mesa. Naruto encontrou uma vela na cozinha e a colocou no centro do bolo.

— Ei, Sasuke. Sua família costumava cantar parabéns no seu aniversário?

— Só quando eu era bem pequeno. Quando fiz quatro anos as comemorações se tornaram mais tradicionais — ele recordou dos aniversários de quando era mais novo — Bem, quem se importa? Faça um pedido.

O principal desejo de Naruto não iria se realizar. Por mais que ele pedisse, seus pais nunca voltariam. A segunda coisa que desejava era deixar de ser odiado pelas pessoas da vila. Não era exatamente impossível, mas estava se provando uma tarefa cada vez mais árdua. A terceira coisa… já tinha se realizado.

Naruto não queria passar mais um aniversário sozinho.

Ele sorriu e assoprou a vela com força.

— O que você pediu? — Sasuke perguntou — E não me venha com aquela história de “se eu contar não vai se realizar”.

— Na verdade já se realizou — Naruto respondeu, deixando o menino boquiaberto.

— Então você podia ter pedido outra coisa! — Sasuke foi atrás de Naruto quando ele se levantou — Ei! Me conta o que era!

— Esquece isso e vamos comer o bolo — Naruto pegou pratos e talheres no armário da cozinha, retornando para a sala.

— Fique a vontade.

— Como assim? Você não vai comer? — Naruto o encarou surpreso — Só por causa daquela história do desejo?

— Eu te disse antes que não gosto de doces, lembra?

— Ah, qual é Sasuke! Você não pode ficar sem comer.

— E não vou. A moça da loja nos deu batatinhas de brinde, lembra? — ele pegou o pacote que tinham largado em um canto.

— Escute aqui, só porque você não consegue cozinhar coisas doces não significa que não pode comer um doce que compramos pronto — Naruto apontou um garfo para ele de modo acusador — Além do mais, não vai ter graça eu comer esse bolo inteiro sozinho.

— Está bem. Eu posso comer um pedaço — ele suspirou derrotado. Cortou uma fatia pequena para si enquanto Naruto se ocupava de comer outra consideravelmente maior.

— E então? Não está gostoso? — Naruto perguntou de boca cheia.

— Está bom — Sasuke mentiu. Estava horrível. Tinha muito glacê e quase nenhum bolo. Como Naruto conseguia comer aquilo?

Conseguiu terminar de comer sua fatia, mas precisava tirar aquele gosto ruim da boca.

— Naruto, você tem chá?

— Sim, está no armário da cozinha — Naruto respondeu enquanto devorava a terceira fatia de bolo.

— Hm… você sabe fazer chá?

— Ah, certo — Naruto lembrou do que o garoto havia dito sobre não conseguir sequer preparar bebidas e se dirigiu até a cozinha — Pensei que não gostasse de nada doce.

— Não gosto das bebidas doces que eu tento fazer, são uma porcaria. Mas se alguém fizer para mim eu aceito. — Sasuke explicou, fazendo Naruto rir.

Alguns minutos depois a bebida estava pronta. O chá que Naruto preparava também não era lá grande coisa, mas era melhor do que o dele. E ajudou a tirar aquele gosto enjoativo de glacê da boca.

Naruto também acabou enjoando do bolo. Decidiu guardar o que sobrou na cozinha e dividiram o pacote de batatinhas enquanto conversavam banalidades até que ouviram um barulho vindo do quarto.

— O que foi isso? — Sasuke virou-se na direção do barulho — Tem mais alguém aqui?

— Não. Só nós dois — Naruto afirmou. O barulho se repetiu.

— Por acaso você tem algum animal de estimação?

— Está brincando? Mal consigo cuidar de mim mesmo, que dirá de um animal — Naruto levantou-se — Acho que já sei o que é — caminhou na direção do quarto e Sasuke foi atrás dele.

Como imaginou, uma das portas de seu armário estava rangendo, mas não era só isso. Alguma coisa nela tinha se soltado e ameaçava cair.

— Essa porta parece que vai cair a qualquer momento.

— Acha que não sei disso? — Naruto resmungou com irritação. Foi até o armário e rodeou a porta que rangia, mas não conseguia encontrar o problema — Você sabe consertar isso?

— Claro que não — Sasuke não tinha ideia de como se encaixava as peças de um armário — Mas posso tentar encontrar o problema — ele aproximou-se e rodeou a porta do mesmo jeito que Naruto tinha feito. Depois de quase dois minutos percebeu que alguma coisa parecia ter se soltado na parte de cima, por isso ela parecia prestes a cair. Mas o armário era grande e eles não conseguiam ver o que era — Olha, Naruto. Acho que tem alguma coisa solta ali em cima — ele apontou.

— E o que é?

— Sei lá. Não consigo enxergar daqui.

— Ser pequeno é uma droga — Naruto reclamou — Seja lá o que for temos que colocar de volta, certo? — perguntou e o menino assentiu — Certo. Mas a gente nem sabe o que é… que droga, por que eu não posso crescer logo? — Naruto deu um chute na cama em uma tentativa de descontar a raiva mas tudo o que conseguiu foi machucar o dedo mindinho.

— Ao invés de ficar chutando as coisas e pulando em uma perna só por que não arrasta a cama e sobe nela? Talvez assim dê para ver qual é o problema.

— Ótima ideia — Naruto disse ainda com dor. Subiu na cama mas ainda assim não conseguia enxergar o problema — Não dá, é alto demais… por que essa porcaria de armário tem que ser tão grande? Eu nem uso a parte de cima!

— Tudo bem, talvez dê para consertar sem mexer aí.

— Sério? Como?

— Você tem durex?

— Você quer colocar durex no armário? — Naruto ergueu uma sobrancelha.

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— Você tem uma ideia melhor?

— Vou pegar a durex — Naruto saltou da cama.

Depois de gastarem vários minutos e um rolo inteiro de durex a porta finalmente parou de ranger. Também não parecia mais que ia cair.

— E não é que colou a porta mesmo? — Naruto comentou abismado.

— Viu só, eu disse que ia funcionar.

— Ela parou até de ranger! — Naruto abria e fechava a porta remendada, comprovando que ela não fazia mais barulho — Parece novinha em folha… ah!

Os dois gritaram e correram, cada um para um lado do quarto, momentos antes da porta cair de vez e esmaga-los. Eles se aproximaram com cautela e ficaram encarando a porta caída no chão por vários segundos em silêncio.

— Parece que você precisa de um armário novo.

— Não tenho dinheiro para comprar um.

— Sei como é — Sasuke assentiu solidário — O que vai fazer agora?

— Bem… podemos tentar super bonder.

— Acho que não vai funcionar. A porta vai cair de novo quando você for mexer. Ou pior, ela não vai mais abrir.

— Bem, você tem uma ideia melhor?

— A outra porta está inteira, não é? — Sasuke foi olhar o que sobrou do armário — Podemos olhar como ela está encaixada para fazer a mesma coisa com essa — ele ficou olhando por quase dois minutos como se tentasse decifrar um enigma — Ei, Naruto. Vem aqui — chamou e o menino foi até ele — Está vendo essas coisas entre a porta? Tem em baixo e no meio… deve ter em cima também. A parte de cima deve ter se soltado. Acho que precisamos colocar de volta.

— E como a gente faz isso?

— Tem uma coisa… tipo uma fenda aqui no meio. Acho que precisamos girar para encaixar.

— Mas é muito pequeno. Como a gente… ah, já sei! — Naruto correu até a sala, voltando em poucos segundos com uma Kunai nas mãos — Acho que isso serve.

— Vai usar uma Kunai? Sério?

— A lâmina encaixa — ele a colocou na fenda do objeto que ele não sabia que era um simples parafuso como se quisesse provar que estava certo.

— Tudo bem. Vamos tentar fazer isso com a porta quebrada.

Demoraram muito mais do que a tentativa de consertar o armário com durex dessa vez. Primeiro porque tiveram que procurar os parafusos que tinham caído no chão. Segundo porque não era nada fácil segurar uma porta enquanto tentava encaixar parafusos nela usando uma Kunai. Depois de quase meia hora conseguiram consertar a parte de baixo e a do meio. E então retornaram ao problema anterior. A parte de cima continuava defeituosa.

— Bem, a porta continua com o mesmo problema de antes — Naruto comentou.

— Ainda tem mais dessa coisa. Deve ser da parte de cima — Sasuke mostrou os parafusos que segurava e que também não sabia o que era.

— Sim, mas eu não alcanço. Tenta você — Naruto pediu e Sasuke subiu na cama. Era alguns centímetros mais alto do que Naruto mas isso não fazia a menor diferença naquele momento.

— É alto demais, Naruto.

— Então nós dois precisamos tentar.

— Como assim? Ei, o que está fazendo? — Sasuke apoiou-se na parede quando Naruto subiu na cama e de lá tentava subir em cima dele.

— Desse jeito vou ficar alto o suficiente — Naruto explicou.

— Mas por que eu tenho que te segurar?

— Por que é meu aniversário e eu não quero ter que segurar outra pessoa — Naruto falou como se aquele fosse um ótimo argumento — — Anda, me dá impulso.

Sasuke bufou e juntou as mãos para facilitar a subida. Naruto ajeitou-se em cima dos ombros dele, confirmando que sua teoria estava certa. Enfim tinha altura o suficiente para alcançar o bendito armário.

— Consegui Sasuke!

— Ótimo. Agora conserta isso logo, você é pesado — ele reclamou enquanto segurava as pernas do menino.

Naruto trabalhou no conserto do armário o mais rápido que conseguiu. Quando teve certeza de que estava tudo encaixado direito pediu para o garoto descê-lo. Os dois saltaram da cama e finalmente chegou o grande momento de verificar se o trabalho deles havia dado certo. Naruto abriu a porta recém-consertada com cuidado e a fechou de novo. Não estava mais rangendo, nem bambeando. Nenhum sinal de que iria cair.

— Conseguimos! — Naruto ergueu os braços vitorioso com um sorriso enorme.

— Depois de todo esse trabalho era impossível não conseguir — Sasuke comentou. Ainda estava irritado por Naruto tê-lo usado como escada — Você sabe que não é para isso que serve uma Kunai, certo?

— Foi uma emergência — Naruto encolheu os ombros — Obrigado pela ajuda.

— Tudo bem — Sasuke desviou o rosto. Acabou olhando para a janela e viu que já tinha anoitecido — Naruto, já está tarde. Eu preciso voltar para casa.

— Tem certeza? Pode ficar aqui se quiser — Naruto convidou, pegando-o de surpresa.

Outro detalhe sobre não ter pais: Ele não precisava pedir permissão para dormir na casa de outra pessoa. Mas Sasuke nunca tinha dormido fora de casa antes e aquela ideia repentina causou uma mistura estranha de sentimentos dele. Podia dormir na casa de outra pessoa quando quisesse porque ninguém iria repreendê-lo por isso. A parte ruim era… bem, não tinha ninguém para repreendê-lo.

— Obrigado, mas eu preciso mesmo voltar para casa. Meus livros e outras coisas ficaram lá e eu preciso deles para a aula de amanhã — ele respondeu por fim.

— Bem, você é quem sabe — Naruto o acompanhou até a porta — Obrigado por hoje Sasuke.

— Pelo bolo ou pelo armário?

— Pelos dois — Naruto riu — Você não gostou do bolo, não é?

— O que? Gostei, eu disse que estava bom… — ele tentou mentir, mas Naruto continuava encarando-o com um olhar cético — Tudo bem, estava horrível.

— Eu sabia! — Naruto riu.

— Estava tão na cara assim?

— Você fez umas caretas muito engraçadas enquanto comia — Naruto contou — Desculpa te fazer comer aquilo.

— Não importa. É seu aniversário, certo?

Naruto discordava sobre o sabor do bolo, mas conseguia reconhecer os pequenos sacrifícios que o menino fez apenas para agradá-lo. Sasuke estava sempre reclamando sobre como odiava doces, mas comeu assim mesmo apenas porque Naruto insistiu. Mas não era isso que realmente importava.

— Sabe, se você não tivesse vindo me visitar hoje teria sido apenas mais um aniversário deprimente — Naruto contou sem jeito — Foi a primeira vez que alguém veio comemorar comigo. Então… que tal adicionar isso à lista de coisas que um faz pelo outro? Comemorar nossos aniversários juntos?

— Por mim tudo bem, mas… ainda falta muito para eu fazer aniversário de novo.

— Então também podemos comemorar o Natal juntos!

— Você gosta mesmo de festas — Sasuke suspirou — Tudo bem. Mas eu preciso ir agora.

— Até amanhã — Naruto despediu-se, fechando a porta.

Aquele aniversário foi bastante diferente de todos os que Naruto já teve. Comeu bolo ao invés de ramen com algum sabor especial. Ganhou um presente. E, acima de tudo, teve uma pessoa para comemorar com ele ao invés de passar aquela data sozinho apenas esperando o dia acabar. Então essa era a sensação de ter um amigo? De ter uma pessoa que se importa com você o suficiente para fazer algumas coisas que lhe desagradem apenas para te deixar feliz?

Ele era infeliz e solitário desde que se entendia por gente. No entanto, desde que conheceu Sasuke, sentia como se a vida estivesse lhe dando uma segunda chance para trilhar seu caminho. Um em que não houvesse tristeza nem mágoa. Um em que ele não estaria mais sozinho. Era uma sensação completamente nova que Naruto jamais imaginou que iria vivenciar. E que ele esperava que durasse muito tempo.