Segunda Chance

Capítulo XXIV


Sasuke deixou a Academia mais tarde do que o normal naquele dia. Já estava anoitecendo quando ele corria de volta para casa. Se corresse chegaria a tempo para o jantar. Mas, pensando bem, ele não estava com fome, portanto ainda era cedo. Então porque as luzes estavam apagadas?

Continuou correndo e viu pessoas caídas a esmo, envolvidas por poças de sangue. Quanto mais corria, mais pessoas estavam em seu caminho. Quando chegou em casa pensou em pedir ajuda, mas encontrou seus pais caídos no chão. Isto é, apenas os corpos deles, embebidos em sangue. E então aquela voz.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Irmãozinho tolo… acha que pode me derrotar? Fuja enquanto pode. Fuja, alimente seu ódio e quando tiver os olhos iguais aos meus venha me enfrentar e se vingar de mim. Mas o único modo de consegui-los é matando seu melhor amigo.

Sasuke acordou ofegante, sentando-se bruscamente na cama. Já fazia um bom tempo que não tinha esse pesadelo.

~~~~~X~~~~~X~~~~~

— Como vou saber onde o Sasuke está? Você é o melhor amigo dele, não é?

Então Shikamaru também não tinha visto o menino. Naruto perguntou para todas as pessoas que não se importavam em falar com ele, mas nenhuma delas o tinha visto. Sasuke não foi para a Academia naquele dia e não era do feitio dele matar aula. Não podia estar doente, Naruto o viu no dia anterior e ele estava perfeitamente saudável. Lembrava-se de ele ter dito que ele tinha algo para fazer, mas que compromisso é esse que o fez faltar aula?

— Você também não o viu, Chouji?

— Não — ele encheu a boca de batatinhas — Não o vejo desde a aula de ontem. E ele não costuma vir aqui no parquinho.

— Ele usa o campo de treinamento da escola às vezes, não é? — Shikamaru lembrou — Já procurou lá?

— Sim, mas ele não está lá também — Naruto respondeu. Estava começando a ficar sem opções.

— Talvez algumas das admiradoras dele saibam. Principalmente a Ino e a Sakura — Shikamaru opinou — Aquelas duas dão medo.

Naruto não era muito bom em conversar com meninas. Não porque eram meninas e sim porque nenhuma gostava dele e agiam como todas as pessoas da Vila, desprezando-o e se afastando dele. Mas estava ficando sem opções.

— Vou tentar falar com elas. Obrigado — Naruto levantou-se do balanço e só quando deixou o parquinho foi que percebeu que não fazia ideia de onde elas poderiam estar.

Depois de quase um minuto pensando lembrou que a família de Ino tinha uma floricultura e decidiu tentar ir até lá primeiro. Depois de quase dez minutos procurando finalmente encontrou o local.

— Oi Ino — ele cumprimentou embora já soubesse que ela provavelmente iria ofendê-lo — Eu queria…

— Não — Ino interrompeu — Não vou vender nada para você.

— Mas eu não vim comprar nada!

— Se não vai comprar nada então por que veio até uma floricultura? — para alguém que acabou de dizer que não iria vender nada ela parecia bastante indignada.

— Eu só quero fazer uma pergunta! — Naruto exclamou — Você viu o Sasuke hoje?

— Ah! É claro que sim! — a expressão irritada dela desapareceu e a menina abriu um grande sorriso — Ele passou aqui mais cedo e eu conversei com durante um tempo enquanto ele comprava algumas flores, sabe? Uma pena eu ter precisado chamar a minha mãe para ajudar com a venda. Ela sempre me manda ajudar com a loja, mas não quer que eu faça vendas altas… mesmo assim hoje foi o melhor dia da minha vida!

— Ele comprou flores? — Naruto ergueu uma sobrancelha, sem prestar muita atenção no resto do falatório da menina. Não conseguia imaginar Sasuke comprando flores.

— Sim, e não foram poucas. Foram mais de cinquenta crisântemos — ela contou — Agora que mencionou, o crisântemo é uma das flores mais buscadas para serem usadas durante funerais… será que alguém que ele conhece morreu?

— Com certeza morreu — Naruto murmurou — Obrigado Ino — ele deixou a floricultura às pressas.

Como não percebeu isso antes? Naruto sabia o mês em que Sasuke tinha perdido os pais, mas não se lembrava do dia, eles ainda não eram amigos na época. Isso explicava porque Sasuke estava agindo tão estranho no dia anterior quando o viu conversando com Iruka fora da Academia. E porque tinha faltado aula. Até mesmo porque comprou mais de cinquenta flores. Ele havia dito meses atrás que parou de contar depois de ter cavado cinquenta túmulos, mas agora devia ter feito as contas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Hoje completava um ano desde seu clã tinha sido massacrado.

~~~~~X~~~~~X~~~~~

Sasuke caminhava lentamente entre os túmulos desalinhados que ele cavou um ano atrás no Distrito Uchiha. Lia o nome da pessoa na lápide sem conseguir evitar de lembrar dos momentos que passou com ela, fosse algum primo ou apenas um vizinho, e então depositava uma flor sobre o túmulo. Repetiu essa mesma ação várias vezes até escutar alguém chamando seu nome.

— Sasuke — Naruto se aproximou alguns passos hesitante — Então você estava mesmo aqui.

— Eu te disse que precisava fazer uma coisa hoje, lembra? — Sasuke respondeu sem emoção, de costas para ele. Imaginou que Naruto poderia aparecer embora torcesse para estar enganado — Eu também te disse que você pode vir me visitar quando quiser, mas não quero que venha até essa parte do Distrito.

— Eu sei… não vim aqui desde aquela vez em que você me mandou ficar longe — Naruto respondeu meio sem jeito — Mas você também não me disse que dia é hoje.

— É um assunto pessoal. Não achei que precisava te contar — ele depositou uma flor em outro túmulo. Ainda se recusava a encarar Naruto. Não queria que o menino o visse com aquela expressão tão vazia. Nem que sentisse pena dele.

— É claro que precisava! Você não tem que passar por isso sozinho — Naruto insistiu — Eu não sei como é a sensação de perder um parente, mas… se por exemplo o Iruka-sensei morresse… iria doer muito. Ele não é meu parente, mas é o mais próximo que conheço de uma família. E você perdeu muitas pessoas, então é claro que deve estar sofrendo. Mas não precisa passar por isso sozinho.

— Isso não está dentro do nosso acordo — Sasuke lembrou embora tivesse parado de caminhar — Prometemos ensinar um ao outro coisas que não sabemos…

— Não estou falando isso por causa do nosso acordo e sim porque somos amigos!

Sasuke ficou em silêncio por alguns instantes e suspirou antes de se dirigir até os túmulos mais próximos. Os últimos dois que ainda não tinham flores e que estavam perto de Naruto.

— Uchiha Fugaku e Uchiha Mikoto — ele leu os nomes antes de depositar as flores em cima deles — São nomes dos meus pais — então virou-se para encarar Naruto — Hoje é aniversário de morte do meu clã.

O olhar dele era realmente de dar pena. Não havia tristeza. Nem a costumeira raiva de quando ele falava sobre vingar seu clã. Estava simplesmente vazio. Como se não sentisse nada em relação á morte de todas aquelas pessoas. Como se desejasse sentir alguma coisa, soubesse que deveria ficar triste, mas não conseguia. Estava quebrado demais por dentro para sentir alguma coisa. Tinha sobrado apenas o vazio da solidão.

— Como eles eram? Os seus pais — Naruto caminhou alguns passos em direção às lápides em que estavam escritos os nomes de Fugaku e Mikoto.

— Minha mãe era gentil. Estava sempre sorrindo e se preocupava comigo. Sempre ouvia as coisas que eu contava sobre a Academia e respondia as minhas perguntas… eu fazia muitas perguntas. Sobre o clã e várias outras coisas — Sasuke recordou. Todas as perguntas que fez se mostraram bastante úteis agora — Já o meu pai… ele era mais rígido. Não era o tipo de pessoa que demonstrava afeto e era bastante exigente. Por isso eu me esforçava ao máximo para fazer com que ele se orgulhasse de mim. Assim como você faz para ser elogiado pelo Iruka-sensei. Mas eu acho que ele sempre gostou mais do meu irmão…

Sasuke calou-se ao recordar do irmão mais velho. Por que tinha que se lembrar da pessoa que dizimou seu clã justo agora? Já não bastava aquele pesadelo? Até quando isso ia durar?

— Sasuke? — Naruto chamou — Você… hm, está bem? Quero dizer, claro que não deve estar, mas ficou calado de repente…

— Estou com saudade deles, Naruto — falou como a criança que era, deixando de lado o costumeiro orgulho sobre ser forte. Sasuke virou o rosto para que o menino não o visse naquele estado e voltou a observar as lápides — Sabe, eu nunca chorei pela morte deles. Talvez quando os encontrei mortos, mas estava sob efeito de Genjutsu então não me lembro muito bem, mas… não chorei quando cavei os túmulos, nem quando enterrei todos eles. E nem hoje. Eu só conseguia pensar em vingar as mortes de todos eles. Em fazer com que o meu irmão pagasse por ter matado tantas pessoas inocentes… e me deixado sozinho.

— Eu sei que você quer se vingar. Mas você acha que era isso que os seus pais iriam querer? Que você matasse o seu irmão para vingar as mortes deles?

— O que importa o que eles iriam querer? Já estão mortos — finalmente Sasuke conseguiu transparecer alguma emoção e era apenas dor — Foi o que o meu irmão disse antes de ir embora e me deixar aqui sozinho. Para alimentar meu ódio, ficar forte e então enfrentá-lo um dia e me vingar…

— E você vai obedecer a um irmão desses? Você é idiota? — Naruto também alteou o tom de voz — Certo. Digamos que você consiga se vingar e derrote ele. O que acontece depois? Você vai ser igual a esse cara, que matou um parente — ele tentou normalizar o tom de voz embora ainda soasse severo — O que aconteceu com aquele seu sonho de se tornar chefe da delegacia de polícia? Ninguém iria querer um policial assim. Ou por acaso desistiu dele?

— Eu não desisti — Sasuke desviou o olhar.

Aquele de fato sempre foi seu sonho de infância, mas seu objetivo sofreu uma mudança radical após a morte de seu clã. Queria vingar a morte de seus entes queridos. Realmente acreditava que precisava se vingar. Mas será que aquilo era mesmo necessário? Só porque seu irmão mandou ele precisava se vingar? Era isso que Sasuke desejava? Ainda mais com a condição que seu irmão impôs.

— Não desisti de ser policial, mas… eu também não deveria vingar a morte deles?

— Se vingar não vai trazer eles de volta, Sasuke — Naruto falou o mais gentilmente que pôde.

— Não vai, né? — Sasuke perguntou retoricamente.

Encarou as lápides dos pais mais uma vez. Ainda podia ouvir a voz de sua mãe chamando seu nome, dizendo para ele se apressar ou iria se atrasar para a aula. E a de seu pai, falando para ele se esforçar para que fosse sempre o primeiro aluno da turma. Se fechasse os olhos ainda podia ver os rostos deles. A face gentil de sua mãe e o rosto severo de seu pai. E, por mais forte que Sasuke se tornasse, assim como seu pai desejava, e conseguisse derrotar o irmão, nenhum deles voltaria. A sensação de vazio não iria passar e o sentimento de solidão não iria embora.

Aquilo era demais para ele. Por que tinha que passar por isso? Não tinha feito nada para merecer uma coisa dessas. Gostaria de poder fugir disso tudo. Das decisões difíceis, daquela solidão enorme, dos túmulos que teve que cavar…

Sasuke recuou um passo para longe das lápides. Depois outro. E então deu meia-volta e correu como se realmente pudesse fugir da realidade. Naruto estava a poucos metros de distância dele então segurou o menino, impedindo-o de continuar correndo. Sasuke se debateu, mas Naruto o segurava com força, impedindo o amigo de fugir. Sasuke desistiu de tentar correr para longe e apoiou a cabeça no ombro de Naruto, de modo que o garoto não pudesse ver sua face. E chorou. Gritou e chorou tudo o que tinha guardado em seu peito durante um ano desde o massacre de seu clã.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

. Naruto afagou de leve o topo da cabeça dele em uma tentativa desajeitada de consolá-lo, mas não notou nenhuma mudança, então não sabia se tinha dado certo. Sabia que nada do que falasse faria o menino se sentir melhor então apenas ficou ao lado dele para que Sasuke soubesse que não estava sozinho. Não eram parentes, mas Naruto se importava com ele e vê-lo naquele estado era de partir o coração de qualquer um.

— Sasuke — Naruto chamou quando o menino parou de gritar embora ainda chorasse — Lembra de quando você me perguntou se eu me sentia um peixe fora d’agua? Bem, eu sempre me senti assim. Mas as coisas melhoraram quando eu te conheci. Eu sempre fui solitário então fiquei muito feliz por ter feito um amigo — ele contou — Então, quando você se sentir sozinho, lembre-se de que também tem um amigo com quem pode contar. Eu posso até não ser do seu clã e talvez não seja grande coisa, mas eu me importo com você. Tanto que é como se fosse minha família. Então não se esqueça de que você não está sozinho.

Sasuke ainda chorava, mas tinha entendido o que Naruto quis dizer. Seus parentes estavam mortos e nada do que ele fizesse traria eles de volta. Nenhuma vingança faria com que seus pais voltassem. Nunca tinha chorado por eles, por nenhum membro de seu clã porque estava obcecado demais pensando em se vingar para sentir a dor por tê-los perdido. No entanto deixou esse objetivo de lado aos poucos sem nem mesmo perceber quando conheceu Naruto, que lhe ensinou não apenas pequenas coisas básicas que uma pessoa precisa saber para realizar as tarefas diárias como também o influenciou a agir como uma criança normal, na medida do possível. Uma criança que gostava de brincar, mas que ao mesmo tempo se comportava como o aluno da Academia Ninja que era e que aprontava travessuras de vez em quando e se metia em encrencas. Alguém que ouvia seus problemas e tentava aconselhá-lo da melhor maneira possível. E ainda o ajudou a fazer novos amigos.

Para completar sua vingança Sasuke precisaria tirar a vida de alguém que estava ao seu lado agora para conseguir acabar com a pessoa que massacrou seu clã.

Se vingar… não valia a pena.