Inside Energy

O livro


Os olhos de Lucas estão mais verdes e muito brilhantes quando, finalmente, o encarei. Ele me olha com uma expressão assustada como se também visse algo errado em meu rosto. No espelho reparei que meus olhos brilhavam no mais profundo rosa como a pérola que Mariah empurrou em direção a minha testa.

— Meus olhos estão rosas?

— E não foi só isso que mudou.

Lucas revelou a marca que surgiu em seu pulso esquerdo, idêntica à que surgiu em meu pulso direito.

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— O que está acontecendo? - sussurrei assustada.

— Eu não sei, mas deve fazer parte da ascensão.

Ele me ajudou a levantar e me pôs na cama. Ainda havia muito a ser processado, mesmo com a minha memória sendo devolvida. Aparentemente, relembro de fragmentos e sentimentos conflitantes.

— Precisa me contar o que aconteceu nesse tempo em que estive fora do ar.

— Você só precisa descansar por enquanto.

— Precisa me contar o que aconteceu com o Ryan. Ele não morreria desse jeito. Alguma coisa aconteceu e você vai me contar.

Lucas suspirou e, percebendo que não tinha mais saídas, começou a revelar o que havia acontecido:

— Você precisa ficar com a Camille! - eu gritei.

—Não! Preciso ver o que estão planejando naquele poço. - Ryan respondeu a mesma altura.

—Mas a Diana está lá, cuidando dele. Ela já teria entrado em contato.

— Tem algo errado, Lucas. Alguma coisa pode ter acontecido com a Diana, faz tempo que não entra em contato. Estão planejando algo e preciso descobrir o que é.

Nosso tom havia baixado e o silêncio pairou no ar. Estávamos tensos ao saber que alguns Manillas conseguiram ultrapassar o portal no poço e, depois de um tempo estáticos, finalmente começaram a agir.

— Não posso deixar algo acontecer com você, Ryan. - levei minhas mãos aos seus ombros – De todos, é o único que passou pelo Educandário. Sabe mais que todos nós.

— Eu preciso arriscar.

—Não, você não precisa.

— Se algo acontecer, precisa ir até meu quarto. Deixei algo escondido, use o pingente para quebrar a meditação. - Ryan olhou-me com ternura – Cuide da Camille, por favor.

— Não fale assim.

— Lucas, você é par da Camille e melhor amigo dela. Quem melhor para estar ao seu lado? - abraçou-me forte – Me prometa que irá cuidar dela se algo acontecer.

— Está me assustando, não se arrisque tanto.

— Me prometa. - olhou dentro de meus olhos.

— Prometo.

Ryan pegou a bolsa com alguns itens mágicos e adentrou a floresta indo em direção ao poço. Essa foi a última vez que o vi bem e são. Algumas horas se passaram e Camille acha que Ryan está trabalhando.

— O que houve Peludo? Está tão inquieto hoje. - disse Camille.

Eu andava descontroladamente pela casa, preocupado. Quando finalmente descansei no sofá, vi uma pequena luz. “É uma mensagem”. Deixei-me ser guiado por ela até o quarto de Ryan.

— Lucas, algo deu extremamente errado. Os Manillas estão mais fortes, com novas estratégias e têm um plano. Estão cobrindo o poço. Estou no hospital, venha me ver antes que Camille chegue.

Após receber a mensagem saí apressado pela janela. Chegando lá, encontrei Ryan deitado em uma cama, mal podia respirar direito. Eram tantos cortes e feridas escuras.

Transformei-me em homem e fui em direção ao leito. O quarto estava vazio e fechado. Não corria o risco de me expor, mas precisava ser rápido.

— Ryan. - não contive as lágrimas - O que aconteceu? - ele abriu os olhos devagar e com um pequeno gesto de muito esforço realizou um movimento com as mãos.

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Eu vi tudo o que aconteceu no poço, todas as informações, como ele fugiu e foi estraçalhado pelos Manillas. Vi como eles eram e todos os momentos infernais que Ryan havia passado. Eles o perseguiam, o cortavam, escondiam-se nas sombras e atacavam com suas enormes garras. Ryan conseguiu escapar graças a sua destreza, mas não foi suficiente. “Olha o que fizeram com você”.

Um olhar doce foi devolvido.

Ouvi barulhos no corredor. Camille gritava desesperada “Cadê meu irmão?”. Olhei novamente nos olhos de Ryan e triste transformei-me em gato para me esconder atrás das máquinas. Camille entrou nitidamente aflita e pegou na mão do irmão.

— Ryan. - mal conseguia falar de tanto chorar. - Não me deixe.

Apesar de todo o esforço, ele tirou a máscara de ar. Não conseguia se mexer direito de tanta dor. Porém, conhecendo-o, algo precisava ser dito:

Você precisa ser forte. -tossia fervorosamente – Precisa continuar.

— Não fale! Vai acabar piorando.

— Eu te amo.

As máquinas começaram a fazer barulhos atordoantes. Minha reação era de querer ajudar, mas não podia me revelar à Camille. Ela foi chamar as enfermeiras e eu tinha pouco tempo para fugir. Antes de sair pela porta, avistei meu grande amigo e, sem poder chorar sua perda saí do quarto jurando que cumpriria a promessa de protegê-la.

— E foi isso que aconteceu. - finalizou.

— Ryan se sacrificou por minha causa? - meus olhos ardiam e meu coração disparava.

— Ele me fez prometer que cuidaria de você. E eu vou cumprir a minha promessa.

Terminamos o dia chorando de saudades do meu irmão. Apesar de passar os últimos anos com lembranças alteradas, Ryan sempre foi querido e cuidadoso comigo. Foi ele quem me salvou no reino de Illíare e eu nunca vou esquecer esse sentimento de profunda gratidão.

***

O dia amanheceu e eu e Lucas estamos de pé refazendo os planos e averiguando o nosso próximo passo.

— Seu irmão deixou instruções no quarto dele, mas na hora de desfazer a meditação, não consegui. A mensagem dizia: “Assim que Camille ascender, não poderá se manter na casa. Encontre Diana e vá até o poço. Há uma relíquia de grande ajuda para você dentro de um compartimento secreto no fundo do armário, mas para desfazê-lo é necessário o encontro de duas partes”. E foi isso...

— Encontro de duas partes? - repensei - Só um instante: ir para o poço?

— Sim. A barreira foi levantada em conjunto. Eu venho alimentando-a sozinho, mas consome muita energia e está ficando mais fraca a cada dia. Os Manillas sentiram um pouco da sua presença naquele dia. Agora, ascendida, pode ser que tenham certeza de que está aqui.

— Não temos como abrir o poço.

— Seu irmão deve ter descoberto um jeito.

— ”Encontro de duas partes”. - sussurrei pensativa. - Não. Não tenho nada de valor dele. -continuamos pensativos. - Não pode ser nada muito difícil. Tem que ser óbvio para nós.

— É claro! - finalmente uma revelação - Seu irmão é um gênio! Vamos até o quarto dele.

Abrimos o armário com um símbolo que começou a brilhar quando nos aproximamos. Revelou-se ser a marca em nossos pulsos.

— “Encontro de duas partes”. - afirmou Lucas.

— O que faremos? - perguntei.

Lucas sentou-se no chão e colocou-se em posição. Fazendo alguns movimentos com as mãos, recitou alguns versos de meditação. Finalmente, uma portinha se abriu. Dentro dela um livro.