É um dia chuvoso. Trovões e relâmpagos cobrem a noite tempestuosa com os uivos do vento não me deixando dormir. A sensação não é de medo, mas sim, de êxtase. O ruído da água indo de encontro ao gramado fluem em meus ouvidos como se fosse uma perfeita sinfonia.

Levanto-me da cama me aproximando da janela, a abro recebendo em minha pele as chuva e vento gélidos. Penetram em minhas veias, correm em meu sangue. Respiro profundamente imaginando uma barreira de água separando o exterior do interior de meu quarto. Não sinto mais o vento e a chuva. Ao abrir os olhos, ali está: a barreira d’água materializada bem a minha frente.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Fecho a janela, desfaço a barreira e deito em meu leito confortavelmente. Não é difícil realizar esse feito, pelo contrário, é natural, é instintivo, é encorajador.

Aos poucos, mergulho em sono profundo. Estou submersa em uma imensidão de água. O mar? Não vejo corais ou peixes para afirmar. Apenas uma grande imensidão de água. Nado sem rumo, sem direção. Não me afogo, não me amedronto. Apenas vou submergindo mais e mais.

O sol invade a janela logo pela manhã. É impressionante como a natureza muda seu humor tão rapidamente. Só consigo pensar que é mais um dia e não tenho muito a fazer.

Olho para o retrato ao lado da cama e meu peito se aperta. Ryan, meu irmão. Depois que morreu apenas vejo solidão. Ter que lidar com tudo isso sozinha, mas ao mesmo tempo, gostar do isolamento.

— Bom dia, peludo.

Meu gato ronronava entre as minhas pernas como se tentasse me animar. Talvez, não viva tão isolada como imaginava. A presença dele sempre me deu uma paz incompreensível.

— Está certo, vamos descer e nos alimentarmos.

Peguei Peludo nos braços e desci as escadas, mas algo está errado. Uma dor começa a envolver minha mente. Ouço os trovões e os relâmpagos, mas poderia o tempo ter mudado tão rapidamente? Levo minhas mãos à cabeça sentindo-a fervilhar.

As portas e janelas parecem bater forte como se algo quisesse entrar. Arrastei-me pelas escadas até a cozinha, precisava ligar para alguém, fazer alguma coisa. Tentando alcançar o telefone vejo algumas sombras rondando a casa.

Peludo aproxima-se de mim e seu pingente começa a brilhar. Uma nuvem esverdeada começa a envolver seu corpo pequeno e a aumentar exponencialmente. Vi uma silhueta humana se formando. O esforço de me manter acordada diante da enorme dor leva-me a um desmaio antes que pudesse ver no que Peludo se transformou.