Finding hope

Prólogo


P R Ó L O G O

"— A divisão de Konoha entre dois polos têm sido mantida desde os tempos da escravidão. O lado mais sujo, com menor espaço e em condições precárias obviamente é para onde iam os escravos e todos os que eram renegados pela sociedade de classe alta por causa de algum preconceito. Os senhores feudais, os ricos e os mais influentes iam para o lado de maior conforto, limpeza e possibilidades de avanço. E ainda com a modernidade e a mudança dos tempos, os mais endinheirados continuaram indo para o lado com melhores condições de vida e os mais pobres, para o lado com as piores condições. — A mulher demonstrava firmeza e coerência em seu discurso. Mas por dentro, ao observar a expressão impassível dos dois representantes da região nobre de Konoha, sentia-se amedrontada.

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Ainda assim prosseguia:

— E com o passar do tempo em vez de nos unirmos, nos fortalecermos nas nossas diferenças e deixarmos esse modelo tão ultrapassado para trás, fomos somente reforçando-o. E até mesmo portões e guardas foram inseridos na divisão dos lados. Pra tentar mudar isso é que eu e o meu marido Jiraiya temos lutado e insistido tanto para conseguir essa reunião com os senhores. Não viemos aqui para dizer que somos todos iguais. Pelo contrário: somos todos diferentes, seres únicos.... mas temos o mesmo valor! E se temos o mesmo valor, então por quê uma parte vive em meio a ostentação e a outra parte em meio a uma constante falta de oportunidades e de condições decentes de vida?! Quem determinou que deve ser assim?!

Jiraiya ouvia emocionado a fala de sua esposa Tsunade. Só ele sabia o quanto buscavam tornar mais dignas não só suas próprias vidas, como as de toda uma comunidade.

A história deles era como nos clássicos de amor impossível. Tsunade, vinda de uma família de médicos e com toda a influência dos pais e avós para seguir nessa carreira, ainda sentia-se indecisa com relação a profissão que gostaria de exercer. Ela tinha um perfil mais questionador e estava sempre a pensar sobre realidades além da que vivia. Acabou cursando Psicologia, uma profissão ainda cheia de mitos e estereótipos na época em que Tsunade tinha seus 20 anos.

Conheceu Jiraiya na reforma da mansão que habitava. Ele era o pedreiro. A obra foi longa e foram se aproximando cada vez mais. Embora sem estudos e de uma classe diferente da sua, a honestidade, a capacidade de crítica e a força com que Jiraiya defendia o que acreditava chamou a atenção de Tsunade. Os rapazes que conhecia eram bastante diferentes! Possuíam muito estudo e acesso a informação, mas pouco interessantes. Só queriam saber de beleza, dinheiro, poder. Não questionavam nada. Acatavam tudo o que seus pais diziam sem nunca desafiá-los. Por fim, Tsunade e Jiraiya assumiram seu relacionamento. A família dela resistiu fortemente, mas acabou aceitando. E até mesmo passaram a gostar do rapaz!

Alguns anos de um namoro cheio de dificuldades devido a desigualdade entre eles — mas acima de tudo cheio de companheirismo e amor — Jiraiya pediu-a em casamento. Ela aceitou e em vez de levá-lo para o luxo, decidiu ir morar com ele na parte mais carente do bairro. Isso porquê foi ficando cada vez mais forte a sua preocupação com os menos favorecidos e com a discriminação com que o lado mais rico tratava o mais pobre. Queria uma mudança para aquele cenário e sabia que seria mais difícil alcançá-la em sua mansão.

Daquele tempo até o momento da reunião, Tsunade seguiu exercendo a Psicologia. E incentivou ao máximo Jiraiya a ler e escrever, inclusive a estudar. No meio desse processo, ele acabou descobrindo grande paixão pela escrita e dedicando sua vida a isso.
Não era muito o que recebiam. Mas era o suficiente para viverem sem passar necessidade.

Em paralelo às questões profissionais, os dois fizeram da luta pela remoção dos portões que dividiam Konoha e pelo entendimento entre os lados a luta de suas vidas. Agitaram manifestações e greves. Conseguiram alcançar até mesmo a mídia local. Ainda assim, a classe alta se recusava a atender ao clamor deles e de outros que se juntaram a causa.

Konoha era administrada pela prefeitura da cidade, conhecida como Cidade do Fogo. Entretanto, o prefeito era grande aliado dos poderosos Fugaku Uchiha e Hiashi Hyuuga, que residiam e controlavam Konoha através de sua influência e proximidade com o prefeito.

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Aquela reunião era a primeira que conseguiram em quase 30 anos de luta. No entanto, se por um lado Jiraiya mostrava-se emocionado, por outro era possível notar a contrariedade que ficava cada vez mais evidente tanto na face de Fugaku quanto na de Hiashi.

— Honestamente, eu não concordo que todos tenhamos o mesmo valor. Somos mais bem educados. Temos muito mais informação e conhecimentos. A minha família trabalhou muito para termos o patrimônio que temos hoje e continuamos buscando cada vez mais. É um mérito nosso. Se as famílias do lado periférico não prosperam é porque lhes falta esforço! — Hiashi cruzou os braços contra o peito. Fugaku assentiu, concordando com a fala de seu amigo.

Jiraiya procurou esconder a irritação causada por aquela resposta. E manteve a calma ao rebater:

— Com todo o respeito, senhor.. Mas acreditar que as pessoas da sua família e as pessoas de uma família pobre têm as mesmas oportunidades é uma falta de percepção imensa.

Tsunade estava tão enraivecida que mal falava. Apenas sentou, apoiou os cotovelos sobre a mesa e entrelaçou suas mãos em frente a sua boca, ponderando sobre suas próximas palavras. Não podiam perder as estribeiras e colocar tudo a perder.

— Você acha que minha família sempre teve dinheiro? Eles trabalharam muito para chegar onde estão. Assim como eu também! — Era Hiashi quem estava perdendo a calma.

Fugaku levantou e se direcionou a porta de saída:

— Sinto muito. Nós só aceitamos essa reunião por questões de imagem. Já estava circulando na mídia sobre a insistência de vocês e a nossa rejeição. Estava pegando mal para nós. Mas nunca tivemos a intenção de mudar algo com isso.

O homem de cabelos e olhos pretos mal terminou de falar e já se retirou. Logo em seguida o outro foi saindo da sala também, sem proferir mais nenhuma palavra.

Tsunade e Jiraiya não reagiram de imediato. Aquelas palavras acertaram-nos em cheio. Se prepararam tanto para aquela reunião, acreditaram tanto naquela oportunidade. E nem sequer era verdadeira. Tratava-se apenas de teatro.

A mulher continha as lágrimas. Ao redor das íris cor de mel era possível notar a vermelhidão de quem segurava o choro. Jiraiya por dentro sentia-se da mesma forma, mas aproximou-se da esposa e tomou a mão dela entre as suas.

Refletiu por alguns instantes antes de dizer o que já vinha pensando nos últimos dias.

— Minha gata, eu cogitei a possibilidade disso tudo acabar sendo um desastre. Matutei muito até perceber um negócio que tava bem na nossa frente e a gente num viu. Tamo tentando quebrar as barreiras de uma vez. Tentando exaustivamente mudar o pensamento desses caras velhos, quadrados, preconceituosos. Talvez a gente precise ir desconstruindo aos poucos esse muro. A gente tem que dar mais valor pra juventude! Pra próxima geração. Eles sim são a esperança. — Disse Jiraiya. Seu vocabulário ainda dava alguns sinais de sua origem humilde.

A loira olhou-o impressionada. Vinha se esforçando por tanto tempo para alcançar os grandes nomes de Konoha e procurar a mudança através deles que nem lhe passou pela cabeça essa outra possibilidade. Tão mais promissora!

Ela enxugou os olhos, amaciou-lhe os cabelos grisalhos e sorriu. Ele não imaginava a proporção que aquele comentário tomaria."