Máscara Omega

Desejo / Alpha


Christie

Nada como interromper meu sábado tedioso na academia com um pouco de ação. Claro, tinha o lado horrível, sendo o fato de que essas pessoas aqui perderam a vida por conta da Cruz Mortífera. O esforço de Julio e Angela evitou o pior, mas ainda assim... Vou fazê-los pagar por isso e terminar tudo aqui e agora.

—Christie! – Julio grita e eu me viro pra ele. – Pega!

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Ele arremessa um objeto parecido com uma moeda, mas do diâmetro de uma batatinha chips. Eu o pego, ele era vermelho, com um pequeno botão. No que aquilo vai me ajudar?

—Aperte o botão! – Ele sugere, dada a minha confusão.

Faço o que ele diz, e a moeda esquisita se transforma num bastão vermelho, com as duas pontas dourdas. Ele parece bem firme, mas ainda assim, maleável o suficiente.

—Prontos? – Pergunto, girando o bastão no alto da minha cabeça.

Os zi-bots vem pra cima de mim, dou um salto e piso na cabeça de um deles, pegando impulso pra atacar o Taranto com um golpe de cima pra baixo, porém ele desvia. Volto a minha atenção para o grupo de zi-bots, que parece ameaçadoramente interessado em Angela e Julio.

—Nem pensar... – Dou três passos e salto, passando pelos zi-bots e ficando entre os monstros e meus amigos.

Com um golpe na horizontal, já acerto três de uma vez, com tamanha força que acabam atravessando a vitrine de uma loja de roupas. Espero que não coloquem na minha conta. Os zi-bots tentam me atacar, mas uso o bastão para defesa. Era uma luta desleal, para terem chance contra mim, devia ser pelo menos meia centena de combatentes.

Esquivando e contra atacando, pouco a pouco os zi-bots vão sendo destruídos. Esse novo bastão que o Julio me dera ajudou, porque eu podia defender mais de um golpe de uma vez, dando espaço para bons contra ataques.

Os últimos quatro me atacam e defendo os golpes ao mesmo tempo com o bastão. Mamão com açúcar. Ou ao menos foi o que pensei, até sentir algo tocar minha perna e me puxar, fazendo com que eu caia no chão. Nisso, os zi-bots tentam pisar em mim, mas rolo pro lado e vejo o que me derrubara, uma teia de aranha.

—Taranto, porque está assistindo ao invés de lutar? – A voz de Sanguini é brava. – Só agora atacou, quando a vantagem é menor?

Taranto cospe sua teia pra cima de mim, que rolo pro outro lado, antes de me levantar. Os zi-bots me atacam, dois de cada lado, mas ignoro os de um lado e defendo os ataques do outro. Com os ataques aparados, chuto os dois do outro lado com uma perna, e em seguida uso o bastão para partir ao meio os dois que haviam me atacado.

Restavam dois zi-bots, os que eu havia chutado. Corro até eles, que se reagrupam com Taranto, um de cada lado do monstro aranhanóide... Essa palavra existia ou eu acabei de inventar? Jogo o bastão pro alto, o que distrai os zi-bots, e começo a trocar socos com Taranto. Pelo visto ele era um daqueles que não ficavam dependendo exclusivamente dos poderes de monstro e tinha um mínimo de treinamento.

Estávamos numa luta um contra três, e eu escutava já sirenes, o que significava que ambulâncias ou mais policiais chegaram. Preciso acabar com isso depressa, para evitar mais feridos ou mortos. Em um momento, os três, que me rodeavam, atacam ao mesmo tempo. Eu salto, ficando de pé na mão deles, tiro uma chave da cintura, risco a mão esquerda e dou um novo salto, com a mão aberta, cortando um dos zi-bots.

Logo em seguida, fecho essa mão e dou um soco atravessando o peito do último zi-bot. Eles não eram páreo para meu traje.

—Pode vir... – Chamo o Taranto para a briga, ele não perde tempo e ataca com os braços que saem das costas.

Me esquivo desses ataques, mas acho difícil achar um ponto pra contra atacar, visto que ele pode usar esses braços pra defender. Mas não posso me dar por vencida, tem meus amigos atrás de mim e as pessoas que estão no cinema, escondidas por Julio e Angela. Pego o bastão que estava no chão e tento atacar o monstro, ele simplesmente cospe uma teia no bastão e o puxa.

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—Droga... – Digo, em voz baixa.

—Com problemas, querida? – Escuto uma voz familiar no meu capacete.

—James? – Pergunto, reconhecendo meu tio, enquanto tento atacar Taranto e me defender de suas garras. – Como consegue se comunicar comigo?

—Eu ajudei a criar essa coisa que você usa. – James responde, com simplicidade. – O que significa que sei uma ou duas coisas sobre a roupa.

—Então sim, eu UFF! – Enquanto tento falar com meu tio, o monstro acerta um soco forte no meu estômago, que me faz voar longe. – É, acabei de levar uma baita duma porrada, e sim, estou com problemas.

Levanto-me, voltando para continuar a lutar. Taranto possui seis braços de vantagem, então fica difícil acertar golpes nele. Mas tento assim mesmo.

—As chaves que você usa para os golpes especiais... – James continua, pensativo. – Use-a no bastão que Julio lhe deu... E pensar que ele fez isso no tempo vago...

—Tudo bem, não custa tentar. – Retiro uma chave da cintura e vou até o bastão, me desviando de um disparo de teias da boca de Taranto.

Pego o bastão e faço, riscando a chave no mesmo. Como aconteceu nas outras vezes, a chave desapareceu e o bastão parece energizado. Não me pergunte como isso funciona, porque eu já desisti depois da terceira vez que fiz.

Corro pra cima de Taranto, que cospe jatos e mais jatos de teia, mas desvio deles com saltos acrobáticos. Dou um golpe na diagonal, e ele salta para trás, tentando desviar. Porém o golpe acerta as pernas dele, as cortando.

Era a hora de finalizar aquilo... Ou foi o que eu pensava, quando com um estalar de dedos de Sanguini, as patas que ficavam nas costas de Taranto se movem para baixo da cintura do monstro, e o corpo de uma aranha cresce debaixo da cintura.

A criatura diante de mim era medonha, corpo humanóide cinza peludo, cabeça de aranha, braços humanos igualmente peludos, e abaixo da cintura, o corpo de uma aranha, mas com seis patas da grossura de minhas pernas combinadas. Parece que fui transportada pra um episódio daquelas séries que o Julio costuma assistir.

Só que a aparição era real, a baba caindo no chão era real e definitivamente os estragos no shopping e as pessoas mortas eram reais. Taranto começa a me atacar com as patas, e felizmente o bastão ainda energizado consegue defender os golpes, mas desse jeito, como vou poder acabar com ele?

Alguns disparos são ouvidos novamente, e tanto Sanguini, quanto Taranto olham para trás, parece que mais policiais haviam chegado.

—Julio, Angela... Voltem pro cinema, depois que eu terminar aqui, a polícia deve entrar, e se verem vocês, irão fazer perguntas. – Digo, olhando pros meus amigos.

—Entendido. – Julio assente, pegando no braço de Angela. – Vamos!

—Mas... A Christie... – Angela se opõe.

—Eu vou ficar bem. – Digo, sorrindo. Aí lembro que ela não podia ver meu sorriso. – Sério.

—Tudo bem. – Ela aceita rapidamente, enquanto Julio a leva para o cinema.

Retiro mais uma chave da cintura e risco a perna. Era hora de acabar com aquilo, então dou alguns passos para trás e seguro o bastão como se fosse fazer salto com vara. Bato com a ponta do pé direito três vezes no chão, começo a correr até que as atenções de Sanguini e Taranto se voltam para mim, já que os policiais parecem ter recuado devido a inutilidade das armas deles.

Enfio o bastão no chão e salto, preparando um chute em voadora com a perna direita, como as patas de Taranto não podiam bloquear meus golpes, tudo o que ele pode fazer é atirar teias em mim, mas de nada adianta quando meu pé atravessa o peito dele, fazendo com que o corpo dele comece a se desfazer em pó. Eu, felizmente caio de pé no chão.

—Agora é a sua vez, Sanguini... – Aponto para o vampiro.

—É isso o que você acha, não? – Em menos de um segundo, ele está frente a frente comigo. – Mas acredite, cobaia... Você está a uma galáxia de distância de mim.

Como? Como ele chegou tão rápido? E agora? O que eu posso fazer? Meus pensamentos são apavorados, até que ele coloca a palma da mão em minha barriga.

—Até o dia em que nos encontrarmos, lembre-se do terror e da sensação de impotência que você sente agora. – A mão dele fica quente, e sinto um impacto, que me joga muito mais longe que o soco de Taranto.

O impacto que meu corpo sofreu batendo na parede de uma loja foi tamanho, que por um segundo, eu apaguei e quando voltei a mim, Sanguini havia desaparecido e tudo o que restava ali era o pó do corpo de Taranto, alguns restos de zi-bots que começavam a virar pó também e a destruição causada pelo grupo.

Me levanto, porque a polícia e os bombeiros logo passariam a entrar no Shopping em busca de qualquer coisa que ajudasse na situação. Então, apesar do choque por conta da superioridade de Sanguini, eu precisava sair dali urgente, então pego o bastão, o transformo em moeda, vou até a moto e acelero para fora do Shopping, surpreendendo quem estava ali e me surpreendendo com a quantidade de policiais, bombeiros e curiosos.

Acima de tudo, era um dia triste para a cidade. Seria difícil absorver o impacto daquelas mortes numa cidade tida como um dos poucos portos seguros da região, devido a violência e caos que tomam conta do país como um todo. Aquela vitória teve um gosto muito amargo.

Julio

A verdade é que nem eu e nem Angela fomos para o cinema, nós apenas continuamos assistindo o desenrolar da situação de um ponto mais distante, e definitivamente sentimos a força de Sanguini, quando ele arremessou Christie longe com um golpe apenas.

Quando ele desparece no ar e Christie vai embora, nós finalmente retornamos ao cinema para tirar as pessoas de lá.

—O... O que foi aquilo? – Angela pergunta, boquiaberta.

—É contra aquilo que estamos lutando. – Respondo, tentando controlar meus nervos. – Angela, preciso que você libere as portas, vou reativar as câmeras de segurança.

—Como você consegue manter o controle? – Ela pergunta, surpresa.

—Você já está assustada, Angela. – Respondo, com um tom incomum pra mim, doce.. – Não vai ajudar em nada eu pirar também. E acredite, eu estou com tanto medo quanto você.

Religar as câmeras de segurança do shopping foi ainda mais fácil do que desligar, agora é lidar com o que vier resultante disso.

—Eu queria ter essa sua calma. – Angela elogia, enquanto abrimos as salas de cinema e as pessoas começam a sair, assustadas.

—Fiquem calmos, o perigo passou... – Tento dizer, mas as pessoas me ignoram e saem correndo, passando por nós dois, como água em uma peneira. – Ou saiam correndo fazendo tanto barulho quanto possível.

—Belo controle de danos... – Angela esboça uma risada.

—Mas bem, isso significa que nosso cineminha foi pro vinagre. – Digo, suspirando.

—Pena... – Ela começa a caminhar comigo, para fora do cinema.

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—Mas bem, pelo lado positivo, eu não estava a fim de ver aquele filme mesmo. – Confesso, rindo, enquanto passamos pelas pessoas que estão saindo do shopping ou sendo paradas pelos bombeiros e polícia, que checam tudo em busca de algo que possa justificar aquilo.

Do lado de fora do shopping era possível ver a destruição. A porta do shopping estava arrombada, alguns pontos do Shopping tinham focos de incêndio e basicamente todo a linha de segurança e defesa da cidade estava ali. Era de fato um dia sombrio para Trerriense. Muita gente, alguns possíveis colegas de escola, foram mortos por mero capricho de uma organização criminosa.

—Mas, falando sério, Julio... – Angela diz, se sentando no banco do parque da cidade, para onde havíamos caminhado. – Você não estava a fim de ver aquele filme?

—Nem um pouco. – Confesso, totalmente sincero.

—Então por quê topou assistí-lo comigo? – Ela pergunta, confusa.

—Simples. Porque era com você. – Respondo, tentando colocar pra fora, sem parecer idiota. – Eu queria passar o dia com você, e talvez assim, talvez você parasse de achar que me deve algo por tê-la salvado.

—Mas você é um idiota mesmo, hein Julio? – Angela passa o braço ao redor do meu ombro. – Sim, eu sou grata por você ter me ajudado três vezes naquele dia, mas entenda, não foi por isso que eu te chamei pra sair.

—Não? – Eu me viro pra ela, definitivamente confuso.

—Minha relação com o Roberto não era das melhores. – A voz dela é triste. – A princípio, decidi sair porque ele parecia ser um cara forte do tipo que pode te proteger, sabe? E ele era bonito também. Mas, então, ele passou a se tornar um cara ciumento e agressivo. Quando as coisas chegaram a um ponto sem retorno, eu tomei coragem e terminei.

—Lembro de quando vocês terminaram... – Digo, tocando meu rosto.

—Como assim? – Agora Angela estava confusa.

—Ele estava bradando aos quatro ventos que iria dar em cima da Christie. Eu dei um toque pra ela dar um olé nele de manhã. – Conto, minha voz tremendo. – Digamos que ele não gostou.

—Pera... Ele te bateu? – Ela pergunta, a raiva aumentando.

—É, mas eu já estava acostumado a isso. – Dou de ombros, pois era passado.

—Então foi por isso que ele... Enfim. – Angela chega a compreensão em relação a algo. – Chegamos ao momento em que ele pegou no meu pescoço, quando você me salvou pela primeira vez. Eu juro, temi pela minha vida ali. Depois, você não estava a fim de agradecimentos, quando me salvou... Lembro que você percebeu por conta de algumas marcas no meu braço, que ele me agredia. Em seguida, você me aconselhou sem me pressionar. E duas outras vezes naquele dia você me salvou, não porque queria algo, mas porque achou necessário fazer a coisa certa.

—Não entendi o seu raciocínio... – Estou ligeiramente confuso.

—Como posso dizer... – Ela aproxima o rosto do meu. – Você se mostrou uma pessoa melhor que o Roberto e eu queria... Poder me sentir melhor com alguém. – Angela pega na minha nuca e me beija.

Um... Dois... Três segundos depois, nossos lábios se separam. Eu definitivamente não sei o que pensar, minha cabeça tá a mil e o coração tá batendo forte. Aquilo havia sido curto, e eu tenho um milhão de perguntas na cabeça, mas ali naquele momento, não conseguia formar uma sentença coerente.

—Eu sei que você gosta da Christie e tudo, mas... – Angela abre um sorriso. – Eu não vou desistir sem tentar, e mesmo que nem eu saiba porque estou fazendo isso... Quero dar uma chance, e me desculpe se isso te ofendeu.

Eu quero dizer algo, responder algo, mas eu não conseguia. Nada saía, era quase como se...

—Por acaso você é da Cruz Mortífera e usou esse beijo para me paralisar? – É a primeira coisa que sai da minha boca. – Parabéns, Julio, uma garota de beija e essa é a primeira coisa que você tem a dizer. GENIAL!

—Hein? – Angela estava confusa, até que dou dois tapas na minha cara.

—Desculpa, é que eu fiquei sem palavras, então eu comecei a pensar em um monte de coisas e a primeira coisa que consegui de fato falar, foi uma merda. – Me desculpo e Angela começa a rir. – Não se preocupe. Eu só, estou um pouco confuso.

—Se é assim, eu posso te deixar... – Ela faz menção de sair se levantando, mas seguro na mão dela.

—Não precisa ir. – Digo, literalmente sem pensar. – Só... Só fica aqui até a minha cabeça parar de pirar, depois, se quiser ir embora, não vou te segurar.

—Tudo bem... – Angela se senta ao meu lado. – Você é sempre assim, tão confuso?

—Eu tento não colocar tudo pra fora de uma vez. – Confesso, suspirando resignado. – Por isso eu sempre faço coisas no notebook, pra colocar a minha ansiedade pra fora e não pirar por ter coisa de mais na cabeça. Só que hoje... Eu tinha preocupações demais. Quem eram os responsáveis pelo Scorpio, o encontro, os demais projetos que o James tem, meus estudos, o que faço pra ajudar a Christie... E então as coisas aumentaram, com o ataque explícito da Cruz Mortífera e tudo isso aqui... Então, desculpa se acabou sobrando pra você.

—Eu não fazia ideia... Mas não se preocupe. – Ela passa novamente o braço pelo meu ombro, mas era de uma maneira totalmente diferente do que acontecera agora há pouco. – Vou estar do seu lado, não importa o que acontecer ou o que vier.

Naquele momento, eu me sentia confortável com a Angela ao meu lado. Não era como se as minhas preocupações tivessem sumido, mas era como se eu soubesse que tudo daria certo.

Devido ao caos, decidimos voltar pra nossas casas logo. A chegada em casa é um tanto caótica, porque meu pais estão em casa e super preocupados, com a notícia do ataque ao shopping, eles aparentemente fecharam a lanchonete e esperaram minha chegada. Aquilo tirou um peso dos ombros de minha mãe e meu pai, que no momento assistiam ao noticiário urgente.

Claramente o clima na emissora é de luto, mas ao mesmo tempo, choque.

—Terror e mortes no Shopping da cidade de Trerriense. – O apresentador começa. – Os habitantes da cidade curtiam o passeio de fim de semana, quando criaturas surgiram do nada e começaram a matar as pessoas. – Imagens da câmera do shopping eram mostradas, ao menos até o ponto em que eu as desliguei. – O que são essas criaturas, não sabemos, mas a cidade, até então uma das mais pacíficas do Rio de Janeiro, foi aterrorizada. Devido a um problema nas câmeras de segurança, não se sabe o que aconteceu por um período de tempo, mas testemunhas viram uma pessoa com trajes vermelhos saindo do local após as criaturas desaparecerem. Outra coisa que se sabe, é que uma tragédia maior foi evitada por dois jovens que conduziram os sobreviventes para dentro do cinema. O prefeito deu uma declaração numa coletiva agora pouco.

A cena da TV corta para o prefeito, que também é o diretor da escola. Vestindo um terno preto, ele começa a falar:

—Nossa cidade foi abalada por um evento trágico. A polícia está atrás de pistas sobre os estranhos seres que mataram nossos habitantes. Também pedimos a quem tiver qualquer informação sobre a suposta pessoa de traje vermelho, pode levá-la a polícia. – Edson Santiago, o prefeito da cidade declara. – Queremos explicações sobre o que são essas criaturas, e se a pessoa de vermelho está envolvida com elas. Nunca se sabe.

—Nem preciso dizer que seu encontro foi uma merda, não é Julio? – Meu pai pergunta, enquanto descanso no sofá.

—Ele estava bom até tudo acontecer. – Respondo, sincero. – Se eu posso tirar um lado positivo disso tudo, é que não precisei assistir ao filme.

—Você precisa de alguma coisa? Calmante, ou... – Minha mãe pergunta, preocupada.

—Não, mãe... Obrigado por oferecer, mas só preciso descansar um pouco. – Digo, indo pro meu quarto.

O dia, com exceção do encontro parcialmente arruinado, havia sido bom. Mas agora... O que eu posso fazer? Não vai demorar até identificarem a mim e a Angela como os jovens que evitaram mais mortes, o que vai colocar um alvo bem grande na gente.

Como eu posso colocar a Angela em segurança e mantê-la ajudando a gente? É o que ela quer e bem... Ficar perto dela me deixa bem, o que seria um bônus. Talvez colocá-la na clínica, no meu antigo posto (sem a parte de mexer com eletrônica) seria uma boa.

O resto da tarde se passa assim, eu tentando manter meus pensamentos coesos, que são interrompidos por o toque do meu telefone. É Christie.

—Christie? – Atendo, tentando encontrar um motivo para a ligação.

—Julio, você e a Angela chegaram bem em casa? – Ela pergunta, preocupada.

—Sim, inclusive, parabéns! Agora a polícia está atrás de você. – Respondo, tentando aliviar o clima.

—Eu teria achado a piada engraçada se o James não tivesse feito ela antes de eu te ligar. – Christie ri, descontraída. – Pena que o acontecimento de hoje melou seu encontro.

—Mas você não ligou pra falar do meu encontro, estou certo? – Pergunto, pensativo.

—Na verdade era só pra saber se vocês tinham chegado bem, porque sabe... – Ela responde, com um tom mais sério. – Em breve vão descobrir que você e a Angela foram os jovens que prenderam todo mundo no cinema salvando vidas.

—Isso a gente vê depois, porque o que me preocupa é a força do Sanguini... O que ele fez... – Eu nem consigo dizer.

—Eu me senti impotente. Ele podia ter acabado com todo mundo ali, mas não o fez. – O tom dela é amedrontado.

—Por quê? Ele estava com a vitória nas mãos. – Pergunto, intrigado.

—Você não escutou o que ele me disse. – Dessa vez, ela parece decidida. – Ele não fez porque queria deixar claro pra mim que poderia me matar quando quisesse. Eu temi, não só por mim, Julio, mas por todo mundo que ainda estava vivo no shopping, porque eu tinha certeza de que se eu não tivesse detido o Taranto, era o que eles fariam.

—Aliás, aquela sua voadora com o bastão... – Sorrio ao lembrar do que Christie fizera. – Foi sensacional.

—Foi o que deu pra fazer, com aquele bastão. – Christie responde, rindo. – Eu não conseguia causar dano por causa das pernas massivas. Aliás, bela invenção...

—Eu não tenho um traje igual o seu pra lutar, então faço o que posso pra ajudar. – Dou de ombros, até que lembro que a Christie não vê meu corpo.

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—Você deu de ombros, não deu? – Escuto ela rindo.

—Como sabe?

—Eu te conheço, Julio. – Christie diz com uma simplicidade, que me faz lembrar o porque que eu acho que gosto dela.

A conversa continua até o anoitecer, o que lembra o porque eu sou amigo dela há tanto tempo, nós conseguimos conversar sobre qualquer coisa com facilidade, e enquanto com a Angela, eu a conheço pouco e é como andar sobre ovos, eu tenho medo de fazer merda e estragar a nossa amizade.

Christie

Após o funeral que ocorreu no domingo, onde boa parte da cidade compareceu e houve pedidos de justiça pelos mortos, a semana seguinte foi tranquila. Claro, a cidade estava com medo e alguns estabelecimentos comerciais não abriram, seja por temor de novos ataques, ou porque os funcionários faleceram no ataque de sábado. O Shopping da cidade fechou para reformar o que havia sido destruído.

A minha frustração com o fato de eu ser bem mais fraca que Sanguini também aumentava, porque a cada momento em que eu descansava, eu relembrava dele se aproximando de mim e atacando. Provavelmente por conta disso, na quinta-feira seguinte, ao invés de ir direto pra casa depois do trabalho, eu resolvi caminhar pela cidade, só pra esfriar a cabeça.

Julio tem trabalhado na parte debaixo da clínica, vigiando a cidade e morrendo de tédio, enquanto Angela é assistente do James, o que dá uma desculpa pra mantermos ela em segurança e ela vê o Julio de vez em quando. Sim, depois dessa situação, acabamos nos aproximando, então não era de todo ruim.

Passando pelo bairro onde eu havia encontrado o Felipe morto, no que parecia ser uma década atrás, mas nem tem tanto tempo assim, vejo uma cena esquisita, num terreno baldio. Uma garota, de cabelo... Rosa, eu acho, a iluminação não deixava eu enxergar direito, estava cercada por um grupo de homens, até que no estalar de dedos de um deles, a maioria dos homens se transforma em zi-bots, e o homem que estalou se transforma numa espécie de lagarto humanóide amarelo, com o corpo escamado.

A garota parece, obviamente assustada. Olho pros lados para ver se não tem ninguém na região. Bom, seria legal colocar minha frustração pra fora naqueles monstros. Aperto o botão do meu Omega Watch, coloco meu braço esquerdo em posição de defesa, encaixo a chave na fechadura e a giro.

— TRANSFORMAÇÃO! – O traje de Mascara Omega cobre meu corpo, e vou para cima dos zi-bots sem pensar.

Ah, a sensação de socar um inimigo era sensacional, como senti falta disso, o que me parece estranho, pois não luto contra o crime há tanto tempo assim. A luta contra os zi-bots em si é fácil, eles tentam me atacar, eu esquivo com o corpo e contra ataco.

Dado um momento, consigo ficar entre os zi-bots restantes, o monstro, que não se mexera por alguma razão, e a garota.

—Tudo bem, vá para um lugar seguro. – Digo para a garota, que realmente tinha cabelos rosa. Curioso, não parecia pintado...

Quando me viro novamente para encarar os inimigos, escuto um "Watchaaaa!" bem semelhante aos que Bruce Lee fazia em seus filmes, além de um golpe com a lateral da mão nas costas, que me joga alguns metros a frente, me fazendo ficar nos pés do monstro, que ainda estava parado.

—Mas o que... – Me levanto, e me viro, vendo a garota, ainda na posição em que tinha me atacado. – O que foi isso? – Os zi-bots não estavam me atacando.

—Isso... – A garota aperta um botão na lateral do pulso e o relógio dela se tranforma em um similar ao Omega Watch. – É um recadinho com lembranças da Cruz Mortífera. – Ela saca uma moeda e coloca no local onde ficaria o visor do relógio e aperta. – Transformação.

Ali, diante da minha frente, um traje semelhante ao meu, mas em tons violeta e violeta escuro, ao invés do vermelho e violeta claro que uso, cobre o corpo da garota.

—Quem é você? – Pergunto, estupefata de ter alguém com poderes ou mesmo força semelhante a minha.

—Você se auto denomina Máscara Omega, não é? – A garota diz, inclinando a cabeça. – Então pode me chamar de Máscara Alpha.

—Máscara... Alpha? – Digo, enquanto os zi-bots e o monstro formam uma roda ao redor de mim, e Máscara Alpha corre na minha direção para aplicar um soco.

—Sim, e hoje lhe darei um aperitivo do que posso fazer. – Ela diz, quando paro o soco dela com minha mão. – Você verá que não estamos brincando.