Amor Perfeito XIII
Isso que ele faz
Fabiana começou a explicar o lance dela com Ryan. Fiquei olhando com atenção.
— Depois do beijo ficamos sem graça e tal, achei que nem rolaria mais nada. Mas agora vai ser mais que um beijo. Escuta só. – ainda assustada com aquilo que eu nem imaginava, olhei e vi que Luna havia acabado de entregar a última criança a mãe e eu tinha que aproveitar que ela estaria sozinha.
— Não faz nada ainda, que a gente tem que conversar sobre isso. Vou ali. Vai lá na sua best. – fiz uma expressão de deboche e mandei beijo para ela, correndo até minha tia.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Podemos conversar? – perguntei a parando.
— Oh meu amor, eu estou ocupada. Tenho que ir ajudar a servir o almoço. É muito importante? – um tempo atrás esse tratamento seria normal, agora tudo que saia da boca dela me soava falso.
— É sim. E prometo que vai ser rápido. – ela pareceu não gostar, mas parou e me olhou. – Por que você não gosta de mim?
— O que? – ela me observou como se não estivesse me entendendo.
— Você pediu a Arthur que não se deixasse levar pelo que sente por mim. O que eu tanto fiz de errado?
— Ah Alice... Você sabe, o seu pai nunca vai aceitar a menininha desprotegida dele com alguém mesmo que esse alguém seja Arthur e eu amo meu irmão e amo meu filho. Não quero que uma guerra desnecessária comece, guerra essa inclusive que pode ser em vão já que seus sentimentos são tão incertos e frágeis.
— Você é tudo menos a tia que eu conheço.
— É o meu filho! Eu o vejo sofrer por você há anos e nunca disse nada. Nunca lhe culpei por nada. Nunca quis seu mal. Tentei lidar com isso. Chega uma hora que o coração de mãe não aguenta.
— Só espero que nunca se arrependa. – fui almoçar. E depois do almoço eu dormi um pouco, estava com muito sono. Quando acordei vi que já estava atrasada para minha função, que era a horta. Troquei de roupa e fui, mas no corredor vi uma movimentação estranha. Procurei Otávia para conversar com ela sobre Ryan, mas como não a achei fui para o meu dever. Quando acabei fui tomar banho e a encontrei em meu quarto. Ela havia chorado.
— O que aconteceu? – perguntei me sentando ao seu lado.
— Preciso da sua ajuda! – ela me olhou de um jeito que eu nunca vi Otávia olhar. – Arthur saiu completamente de si e bateu em Kevin, sei que vocês não estão se falando, mas, por favor, conversa com ele e pede para ele parar com isso.
— O que te leva a pensar que ele vai me ouvir?
— Ele te ama demais Alice, esse amor não acabou em alguns dias.
- Vou conversar com Kevin e o mandar parar de provocar seu irmão, aposto que foi isso a causa de tudo.
— Estão querendo expulsar Arthur do abrigo. – Yuri chegou contando, ao lado dele estavam todos os meninos incluindo Rafael. As meninas chegaram segundos depois e pelo visto correram.
— Como assim? Isso é impossível. Ele projetou isso aqui com o meu pai. Ele ficou dias e dias acompanhando a obra, percebe o quanto é ridículo essa fala?
— Otávia, ele desmaiou o Kevin na porrada. Eles não vão admitir esse tipo de violência.
— Eles quem? Vinicius, Gustavo e Caleb? – Otávia perguntou revoltadíssima. – Se o meu irmão sair desse lugar eu saio junto. É injusto. Ainda mais por um imbecil que nunca fez nada de bom por ninguém.
— Isso não justifica quase mata-lo. – Ryan falou a olhando. – Arthur começou a bater e não parou. Se o pai deles não tivesse chegado sabe-se lá o que teria acontecido.
— Eu teria feito o mesmo, moleque folgado. – Rafael opinou.
— Onde o Arthur está agora? – perguntei temendo a resposta.
— Sendo julgado pela alta cúpula.
— Se o Vinicius não tivesse no meio e o Gustavo não fosse tão grande talvez ele conseguisse quebrar os três também... Ele tá com um ódio sanguinário. Inclusive quando o vi estava todo sujo de sangue.
— De repente ele virou esse psicopata que agride todo mundo. – Lari comentou e Fabiana chegou com Alícia.
— Estávamos esperando Arthur ser liberado. – Fabi falou nos olhando. – Ele não vai ser expulso.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Mas vai ter penalidades altíssimas. – Alícia continuou, claro que a pior parte tinha que ser com ela. – Ele foi tirado do time dos “administradores”, não vai mais estar com os engenheiros, vai ter que pedir perdão a Kevin e vai fazer serviços como punição, entre eles retirar os lixos, todos os serviços braçais e ajudar nas plantas.
— Não preciso dele me ajudando nas plantas.
— Vai lá falar isso para aquele bando de autoritários que acham que isso aqui é uma ditadura! – Fabiana reclamou. – Podem até serem seus parentes e amigos de infância... Mas esses caras estão exagerando.
— Eles precisam exagerar se não vira baderna. O Arthur só deu azar de ser o primeiro a aprontar e servir de exemplo.
— Vamos ir lá no Arthur, ele deve estar precisando de apoio. – Soph sugeriu e antes de alguém falar algo eu senti aquele cheiro... Era o desodorante dele. Podia ser uma coincidência, mas mesmo sem ver sabia que ele estava ali atrás de todo mundo.
— Obrigado, mas não preciso. – o pessoal arredou e o vi encostado no batente da porta. Parecia tranquilo.
— Que banho rápido. – Alícia disse se virando para ele e ficando na ponta do pé e passando a mão no cabelo dele.
— Alice que horas eu tenho que estar na estufa amanhã? – meu coração acelerou ao ouvir meu nome sair da boca dele e por ele estar falando comigo, mas eu não podia esquecer aquela noite. Jamais. Acho que rancor era meu segundo nome.
— Fala para ele perguntar a algum coordenador de função. – sugeri olhando para Otávia. – Ou estou com uma blusa escrita INFORMAÇÕES e não notei ainda?
— Toma que é de graça. – Rafael deu um tapa na cabeça dele. – Vem, quero saber dessa porradaria sangrenta.
— Só pra deixar claro você é a última pessoa que eu queria estar perto. – ele saiu com o amigo. Alícia foi atrás deles.
— Vou ir ver como Kevin está. – lembrei que eu ainda não havia conversado com Otávia sobre Ryan. – Encontro vocês daqui a pouco no jantar? – eles concordaram, corri na enfermaria.
— Olha quem veio me ver. – seu rosto estava inchado e bem roxo, além de alguns cortes. – Nunca imaginei receber você.
— Vou deixar vocês dois sozinhos. – a mãe dele Kira saiu sorrindo para mim antes.
— Você está lembrando muito as fotos do meu pai de quando lutava.
— Deve ser porque lutei. – ele deu uma risadinha fraca. – Sem lutar na verdade.
— O que você fez para ele chegar a esse ponto?
— Na verdade nada. A gente teve um acerto de contas. Sabe que eu mereço metade disso né? Acho que esses socos fizeram minha parte honesta vim a tona. – sorri e ele pegou minha mão. – Só fico triste porque logo agora que você estava me achando tão lindo eu fiquei feio. – comecei a rir.
— Quem disse que eu estava te achando tão lindo?
— Aquele jeitinho que você estava me olhando mais cedo. Não me engana. – fiz carinho em sua mão e olhei para baixo.
— Você tem alguma coisa que... Antes eu não conseguia ver. E agora está ficando nítido.
— O que é essa coisa?
— Não sei, é como um imã.
— E ele?
— Pensar nele me dá ânsia de vômito. Sério.
— Você me disse que estava apaixonada Alice.
— Você vai me fazer vômitar se continuar me obrigando a pensar nesse cretino.
— O que ele fez para você tomar tanto nojo dele? – fiquei calada. – Está receosa, mas tem que lembrar que fui eu que descobri o lance de Luna...
— Na verdade não tanto... Fabiana já havia escutado algo. Mas, tudo bem. – respirei fundo. – Acho que você merece saber. Ele me chamou de vadia. E antes insinuou que eu e você... Você sabe.
— A briga foi por isso. Ele jura que transamos. O cara tá bem louco. Será que tá usando drogas? Não duvido se pegarem ele com alguma coisa.
— Ele voltou diferente da universidade... Manias, jeito de se divertir, de se portar... Pode ser sim. E Luna invés de ver como o filho dela está se afundando fica preocupada em nos separar.
— Opa, espera aí. Ele não é coitadinho. Se ele está se afundando é porque escolheu assim.
— Chega dele. – respirei fundo. – Vou ir jantar.
— E eu vou ficar aqui de molho por enquanto. Só posso sair quando meu pai vier me liberar. – ele revirou os olhos insatisfeito. – Nos vemos logo. Mantenha distância do louco. – sua mão fez carinho em meu rosto e sorri, me despedindo.
Durante o jantar eu e todos não conversamos muito, estávamos famintos. A gente fazia muito mais coisas ali no abrigo do que em nossa rotina normal e isso gastava nossa energia e nos deixava com muito mais fome. Como a maioria já havia tomado banho, eles foram ficar juntos em uma parte de fora dos muros e ainda dentro da cúpula, perto do jardim, plantas e estufa, onde haviam alguns bancos. Tomei banho e me encontrei com eles. Chamei Otávia em um canto rápido, antes que eu esquecesse ou algo acontecesse novamente.
— Sobre o Ryan... Alícia ficou com ele. – contei a olhando.
— Eu sei. – ela suspirou. – Ele deve ter ficado com Sophia e Larissa também e a gente nem desconfia. Esse é o lance dele, fazer as coisas quieto. Se a Alícia não quisesse fazer ciúme no Arthur nunca ficaríamos sabendo.
— Mas tem outra coisa... Fabiana tá na função com ele e...
— Caralho! – ela fez um semblante de raiva e olhou para os lados.
— Ela não é uma ameaça... O lance dela é o Murilo.
— Nenhuma é ameaça. Ele não vai namorar ninguém, não percebeu? Se houvesse alguma chance ele não se preocuparia em fazer as coisas tão escondidas.
— Faz sentido. – pensei um pouco naquilo. – A gente se engana tanto né?
— Muito. Vamos voltar para perto deles antes que percebam e surja algum clima. – nos sentamos e vi Aline se aproximando.
— Oi gente, posso ficar com vocês né? – ela perguntou e vi o mal estar instalado.
— E a história está se repetindo... – Alê comentou olhando para Murilo e os meninos deram risadas.
— A gente decidiu não se envolver mais, mas sua... Ficante, sei lá, não está aqui. – ela se explicou sem graça.
— Tá de boa, não falei nada. – meu irmão a respondeu.
— Acho que a sua tara é querer quem não te quer. – Otávia opinou olhando para ela. – Primeiro meu irmão e agora Murilo. Quando ele estava caidinho por você não era assim né?
— Já entendi que não sou bem vinda. – ela iria embora, mas meu irmão a chamou.
— Para de bobeira. Senta aí. – ela pensou um pouco e rapidamente aceitou.
— Já que você é a sincerona joga na roda aí porque o casalzinho está de climão. – Yuri pediu a Otávia.
— Sou sincerona e não enxerida. – ela rebateu o meio irmão que fez careta em resposta.
— Giovana chegou na biblioteca e eu estava conversando com Larissa. – Alê explicou.
— E aí? – Yuri perguntou sem entender.
— Eles ficam a tarde inteira trabalhando juntos e de conversinha? – Gio perguntou indignada.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Fica esperta mesmo, essa daí costuma roubar as coisas da gente. – Sophia alfinetou.
— Não comecem porque Arthur não está aqui.
— A gente se voluntariou para organizar a biblioteca justamente porque gostamos de ler e entendemos sobre o assunto, então enquanto etiquetamos livros e arrumamos prateleiras a gente vai falar sobre isso, é natural. – Alê desabafou. – Não entendo esse ciúme que você tem de todo mundo.
— Viagem errada Giovana, a Larissa só ficou com Murilo porque ele é o Murilo e sempre consegue o que quer, mas ela é inofensiva, mais morta que uma mosca.
— E você Sophia não discorde, Ryan está certo. – Otávia se meteu.
— Eu sempre consigo o que quero e isso parece te irritar muito né Ryan? – meu irmão perguntou o encarando. – Já notei que está afim de Fabiana e quero que saiba que é melhor mudar o foco.
— Mudaria se você mandasse em mim, mas acontece que... Você não manda.
— Que porra Ryan! É minha mulher. Enfiou o respeitou no caralho do cú?
— Sua mulher? Devia ter vergonha de falar isso. Você nunca a valorizou.
— O que você sabe sobre valor? A única coisa que valoriza são as porras dos seus cigarros.
— Melhor que valorizar apenas meu pênis.
— Ninguém vai se meter? – Otávia nos olhou.
— É o que ela valoriza também já que vem sentar nele todo dia.
— Você é um escroto ridículo. – Ryan partiu para cima do Murilo e eles brigariam feio.
— Ei. – Arthur apareceu e puxou Ryan de cima do meu irmão. – Vim avisar ao Yuri que estou indo pegar o telescópio dele e vocês dois estão se batendo iguais dois animais, que porra é essa?
— Ele está dando em cima de Fabiana. – Murilo contou com raiva.
— Calma. Quando você dá em cima de Aline e tantas outras não fica nervoso assim. E Ryan você sabe a furada que está se metendo né? Seja como for ela claramente gosta desse idiota, se não ela não viveria atrás dele.
— É uma conclusão hipotética. Você não tem certeza e não sabe o que acontece dentro dela. – Ryan discordou.
— Seja como for Fabiana é livre para escolher quem ela quer, vocês se baterem é ridículo. É tão cansativo que eu sempre tenha que falar o óbvio para vocês.
— Se ela quiser mesmo ficar com esse imbecil tem como você me ajudar a trocar de função para não termos que ficar juntos?
— Eu apoio muito! – Murilo exclamou os olhando.
— Agora estou mais queimado que tudo nesse lugar, mas posso tentar. – ele respondeu e olhou o irmão. – Está em seu quarto? – Yuri respondeu positivamente e ele se foi.
— Ele vai cuidar disso. – Otávia falou olhando para Ryan, acho que para tranquiliza-lo.
— Como é que sabe?
— Porque é isso que ele faz, resolve as merdas.
Conversamos por mais algum tempo e fomos para nossos dormitórios, por aqui dormíamos cedo. No café da manhã vi Kevin e me sentei ao seu lado.
— Como você está? – olhei seu rosto e seus ferimentos.
— Sensivelmente doloroso. – ele sorriu. – Mas feliz de ser a primeira pessoa que eu vejo. Acabei de chegar ao refeitório.
— Vou lá pegar minha bandeja, guarde o meu lugar. – assim que voltei notei que ele sorria mais ainda. – O que foi?
— O seu ex namoradinho. – vi Arthur do outro lado em pé conversando com Alícia e Fabiana.
— Esquece ele. Olha o que isso tudo te causou. Vocês dois se odeiam desde criança e isso nunca fez bem a nenhum dos dois.
— O que vai fazer hoje? – ele mudou de assunto, o que já era de se esperar.
— Cumprir meu dever e a noite ficar com o pessoal eu acho, por quê?
— Você fica com eles sempre, que tal uma mudança? Pensei na gente... – antes dele completar a frase eu o cortei.
— Kevin, eu gosto de estar perto de você, mas não podemos estar sempre juntos.
— E qual o motivo? Não diz ele porque não vai fazer sentido pra mim. Ontem mesmo você disse sentir nojo dele.
— Não é por ele. É porque é tudo muito recente. E se ficarmos juntos, vamos acabar nos beijando novamente e isso pode virar algo que... Não sei. Você é legal, mas você não tem muita paciência comigo e o seu jeito além de bipolar e explosivo é assustador.
— Ele é o perfeito né? – ele respirou fundo já nervoso. – Olha o rosto dele intacto, eu que estou todo arrebentado. É esse o cara perfeito!
— Tá vendo? Vocês sempre se comparam um ao outro. É uma rivalidade que não tem nada a ver comigo. – acabei de comer em silêncio. – Tenho que ir para a aula. – me despedi e vi que ele estava chateado, mas eu não podia fazer nada.
— É verdade que seu irmão e Ryan brigaram por minha causa? – Fabiana perguntou quando sai da sala. – Acho que Arthur ficou tão atordoado com tudo que está acontecendo com ele que só lembrou de me contar hoje cedo.
— É sim. – confirmei e continuei andando.
— O que eu fiz Alice? Está chateada comigo por causa do Murilo? Não é possível né?
— Não, eu só estou de saco cheio de tudo. Risadinhas e conversinhas vão ser difíceis pelo menos nas próximas horas, então, me deixa tá? – fui andando em sua frente e entrei em meu dormitório encontrando Larissa deitada em minha cama e quase morri do coração pelo susto.
— O que tá fazendo aqui? – perguntei estressada e guardei meu material e tirei meu tênis. Ela percebeu meu stress e ficou calada. – Foi mal. Diz, o que foi?
— Estão rolando duas coisas. Você precisa me ouvir, não tenho mais ninguém com quem desabafar. – sentei ao seu lado. Seja o que for pelo menos me distrairia.
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