Asterisco e Machine

Apesar dos ocasionais downloads da mente, tudo está melhor do que parece


Muito tempo se passa. Ele tem um monte de filhos, se torna o melhor no ranking junto com seu melhor amigo, envelhece, tem netos, bisnetos... E continua jovem. Sua vida perfeita, porém, é interrompida quando ele desperta novamente dentro da cápsula dos sonhos.

Tudo ao seu redor é líquido, e ele se sente mais pesado do que o normal. No canto, um botão indica que vai abrir a porta. O indivíduo estende o pé para apertá-lo e quase tem um susto com o aço que se move. “Meu pé era de metal?” pergunta o... rapaz. O botão é pressionado e a porta da cabine se abre. A sala é familiar. Na verdade, Machine o espera logo em frente.

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— E aí, Machine? — cumprimenta.

— Olá, Bot 196. — o outro o responde, com desgosto.

— Ei, que que é isso? Meu nome é... — ele para um momento, notando que esqueceu o próprio nome. — Como assim, ‘tava na ponta da língua... Mas eu sei que meu nome não é esse...

— Claro que é. Você é um robô.

— O que?! ‘Tá viajando, maluco?!

— Estende o braço. ‘Cê vai ver.

Bot 196 estendeu o braço, e percebeu que ele era todo feito de metal, num formato cilíndrico, semelhante a um canhão. Não conteve sua língua: — Que porra?!

— Você falhou, cara. Eu jurava que você ia fazer diferente. — Machine estava decepcionado. — Tipo, tinha tudo pra dar certo, e você foi lá e estragou tudo.

—Do que é que você ‘tá falando, carai?! Eu não sei de nada disso!

— Tu saiu da cápsula, há muito tempo atrás. Não aproveitou quando era livre. E agora virou só mais um Bot da Dústria.

— Eu não sou um Bot!

— Não era. Mas agora é, igual a mim.

— Acusar é fácil né, fela da puta. Você também não fez nada.

— Eu fiz sim.

— Fez o que?!

O vulto branco e volumoso de Dústria apareceu na sala, interrompendo a conversa. Seus olhos de LED brilhavam de satisfação. Disse: — Vamos, Bot 196. — e o citado a seguiu, sem nem saber o porquê. Quando os dois saíram da sala, Machine olhou para o chão, desiludido.

Eu salvei você, Asterisco. Por que foi tão ingrato?

E Machine saiu da sala, voltando à varanda, onde observou o mundo de gente iludida, esperando que a sorte desse a ele mais uma oportunidade.

Agá apareceu de repente, vinda de um corredor. Ficou ao lado do ciborgue, olhando as cápsulas criadas por Dústria.

— Todo mundo vai ficar preso aí pro resto da eternidade? — perguntou Machine a ela.

—Não sei. — Agá respondeu.

—Eu sou muito idiota por tentar libertar todo mundo, né? Porra, eu devia era só aceitar...

—Nem tanto. — ela olhou para o nada, numa pose filosófica. — Alguns deles nunca vão querer sair, e não vai ser culpa sua. É só porque é confortável.

—Essas cápsulas de merda...

—Machine, não tenha tanto ódio dessas coisas.

—Como é?!

—Me escuta. Sabe por que Lorelei não conseguiu?

—Porque ela não sabia trabalhar em grupo, e queria fazer tudo do jeito dela.

—Também. Mas é porque ela não conhecia as pessoas. Ela achava que todo mundo pensava como ela, e se não pensasse, estava errado. O problema está aí. Todos esses encapsulados pensam diferente. Nenhuma ideia os unirá completamente.

— E a gente vai deixar todos eles mofarem aí dentro?

— Eles não são burros, Machine. Lembre que Asterisco descobriu da ilusão sozinho.

—E voltou pra ela...

—Porque a intenção dele não era sair. Muitos dos encapsulados não tem essa vontade. E não adianta tentar obrigá-los a isso. O que devemos fazer, Machine, é deixar o link.

— O link?

— Sim. Possibilitar a saída. O que eles vão fazer com ela sempre será problema deles, e nunca nosso. Não se culpe pelos erros dos outros.

— Vou tentar...

— Acredite nas minhas palavras, Machine. Nem mesmo Dústria pode controlá-los perfeitamente. Ninguém pode. Nós, humanos, somos imprevisíveis até com nós mesmos.

—Espero que esteja certa.

—Tudo está melhor do que parece, lembre disso.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.