Paredes de ar
Café velho
Escrever uma carta para alguém morto era tão doentio quanto desenterrar um cadáver.
Ao menos era isso que Lilian pensava sentada em sua escrivaninha com a folha em branco diante dela. Mas talvez fosse só o café velho. O maldito café velho que sua mãe continuava requentando infinitamente até que não restasse sequer uma gota na garrafa. Café esse que Lilian ainda não aprendera a jogar fora mesmo depois da mãe estar morta e enterrada.
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Não tinha jeito.
Se fosse para se livrar daquela sombra que continuava a perseguir cada movimento seu, então que seja, Lilian seria a pessoa que desenterraria cadáveres no cemitério para garantir que aqueles sentimentos descansassem em paz.
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