Você.

Capítulo Único


Bang Chan gostava de falar. Felix nunca se importou com isso; para ser sincero, adorava quando o namorado vinha lhe contar como foi o seu dia ou apenas dizer alguma bobagem sem sentido. Era um prazer ouvir seu Hyung falar.

Mas o que ele gostava mais do que falar, era lembrar. Segundo Felix, Chan possuía uma nostalgia eterna. Ele estava sempre falando de coisas que aconteceram no passado, ás vezes sem motivo nenhum aparente. Ele era viciado em memórias.

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O casal estava na casa de Felix, deitados na cama do seu espaçoso quarto. Estavam abraçados, despidos da cintura pra cima, sentindo o calor do corpo um do outro. Eram nesses momentos mais íntimos que Chan gostava de puxar conversa:

— Se lembra de quando eu comecei a te ensinar coreano? — Ele levantou a cabeça e encarou Felix. — Naquela vez em que o pessoal tentou falar inglês e você ficou triste porque era o único que não conseguia conversar com todo mundo.

— É claro que lembro. — Felix deu uma gargalhada rouca. — Foi na época em que eu pensava que você e o Jeongin namoravam.

— É por isso que se lembra? — Foi a vez de Chan rir. Gostava das demonstrações evidentes de ciúme daquele garoto. — So cute, Yongbok.

Após mais risadas, os dois se beijaram. E o beijo não durou muito, pois Chan voltou a falar:

— E quando Jisung chamou a gente pra acampar? — O garoto sorriu, completamente dominado pela lembrança. — Ficamos tirando fotos idiotas um do outro no ônibus.

— Hyunjin ficou muito bravo nesse dia — comentou Felix, também se lembrando. — O acordamos umas três vezes.

Era sempre assim. Quando Chan começava a lembrar, era impossível fazê-lo parar. Felix nunca foi capaz se irritar com esses episódios, pois era sempre envolvido por eles. Gostava de ver o sorriso que brotava na face do namorado quando ele se perdia em memórias.

Mas não pense que Bang Chan era alguém que estava preso ao passado. Era justamente o contrário: ele gostava de pensar nos acontecimentos que levaram suas maiores conquistas. Seu emprego, seus melhores amigos, o amor de sua vida... Os momentos mais simples de Chan compunham sua felicidade.

E apesar de Felix ter consciência disso, ele não achava essas recordações necessárias. É claro, era grato por tudo o que aconteceu com eles e sentia-se muito bem relembrando o passado ao lado de Chan. Só que para ele, uma única memória era mais especial do que as outras.

— Se lembra do meu aniversário de 20 anos? — perguntou Felix, olhando diretamente dos olhos de Chan.

— Como eu poderia me esquecer? — retrucou, sorrindo. Beijou o namorado novamente e, dessa vez, ele durou muito mais.

Não, aquele não foi o dia em que Felix conheceu Bang Chan; eles se conheciam desde pequenos. Também não foi o dia do primeiro beijo, ou da primeira vez, nem quando começaram a namorar.

Naquele 15 de setembro, cinco anos atrás, Felix encontrou o que procurava.

Seu aniversário nunca foi grande coisa. Não costumava dar importância a essa data, mas seus melhores amigos sim. Eles adoravam uma festa, e por mais irônico que fosse, Felix não ficou nada surpreso com a festa surpresa que eles prepararam para si. Todas as pessoas mais importantes para o garoto estavam lá: seus pais, os colegas mais chegados da faculdade, seu parceiro de trabalho e seus amigos de infância: Bang Chan era um desses últimos.

Naquela época, os dois já haviam trocado beijos e outras coisas íntimas diversas vezes. Nunca foi algum segredo, mas também nunca foi considerado algo importante. Era só outro tipo de amizade e nada mais. Mas durante a festa, Felix havia ficado pensativo. Seus pais haviam lhe informado que fora Bang Chan quem preparara toda a comemoração sozinho. Todos os convidados foram avisados naquele mesmo dia mais cedo, e a única coisa que trouxeram foram alguns presentes. Sua mãezinha havia dito, toda feliz, que Chan havia planejado aquilo para colocar um sorriso em sua face.

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Felix estava passando por dificuldades naquela época em relação aos estudos. Vivia se estressando por conta disso, e por Chan estar sempre por perto, acabava por desabafar com ele. E pelo que pôde entender pelo discurso de sua mãe, o intuito principal da festa era fazê-lo se esquecer dos problemas e relaxar ao lado das pessoas que mais gostava.

Ele queria criar uma memória feliz.

Felix começou a pensar sobre a festa. Estava sendo realizada no apartamento de Bang Chan. A pequena sala só tinha uma mesa, onde se encontrava um enorme bolo. O aniversariante foi até a cozinha e encontrou uma bagunça lá: a louça estava toda suja, e quase não dava para andar lá, pois o sofá e a televisão do amigo estavam ocupando o pouco espaço do cômodo. Voltando para a sala, o rapaz avistou caixas de som, um microfone e um pen drive próximos à mesa. Sabia que todos aqueles objetos pertenciam ao pai de Chan: os dois já pegaram emprestado uma vez para brincarem de karaokê. Era visível o esforço que o amigo fizera para que aquela festa acontecesse.

O coração do Lee começou a bater descontrolado. Mordeu os lábios e olhou em volta e encontrou Bang Chan, sorrindo enquanto conversava com um de seus amigos. Os olhos puxados se transformavam em duas fendas quando aquele garoto sorria de verdade. As linhas de expressão ficavam mais evidentes e adoráveis covinhas apareciam próximas dos lábios rosados. Já havia visto aquele sorriso de felicidade verdadeira milhares vezes, sem exagero. Contudo, naquele momento específico, Felix se sentiu diferente. E então, voltou a pensar.

O que tinha com Chan não era apenas uma amizade, muito menos um simples caso. Era algo diferente. Sentia-se completo ao lado dele, e só ao lado dele. Chan costumava dizer coisas que o motivavam, além de oferecer ajuda a todo o momento. “Se eu puder fazer algo para você, eu farei, sem pensar” era o que sempre dizia. Ao pensar nisso, Felix percebeu o quanto os dois eram parecidos.

Chan era como seu reflexo. Passavam pelos mesmos problemas, e sempre encontravam a solução deles um no outro. “Minhas perguntas e suas respostas se encaixam como um quebra-cabeça”, Felix lembrou de ter dito a Chan, provavelmente de brincadeira em alguma situação aleatória. Aquela frase nunca fez tanto sentido quanto naquele momento.

Em certo momento da festa, Bang Chan pegou o microfone e chamou a atenção dos convidados. Anunciou que iria entregar o seu presente para o aniversariante, e isso fez com que Felix sentisse seu corpo todo tremer. Já sabia bem o que era, pois o conhecia. Era uma música. Para ser mais específico, aquilo era uma batida. Apesar de cantar muito bem, Chan não o iria fazer. Ele gostava quando Felix cantava suas músicas.

O aniversariante ficou parado onde estava, olhando para o rosto tão bonito de Chan. Ouviu a melodia, e começou a pensar novamente.

Todo momento com Bang Chan era perfeito. A forma com que os lábios se encaixavam quando se beijavam era surreal. As conversas que tinham não se comparavam com as de ninguém. Felix achava que tinha se encontrado em Chan, pois sem ele, era apenas mais um garoto. Era melhor ao lado dele, e esse pensamento fez com que se desse conta de algo óbvio.

O amava.

Felix caminhou até onde Chan estava a passos largos. A música ressonava em seu ouvido, realçando todos os seus pensamentos. Ao estar frente a frente com ele, o aniversariante sorriu. Era como se estivesse olhando para um espelho. Estava se vendo nele.

“Feliz aniversário, Felix” disse Chan, vermelho de vergonha. “Eu te amo”.

Felix sentiu-se quente. Aquele rosto, aquela voz, aquelas palavras... Tudo era tão caloroso. A felicidade nunca se fez tão presente quanto naquele momento. O jovem tocou as bochechas rosadas de Chan e disse, depois de ter tirado todas as conclusões que precisava em pensamento:

“Eu sou você.”

— Essa é a minha memória mais feliz, Chan Hyung. — Felix abraçou o namorado com ainda mais força. — Foi naquele dia em que eu me encontrei.

— Eu sei — comentou Chan com um sorriso verdadeiro. — Eu me vejo em você, você se vê em mim e isso é maravilhoso.

Naquele 15 de setembro, Bang Chan e Lee Felix encontraram a resposta para as suas perguntas. Seus sonhos, suas perspectivas e seus esforços para alcança-los... Tudo isso era possível apenas por que tinham um ao outro. Antes daquele dia, eles não sabiam que eram realmente. Descobriram sua identidade por estarem juntos. Buscavam mais por estarem juntos, e por isso acabaram se conhecendo melhor, individualmente.

Aqui fora é muito frio para eu ficar sozinho... — Chan começou a cantarolar a letra da música que o namorado escreveu naquele dia.

Agora só está quente porque você está aqui. — Felix complementou, a voz soando sonolenta e mais rouca do que o normal. Sentiu o sono vir com força, e desejou sonhar mais uma vez com aquela festa de aniversário.

Para Felix, não era necessário lembrar-se de tudo, ou focar em todas as boas recordações. Já era suficiente pensar em sua memória mais feliz: o dia em que descobriu que Chan era a resposta. Ninguém podia substitui-lo.

Eu sou você.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.