V E N U S - Origin

1.12 Orquídeas


Lower Manhattan Hospital, Nova York – EUA.

— Isso é impressionante, - a voz estupefata cuspia as palavras sem ao menos perceber – a pele teve regeneração de 50% em menos de dois dias. Fico me perguntando como isso é possível.

— Basta. – Pediu a voz masculina amargurada entre as sombras.

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— São queimaduras de terceiro grau em mais de 80% do corpo. Queimaduras profundas que acometem toda a derme e atinge tecidos subcutâneos. - A voz pasmada ignora a outra, prosseguindo com sua tese.

— Basta. – O outro suplicou.

— Teve destruição total de nervos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas e capilares sanguíneos. Atingiu os músculos e estrutura óssea. – Ele parou e passou a mão sob os lábios, cada vez mais assombrado - São lesões que não curam sem apoio cirúrgico, necessitando até de enxertos e estão aqui. Como se as queimaduras tivessem sido superficiais.

— Já falei basta, Alex! – Vociferou Howard, levantando-se da poltrona posicionada ao lado do leito onde a irmã repousava desacordada. – Eu sei de tudo isso!

— Howard...

— Todos já me explicaram tudo isso. A única coisa a qual eu realmente estou interessado eles não conseguem me responder. Por que diabos ela não acorda? – Esbravejou com profunda mágoa nos olhos.

— Eu... – iniciou o rapaz, contido. – Eu acredito que esteja em uma espécie de coma. O corpo poupa energia em consciência autônoma para ter esse tipo de recuperação celular. É a minha dedução.

— Deduções... – cuspiu o mais velho. – Se eu fosse acreditar em deduções Harriet estaria a sete palmos do chão neste exato momento.

— Entendo a sua perda...

— Eu não a perdi! – Interrompeu-o imediatamente. – Ela está viva, está respirando...

— Não há mais de 10% de atividade cerebral constatada...

— Ela... Ela não... – Howard engasgou com as palavras, sentindo o peito se encher e sufocá-lo. – Ela não pode estar morta, Alex.

O irmão se aproximou do leito, segurando a mão da jovem com delicadeza.

— Sinta! – Indicou-a ao rapaz. – Quente, sangue correndo por suas veias. Por Deus, ela estava completamente carbonizada e olhe só!

Alex mirou novamente a amiga desfalecida sobre o leito e engoliu em seco. A expressão branda, como se estivesse simplesmente dormindo.

— Realmente, - admitiu – tem coisas que a medicina não pode explicar. Eu como médico, não deveria estar te falando isso, mas... – ele pousou a mão sob o ombro do rapaz – Reze, Howard. Tudo o que nos resta agora, é rezar.

—x-

Lower Manhattan Hospital, Nova York – EUA.

10 Dias depois

— Para que serve isso? – Howard indagou à enfermeira assim que entrou no quarto de cor azulada. Haviam sido transferidos da UTI para lá havia apenas alguns dias.

A mulher usava o próprio corpo de apoio para que o de Harriet pudesse se sentar sob o leito.

— Temos que fazer a movimentação dos músculos, para que não se atrofiem. – Informou-o, sem tirar as mãos da jovem.

— Algum tipo de avanço cerebral? – Indagou ele esperançoso.

— Sinto muito, senhor Stark. – Pesou a enfermeira. – Só teremos certeza absoluta da magnitude dos danos cerebrais quando ela acordar. Por enquanto os exames constatam atividade em 25%.

Howard soltou o ar que ao menos percebera que segurava.

— Algum conselho? Dada a sua experiência. – Ele perguntou.

A enfermeira parou os movimentos e refletiu antes de pronunciar: - Olha, Sr. Stark, se eu fosse o senhor não perderia a esperança. Já vi muitos milagres acontecerem por estes corredores. Inclusive aqui. – Ela sorriu afetuosamente. – Tenha paciência. Tudo acontece no tempo de Deus.

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Howard sorriu de volta e assentiu.

— Vou deixa-las trabalharem em paz. Se me dá licença... – e se virou para sair do quarto.

Assim que abriu a porta para se retirar, deparou-se com Peggy Carter.

Aparentemente ela estava pronta para bater na porta.

— Oh, Howard. – Soprou com a mão sob o peito.

— Veio me trazer notícias do mundo lá fora? – Indagou o rapaz, seco.

Peggy não pôde deixar de notar que, a este ponto, Howard já assumia uma aparência degradante. Com bolsas arroxeadas por baixo de seus olhos, barba por fazer e mau cheiro.

— Ou veio para me aconselhar a deixa-la partir? – Insistiu ele.

A mulher engoliu em seco e ignorou os maus modos de seu amigo, perdoava-o pela ignorância apenas desta vez.

Não podia vê-lo pior ainda.

— Vim vê-la. – Ela respondeu. - Não tive tempo antes, o Coronel Philips me encarregou de tomar algumas decisões quanto ao projeto já que os seus projetistas estão... – ela umedeceu os lábios antes de finalizar: - ausentes.

— Não tenho condições de retornar agora. – Esclareceu. – Harriet continua em estado de risco e qualquer mudança eu quero estar próximo para ajudar no que for possível.

— Não lhe julgo. – Adiantou-se. – Faria o mesmo em seu lugar.

— Eu me sinto tão inútil aqui, Peggy. – Ele admitiu coçando a nuca. – Não tenho a mínima noção de medicina para tomar a frente e pensar em possibilidades de adiantar o processo de recuperação.

— Ainda mais? – Ressaltou – Alex me disse que é um milagre ela já ter se recuperado como se recuperou, dado seu estado inicial.

— Sim, - ele bufou – os médicos dizem que nunca antes viram algo como. Me procuraram inclusive para fazer pesquisas. Não autorizei, claro. Invadir a particularidade de Harriet seria a última coisa que ela aprovaria.

— Também acho.

— Bom, - ele suspirou. – Ela está fazendo alguns exercícios para os nervos não se atrofiarem. Se quiser entrar para vê-la, fique à vontade. É bem-vinda aqui, Peggy.

— Obrigada.

— Se me dá licença... – pediu, contornando a mulher e esvaindo-se pelo corredor.

—x-

— Bom dia. – saudou a mulher.

— Aqui há esta hora? – Indagou mirando o relógio qual marcava 07h30min na mesa ao lado do leito. – Caiu da cama?

— Não, bobo. Vim trazer alguns artigos que ela gostaria de ler, o porta retrato com a foto de vocês, o casaco que não abandonava seu corpo e algumas orquídeas. Ela sempre gostou do cheiro delas.

A mulher depositou o vaso com as flores e o porta retrato na mesa ao lado do leito e se sentou na poltrona, agarrando a mão da jovem.

Peggy observou cada detalhe do rosto da amiga, cada fio de cabelo, cada sarda, cada pinta... Tudo estava lá como antes. Como se o corpo não tivesse carbonizado há poucos dias. Tudo aquilo á chocava.

Tanto que não tinha reações mais exasperadas porque simplesmente não sabia o que concluir. Sentia-se dentro de um filme de ficção cientifica.

Afinal, Harriet estava ou não estava viva?

— Quanto ao assassino do doutor... – incitou Howard, de costas para Peggy.

— Você ficou sabendo. – Afirmou. – Suicídio. Assim que Steve o capturou, ele engoliu o próprio veneno.

— Alguma resposta oficial divulgada?

— Não. Sem pronunciamentos oficiais. Todo dia o coronel Philips fica se perguntando como um espião alemão entrou nas instalações secretas. – Pronunciou ela – Ele fica interrogando testemunhas e analisando o que foi que deu errado além do acidente...

— Que todos dizem ser por conta da borracha de encaixe do tubo, é eu sei. – Interrompeu-a completando a resposta que tanto ouvira nos últimos dias.

Peggy tornou a respirar fundo.

— O coronel quer saber até quando dura o seu luto. – Soltou rapidamente. De forma indolor. – Tem um objeto não identificado no quartel para que você possa analisar...

— Acha mesmo... – Cortou-a com dor na voz. – Que eu vou deixá-la para analisar qualquer sucata que queiram me distrair?

— Howard, já se passaram vinte dias e não há mudanças...

— Ela não está morta! – Gritou, assustando a amiga.

Peggy Carter engoliu em seco e depois de muito refletir, pronunciou delicadamente: - Seria saudável você sair daqui um pouco. Ir para casa, tomar um banho, comer decentemente... Eu cuido dela enquanto isso, posso lhe garantir.

— Qual parte do "eu não vou sair do lado dela" vocês não compreendem?

— Vocês... – soltou em tom de indagação.

— O coronel veio fazer uma visita ontem. – Revelou. – Claro que não deixou de citar o acumulo de trabalho na base. Como se eu me importasse. – Riu desacreditado. – Minha vida é isso aqui agora, procurar soluções que a faça melhorar.

Peggy observou os vários livros de medicina espalhados pelo quarto, uns abertos e outros empilhados ao pé da poltrona em que ele estava.

Howard não desistiria tão cedo.

Disso ela tinha certeza.

—x-

Lower Manhattan Hospital, Nova York – EUA.

10 Dias depois

Howard se virou na direção da porta assim que ouviu o soar na madeira.

— Senhor. – O rapaz loiro murmurou.

— Como ousa vir até aqui? – Seus nervos subiram imediatamente. O sangue em suas veias queimando, tornando-se cada vez mais perceptíveis.

Steve era a imagem do acidente em vida. Ao menos aos olhos de Howard.

— Se me permite, gostaria de fazer uma visita a uma amiga. – Respondeu educadamente, com as mãos atrás de seu corpo. Em postura exemplar.

— Quer visitá-la? – Indagou sorrindo feito um maníaco. – Quer visitá-la?

— Howard... – tentou a outra.

— Você acabou com ela! – O mais velho vociferou indo para cima do, agora, mais alto. – Você prendeu-a a cama! Uma mente brilhante como a dela simplesmente estagnada. Com menos de 35% de atividade. Por sua causa!

Os seguranças que protegiam o quarto seguraram-no para não atacar o rapaz.

— Soltem-me!

— Howard você tem que se acalmar! – Peggy, que já marcava presença constante no hospital, solicitou aproximando-se do amigo. – Ele só quer vê-la.

— Então veja! – Ele gritou. – Veja o que você fez com a minha irmã!

Dito isso saiu do caminho de Steve até o leito da jovem.

Steve sabia que Howard só o culpava porque não tinha outro quem culpar. Talvez estivesse também evitando culpar a si mesmo. Porque, segundo Harriet, fora ele que a inseriu no projeto.

Portanto o jovem mantinha-se controlado e calado. Uma negação de sua parte evitaria seu contato com a amiga. Assim o loiro aproximou-se da cama e sentou-se na beirada da mesma, agarrando a mão quente da garota.

— Sinto sua falta, Harrie. – Engoliu em seco.

A pele rosada das bochechas da jovem podia denunciar quão viva estava. Sua respiração ininterrupta castigava aqueles que desacreditavam em seu retorno à terra dos vivos.

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Porém, só quando ela abriu os olhos castanhos vívidos, que todos podiam confirmar a crença do irmão.

Espantados, todos se aproximaram rapidamente do leito.

Harriet estava viva.

E, ainda que ninguém soubesse até então, mais forte do que nunca.