V E N U S - Origin

1.9 Retorno à América


Howard percorria os corredores do grande hospital, desnorteado e perdido. Havia se informado na recepção, mas a explicação que a loira lhe forneceu de nada adiantara, sua visão estava conturbada, números e palavras eram apenas borrões.

Sua respiração estava descompassada e ofegante, ele estava trêmulo da cabeça aos pés.

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Ele precisava encontra-la. Precisava ver com os próprios olhos que ela estava bem, como o Coronel Philips o garantiu dezenas de vezes.

— Howard! - a voz feminina chamou sua atenção, ele se virou em sua direção. - Até que enfim te encontrei. Saiu correndo, mal esperou a recepcionista terminar de falar.

— Peggy, eu não a encontro! - agarrou a mulher pelos ombros, em agonia - E se ela estiver...

— Ela não está, Howard. - interrompeu-o soltando-se de suas mãos vagarosamente - Ela não deu entrada como paciente, e sim como cirurgiã. Precisa se acalmar, a recepcionista disse que ela está no 201 como acompanhante.

— Tudo bem, - ele respirou fundo - vamos lá.

Os dois seguiram pelo corredor até o final, passando por diversos quartos com diversas pessoas em sofrimento e isso só deixou Howard ainda mais aflito.

Mas, assim que visualizou-a, ainda do lado de fora do quarto, sentada na poltrona de frente à um rapaz desconhecido, não pôde conter as lágrimas nos olhos.

— Harriet!

Ela se virou em sua direção imediatamente, intrigada por ouvir tal voz naquele lugar. Pensou estar ludibriada até que viu a imagem de seu irmão, em completo desespero vir em seu rumo.

Ela sequer teve tempo de se levantar da poltrona, ele se jogara em seus braços, chorando copiosamente.

— Howard! - ela suspirou - Tudo bem, tudo bem, eu estou aqui!

— Você... - soluçou - você...

— Sim, estou bem! - interrompeu-o penosamente - Eu estou viva!

Era lastimável vê-lo em tamanha vulnerabilidade. Um homem que aos olhos do mundo é completamente frio e arrogante, até egocêntrico, se acabando em lágrimas daquela maneira.

— Está tudo bem, - garantiu engasgada - eu estou bem!

Ela sentiu a respiração do irmão se normalizando aos poucos. Os soluços se cessaram, mas eles permaneceram abraçados. Ele de joelhos ao chão e ela sentada na poltrona.

Peggy entrou no quarto vagarosamente.

— Vamos dar licença a eles, rapazes - a agente solicitou aos dois seguranças que estavam ao canto do quarto de prontidão.

Contudo, antes que pudessem se retirar, Harriet ergueu a mão:

— Não é necessário, rapazes. Obrigada.

Howard enxugou as lágrimas nas vestes da irmã e se afastou aos poucos, para mirá-la nos olhos, agora sério. Harriet pôde notar as bolsas roxeadas debaixo de seus olhos, o cabelo em completa desordem e as vestes sujas.

— Você quase me mata de susto! - grunhiu ele entre dentes.

— Eu sei, Howee. Eu sinto muito...

— Sente? - interrompeu-a exasperado, levantando-se. - Você é completamente irresponsável, Harriet!

— Howee...

— Eu não quero saber das suas razões, - vociferou - Você poderia estar morta neste exato momento!

— Eu sei...

— Eu poderia ter te perdido para sempre! - sua voz falhou assim que seus olhos marejaram.

A mulher se calou.

— Tão inconsequente... - ele murmurou - se jogou de cabeça nos braços do inimigo sem nem ao menos perceber.

— Como? - ela indagou, sem entender.

— Howard! - Peggy interviu, em tom de repreensão.

— Era uma armadilha. - ele revelou, ignorando a agente - Aqueles nazistas desgraçados sabiam que você estaria por aqui por conta do nióbio. O senhor Braun não existe!

— Por Deus! - soprou chocada, com a mão sob a boca. Repassou toda a chegada á universidade. Não se recordava do homenzinho ter dito seu nome á eles, realmente.

— Eles identificaram a mensagem que o coronel passou ao professor. - Peggy informou. - Nossa base de comunicação não podia prever, não podíamos imaginar...

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— Não tente justificar as nobres razões para terem feito o que fizeram, - Howard interrompeu-a, nervoso - vocês me traíram e por causa dessa atitude imprudente eu quase te perdi!

Harriet engoliu em seco e suspirou fundo.

— Mas não perdeu, - abraçou-o com força, enlaçando seus braços finos pela cintura do mais velho - Eu estou aqui, estou bem. Ele não conseguiu e... - sorriu, descontraída - Apesar de tudo, consegui o nióbio.

— Você acha que eu ligo para essa droga de nióbio? - tornou a vociferar, afastando-a para olhar em seus olhos - Você me desobedeceu, saiu de casa e pior, veio para cá bancar a heroína, negando-me a única coisa que te pedi. Tranquilidade.

— Eu sinto muito! - esbravejou de volta.

— Tudo bem, já chega vocês dois. - A agente ordenou. - Entendo que os nervos estão a flor da pele, contudo, todos estão bem e em segurança. Há guardas por todo o hospital, incluindo aqui, ninguém ousará encostar nela novamente, Howard.

O maxilar do mais velho se enrijeceu por um instante, para logo em seguida ele soltar o ar e fechar os olhos enquanto suspirava.

Peggy se aproximou e abraçou Harriet em um ato extremamente caloroso. A mais nova era como sua irmã caçula, afinal, conviviam juntas constantemente e ela aprendera a amá-la.

— Monstrinha, - a agente sussurrou no ouvido da outra - ainda bem que está a salvo.

Ao se afastarem, Howard tomou a frente novamente.

— Por favor, - solicitou com olhos suplicantes - nunca mais faça isso comigo.

— Prometo! - garantiu a jovem, voltando a abraçar o irmão, que depositou um beijo suave no topo na cabeça da mais nova antes de soltá-la.

— Gente. - a voz de Peggy chamou-os a atenção e indicou o rapaz deitado, agora acordado, olhando em sua direção.

— Bom dia. - Harriet disse, sorrindo para o sargento que retribuiu imediatamente. - James, estes são Howard, meu irmão, e a Peggy, uma das minhas melhores amigas.

— Eu bateria continência se meu braço esquerdo não estivesse detonado.

Howard riu antes de pronunciar:

— Não se preocupe rapaz, fique à vontade.

— Bom, - começou Harriet - Howee, Peggy. Este é o homem que literalmente salvou a minha vida. James Buchanan Barnes.

Howard observou o rapaz de cima a baixo e sorriu.

— Não posso expressar em palavras a minha gratidão, soldado.

— Sargento. - corrigiu Harriet.

— Claro, sargento. - Howard repetiu sorrindo - Terá sua recompensa por ter se arriscado para proteger a minha irmã. Foi uma atitude muito nobre.

— Com todo respeito, senhor - James se pronunciou - não é necessário quaisquer recompensa, só o fato dela estar em segurança já me deixa satisfeito.

Howard arqueou uma sobrancelha. Harriet mirou Peggy de canto de olho, que sorria contida.

— Insisto que, ao menos, o seu tratamento seja realizado sob cuidados dos melhores médicos da América. Sob total custeio dos Stark.

— Agradeço, senhor.

— Peggy, procure Jarvis e peça que cuide dos pertences do rapaz. - indagou Howard - ele volta conosco hoje.

—x-

Brooklyn , Nova York - EUA.

— Para cima. - solicitou a jovem e de imediato o rapaz obedeceu, erguendo o braço sem dificuldade alguma.

Ela passou a mão por toda a extensão do braço até chegar ao ombro nu, marcado pela cicatriz do incidente que acontecera há quase um mês. Apertou o local.

— Algum tipo de dor?

— Não, pela centésima vez. - respondeu ele sorrindo - Fez um ótimo trabalho, Harriet.

— Só estou checando. - deu de ombros.

— Acho que é só uma desculpa pra ficar passando a mão em mim, - ergueu a sobrancelha, charmoso, indicando o peito e abdômen descobertos - sei que você não resiste.

Harriet riu, recolhendo suas mãos de imediato.

— Ridículo. - girou em calcanhares no laboratório, na intenção de se afastar.

— Não, - impediu-a, puxando-a pela cintura e girando-a para que ficasse de frente com ele - Pode se aproveitar de mim o quanto quiser, eu não ligo.

— Fico feliz em saber, Sr. Barnes. - respondeu de forma sedutora, enlaçando o pescoço do rapaz com seus braços lentamente - Porque estava pensando em outra consulta particular hoje à noite lá em casa. O que acha?

— Só dizer a hora. - murmurou com os lábios roçando nos dela.

Os dois se beijaram calmamente, sentindo os toques de suas línguas macias e as carícias adicionais ocasionadas por duas mãos.

Só notaram que não estavam mais sozinhos quando o ruído leve de um coçar de garganta soou pelo ambiente. Imediatamente se separaram.

— Vão para um quarto - aconselhou um Richard risonho.

— Engraçadinho. - resmungou Harriet, ruborizada.

Barnes riu e prontamente vestiu a camisa branca, deixada em cima da bancada de metal para a "consulta".

— Eu sabia que isso ia acabar acontecendo. - comentou Richard.

— Amassos no laboratório? - indagou Harriet risonha - Previsível.

— Não, - o rapaz riu - vocês dois.

O casal se entreolhou com cenhos franzidos.

— Toda vez que estavam juntos havia um tipo de tensão sexual no ar - disse, logo desviando-se de uma caneta que voou na sua direção - É sério, - riu - Não é mesmo, Alex?

O rapaz, que acabara de entrar pelas portas do laboratório concordou imediatamente.

— Você deve essa pra gente, sempre deixávamos vocês sozinhos - o loiro indicou a Barnes - era completamente desconfortável ficar perto de vocês. Parecia que a qualquer momento iam começar a se atracar.

— Não que tenha mudado muito de lá pra cá. - Richard se manifestou.

Barnes gargalhou.

— Já chega, cupidos. - Harriet finalizou - Terminei por aqui. Erskine está me aguardando para conhecer o escolhido para o projeto, chequem o estoque de sangue e fluídos e logo estarão dispensados.

— É para já, chefe. – Soltaram simultaneamente procurando adiantar os afazeres solicitados.

Barnes puxou-a a um canto delicadamente para indagar: - Está pronta para voltar?

— Está tudo ótimo, - sorriu - além do mais meu irmão implantou uma guarda para a minha segurança agora, você sabe. Eu reclamaria se não estivesse me sentindo melhor com eles lá fora me protegendo. - Admitiu enquanto vestia o seu casaco de malha. - Te vejo mais tarde.

— Não que não seja encantadora a ideia de passar a noite inteira com você, - argumentou – mas estava pensando em te levar para um jantar antes, talvez. Em um restaurante chique. - Olhou-a com expectativa - Com a sua guarda te assegurando do lado de fora do restaurante, claro.

— Bobo. - Ela riu - Você disse que odiava esses lugares.

— É meu último final de semana em Nova York antes que eu retorne para a base, - molhou os lábios, desconfortável - queria fazer alguma coisa diferente.

— Não está planejando uma despedida, não é? – Seu coração descompassou.

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— Claro que não, Harriet. Não havíamos combinado de mandarmos cartas toda semana? - Indagou - A não ser que tenha desistido disso.

— Não, - riu anasalada - É só que parece...

— Nada vai acontecer. - Interrompeu-a. – Eu vou ficar bem. Você vai ficar bem. E quando tiver vencido essa guerra, voltarei para comemorarmos juntos. - Sorriu puxando-a para mais perto e a beijando rapidamente na bochecha. – Agora vamos, você já está atrasada e eu tenho que me encontrar com a Senhora Barnes. – Revirou os olhos, brincalhão.

— Ela só está preocupada com você. – Harriet sorriu meiga sendo arrastada pelo rapaz.

— Ah sim, me esqueci de que vocês falam a mesma língua. – zombou em falso tom sarcástico.

—x-

Base militar, Campo Lehigh; Wheaton, Nova Jersey – EUA.

— Não está realmente pensando em escolher o Rogers, está? – indagou o Coronel Philips, caminhando pelo campo de treinamento com o Doutor Erskine em seus calcanhares. Harriet se apressou para acompanha-los.

— É a escolha certa. – respondeu o Doutor – Senhorita Harriet, bom dia.

— Bom dia Doutor. Bom dia Coronel. – cumprimentou-os – Quero me desculpar pelo atraso, tive um imprevisto esta manhã...

— Sem problemas querida, - interrompeu-a Erskine – o importante é que está aqui.

Ele lhe passou uma prancheta com a ficha de um dos soldados e continuou andando, ela o acompanhou.

— Steve Rogers – A foto era a de um garoto louro e franzino, com um histórico impressionante de doenças congênitas.

— Quando trouxe um asmático de 40 quilos à minha base, não protestei. Achei que seria útil como cobaia. Não pensei que o escolheria. – confessou o coronel.

— Se fosse apenas a Asma, - comentou Harriet – Ele tem escarlatina, febre reumática, sinusite, pressão alta, problemas no coração, diabetes... – se interrompeu, encarando Erskine duvidosa – Doutor, não tenho certeza se ele aguentaria a potencia do soro.

Eles pararam em frente à um grupo dos diversos grupos naquele campo que estavam treinando. Peggy os comandava.

Harriet de imediato reconheceu o garoto da foto, este mal se aguentava em pé pelo esforço que fazia. Duas flexões a mais e ele desmaiaria.

— Uma agulha é capaz de atravessar o braço dele. – lamentou o coronel – Olha isso. Ele me faz chorar.

Ela sentiu compaixão pelo garoto. Apesar de todas os indicadores estarem contra ele, este se esforçava para manter-se na linha tênue do seu limite. Como se sua força vinha do desafio de provar que poderia ser tão quanto os outros.

— Procuro qualidades além do físico. – esclareceu Erskine.

— Sabe quanto tempo demorou para preparar este projeto? – indagou o Coronel. – Como implorei ao senador sei-lá-o-nome...

— Brandt – disse Harriet.

— Isso mesmo.

— Eu sei do seu empenho – Erskine ressaltou.

— Então me recompense. – pediu o Coronel – O Hodge passou em todos os testes. É bom e rápido. É um soldado. – indicou um rapaz louro e musculoso logo a frente de expressão arrogante, que realizava as flexões com perfeição.

— Ele é um valentão. – corrigiu Erskine.

— Não se vence guerras com bondade, doutor. – pronunciou se dirigindo a um caminhão de carga que estava próximo à eles e retirando de uma das caixas uma granada – Mas com valentia. – destravou projétil e jogou-o no meio dos soldados, gritando: - Granada!

Harriet sentiu seu coração palpitar de forma anormal. Suas pernas fraquejaram e as mãos estavam trêmulas. Sua visão se destoou, tornou-se um borrão. No horizonte, ela pensou ter visto aquela figura irracional com vestes pretas e com a máscara em forma de cilindro.

Olhou para o lado e o sangue tomou conta de sua visão, além de corpos caídos e mutilados arrastando-se em sua direção.

— Senhorita Stark? – a voz do doutor trouxe-a de volta à sensatez. – Está tudo bem?

Ela controlou sua respiração e logo que sua visão voltara ao normal acenou com a cabeça, em forma positiva.

A verdade era que, mesmo que Barnes estivesse com ela todo esse tempo, dormindo ao seu lado e seguranças altamente treinados mantendo a sua proteção, os pesadelos continuavam.

Cada vez mais reais.

E ela já não tinha uma boa noite de sono há mais de mês.

Este seu afastamento do cargo só dificultou ainda mais, não tinha nada mais com o que se distrair do que Barnes. E pensar nele desta forma a fazia se sentir culpada, como se só estivesse o usando.

— Tem certeza? – reforçou o doutor.

— Sim, - respondeu com a voz rouca – acredito que tenha sido apenas um susto.

Assim voltaram sua atenção para a situação à sua frente, onde todos os soldados haviam fugido exceto o frágil e magrelo garoto loiro, que surpreendentemente havia se jogado em cima da bomba, formando uma espécie de barreira com o próprio corpo.

— Saia! – ele gritou para Peggy, que ameaçou se aproximar. – Afaste-se!

Harriet estava esperando que aquele corpo magrelo fosse despedaçado e arremessado aos ares, mas logo percebera que a granada demorara muito para explodir. Era falsa.

Suspirou aliviada.

— Granada falsa. – alguém anunciou. – Liberado.

Erskine sorriu para o Coronel.

— Isso é um teste? – indagou Rogers, se levantando.

— Continua sendo magrela. – resmungou o Coronel, saindo de perto deles.

Erskine sorriu para Harriet, que retribuiu.

— Tenho que admitir, doutor. É uma jogada arriscada.

— Fico feliz em saber que terei seu apoio nesta decisão.

— Vou fazer alguns exames, os básicos. – informou a garota – Caso os resultados sejam ruins, estudarei uma forma de melhorá-los, senhor. Este – apontou o garoto loiro – é o cara de quem precisamos.

Erskine sorriu novamente.