Oh meus deuses!

02. Os instintos maternos de Astrid Haddock?


"02. Os instintos maternos de Astrid Haddock? "

—Talvez não seja tão ruim assim. - Valka disse colocando um prato com frutas picadas à frente dela. Astrid se sentia como uma criança sendo forçada a se alimentar. - Talvez ele não se lembre.

—Pelo sim, pelo não. Pedi que Cabeçadura levasse Melequento para o outro lado da ilha em uma busca por ovelhas perdidas. - ela falou cutucando os pedaços a fim de saber que fruta era aquela.

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—Mas você não me explicou o porquê de Melequento ter atacado-o.

Astrid olhou para sua sogra que agora estava sentada à sua frente. Aquela era uma história engraçada, uma das suas favoritas porque mostrava o quanto eles haviam evoluído como amigos.

—Havia sido um ano depois da morte vermelha, Stoico estava recebendo esse líder de uma ilha distante e pediu para escondermos os dragões, porque os dragões ainda eram visto como maus para muitos vikings. Então passamos o dia com os filhos do chefe e os levamos para conhecer Berk, pelo menos eu e Soluço. - ela murmurou a última frase. - Mas então fomos almoçar e como de costume nós sentamos perto da mesa do chefe, os gêmeos e Melequento começaram a fazer piadas com Soluço e como sempre ele os ignorou. Mas então Thanori fez um comentário maldoso sobre a perna de Soluço ou talvez sobre sua altura ou seu seu jeito desengonçado ou sobre algo referente a ele, não lembro muito bem, mas sei que isso foi o suficiente para estragar o clima. Soluço ficou vermelho de vergonha e eu de raiva, estava preste a gritar com ele quando Melequento pulou em cima dele junto com os gêmeos e os três começaram a batê-lo.

—Oh deuses. - Valka sussurrou com os olhos arregalados.

Astrid se lembrava de tentar impedir que a agressão continuasse, mas Perna-de-peixe a impediu, se colocando à sua frente. Apenas Stoico havia sido capaz de acabar com a barbárie, e quando questionados sobre o motivo da briga os gritos foram desde “Ele não pode fazer piadas sobre Soluço ser perneta. Só a gente pode fazer isso. Porque o perneta é o nosso perneta!” até “Ele é meu primo e só eu posso irritá-lo!”. Mas todos tinham apenas uma intenção. Defender a honra de Soluço.

Stoico havia encarado todos eles com aquele olhar de reprovação antes de se virar para o chefe da outra tribo e dizer com um sorriso forçado. “Crianças sendo crianças, não é.”. E assim ele empurrou o chefe de volta para a mesa, porém antes deles irem, Astrid pode ouvir Bocão sussurrar “Ele teve sorte com os amigos.”

Ela nunca tinha esquecido dessa memória, porque havia sido a primeira vez que Astrid pode ver que aquele laço entre eles era forte.

—Depois Stoico apartou a briga e cada um foi para um lado. Mas obviamente isso afetou a aliança que estavam tentando estabelecer.

—Ele deve ter ficado muito irritado.

—Não muito. Acho que ele ficou mais orgulhoso do que irritado. Foi bom ver que Soluço tinha amigos dispostos a ajudá-lo nos piores momentos. - Astrid disse terminando de colocar os últimos pedaços na boca e empurrando a tigela para longe.

—Está enjoada, querida?

—Um pouco.

—E é por isso que você tem que se alimentar regularmente. - Valka disse se levantando de sua cadeira e ajudando-a se levantar. - Vá para o quarto descansar.

—Não. Eu tenho que voltar a aldeia.

—Tenho certeza que Berk poderá sobreviver algumas horas sem sua Chefe. - a velha mulher disse guiado a nora para o andar de cima da casa. - Soluço pediu que você tomasse conta da aldeia e me pediu que tomasse conta de você. E é o que eu estou fazendo. Agora você vai descansar e daqui a pouco eu te acordo.

—Valka. - Astrid protestou, porém sabia que seria em vão. Ela deixou que Valka a levasse até o quarto que Astrid dividia com Soluço.

—Deite-se querida, te chamarei logo.

Astrid se deixou em sua cama no meio das peles quentes. Ela fechou os olhos deixando seu corpo relaxar, porém sua mente ainda registrava todos os barulhos ao seu redor. Astrid podia ouvir claramente as galinhas cacarejando, os aldeões gritando entre si, cada um cuidando de suas próprias vidas. E mesmo com os sons costumeiros que, na maior parte do tempo, lhe traziam paz, Astrid não conseguiu dormir. Ela então se sentou na cama e olhou ao redor, observou cada canto de seu quarto, ela havia memorizado cada detalhe, desde as peles jogadas na poltrona até as próteses de Soluço soltas pelo chão. Tudo estava em seu exato local, menos a sacola pendurada em uma das cadeira.

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Astrid se levantou seguindo até a cadeira, então pegou a sacola e a abriu, dentro havia dois lindos bonecos feitos por Perna-de-peixe, ela sabia disso porque ele era o único com conhecimento e habilidade o suficiente para fazer pequenas réplicas dos dragões. Astrid segurou o pequeno Fúria da noite em sua mão observando os detalhes delicados da costura, um sorriso tomou conta do seu rosto quando ela notou a calda dele.

—Banguela. - ela sussurrou sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos, Valka havia lhe alertado que a gravidez poderia deixá-la sensível, mas ela não sabia que isso aconteceria tão rápido. Astrid secou as lágrimas que caíram e pegou o outro dragão, desta vez não haveria como evitar. - Minha menina.

Astrid apertou o pequeno Nadder mortal contra seu corpo. Havia dias em que a falta de Tempestade doía mais do que qualquer coisa, se fechasse os olhos ainda podia ouvir o vento sobre as asas dela. Soltando um suspiro intesterecido Astrid secou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Não era hora de se deixar levar, ela tinha uma aldeia para liderar e hóspedes que precisam de um lugar para ficar.

Tempestade sempre estaria em seu coração e por muito tempo esteve em seu mente, mas agora não era o momento para isso. Por Freya, ela não poderia começar a chorar. Não quando tinha uma aldeia para comandar.

Astrid respirou fundo e saiu do quarto. Ela podia ouvir Valka cantarolando na cozinha enquanto lavava os pratos, tomando cuidado para não fazer barulho, ela desceu as escadas e saiu pela porta da frente. Astrid sabia que Valka muito provavelmente se irritaria quando soubesse que ela saiu, porém ela não conseguia simplesmente ficar parada enquanto uma possível tempestade se aproximava.

♢♢♢♢

—Vamos levar todos para o grande salão, iremos fazer sopa para esquentar e manteremos o fogo acesso, se a tempestade for muito forte pelo menos estaremos em segurança. - Astrid disse olhando para alguns dos aldeões que haviam ido até ela com medo da tempestade que se aproximava. O céu lentamente se tornava mais escuro enquanto as nuvens se aproximavam da ilha.

—E os visitantes? - Cabeçaquente indagou mexendo as pontas de suas tranças em um total desinteresse.

—Ficarão no salão com a gente.

—Mesmo o idiota? Ele não pode ficar lá fora e talvez, apenas por acaso, levar um porrete na cara?

Astrid ignorou sua amiga e se voltou para Perna-de-peixe.

—Os animais já estão no celeiro?

—Todos. Os aldeões já estão indo para o grande salão com peles e cobertores. - ele disse e ela assentiu. Seu olhar então voltou para o mar onde algumas horas antes Soluço havia embarcado em direção ao norte, em direção à tempestade. - Não se preocupe, Soluço é bom navegador e Eret está com ele. Eles vão chegar em segurança.

Astrid sorriu para o amigo. Algumas vezes se esquecia que ela não era à única a se preocupar com Soluço, ele tinha amigos que também ficavam constantemente preocupados com suas viagens.

—Vamos. Ainda temos muito trabalho a fazer antes que a tempestade comece. - ela falou fazendo todos circularem. Astrid deu um passo à frente, mas subitamente parou quando sentiu o estômago se agitar.

—Astrid, você está bem? - Perna-de-peixe indagou com um olhar preocupado.

—Estou. - ela afirmou. - Peça para Melequento pegar alguns ajudantes e ir até a floresta recolher madeira seca, deveremos ter o suficiente para durar a noite inteira.

Perna-de-peixe assentiu sem acreditar a primeira afirmação dela.

—Ok. Também vou pedir que Cabeçaquente peça ao aldeões para levar mais peles para o salão e que Cabeçadura feche os portões de tempestade.

—Obrigada, Perna-de-peixe. Está tudo um caos sem Soluço aqui.

—Não está, Astrid. Você é uma boa chefe, só está um pouco atrapalhada hoje porque tudo está muito complicado. Apenas tente se manter calma.

—Acredite, não está sendo tão fácil se manter calma com Valka ou minha mãe me seguindo o tempo todo para se assegurar se eu estou comendo ou não. - ela resmungou cruzando os braços. - E eu nem estou com fome! Soluço deveria ter ficado de boca calada sobre o que Gothi disse a respeito da gravidez. - Astrid bufou, Perna-de-peixe arfou de surpresa. Ela arregalou os olhos ao notar o que havia dito.

—Aí meu…!

Astrid colocou a mão sobre a boca dele impedindo que ele grita-se histericamente.

—Shiii! Ninguém pode saber. Ainda é muito recente. - ela sussurrou olhando ao redor, sorriu para algumas pessoas que passavam e então tirou a mão da boca de seu amigo. - Então é melhor você ficar de boca fechada ou…

—Estou com medo desse “ou”. - Perna-de-peixe afirmou com um riso nervoso. - Minha boca é um túmulo, Astrid. Meus parabéns. Estou muito feliz por você e Soluço, vocês serão ótimos pais.

Astrid deu um mínimo sorriso e abaixou os olhos colocando uma das mãos sobre a barriga.

Era óbvio que Soluço seria um ótimo pai, embora não fosse aparente, Stoico havia sido um bom exemplo e também havia Bocão, os dois tinham feito um bom trabalho com Soluço. Astrid sentia que Soluço iria ser o melhor pai do mundo, mas apenas não sabia se ela conseguiria ser uma boa mãe. É claro que ela ama o bebê em sua barriga e iria protegê-lo a qualquer custo, mas não podia deixar de se sentir insegura com a maternidade. Seus “instintos maternos” ainda não haviam se mostrado de verdade, e ela tinha medo de que isso nunca acontecesse.

—Vou checar como anda a cozinha. Te vejo no jantar. - ela disse antes de se afastar. Perna-de-peixe acenou com a cabeça e a deixou ir.

Astrid tirou a mão da barriga antes de se virar em direção ao grande salão. Ela sentia que quando as pessoas soubessem que ela estava à espera de um herdeiro, passariam a tratá-la como uma enferma e Astrid não estava pronta para usar seu novo machado em alguém, Soluço havia acabado de lhe dá-lo como presente de aniversário.