Ebriedade sóbria, abismo e fragmentos

Caos #1 e IDEAL MASSIFICADOR ESTATAL-BURGUÊS-MERCANTIL-MITOLÓGICO


CAOS #1

Sei que a força minha nada és

Meu coração está disperso

Como não andasse com os próprios pés

Somos apenas vultos na corrente multidão

Eu e você somos. Não somos. Pouco importa

É solidão quem me bate agora

Esse sentimento de vazão

Essa desimportância de tudo

Tudo... Pairando na frivolidade absurda

De ideias sem fundação

Esse Caos...

Esse mal...

Engano, mal não há

Nego também a benevolência; todo esse binômio aqui acabará



E a pena consente

Com meu encéfalo que sente:

Enquanto de sentido carece a vida

Amiga bela ela se revela.

IDEAL MASSIFICADOR ESTATAL-BURGUÊS-MERCANTIL-MITOLÓGICO

Somos matéria sem alma

Unhas, dentes

CARNE

Fibras, vísceras, encéfalo, carne

Gado



Somos gado

— já, desde, cedo marcados a ferro e fogo.

Fogo forja ferro forja força forja ferro forja fogo* forja-me a labuta

Forja-me a desmaterializada utopia

Forja que não morro

Forja-me o vivente sentido

Forja o padrão comestível, consumível,

Beleza, mão-de-obra, caduco ensino, protocolo,

Matrícula, inscrição, conduta, medo, ódio

Me forja o sorriso de missa, novela e gibi

Cinema sem graça porco desgraça

Cachaça em meu torpor sentado em sofá

Esperando a morte chegar

Me come, me consome

Que morro logo

Logo depressa e nem percebe

Pois é o nascimento já um funeral.