Vila Baunilha

Drama e superstição


Cabelos bem tratados, brilhantes, ótimo perfume e uma presilha azul nova. Esse era o look da garota mais popular do sexto ano da escola municipal de Vila Baunilha, também conhecida como filha do prefeito e também conhecida como...Samanta Ferraz.

—Amiga. Você tá linda hoje! - disse Cíntia, sua melhor minion, quer dizer, melhor amiga.

—Eu sei - respondeu Samanta - Reparou no que tem de diferente em mim?

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—Essa presilha azul - falou Cíntia sorrindo - Combinou muito bem!

—Foi caríssima - disse Samanta - Possui um design todo especial pensado pelos maiores especialistas em moda do mundo.

—Ficou um arraso, amiga - Cíntia continuou elogiando - Todo mundo vai ficar de boca aberta!

—Eu sei! Mal posso esperar! - disse Samanta - Vamos testar isso agora! Lá vem a bobona da Briana!

Samanta disse isso ao ver a sempre meiga Briana chegando contente na direção da sala.

—O que você tá pensando em fazer, miga? - perguntou Cíntia.

—Um novo look exige uma exibição para a garota nova - disse Samanta - Não seria uma garota malvada se não fizesse isso.

—Ah, é. Faz sentido - disse Cíntia, depois de refletir por alguns milésimos de segundo.

—Briana! - chamou Samanta cantarolando.

Briana olhou para o lado e foi sorridente até a filha do prefeito.

—Samanta! Cíntia! - disse Briana - Bom dia! Como estão?

—Muito bem. Não poderia estar melhor - disse Samanta, jogando o cabelo para o lado e quase apontando para a presilha no seu cabelo.

—Que bom! Fico feliz! - falou Briana, sem tirar seu sorriso do rosto - Bom, acho bom a gente entrar, né? O sinal já vai tocar.

E foi o que ela fez.

—Cíntia, o que aconteceu? - perguntou Samanta, agora em tom sério.

—Nada, amiga - disse Cíntia.

—Exatamente - falou Samanta, se virando rapidamente para Cíntia com um olhar de indignação - Nada aconteceu! Não era pra ser assim!

—Não? - perguntou Cíntia.

—Não! Era para a Briana se sentir humilhada e inferiorizada diante da minha presilha de design arrojado.

—Vai ver ela acho que só era uma presilha comum - falou Cíntia.

—Como? Esse povo não conhece o mínimo de moda?

—Para ser sincera, amiga...eu também não sabia que tinha algo de especial na presilha. Só vi que era nova mesmo - falou Cíntia.

—Que infortúnio! - exclamou Samanta em tom de lamentação - Do que adianta investir pesado em um look se ninguém liga para moda?

—Mas você já é muito bonita, amiga - disse Cíntia.

—A beleza de ontem não é a mesma de hoje, minha cara amiga desprovida de raciocínio rápido.

—Puxa, obrigada pelo elogio - disse Cíntia, após refletir por algumas frações de segundo.

—O que eu quero dizer é que as pessoas se cansam de como você era ontem e precisam sempre ver algo novo - falou Samanta - Não posso manter a mesma beleza sempre. Preciso atualizar.

—Sério?

—É o peso de viver em uma sociedade líquida em que os afetos e preferências se modificam com uma velocidade absurda - pronunciou Samanta - Não acha isso triste?

—Desculpa, amiga. Depois de sociedade líquida não entendi mais nada - falou Cíntia.

—Ai, Cíntia! Assim não dá pra conversar! - esbravejou Samanta - Só mostra um pouco de empatia pelo meu drama, vai!

—Ah, claro - falou Cíntia, abraçando a amiga - Vai passar, miga. Vai passar. Tá melhor, agora?

—Agora tô! - falou Samanta, mudando quase que imediatamente de dramática para alegre - Tá legal. Vamos para a aula!

E, assim que Samanta deu o primeiro passo, acabou escorregando no chão molhado da faxineira e acabou caindo com a cara dentro do balde com esfregão e tudo.

—Meu Pai amado! - exclamou a faxineira - Você tá bem, menina?

—Ai, ai - disse Samanta - Estou...eu acho…

—Acha? Machucou alguma coisa? - perguntou a faxineira

—Pior que isso - falou Samanta - O meu...o meu cabelo estragou!

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—Ah, isso? Não tem problema - disse a faxineira - O importante é estar bem!

—A senhora não entende - disse Samanta chorando - Não entende!

—Calma, amiga. Eu tô aqui com você - falou Cíntia, consolando a pobre garota rica e vaidosa.

—Tomem cuidado. O chão está molhado, é fácil escorregar - disse a faxineira.

—O que eu vou fazer agora? - disse Samanta - Como vou enfrentar um dia inteiro na escola com o cabelo cheirando a água sanitária e alvejante? Preciso pelo menos de uma toalha para secar!

—Tipo...essa aqui? - falou Cíntia, mostrando uma toalha que trouxe na bolsa.

—Você tem uma toalha? Maravilha! - disse Samanta, tomando a toalha da garota na mesma hora.

—Sim, eu te empresto, amiga - disse Cíntia, feliz por ajudar Samanta de alguma maneira - Sempre trago uma dessas comigo.

—Por quê? - perguntou Samanta, enquanto tentava secar seu cabelo com todo o esforço.

—Uma vez li em um livro que você sempre deve levar uma toalha com você - disse Cíntia, sorridente.

Seja como for, serviu para enganar.

—É, não é o melhor, mas dá pro gasto - falou Samanta, entregando a toalha para Cíntia e pegando uma escova que carregava em sua bolsa - Ainda assim, meu cabelo está horrível. Vai ser um duro dia de aula.

—Eu te dou cobertura - falou Cíntia - Ninguém vai ficar reparando no seu cabelo.

—Espero que não. Deu muito trabalho me arrumar e…

Samanta falava isso assim que entrava na sala. E um dos alunos estava limpando os apagadores, resultando em uma quantidade considerável de pó de giz bem na cara da garota.

—Ops. Foi mal - disse o garoto.

—É, amiga. Agora acho que não vou conseguir ajudar - falou Cíntia.

Samanta pegou seu espelho e olhou o que aconteceu. A garota deu um grito de horror na mesma hora.

—Eu tô parecendo um fantasma! - disse ela. Bem nessa hora, Beni, o garoto com uma imaginação acima da média, chegou na sala. Ao ver a cara branca de Samanta, o menino quase caiu para trás.

—Eu sabia! Eu sabia! - disse ele - Hoje é o dia em que nosso mundo vai ser atacado pelas forças do mal. Os monstros já estão chegando!

—Quem você tá chamando de monstro?! - falou Samanta, irritada.

Nisso, a professora chegou e, diante daquela situação, recomendou que Samanta fosse lavar o rosto no banheiro. Cíntia se ofereceu para acompanhá-la, pois sua amiga estava psicologicamente abalada.

—Primeiro, cabelo molhado. Depois, um monte de pó de giz na cara - Samanta se lamentava - O que está acontecendo?

—Amiga, será que aconteceu algo de diferente?

—Não sei, Cíntia. A única coisa nova que tenho é...essa presilha - Samanta falou isso, olhando no espelho - Será que...essa presilha dá azar?

Será? Bem, o dia de Samanta estava só começando...