Vila Baunilha

Prefeito e Primeira Dama


—Vamos logo, Briana - disse Anne, naquela noite em que as duas irmãs Montecarlo teriam um jantar na casa do prefeito da cidade.

—Calma - disse Briana, ainda colocando seus brincos - Já estou acabando de me arrumar.

—Anne, deixa de apressar sua irmã - reclamou Carla, a mãe claramente seletiva - Não é todo dia que vocês são chamadas para jantar na casa do prefeito da cidade. Precisam estar bem arrumadas.

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—É só um jantar. Não precisa de tudo isso - falou Anne, olhando para o desperdício de usar um de seus melhores vestidos pretos em uma ocasião em que ela não estava com a menor vontade de ir.

—Mas, filha. É o prefeito da cidade! Não estamos aqui nem uma semana e já ganhamos a simpatia dos filhos dele. Isso é incrível! Você precisa passar uma boa primeira impressão! - disse Antenor, o orgulhoso pai, concordando com a mãe na honra do jantar.

—Na verdade, só o filho dele me chamou para jantar. Achei que, como pais preocupados, vocês me dariam conselhos sobre minhas companhias masculinas - lembrou Anne.

—Se é o filho do prefeito e ainda te chamou para um jantar com a família é bom partido. Não tem com o que se preocupar - disse a mãe, sem o menor sinal de preocupação - Além disso, ele deixou a Briana ir com você. Sinal de que não tem segundas intenções.

—Seja como for, só aceitei esse convite para ele não me encher mais. Depois da sobremesa já vamos embora - explicou Anne.

—Ah, mas pode ser que esteja divertido - falou Briana, inocentemente.

—Não cria muita esperança, não, Briana. Lição para a vida - disse Anne - E então? Já colocou o brinco? Vambora.

—Agora sim. Estou pronta - disse Briana.

—Vamos lá, meninas - disse Antenor - Eu deixo vocês lá.

Antenor levou as garotas e não demorou muito para elas chegarem à casa do prefeito. Era uma casa bem grande, um pouco afastada do centro. Até mesmo Anne, que não estava lá com muita boa vontade, ficou impressionada.

—Que grande, né? - comentou Briana.

—Já esperava - disse Antenor - O prefeito é um dos maiores produtores de morango do país.

—Morango! - repetiu Briana - Amo morango!

—Produtor? Mas ele é político ou empresário? - estranhou Anne.

—Eu dei uma pesquisada - falou o pai - Ele deixa a administração da produção com os empregados e se dedica à cidade. Ele já é prefeito há mais de vinte anos.

—Vinte? Isso não é muito tempo no poder, não? - replicou Anne.

—Pode ser. Mas como ele é sempre o único candidato da cidade, não tem muito o que fazer - respondeu Antenor.

—Ninguém mais se interessa em ser prefeito? - perguntou a filha.

—Parece que não. Mas todo mundo concorda que ele tem feito um bom trabalho.

Anne até que achou aquilo interessante, mas sua intuição dizia que, considerando os filhos, o prefeito não deveria ser uma pessoa muito comum. Ao descerem do carro, Antenor toca o interfone e é atendido por um dos empregados da casa. Ele disse que a família dos prefeito já os aguardava e abre o portão. Após alguns passos de caminhada pelo jardim, eles finalmente chegam à porta da casa. Antenor toca a campainha. O mordomo abre a porta.

—Boa noite, senhor - disse um velhinho com uma expressão séria.

—Nossa! O prefeito é bem mais velho do que eu pensava! - exclamou Briana.

—Perdão, minha jovem. Sou apenas um criado da casa - respondeu o homem - Por favor, entrem. O prefeito os aguarda.

—Nossa, eles tem um empregado só para atender a porta? Que demais! - disse Briana, impressionada.

—Não é o único trabalho dele, Briana - explicou Anne - Desculpe a minha irmã. Ela ainda tem muita coisa para aprender sobre o mundo.

—Entendo perfeitamente - disse o mordomo - Por favor, sintam-se em sua própria casa.

—Mas estamos arrumadas demais para ficar como estamos em casa - estranhou Briana.

—É só jeito de falar, Briana - corrigiu Anne.

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Nisso, o próprio prefeito e sua esposa finalmente apareceram. O prefeito era um homem um pouco mais jovem que o mordomo, mas já tinha uma certa idade e um volumoso bigode branco. A esposa era bem mais jovem que o marido. Tinha cabelos ruivos (melhor dizendo, pintado de ruivo), um enorme colar no pescoço, jóias nas mãos e punhos, além de segurar um cachorro poodle nos braços.

—Boa noite. Vocês devem ser as jovens senhoritas Montecarlo - disse o prefeito - Muito prazer. Sou seu anfitrião Venâncio e essa é minha esposa Vera. Vejo que já conheceram nosso mordomo Leopoldo.

Leopoldo apenas acena com a cabeça após ser apresentado.

“Leopoldo...é bem nome de mordomo mesmo”, pensou Anne.

—O Ian não estava mentindo, querido. São mesmo jovens adoráveis - disse Vera, com um sorriso simpático.

“Acho que entramos em um portal direto para o século passado”, pensou Anne.

—Muito boa noite - disse Antenor - Sou Antenor, o pai das meninas. Acabamos de nos mudar para a cidade. Abrimos um restaurante no centro.

—Oh, sim. É verdade. Ouvi falar muito bem de seu restaurante - disse o prefeito - Espero visitá-lo em breve. Certamente seu estabelecimento é uma grande contribuição para a cidade.

—Eu que agradeço pela permissão dada para trabalhar nessa cidade tão acolhedora - agradeceu Antenor.

—Gostaria de jantar conosco? - perguntou o prefeito.

—Infelizmente tenho alguns compromissos. Vim apenas trazer minhas filhas - disse Antenor - Queria agradecer o convite desde já.

—Oh, nós que agradecemos por terem atendido tão prontamente o convite do meu filho. Espero que nossas famílias possam jantar todas juntas em outra oportunidade - disse o prefeito Venâncio.

—Claro. Eu mesmo posso fazer o jantar, aliás - disse Antenor.

Todos trocavam sorrisos.

“Parece que já somos amigos da família”, pensou Anne.

—Oh! Vocês finalmente chegaram! - disse Ian, aproximando-se das garotas extremamente bem vestido com terno e gravata borboleta.

“Gravata borboleta…”, pensou Anne. “Minhas definições de almofadinha foram atualizadas”.

—Esse é nosso filho, Ian - disse Vera - Por favor, Ian. Cumprimente o senhor Antenor, pai de suas amigas.

—Senhor Antenor. Prometo cuidar de suas preciosas jóias como se minha vida dependesse disso - disse Ian, sem cerimônia alguma - Elas não poderiam estar em melhores mãos.

—Jóias? Nem sabia que o papai tinha jóias - falou Briana.

—Ele tá falando da gente, Briana. É uma metáfora - disse Anne.

—Ah, tá. Entendi - disse a irmã mais nova - Ele é engraçado.

—Bom, então deixarei as meninas em suas mãos - disse Antenor - Meninas. Comportem-se, viu?

—Relaxa, pai - disse Anne - Deixa comigo.

—Então...tenham todos uma boa noite - disse Antenor, já se retirando.

“Com a Briana aqui, o Ian não vai me encher tanto. Para todos os efeitos, isso é só um jantar familiar sem nada de romantismo”, pensou Anne, colocando na irmã sua chance de escapar de um pretendente nada conveniente.

"Tudo bem. Só preciso distrair a irmã dela para conseguir ficar sozinho com a Anne em algum momento. Será o jantar perfeito", pensava Ian.

Enquanto isso, uma garota na mesma casa ouvia a conversa à distância e escondida. Era a outra filha do prefeito, Samanta, e colega de sala de Briana.

“A Briana veio mesmo”, pensou Samanta. “E agora? O que eu faço? Preciso ser malvada com ela, mas não tive tempo de ensaiar nada...droga”

Só que Samanta não era a única com preocupações. Perto do portão da casa do prefeito, uma figura estranha com roupas militares de camuflagem se aproximava. Tá bom, não tão estranha assim. Era Luís, o colega de sala de Anne e Ian.

—Estou aqui - disse Luís - Ian, você não vai passar na minha frente! Seu jantar será um fracasso!

O que será que ele está tramando?