Baby Cullen

Capítulo 10


Aquela quarta-feira amanheceu especialmente quente, acordei mais cedo do que de costume- tal como havia sido combinado antes- e desci as escadas após sair do quarto pé ante pé, com medo de despertar Edward de seu sono extremamente leve.

Esme, Emmett e Rosalie já estavam à postos na cozinha, havia corantes de todas as cores imagináveis em cima do balcão, formas de assar e apetrechos extras, como bicos e sacos de confeiteiro. Amarrei os cabelos e em menos de dois minutos as três batedeiras que havia na casa já estavam batendo- não me pergunte o porquê do exagero, pois não saberei, embora ele realmente não me surpreenda.

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Eu fiquei responsável pela massa de chocolate, Rose pela de baunilha e Emmett pelo recheio e cobertura desse nosso bolo completamente doido. Esme era a mais adiantada de todos nós, vejo de canto de olho ela tirando do forno uma bandeja inteira de cupcakes.

Havíamos decidido tudo aquilo de última hora, foi ideia de Alice, óbvio, mas todo mundo adorou a proposta e estavam todos dispostos a ajudar. Fazer uma festa de aniversário para Edward me empolgou muito além da conta, não só porque eu não era a bola da vez, mas também porque seria uma lembrança muito especial para ter junto a ele quando tudo aquilo acabasse e o ruivo voltasse ao seu antigo eu.

Carlisle e Jasper foram providenciar algumas coisinhas a mais para a comemoração, mas não faço ideia do que seja, Alice foi linda e saltitante comprar presentes e mais presentes que ele nem sequer terá tempo para usar.

Depois de fechar o forno com as duas massas lá dentro, observo encantada o jeito delicado e perfeito com que Esme recheia e depois decora os bolinhos, experimento uma colherada da ganache de chocolate que ela está usando e está simplesmente deliciosa. Ao final, ela salpica confetes coloridos e põe uma cereja por cima, estou praticamente babando sobre a bancada.

Oriento Emmett quanto a quantidade de morangos picados que ele colocou no triturador para misturar com o que há na sua batedeira. Não que a minha opinião fosse de toda essa importância, mas já que seria eu a única a comer aquelas coisas...

Quando já está quase na hora do almoço, os bolos já foram para a geladeira descansar e absorver o sumo de laranja que eu usei para molhar as massas, volto até o quarto com um pequeno prato em mãos. Edward está deitado e observa calado o teto completamente liso, de maneira contemplativa, quando sento na cama com a comida ele sorri, mas não diz nada, vem engatinhando até mim e senta por conta própria, com as costas muito bem apoiadas nos travesseiros.

Ele come sem muito alarde e sem quase nenhuma vontade também, checo a sua temperatura e está normal- ao menos para ele. Tento levantar, mas logo me vejo presa por seus bracinhos gorduchos, que envolvem o meu pescoço, o levo para o andar de baixo ainda de pijama e com os cabelos espetados para todos os lados.

Esme apoia o bebê em um só braço enquanto me ajuda a cobrir o bolo previamente recheado por Emmett, agora ele e Rose foram até o lado de fora para começar a arrumar tudo.

— Olha só, agora você pega a colher e espalha assim.- o mini-Cullen nem pisca ao observar a mãe manusear o creme de morango. Eu me concentro nos lados, com as duas camadas de diferentes sabores o bolo acabou ficando muito alto.

Edward praticamente arrebata a espátula da mão dela e começa e dar batidinhas desajeitadas no topo, levando a cobertura para o lado completamente contrário ao que nós duas estávamos decorando. Eventualmente, sujaria os dedos com o doce e logo em seguida tentaria dar uma dedada na parte já coberta por mim, retiro a sua mão dali e deixo claro que não pode.

— Não, não pode fazer isso no bolo agora, Edward.- me olha atentamente, seus olhinhos arregalados de surpresa e os bracinhos recolhidos pela bronca leve. Não era para menos, eu raramente o repreendia, quem tinha costume de ser mais mandona com ele era Alice.

— Nã nã?- pergunta, aponta para o bolo e depois para si mesmo. Eu sorrio com a sua inteligência.

— Não, não.- digo, normalmente repetir o que ele perguntava sempre funcionava como uma afirmativa mais rápida e clara para o seu entendimento.

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— Ahhh, puvô, Bewa...- o danado faz uma carinha de anjo e tenta me adular, Esme controlando riso, Emmett andou ensinado alguns truques à criança, eu sabia que o grandalhão não era uma boa influência.

— Não, nós combinamos que você só poderia comer mais tarde, então, vai poder pegar bolo na hora certa, okay?- tenho a impressão que ele vai revirar os olhos- não sei se sabe como fazer isso, mas é o primeiro pensamento que me vem à cabeça quando ele me olha com semblante debochado.

— Tay.- responde, logo faz força para baixo e Esme se abaixa para liberta-lo, faz poucos dias que ele desembestou a andar, dias esses em que a minha coluna nunca mais foi a mesma, aliás. A mãe vai guiando-o enquanto a coisinha minúscula sai tropeçando até o acesso para a sala de estar, ouço a voz de Emmett- que deveria ter dado a volta na casa- e uma risadinha infantil vinda de sua parte, a matriarca dos Cullen volta em menos de segundos para o meu lado.

— Nunca pensei que ele ficaria tão rebelde com tão pouca idade.- ela brinca.

— As vezes eu acho que Edward só gosta de nos desafiar mesmo.- respondo, começo a trabalhar com o bico, fazendo ondinhas nas bordas arredondadas e cor de rosa. Foi ele mesmo quem escolheu o sabor do que seria servido.

Quando o relógio da cozinha bate quatro e meia, apresso-me até a sala e abro a boca surpresa com o que encontro. Lá estão os dois, Emmett e Edward, cada um com um sorriso mais suspeito que o outro.

— Mas o que foi que aconteceu aqui?!- aproximo-me e arregalo os olhos ao ver o estado do tapete branco – o favorito de Esme, por sinal. Ele está agora completamente coberto de tinta, ao lado dos pezinhos descalços do bebê havia três potes de tinta escolar abertos, azul, verde e vermelho misturavam-se em um redemoinho super colorido ao redor do ruivinho, duas mãos e roupas irreconhecíveis. Além disso, ele ainda havia deixado as marcas dos seus dedinhos minúsculos por toda parte, os papéis dispostas ao lado eram as únicas coisas intocadas pelo furacão Cullen.

— Emmett!- pego a criança nos braços, Edward gargalha junto do mais velho, pousa uma mãozinha melada em minha bochecha e solta algo incompreensível com sua voz infantil e aguda.

Saio escada acima e ouço a voz da matriarca lá no fundo, sorrio brevemente com a perspectiva de vê-la obrigar o grandalhão a limpar toda aquela sujeira.

Tranco a porta do quarto, pois experiências prévias de quase infarto mostraram que Edward conseguia alcançar a maçaneta baixa. Preparo a banheira e coloco espuma o suficiente para distrai-lo por hora, ele fica sentado no piso enquanto eu pego os brinquedos que ficaram dentro da pia na noite anterior- longa história de uma falha tentativa de fazê-lo escovar os poucos dentes que já possuía. Tiro a minha roupa, fiquei completamente suja na altura do ombro, uma mistura de vermelho e verde que até que não havia ficado tão ruim assim, ajoelho para tirar o pijama arruinado dele, já de pé e com ele mexendo em meus cabelos, tiro a fralda e jogo de primeira no cesto de lixo do outro lado do banheiro. Ele bate palmas quando me vê fazer isso, como de costume.

A banheira dele é espaçosa e como sempre eu coloco pouquíssima água, recosto em uma ponta e o coloco bem sentada no assento especial que Alice comprou, devo admitir que esse seu exagero em especial valeu a pena. Ele se distrai com um livrinho com páginas de borracha, levantando e abaixando-o para fazer a espuma descer pelas páginas,aproveito e começo a esfregar a tinta em meu próprio rosto, só percebo que ele me observa interessado, quando vejo o seu rostinho sério me encarando.

— Bewa.

— Sim?- enxugo o rosto com a folha mais próxima, ele me segue com olhar curioso.

— Agüa!- bate os braços com o força e vai espuma até as paredes, eu sorrio, pego a sua mão esquerda e começo a limpar também, quando passo para a outra Edward está levando à boca o seu mordedor de silicone.

Na hora do shampoo ele faz questão de ensaboar a própria cabeça, estávamos começando a incentiva-lo a ter mais independência, ultimamente. Faço uma cuia com as mãos e vou aos poucos tirando os resquícios de espuma amarela de seus cabelos, molhados eles ganham um tom mais escuro quase puxado para o acaju.

A hora de levantar é sempre uma cerimônia, primeiro o medo de escorregar com ele nos braços, segundo o escândalo que o pequeno fazia ao perder o contato com a água. Consigo, com a parca experiência em lidar com a ferinha, enrola-lo em sua toalha antes de poder, manejando-o de um lado para o outro, me cobrir com a minha também.

Como vem acontecendo quando eu não dou imediatamente o que ele quer, Edward soluça alto e chama o meu nome em um chorinho manhoso, tento acalenta-lo para poder me arrumar, dou-lhe a mamadeira ainda morna que eu havia deixado para esfriar pouco antes de terminar de enfeitar o bolo- parando para pensar muito rapidamente, eu havia vislumbrado a figura faceira de Emmett passando com uma pilha de papel em direção a sala. Sento na cama enquanto ele come ainda relutante, a cabeça de cabelos bagunçados encostada na altura do meu peito.

Quando a mamadeira está quase vazia e os olhos deles completamente fechados, eu me atrevo a mover as pernas para fora. Visto-me sem enxugar direito o corpo, quando já estou terminando de desembaraçar os cabelos recebo uma ligação de Charlie, amanhã era dia de ir em casa para sustentar bem a minha mentira, por hoje eu estava em Port Angeles em uma noite de compras só entre as meninas, passei para jantar com ele na noite passada e criamos toda uma cena de Alice e Rosalie me buscando para uma suposta despedida de solteira que duraria até o dia seguinte. Meu pobre pai nem sequer deu por falta da presença do meu noivo durante todos estes dias, ele realmente não simpatizava com o futuro genro, cômico, porém trágico.

Atendo a ligação em voz sussurrada e ele fala que queria apenas avisar que estaria saindo com Sue mais tarde, caso eu voltasse para casa e estranhas se a sua falta, uma vez que ele estava de folga. Rio e depois de uma piada ou duas, me contento em imaginar a sua cara constrangida e nos despedimos.

Quando estou terminando de vesti-lo, Edward já está completamente desperto, depois de uma soneca de meia hora e com a pancinha cheia, ele volta a ser o anjinho faceiro com o qual estamos acostumados, escolho uma roupa confortável- assim como a minha- e descemos as escadas com ele já despenteado com as mãos a juba cor de cobre que eu havia acabado de amansar. Vamos em direção às parte de trás da casa e no meio do caminho eu o coloco de pé para dar os passinhos ao meu lado, quando sai desembestado até a porta de vidro acompanho de perto e eventualmente ele se apoia em meu joelho para poder descer os degraus de madeira, o enorme espaço intercalado pelas árvores que permeavam a orla da floresta está incrivelmente enfeitado com tudo o que foi planejado para o seu primeiro aniversário, há uma cama elástica impressionante à esquerda, logo ao lado havia a maior piscina de bolinhas que eu já vi na vida, balões de todas as cores pendiam de quase todos os lugares, todos apontando para cima, a mesa das comidas ficava logo à frente do pequeno carrossel dourado, perto dela uma máquina de pipoca e outra de algodão doce, para arrematar tudo uma casa inflável em formato de castelo com um fazedor de bolhas de sabão automático dentro.

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Alice e Esme eram as primeiras na linha de chegada, havia até mesmo luzinhas cruzando o céu e um arco de mais ou menos quatro metros na entrada, Edwardland, era o que estava escrito em letras gigantescas e néon.

— E lá vem o aniversariante!- a baixinha tinha a câmera em mãos e ficava na expressão eufórica da criança.

— Bewa!- ele gritou enquanto apontava o carrossel atrás de Jasper.

— Estou vendo, quer ir dar uma volta no cavalinho?- em resposta ele me dá os braços, ainda pula quando o aprumo em meu colo.

Acaba que vamos todos no brinquedo, Carlisle vai sorridente no cavalo ao nosso lado, Rose e Emmett pegam uma dupla de cavalos cocheiros, Esme escolhe a carruagem dourada e Jasper o cavalo que a puxa, Alice senta de costas para pode nos filmar, Edward dá gritinhos toda vez que o nosso corcel sobe até o máximo, nós o acompanhamos na gritaria e ele gargalha de se acabar com a música infantil que está tocando.

Depois de mais três voltas, ele resolve querer ir à piscina, Esme e Carlisle se ocupam de brincar com ele e eu vou observando melhor o resto das coisas enquanto Jasper fotografa e Alice grava mais um pouco. Pego um saquinho de pipoca e sento na entrada do brinquedo inflável, não lembrava que era assim tão confortável sentar em um desses. Sinto uma leve pressão ao meu lado e não preciso olhar para reconhecer o cheiro de baunilha e rosas que está sempre exalando dos cabelos perfeitos de Rose, ela me olha de maneira divertida.

— É de se fazer pensar, não é? Como é que alguém tão irritante quanto Edward conseguiu evoluir dessa maneira.- embora tenha sido uma crítica sarcástica eu também rio, pois imagino a cara debochada dele se ouvisse a irmã falando assim, suponho que a relação fraternal deles, diferentemente da que ambos tinham com os outros membros da família, gmfosse baseada nos tapas e beijos que rolavam há mais de anos entre os dois.

Observamos caladas enquanto ele cata as bolas vermelhas e as deposita nas mãos da mãe. Esme sorri de orelha a orelha sem sequer piscar, literalmente.

— Fico feliz de isto tudo ter acontecido, mas acho que não é bem um segredo.- viro o rosto para encara-la. Sua expressão é como um pedido de desculpas direcionado a mim.

— Não, não é.- sorrio, para que ela veja que está tudo bem.

— Sinto muito se às vezes parece que eu tento monopolizar a atenção dele, é que para mim... bem, é complicado, toda essa coisa de maternidade, quanto mais o tempo passava mais se tornava uma necessidade, e mesmo que seja um sentimento nobre eu não me orgulho dele, pois sei que deveria seguir a minha existência sem me ater a coisas impossíveis, é claro que não é a mesma coisa, mas eu fico feliz de ter podido cuidar dele durante esse tempo.- observo os seus olhos repentinamente tristes mirando as árvores por trás dos brinquedos. Emmett dava pulos monstruosos na cama elástica, e eu estava mentalmente contando os segundos para a estrutura subir ao seu peso. Tenho consciência dos ouvidos aguçados escutando a nossa conversa, íntima, não me importo.

— Eu não sei se é algo insensível de se falar, mas a sua história foi a única que me fez repensar se eu queria ou não me tornar um de vocês, durante apenas alguns segundos, mas fez.- Rosalie me olha, parece surpresa consigo mesma.

— Eu falei sobre isso com Edward, fui sincera com ele, fiquei com medo de como e de quando abordar o assunto, já que existe tanta relutância da parte dele em me tornar imortal. Ainda deixei claro que eu quero isso mais que tudo no mundo, mas que não poderia prometer que não sentiria falta de certas coisas humanas, não em um futuro distante, onde coisas ainda não aconteceram, eu tenho consciência de que estarei interrompendo um processo natural, não envelhecer, não dormir, não comer comida humana... Eu nunca quis ter filhos e ainda hoje não sinto essa necessidade que você diz sentir, mas tenho noção de todas as coisas que estarei perdendo ao passar pela transformação, isso eu tenho.

— Eu admiro a sua iniciativa de falar com ele, embora eu pense que a maior parte de toda essa resistência quanto a te transformar venha da vontade incubada que há dentro dele, o desejo de fazer de você uma de nós, bem lá no fundo, existe, mas Ed não quer ser egoísta quanto a você.- não respondo, mas admito que já pensei sobre isso algumas vezes, não quis falar abertamente com medo de magoa-lo, mas talvez devesse fazê-lo em um futuro próximo.

Como a pipoca e ela me olha de maneira curiosa, de repente já estou quase caindo para trás de tanto rir.

— O quê?- pergunta, confusa.

— Ai, desculpa, é que quando você me olhou eu tive o impulso automático de te oferecer pipoca, então quando me dei conta no que estava pensando lembrei de Emmett tendo que comer aquele pedaço de bolo e depois colocando tudo para fora, parecia um gato cuspindo uma bola de pêlos do tamanho de uma bola de basquete.

Ela soltou uma única e longa gargalhada de sinos, como alguém pode rir de maneira afinada?

— Aquilo foi bem nojento, admito, isso porque você não me viu tendo que ingerir um pudim de chocolate anos atrás, a coisa foi feia, nem gosto de lembrar.- faço uma careta ao imaginar, a sua risada ainda mais alta chama a atenção até mesmo de Edward.

Ele nos observa dos braços de Esme, balbucia alguma coisa para ela e a mãe sorri em sua direção antes de sair do meio das bolas de maneira mais graciosa que uma gazela. Quando a Cullen o deposita entre nós duas na entrada do brinquedo, ele imediatamente nos vira as costas e começa a engatinhar para dentro, deixo o saco de comida de lado e entro logo depois de Rose.

Lá dentro as bolhas são feitas de diferentes tamanhos e vão para todos os lados, colocamos o bebê de pé antes de ele se irritar por não conseguir ficar firme, resolvemos isso passando-o de braço em braço enquanto pulávamos entre as bolhas, sempre pulava com uma ele queria ir para a outra, e assim sucessivamente.

Mais tarde,depois de irmos só nós dois no carrossel, deixo que experimente um pouco do algodão doce cor de rosa que Jasper o oferece, acaba que o seu rosto gorducho fica completamente grudento por causa do doce e ele adora, Carlisle despedaça pacientemente as pipocas para que ele não se engasge, os dois estão sentados um de frente para o outro na grama em uma pausa para o lanche. Vejo Esme observa-los de longe, um sorriso triste se formando em seu rosto.

Tal qual Rose, ela também sentiu um dos baques mais duros dentre todos eles. Vou para perto dela e passo um braço por seus ombros, a sua expressão quando me olha é estranha e ainda assim perfeita, presumo que se pudesse ela estaria chorando naquele momento. As risadas dos Cullens e o som da melodia delicada que soa do carrossel- ainda fincionando- embala a sua tristeza. Ela nunca havia ficado assim tão escancarada para mim.

O crepúsculo chega de mansinho e eu não sei aonde o tempo foi parar, as luzinhas são acesas e chega a hora do parabéns, velas e faíscas enfeitam o bolo quando nos aproximamos, o colocamos de pé sobre a mesa para que sopre as velas, dessa vez é Emmett quem nos grava, Esme e Carlisle o seguram firme enquanto ele tenta sem sucesso soprar o fogo, mas sai mais saliva do que vento. Batemos palmas quando a vela principal se apaga, as vozes suaves de todos eles ainda soam em meus ouvidos depois da cantoria. Todos depositam beijos em suas bochechas enquanto os pais ainda o seguram, os gritinhos animados dele poderiam ser ouvidos do outro lado de Forks.

Edward pega um naco do meu pedaço de bolo com uma das mãozinhas e enfia na boca com avidez, Emmett o incentiva com a câmera enfiada entre nós dois, dou-lhe suco quando o soluço irrompe e ele sorri gaiato, já me puxando para voltar a brincar.

A noite termina com todos deitados sobre a cama elástica enquanto ele dá pulinhos tentando fazer com que os outros se mexam também. Esme entra para dar o seu jantar e eu me despeço com um beijo estalado no dorso da sua mão, ainda suja de doce. Ele pisca para mim, dá para ver que está cansado, então o deixo ir.

O céu não está tão nublado quanto de costume, os outros conversam aleatoriedade e eu continuo deitada sem realmente prestar atenção no que falam, Carlisle é o primeiro a levantar depois que o telefone dá um toque lá do outro lado da casa, provavelmente um de seus pacientes, Alice e Jasper se apressam para editar o vídeo e revelar as fotos, Rose e Emmett me fazem rir mais uma vez antes de saírem também, com a breve insinuação da parte dele de que os dois aproveitariam a tal casa inflável a sós, de madrugada.

Quando me levanto em silêncio e caminho pelo gramado vazio, continuo sem pensar em absolutamente nada em específico, ainda assim algo me incomoda, os vagalumes pregados em uma árvore alta perto de mim tomam a pouca atenção que havia em minha mente naquele momento, um sentimento estranho me tomava. Chego no quarto e vejo a mãe depositando o corpo diminuto entre uma barreira de travesseiros, o motivo de não terem comprado um berço fora justamente porque ele só conseguia dormir ao meu lado. Esme lhe dá um beijo de boa noite e vira para sair do quarto, a luz que entra pela porta aberta pouco serve para abalar todo o conforto estabelecido pela escuridão, depois de também me dar um beijo na testa, ela sai.

Deito com cuidado e com o corpo virado de costas para a porta entreaberta, o pijama azul que usa é o mais novo que possui, dá para ver que havia acabado de tomar banho quando entrei, suas pestanas longas moviam-se aqui e ali conforme o ritmo de sua respiração acelerava pouco a pouco, estaria sonhando?

O sono já está quase me vencendo quando ele acorda ligeiramente e vem se aconchegar mais perto, o acalmo enquanto cantarolo a minha canção de ninar, passo as mãos por suas costas de modo a consola-lo do choro eminente, e e acaba funcionando.

Pego-me com lágrimas nos olhos quando consigo faze-lo dormir de novo, a melancolia se faz presente quando olho para o seu rosto de porcelana, infelizmente eu não poderia alongar mais o seu período “mortal”, não poderia trazer de volta a sua juventude perdida, nem a infância da qual ele não se lembrava absolutamente de nada. Tal como Esme provavelmente não se lembrava mais do rosto de seu filho recém-nascido que morreu logo após o parto, ou como Rose não compreendia o próprio desejo insaciável por um filho, porque eram coisas do seu outro eu, do eu antes de a vida pós vida dela começar, de quando ainda era uma moça insípida e mimada do interior de New York, moça essa que havia morrido há muito tempo atrás. Nada disso poderia jamais ser remediado, seriam feridas para sempre impregnadas na cabeça de cada uma delas, de longe as mais afetadas pelas limitações do vírus.

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Pergunto-me se Carlisle se sente culpado quando as vê sofrerem assim, se sente remorso por tê-las feito como são, transformado-as. Acho que é assim que Edward se sente também, acho que Rose tem razão, mesmo que as ações sejam boas quase sempre há uma pontinha de egoísmo dentro delas.

Meus olhos estão inchados quando os abro na manhã seguinte, compensando o dia anterior a chuva cai torrencialmente, lembro dos brinquedos lá embaixo e me pergunto se eles já os desmontaram, provavelmente não. Olho para o espaço entre os meus braços e sinto um arrepio subir-me a espinha, sei muito bem que Esme não havia subido para pega-lo, simplesmente porque ele não havia acordado novamente durante a noite, entretanto, cá estou eu no meio da enorme cama, sozinha. Ergo-me em um pulo, meu coração está acelerado e a náusea sobe para a minha boca, eu já sabia que havia acontecido alguma coisa.