— O que está acontecendo aqui?

— Ela que entrou aqui gritando comigo!!! - Victória deixou as lágrimas caírem por seu rosto, chateada.

— Você está avisada, Victória!!

— Eu não vou fazer isso sem uma explicação!!! - gritou ficando de pé na frente da mãe, e pela primeira vez Inês levantou a mão para bater nela.

Era a primeira vez que ousava levantar a mão para sua filha, e o sentimento que tinha em seu peito naquele momento era de desespero e medo. Não podia ser verdade que aquele maldito tinha retornado à cidade e muito menos que sua filha estivesse falando dele daquele modo, não podia ser coincidência, e ali estava ela, tomando uma atitude impensada por um homem que nem sequer tinha chegado e já estava ali mexendo com sua família.

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Victoriano no mesmo instante se aproximou e segurou a mão da sua esposa, não sabia o que se passava, mas não permitiria que ela se arrependesse tarde demais.

— Não faça nada do que possa se arrepender depois! - a voz era bem firme.

Inês o olhou nos olhos e sentiu medo vendo o que tanto temeu: O passado. Mas permaneceria ali com ele. Victória estava decepcionada com o modo como a mãe estava à tratando, nunca tinha acontecido e em sua cabeça se passava tantas coisas que ela não conseguia formular as perguntas que a inundavam, mas algo de muito sórdido estava acontecendo para que ela a tratasse assim por conta de um estranho.

Inês se soltou e saiu dali com as lágrimas já resvalando por seu rosto, não acreditava que tinha levantado a mão para sua menina por um desgraçado, tinha perdido o controle e com seu desespero não podia voltar atrás, já estava armado "o circo" e ela teria que explicar à filha o porquê do seu achaque, mas não seria àquele momento que poderia piorar toda a situação. Victoriano olhou para filha, que estava feita em lágrimas e se aproximou rapidamente dela e a abraçou forte beijando seus cabelos. Ele não sabia o que tinha se passado mas era grave para que ela tomasse uma atitude como aquela.

— Meu amor, o que aconteceu? - ele perguntou carinhosamente.

Victória se soltou dele e sentou na cama, passou a mão no rosto e ele sentou-se ao lado dela.

— Ela ouviu uma conversa minha com minha amiga e surtou! - estava bem chateada. - Quem é Benigno? - perguntou sabendo que o pai jamais mentiria.

Victoriano sentiu seu corpo gelar. Entendeu que a reação de sua esposa, não tinha sido certo, mas o choque de ouvir o nome daquele homem era nítido no olhar dos dois e Vick levantou ficando de pé. Quem era aquele homem que colocava seus pais daquele modo? O que tinha por trás daquela reação deles? Era isso que se passava em sua cabeça enquanto o via em completo silencio absorvendo aquelas poucas palavras que saíram de seus lábios.

— Quem é esse homem? - tornou a perguntar.

— No momento o que posso te dizer é que não se aproxime dele até que sua mãe fale com você! - a garganta estava seca.

— Eu não quero falar com ela! - estava magoada com o que tinha acontecido. - Me diga você quem é esse homem, porque claramente há algo de muito errado em tudo isso! - era um doce de menina, mas também sabia ser bem tinhosa.

— Uma hora vocês terão que conversar sobre o que aconteceu aqui, e eu espero que você continue sendo a menina madura... A minha menina e ouça a sua mãe!

— Por que não me diz a verdade? Eu sei que tem algo de errado nisso tudo. Eu sinto aqui no meu coração, — apontou para si. — que não é algo bom! - os olhos se inundaram de lágrimas novamente.

Victoriano sentiu seu coração rasgar por vê-la daquele modo, mas não podia dizer nada naquele momento sem Inês, sem conversar com Inês sobre o achaque dela, ele foi até ela e a abraçou novamente e respirou profundamente. O passado estava de volta e já começava a fazer estragos, ele ficou ali por mais alguns minutos com ela e a acalmou como podia e assim que conseguiu foi para o quarto e encontrou com Inês sentada na ponta da cama no completo escuro, se aproximou sem clarear o quarto e sentou ao lado dela na mesma posição e ambos ficaram olhando para a escuridão da noite por longos minutos até que ele a olhou.

— Você sabe que terá que dar explicações...

Ela abaixou o olhar e levou a mão ao rosto.

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— Eu perdi o controle... - iniciou o choro novamente. Se aproximou mais dela e a abraçou de lado. - Eu quase bati na minha filha...

— Fique calma que assim não vamos resolver nada! - tocou o rosto dela que tinha a cabeça deitada em seu ombro. - Victória é uma menina esperta e se você não conversar com ela, ela vai buscar saber o que se passa ou até mesmo se aproximar ainda mais daquele homem!

Inês ficou de pé na mesmo instante e caminhou pela escuridão do quarto e ele acendeu o abajur que ficava sobre o criado mudo.

— Eu não à quero perto daquele homem! - parou e o encarou. - Antes eu acabo com ele!

— Não fale assim! - ficou de pé e foi até a sua amada. - Precisa manter a calma ou vai piorar as coisas e é isso que ele quer! Talvez ele nem saiba quem ela é!

— É porque você não ouviu o modo como ela estava falando! - se desesperou

— E você deu a ela mais "munição" para procurá-lo. - a trouxe de volta para a cama para sentar. - Vamos conversar com ela antes que algo aconteça!

— Eu não estou pronta!

— Tudo bem, vamos tentar descansar um pouco por hoje e amanhã voltamos a falar nesse assunto!

Inês apenas assentiu com a cabeça, estava sentindo o peso de suas ações na alma e eles deitaram, não dormiram, mas ficaram ali abraçados um ao outro pensando em como resolver aquela situação que era mais complicada do que parecia!