Amor
Chat Noir sur mon porche...
Capítulo 2 – Gato preto em minha varanda...
Quinta-feira finalmente chegou e eu suspirei aliviada por não ter mais que voltar a escola e encarar Félix. Com todo esse drama, eu nem sequer tive tempo para conversar com Chat Noir que vive tentando me ligar – de acordo com Tikki.
Naquela noite eu me transformei e liguei para meu melhor amigo, chamando-o para fazer uma ronda noturna ao meu lado. Por mais incrível que possa parecer, Paris estava calma naquela noite, as pessoas estavam felizes demais com o feriado prolongado graças aos eventos que o pai da Chloé havia organizado.
***
A Torre Eiffel estava maravilhosa aquela noite, refletia as cores da bandeira da França e a garota aproveitava o silêncio para que pudesse pensar sobre tudo o que estava lhe acontecendo.
— Boa noite Bugboo. – A voz do gatuno despertou a jovem heroína de Paris.
— Boa noite gatinho. – O loiro se aproximou da melhor amiga e ambos encaravam a cidade que estava em trégua para alegria de seus vigilantes. – Qual o problema My Lady? Parece triste.
— Passei por duas semanas horríveis gatinho.
— Isso explica seu sumiço repentino Bugboo. – Ele suspirou. – A garota que eu gosto também não teve uma semana boa, eu acho. Sumiu uma semana inteira e agora que voltou, não parece estar cem por cento. – Ladybug se questionou se aquilo poderia ser ou não sobre ela.
— É, algumas pessoas tem muitos problemas. O precisamos fazer é... – A mocinha suspirava pesadamente. – É apoiar e aceitar seu silêncio.
— Sim. – O garoto se animou. – E é por isso que eu preparei uma surpresa para você.
— Surpresa Chat? – A menina questionou desanimada. – Eu não acho que-...
— Não acha nada. – Ele interrompeu a garota joaninha e a puxou pela cintura, colando seus corpos. – Vai ser incrível e tenho certeza que vai te animar.
— Tudo bem. – Ladybug revirou seus olhos e o felino mostrou-lhe os dentes em um animado sorriso. Por um momento, a joaninha pensou que seu coração teria falhado uma batida.
— Lá vamos nós. – Chat deu impulso aos dois com o bastão que se estendeu os levando para o outro lado da Ponte d'Iéna.
O gato preto levou a amiga por alguns telhados de casas enquanto brincava e fazia de tudo para arrancar o sorriso da melhor amiga e amada. Era verdade o que Chat havia dito, a garota que ele gostava havia sumido da escola durante uma semana e, agora que voltou ficou sabendo por Nino e sua namorada que a menina não estava nada bem – dormia nos intervalos das aulas e não comia direito, havia até emagrecido.
Mas infelizmente, ele poderia apenas consolar esta amiga que também sumiu e estava com problemas. Ele queria que fosse fácil assim com Marinette. Depois de um tempo, eles chegaram ao topo de um prédio e Chat Noir apontou para a pontinha da Île De La Cité.
— Lá na ponta está a sua surpresa. – E realmente havia algo pouco iluminado por velas.
— O que é? – Chat pegou na mão da companheira de aventuras e a puxou.
***
— Um piquenique Chat? – Eu olhei toda a preparação admirada. O gatuno havia mesmo se superado. – Isso é maravilhoso. Ninguém nunca fez nada parecido por mim. – Ele tinha um sorriso de orelha a orelha, parecia uma criança.
— Você gostou Bugboo? – Havia lágrimas se formando em meus olhos.
— Sim! – Eu disse empolgada abraçando meu parceiro o mais forte que podia, e saber que fui correspondida me confortava. – Obrigada.
— Vem. – Ele me soltou devagar e me puxou pelas mãos.
A toalha xadrez combinava nossas principais cores: vermelho e preto. Havia deliciosas frutas, alguns doces que reconheci serem da padaria de meus pais e havia até mesmo um espumante.
— Onde conseguiu o espumante? – Perguntei assim que me sentei.
— Se eu contar perde a graça. – Apenas ri enquanto balançava a cabeça em sinal de negação.
— Você merece Ladybug, nem que seja apenas um pouco. Passou por muitas coisas. – Sorri.
— Obrigada Chat.
Eu nem pude ver o tempo passar, estava me divertindo tanto com Chat e a falta de akumatizados só nos deixava mais tranquilos para aproveitarmos nossa merecida recompensa.
— Bugboo...— A voz do felino surgiu assim que nossas risadas se cessaram. Olhei meu gatuno que parecia tristonho. – Sei que nós não somos tão íntimos, mas-...
— Como assim? Você é meu melhor amigo Chat. – Tinha um olhar incrédulo para ele.
— Eu respeito nossas identidades secretas, mas acho que seja importante desabafarmos sobre o que nos machuca. – Continuava encarando ele, querendo descobrir onde Chat queria chegar. – Eu queria pedir... Para me contar o que lhe aconteceu, em nome de nossa amizade.
— Ah, Chat... – Eu suspirei e abracei meus joelhos, juntando-os ao meu peito. – Eu sou uma tonta apenas isso. – Lágrimas começaram a surgir em meus olhos.
— Como assim Bugboo?
— Desde que aquele garoto idiota entrou na escola, eu tentei ser o mais amigável e doce possível. Eu sempre quis ser sua amiga e acabei me apaixonando. Ele é lindo, inteligente, sério, parecia ser maduro. – Chat se aproximou e colocou uma de suas grandes mãos em minhas costas. – Eu sempre fiz de tudo por Félix, comprava ingressos para apresentações de teatro, o chamei várias vezes para o cinema.
— Félix...?— Eu não havia notado o murmúrio de Chat. Ele parecia processar todas as informações de uma vez enquanto me escutava.
— E ele sempre foi rude comigo, nunca aceitando. Me ignorando. – Eu limpei as lágrimas teimosas que desciam por meu rosto. – Há duas semanas, eu comprei duas entradas para uma apresentação de Ballet Clássico – coisa que eu sei que ele gosta—, mas ele foi tão rude comigo dizendo que nunca sairia comigo. Me disse que eu o incomodava sempre. – Voltei a limpar as lágrimas.
— Bugboo...— Chat tentou me chamar, mas eu precisava continuar a falar e ele respeitou isso.
— Eu fiz de tudo por ele, Chat. Ouvi dizer que ele gostava de garotas de cabelos grandes, então deixei os meus crescerem. Depois, que cabelos grandes e presos eram bonitos para ele, e eu os prendi assim. – Peguei em uma das marias-chiquinhas e olhei o penteado, magoada. – Também o ouvi dizendo que um traje social despojado era algo que ele admirava, então comecei a usar uma blusa social com casaquinho e uma bermuda jeans. Eu mudei completamente por ele, mas mesmo assim não foi o bastante. – Eu me encolhi chorando mais ainda. – Como você pode ser tão idiota, Marinette Dupain-Cheng?!
— Marinette?!— Eu me assustei assim que ouvi o que tinha dito ser repetido por Chat Noir. – É-é você?! – Minhas lágrimas pararam por um segundo que foi o bastante para eu processar a situação.
Tudo o que eu consegui fazer – através de um milagre— foi me levantar e sair correndo para jogar meu ioiô para ir embora daquele lugar. Eu havia falado demais, expus minha identidade secreta em um momento de fraqueza, imagina se aquela fosse um akumatizado e não Chat Noir?
Assim que passei pelo alçapão de meu quarto desfiz a transformação e corri para o banheiro deixando Tikki sozinha no quarto e se entender o que havia se passado. Tomei um banho demorado lavando meus cabelos e me vesti, para ver uma Tikki super preocupada comigo.
— O que houve? – Suspirei.
— Deixei escapar para Chat Noir que Ladybug é Marinette. – Me sentia estúpida.
— Não precisa ficar assim Marinette, era apenas o Chat Noir e não havia ninguém por perto, nem um akumatizado. – Suspirei aliviada.
— Isso é bom. – Olhei meu reflexo no espelho, eu estava péssima. Mas fui acordada pelo toque do meu celular. – Desconhecido. – Repeti em voz alta o que estava escrito.
— Deve ser o Chat, atenda. – Concordei e deslizei a opção de aceitar a chamada. – Alô?
— “Marinette?”— Era realmente uma voz masculina. – “Eu sinto muito por agora pouco, por favor.”— Acho que era realmente ele.
— Está tudo bem, não se preocupe.
— “Posso ir até aí?”
— Agora?
— “É.”
— Eu não-...
— “Estou indo.”— A ligação foi encerrada e eu fiquei com cara de tonta para o espelho.
— E então? – Tikki me olhava ansiosa.
— Chat Noir está vindo aqui?! – Era mais uma pergunta para mim mesma do que uma resposta.
Não demorou em que ele chegasse e passasse por minha janela. Eu ia pedir para Tikki se esconder, mas de que adiantaria se ele já sabia que eu era a Ladybug.
— Marinette... – Ele dizia sorrindo e logo olhou Tikki. – E você deve ser a kwami dela.
— Sou Tikki. – A pequena Kwami vermelha se apresentou e Chat voltou a prestar atenção em mim.
— Como você está?
— Como você acha? – As lágrimas voltaram a surgir. – De coração partido. – Vi Chat Noir suspirar pesado e me olhar.
— Eu vou cuidar de você, Princesa. – Ele me sorriu e destransformou me revelando o garoto da turma ao lado: Adrien Agreste.
— A-Adrien?! – O meu melhor amigo de combate ao crime era o garoto mais gentil e adorado da escola.
— E Plagg.— O Kwami de Chat Noir surgiu se apresentando. – Você não teria queijo, teria?
— Plagg!— Adrien reprovou o pequenino.
— Vem comigo Plagg. – Tikki o chamou e os dois foram brincando lá para baixo, roubar comida escondida da geladeira.
— E como você vai cuidar de mim? – Eu disse brincando, enquanto secava algumas lágrimas.
— Exterminando Félix da sua vida. – Eu o olhei sem entender. – My Lady, o primeiro passo para saber se vale a pena ter uma pessoa é ver o que ela lhe exige. Félix exigiu extremas mudanças suas; você deixou de ser a Mari que todos amam e conhecem.
— É, talvez esteja certo. – Eu disse baixinho.
— Você gosta do seu cabelo assim? Não sente falta dele curto? – Eu pisquei algumas várias vezes para Adrien. Era verdade que sentia falta do tamanho original.
— Sinto. Eu amava meu cabelo do jeito que era. – Adrien sorriu sereno. – Eu quero cortá-lo Adrien. Quero ser a antiga Marinette.
Adrien me ajudou com o pente e com a tesoura. Meu cabelo voltou ao seu tamanho normal e eu pude ver a verdadeira Marinette dar um enorme sorriso ao espelho. Eu estava realmente livre.
No sábado eu tive um encontro com Adrien Agreste no parque e pela primeira vez eu estava sendo realmente eu. Claro que Chloé não perdeu a chance de tirar uma foto e espalhar para toda a escola, ela sabia que eu gostava de Félix; Bem, gostava. Não gosto mais.
***
Eu havia escutado risos na praça onde estava acontecendo um dos eventos do prefeito, mas não reconheci a pessoa em si. Eu senti uma pontada no peito quando vi Marinette de cabelos curtos e tão espontânea rindo e conversando com Adrien Agreste. Ele era o garoto que ouvi me chamar de babaca por não dar atenção a Mari, e no final, foi ele quem esteve ao seu lado.
Posso garantir, que ele ofereceu seu ombro para ela chorar e desabafar. Posso apostar que, em seu quarto escuro ele penteou seus cabelos molhados e a ajudou a cortá-los para que voltassem ao tamanho original.
Eu sentia ciúmes de vê-la feliz e ver que ela se esforçava demais para me ter. Eu vejo que se eu tivesse aceitado seus convites, seria eu a pegar em sua mão nesse exato momento como Adrien faz. Seria eu a deixa-la vermelha e fazê-la sorrir. Seria eu a ganhar a presilha de lacinho cor-de-rosa e colocaria em sua franja. E seria eu a dizer que ela “era tão fofa”.
Eu sinto muito Marinette... Eu te amo...
***
Segunda-feira de manhã eu cheguei acompanhada de Adrien que me deu um beijo na bochecha. Eu sorri para ele e fui para minha sala pensando nas últimas duas noites, em que Adrien aparecia como Chat Noir em meu quarto e passava a noite comigo.
— “Talvez eu tenha um pouco de culpa nisso tudo.”— Me lembrei dele falando na noite anterior. – “Uma vez Félix ouviu eu e alguns garotos falando o quão idiota ele era por ignorar você.”— Ele me olhou. – “Eu nunca faria isso. Eu sempre quis estar no lugar dele para que você me chamasse para ir aos lugares. Ballet Clássico parece legal.” — Ele disse zombando da sua última frase. Eu ri e dei-lhe um tapinha nos ombros.
— “Não tem culpa por dizer algo verdadeiro.”— Sorrimos um para o outro e colamos nossas testas, fechando os olhos e aproveitando o momento.
— MARINETTE DUPAIN-CHENG! – Eu ouvi meu nome ser gritado pelo furacão Alya.
— Bom dia Alya! – Eu sorri animada, o que a deixou sem entender nada.
— Pelo menos está melhor. – Nino comentou e Alya assentiu.
— Agora... – Ela pegou o celular e procurou por algo, logo me mostrou a tela e ali estava uma foto minha e de Adrien no parque, sábado de manhã. – Explique!
— Bem, sou eu e Adrien. – Dei um sorrisinho sem graça.
— Estão ficando? – Eu corei.
— Apenas saindo Alya. Apenas saindo. – Um sorriso surgiu em meus lábios. Ela suspirou pesado.
— Pelo menos é bom ver que voltou totalmente ao normal. – Ela disse se referindo a minhas roupas e cabelo. – O cabelo ficou ótimo.
— Obrigada. Adrien me ajudou a cortar.
***
— Explique!— Alya parecia nervosa por não saber da novidade antes de todos. Eu apenas assistia tudo da janela.
— Bem, sou eu e Adrien.— Marinette deu um pequeno sorriso.
— Estão ficando?— A azulada corou.
— Apenas saindo Alya. Apenas saindo.— Um sorriso gentil e sereno surgiu em seus lábios. Alya suspirou cansada.
— Pelo menos é bom ver que voltou totalmente ao normal.— Ela disse se referindo as roupas e cabelo. – O cabelo ficou ótimo.
— Obrigada. Adrien me ajudou a cortar.— Uma fincada em meu peito. Agora, era tudo Adrien e não Félix.
Eu fui tolo por deixá-la partir.
Eu sentia Amor por ela...
***
Desde então, toda noite há um gato preto na minha varanda. Ele sempre vem me visitar e conversar comigo, aquele gato tonto se tornou meu porto seguro...
Não importa se eu o vejo todos os dias na escola ou durante o combate contra os akumatizados de Hawk Moth, sempre há um gato preto na minha varanda...
— - -
Fale com o autor