Prólogo

De olhos fechados, e nenhum resto de fôlego com que pudesse contar, Lucjan apreciou em segredo a maciez e o calor da boca que descansava na sua. Assim, quieta, com o cuidado de não se mover para não o assustar, quase como se o beijo fosse se parecer menos com um beijo caso ninguém investisse muito mais do que aquilo.

Por uma fresta das pálpebras, espiou enquanto Damian se afastava, com a expressão curiosa e preocupada de quem não sabe pelo que esperar. Lucjan planejou um passo para trás, mas avançou um para frente. Sua mão, em vez de buscar pela maçaneta da porta, fez caminho até a nuca do outro, pedindo que ficasse, enquanto ele próprio não parecia ter intenção de ir.

Refletido nos olhos quentes de Damian, Lucjan não achou que se parecia com quem costumava ser, mas encontrou uma familiaridade na própria imagem que não se lembrava de já ter experimentado antes. Ele sabia, tomar aquela decisão era garantir uma viagem só de ida para dentro das sombras onde acabara de se descobrir escondido. Por outro lado, tinha a impressão de que era muito tarde para se deitar outra vez nos braços da negação onde vinha se refugiando nos últimos vinte e cinco anos.