O encontro

Talvez


— Está perdida, Vossa Alteza?

A voz encontrou seus ouvidos antes que pudesse pensar em ajeitar sua postura.

Princesa Aliyah, esforçando-se para afastar sua mente da fonte de água à sua frente, piscou seus olhos e concertou seu tom, tossindo.

Para que pudesse responder com o nível de formalidade necessário, Aliyah encarou o homem em sua frente. Era jovem, de aparência saudável; seus cabelos castanhos caíam em seu rosto e a sua mandíbula era fortemente marcada. Por mais que seu porte indicasse que possuía acesso à comida, estando visivelmente treinado, suas roupas simples indicavam ser de uma casa menor. Talvez até mesmo um plebeu. Seus olhos escuros brilhavam de maneira quase infantil e Aliyah teve que ignorar o conforto que invadiu seu corpo ao o encarar. De maneira geral, era bonito de uma maneira muito singela.

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Com medo de que estivesse corada, a princesa desviou o seu rosto, voltando a observar a fonte.

Poderia respondê-lo como queria, estando em uma posição mais alta. Deveria, na verdade, ponderar como alguém de seu status havia entrado no jardim do castelo, mas não queria; internamente, pedia para que ele fosse um pirata pronto para raptá-la e levá-la para um reino distante, qualquer um em que não fosse obrigada a se casar.

— Não, não estou — respondeu por fim, em tom suave.

Sua educação, em dias normais, a levaria a continuar o assunto, mas lembrar-se de sua situação havia matado todo o seu apreço pela forma do qual fora criada.

O homem não se abalou.

— Certamente, está — ele disse. Aliyah o encarou, decifrando se havia dito em petulância. — Perdida em pensamentos, quero dizer — e sorriu. Seu sorriso era como uma brisa que retirava o peso dos ombros da monarca, mas durou pouco. Muito pouco.

— É difícil não estar. Em meus pensamentos, nunca nada acontece fora de meu controle — confessou, mexendo em suas mãos de maneira inquieta. O homem acenou, solene. Assim como todos, deveria ter conhecimento sobre seu casamento — Aliyah pensou.

Alguns segundos se passaram e ele permaneceu em pé, ao seu lado.

— O que vê na água que tanto a fascina? — perguntou.

Entre um suspiro e outro, Aliyah ponderou.

Estivera observando a maneira como a luz do sol era refletida pelo líquido. A forma cristalizada com que se mostrava era mais fascinante do que a beleza insossa das flores que dançavam plantadas ao seu redor. E estava rodeada por elas, de todas as formas e cores possíveis. Todos os que haviam visitado os jardins disseram a estupenda beleza que transmitiam, mas, de um todo, só o faziam para agradar o rei e conseguir melhores acordos. Ou, talvez, realmente apreciassem sua beleza.

Mas não Aliyah. Aliyah gostava do que não se podia alcançar.

— Liberdade — respondeu, por fim, sem querer se prolongar. Dentro de si, teve a sensação de que nem deveria; o homem radiava uma sintonia consigo, como se recebesse seus sentimentos antes mesmo que os dissesse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.