Outro alguém

Extra IV


Katsuya andava de um lado para o outro no quarto, indo numa ponta conferir sua imagem no espelho e depois para a outra onde se encontrava o folheto com as informações do evento que haveria a noite. Estava claramente nervoso e repetia aquele processo desde metade da tarde, ainda com aquela sensação que esquecia alguma coisa. Somente ao ouvir o barulho do portão abrindo e o carro entrando é que conseguiu respirar um pouco aliviado. Mikaru havia chegado e ele sempre tinha tudo sobre controle.

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Caminhou apressado pelo corredor, indo encontrar o namorado na porta da frente, quase atropelando-o no processo, tamanha sua pressa.

— Nós ainda temos tempo, não é? Eu queria que você revisasse comigo as coisas que preciso levar e fazer por lá, acho que estou esquecendo alguma coisa, tem algo que preciso fazer mas não sei ao certo o que é, ou se já fiz. Eu tentei anotar o que precisava e ir marcando conforme fazia mas teve tópico repeti-

— Katsuya, chega. Respira. – Mikaru lançou um olhar analítico sobre o rapaz, depois retirou os sapatos e se aproximou, segurando-lhe o rosto entre as mãos, acariciando as bochechas com os polegares – Feche os olhos e respire com calma. Está tudo organizado, eu conferi antes de sair hoje cedo e vou conferir novamente antes de sairmos. Nós estamos dentro do horário.

— Ok… tudo bem… estamos no horário… – repetiu as palavras como um mantra, respirando devagar conforme o empresário instruiu.

Depois de tantos anos, várias tentativas, muito estresse, noites insones, alguns momentos de desespero e vontade de desistir, Kurosaki ia finalmente se formar. Já havia participado de todas as formalidades e em todas havia ficado nervoso. E agora viria a última: o baile de formatura.

— Vou tomar um banho e me arrumar também. Depois vou pegar nossos convites; entreguei os do Shiro e do Izumi, sua irmã está com o dela e o dos seus pais. Vou pegar a câmera para tirarmos fotos também. Esqueci alguma coisa?

— Não… acho que não…

— A noite vai ser ótima. Confia em mim. – Mikaru se aproximou mais, precisando se erguer na ponta dos pés para beijar os lábios de Katsuya. Conseguia sentir a tensão do rapaz em seu olhar e seus gestos. Todo o corpo dele parecia rígido – Por que não liga pra Mayu ou pro Izumi? Acho que os dois conseguem te acalmar melhor do que eu.

— Não precisa. Você consegue isso também e está aqui perto. Eu prefiro assim.

— Que bom… – Mikaru afastou um passo, ainda encarando-o preocupado. Não se lembrava de ficar assim na própria formatura, mas não era como se estivesse empolgado com a festa. Não tinha amigos para convidar, os pais não se importavam muito, desde que ele tivesse terminado o curso, não tinha outros parentes próximos. Enfim… foi uma mera formalidade que ele decidiu cumprir – Sua gravata está torta.

— Ah… nunca usei uma dessas… – Katsuya tentou ajeitar a peça, mas sabia que seria em vão. Não era a primeira vez que tentava colocar no lugar, mas suas mãos tremiam e suavam e ele não sabia dar o nó. Nada estava colaborando. As que usava antigamente, quando fazia bicos como fotógrafo em eventos, era daquelas que vinham prontas; ele só precisava passar pelo pescoço e ajustar o tamanho, depois grudar o velcro atrás – Ela está me enforcando… isso sufoca e incomoda…

— Está parecendo o Shiro. Ele sempre reclama se alguém sugerir roupa social. Quero ver como ele vai fazer hoje a noite e o que vai usar. – Mikaru negou com um aceno, sorrindo divertido, logo voltando a se aproximar enquanto levava os dedos até a gravata – Eu faço pra você. Está muito bonito com essa roupa.

— E se eu tropeçar nas escadas ou pisar em alguém durante a dança?

— Você levanta, ergue a cabeça e continua em frente. Se pisar em alguém, se desculpe. Siga as regras básicas de etiqueta e vai ficar tudo bem.

— Mikaru, eu estou entrando em pânico! Não faça isso parecer tão fácil!

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— Não é como se fosse o fim do mundo. É só o começo de uma nova fase pra você. – Mikaru terminou de ajeitar a peça, satisfeito com o próprio trabalho – Agora está perfeito.

— Mikaru…

O tom choroso de Katsuya fez o empresário lançar um olhar afiado em sua direção, cortando qualquer lamento. Ele sabia que estava exagerando, mas não conseguia evitar. Além disso, estava gostando de ser mimado e ter toda aquela atenção do namorado sobre si. Precisava se acalmar e aproveitar a noite. Se algum imprevisto ocorresse, tinha certeza que Mikaru iria consolá-lo depois. Nada estaria perdido.