— Morreu.
— Morreu?
— Sim, morreu.
— Mas... assim?
— Sim, assim.
— Quem diria?!
— Eu é que não.
— E agora?
— Diz que tão bem.
— Será mesmo?
— Se é verdade, não sei. Mas diz que sim.
— E quem disse?
— A do 304.
— Ah, só poderia ser.
— A que se refere?
— Ora, a tudo. Não perde uma... Nem confie muito.
— E porque havia de mentir?
— Não tá sabendo? Diz que é mito... mito alguma coisa.
— Mito?
— Diz que é viciada na mentira. Mente que só ela.
— E se for verdade?
— Só acredito vendo.
— E se ver?
— Nem assim...
— Tem que falar com o Seu Eduardo... Cortar uma água deles.
— Pare disso, se for verdade, e eu duvido, quero ver aguentarem o valor do condomínio. Diz que vai subir de novo. Dá pra acreditar?
— Claro que acredito, eu é que te contei. Tava na ata.
— Eu não leio essas coisas, pra mim é perca de tempo, sempre ficamos sabendo mesmo...
— Pois, se saírem, que não aceitem qualquer um. Lembra da 206? Vivia reclamando dos vizinhos.
— Aquela criança só podia passar fome, um berreiro daquele não é normal.
— Não duvido, magricela que só. A pobrezinha parecia uma ratinha. Pensei em levar comida pra ela.
— E por que não levou?
— Pega mal.
— Isso é, iam achar que estava se intrometendo.
— Última coisa que eu faria.
— Mas e se era fome mesmo? Deveríamos ter falado com alguém... Poderia ser descaso. Quem sabe eles eram viciados. Tome exemplo o namorado da Jú do 401, homem mais mal encarado não tinha. Lembra dele? Perdeu a carteira esses dias, bateu na Westphalen, bêbado.
— Nossa, e como soube?
— Ouvi no biarticulado, mês passado. Voltei com a Dona Nadir. Ela que me falou.
— Qual Dona Nadir?
— A esposa do Juca, irmã da Soraia.
— Aquela Dona Nadir? Ora, não ficou sabendo?
— Sabendo do quê?
— Diz que morreu.
— Morreu?
— Sim, morreu.
— A Dona Nadir?!
— É, morreu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!