Desenhos de Chocolate

Terça-Feira


A CHUVA não deu trégua no dia seguinte. Permanecia caindo sem dó e estragando todos os planos das pessoas que gostariam de ir para a praia. Uraraka bufava, cansada, enquanto adentrava a porta do café pronta para o expediente do dia. Fitou as janelas que mostravam um pedaço da praia e conseguiu ver pessoas correndo para recolher suas toalhas que estavam na areia antes que ficassem totalmente encharcadas.

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Andou até a área dos funcionários e jogou sua mochila rosa na cadeira de madeira que estava encostada na parede. Abriu e colocou seu avental, saudando sua chefe com a cabeça enquanto a mesma passava pelo corredor para ir até seu escritório. Prendeu os cabelos castanhos de uma forma que não caíssem em seu rosto e observou o espelho. Ela realmente tinha uma cara redonda. Suas bochechas esquentaram enquanto ela pensava aquilo, e Uraraka levou uma de suas mãos em seu rosto. Ficou com vergonha de algo, mas de quê, exatamente? Se lembrou do comentário nada amigável de seu colega de classe, e por alguns segundos cogitou em soltar os cabelos para que não ficasse com o rosto tão redondo assim.

Mas quem garantiria que ele iria no café novamente? Certamente Bakugou não tinha mais interesse algum em frequentar aquele lugar que sequer combinava com ele. Ele provavelmente lhe disse que voltaria apenas para desafia-la. É, provavelmente era aquilo. Uraraka inspirou profundamente a maior quantia de ar que conseguiu e o soltou com cuidado, tentando se acalmar e iniciar sua rotina de trabalho.

Retirou do forno uma bandeja com bolos quentinhos e admirou o quão bonito eles estavam. Desta vez a sua receita havia dado certo, ou pelo menos, parecia que sim. Deixar a massa pronta no congelador para que sua chefe apenas colocasse os bolos para assar parecia estar funcionando e mantendo a qualidade das coisas. Antes de coloca-los para exposição, andou até a cozinha para finalizar suas coberturas. Ganache de chocolate, chantilly e até mesmo creme de limão pareciam ótimas escolhas para seus respectivos bolos. Fitou o pacote de marshmallows fechados e se lembrou de Bakugou estraçalhando o produto. Cogitou em coloca-los, mas acabou não o fazendo, apenas deixando raspas de chocolate e em alguns bolos, raspas de limão.

Finalizou seus preciosos bolos e os levou para a vitrine onde ficavam em exposição para que os clientes pudessem escolher o que queriam. Pegou o pano de limpeza que ficava ao lado do balcão e encheu um balde com água, andando até as mesinhas e as limpando mais uma vez para se certificar de que tudo estava OK para que a cafeteria fosse aberta no turno da tarde, que era responsabilidade dela. Demorou alguns minutos nessa tarefa e assim que a concluiu mudou o lado da plaquinha que enfeitava a porta para “Aberto”. Suspirou e guardou os materiais de limpeza, lavando bem as mãos e abrindo um sorriso amigável enquanto ficava parada atrás do balcão esperando clientes.

Aquela tarefa era extremamente chata, porque quando chovia sequer haviam clientes. A tarde pareceu se arrastar lentamente, mais lento do que o usual, e Uraraka havia atendido no máximo cinco pessoas. Faltava uma hora para que seu expediente acabasse, e ela queria muito ir para casa terminar de ler um livro de suspense que estava consumindo todo o seu tempo.

Manteve seu sorriso alegre no rosto e seu telefone vibrou no bolso. Momo havia lhe enviado uma foto ao lado de Todoroki no cinema, em uma cidade perto dali. Uraraka quis muito responder “ricos”, mas seria um pouco indelicada com sua amiga então apenas digitou “diga a Todoroki que mandei um oi, pombinhos!”. Momo respondeu na mesma hora com uma figurinha indignada dizendo que eles não estavam namorando e apenas estavam em um passeio para adquirir conhecimento. No cinema, claro.

Uraraka riu e guardou o celular no bolso, levantando sua cabeça e soltando um leve resmungo ao ver quem entrava na cafeteria.

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— No celular de novo, cara redonda?! – O garoto de cabelos loiros abriu um sorriso não muito amigável e andou até o balcão, apoiando seus braços nele e ficando muito próximo de Uraraka. Ochako deu um passo para trás, envergonhada.

— Bakugou-kun. Posso ajudar? – Ela abriu um pequeno sorriso ao notar que o garoto tinha deixado um guarda-chuva com estampa de gatinhos perto da porta. — Belo guarda-chuva.

Ele cerrou os punhos e os bateu em cima do balcão, fazendo um “tch” irritado com a boca. — Cale a boca. Minha mãe pegou o meu sem me avisar, velha desgraçada. Aquele é o dela. Mas os gatos da estampa ainda são mais bonitos que o seu desenho. – Bakugou abriu um sorriso onde mostrava seus caninos e Ochako ficou surpresa, porque mesmo sendo uma provocação, pela primeira vez Bakugou parecia ter respondido sem raiva.

— Eu quero uma fatia do bolo de limão. Você disse que coisas amargas combinavam comigo, não é, cara redonda? – Ele cruzou os braços. — Vamos ver se você tem razão.

— Mas limão é azed...

— EU SEI, PORRA. Você entendeu. – Ele bufou e observou as opções de bebida que estavam em um quadro na parede atrás de Uraraka. — Me dá uma fatia desse treco e uma xícara de café.

— Sem açúcar? – Uraraka pegava o bolo para cortar um pedaço, enquanto fitava os olhos vermelhos de Bakugou que se estreitaram, lhe analisando.

— Você aprende rápido. Parabéns. – Ele fez um positivo com sua mão direita em tom de deboche. — O que você vai desenhar pra mim hoje? – Ele deu um pequeno riso e aquela cena fez com que Uraraka se indignasse, mas ao mesmo tempo, sorrisse também. Ela sabia que ele estava fazendo aquilo de propósito, mas aquele era Bakugou. Daquele jeitinho mesmo.

— O que você quer que eu desenhe, Bakugou-kun?

— Algo que não fique tão terrível quanto aquele gato.

Os olhos vermelhos ficaram analisando a garota que sorria alegre para ele como se ele tivesse contado uma piada, confuso. Ele estava provocando-a, não estava? Então porque Uraraka parecia estar se divertindo com aquilo? Seu semblante irritadiço habitual já estava em seu rosto, mas Ochako continuava com um pequeno riso escondido entre seus lábios cor de rosa. Ele deu as costas e andou até a mesma mesa que havia sentado no dia anterior, pegando seu celular e passeando pelas redes sociais sem muito interesse.

— Você é engraçado. – Uraraka disse enquanto depositava a xícara de café para ele, e então a fatia de bolo. Havia uma flor desenhada com calda de chocolate e Bakugou bateu palmas levemente, como se estivesse lhe parabenizando. — Parabéns, hoje eu consigo entender o que é. Uma flor, certo?

— Na verdade era pra ser um guarda-chuva...

— Caralho, cara redonda. Você se supera a cada dia. – O loiro pegou o garfo e cravou na torta de limão enquanto a garota curiosamente puxava a cadeira em sua frente, se sentando e observando-o. Seus olhos pareciam brilhar enquanto ele mastigava o recheio de mousse de limão, esperando uma aprovação, ou qualquer coisa. Bakugou fez uma reação irritada por estar sendo observado, e engoliu o pedaço.

— O que achou? – Ela comentou um pouco afobada, e Bakugou arqueou as sobrancelhas. Ele fitou as bochechas grandes dela e prestou atenção no cabelo castanho preso em um pequeno coque.

— Seu rosto realmente é redondo. – Ele comentou, enquanto tomava um gole do café. Seus olhos não pareciam estar muito amigáveis, mas Uraraka permanecia esperando a opinião do colega. — Eu gostei. – Bakugou disse, simples, e o sorriso de Ochako foi aumentando até estar de orelha a orelha. Ele sentiu suas bochechas esquentarem e desviou o olhar. — Mas não é nada demais! – Acrescentou rapidamente para que aquilo não soasse apenas como um elogio, porém não funcionou e Uraraka continuou sorrindo para ele. — Que foi, porra? Você quem fez?

— Sim! Fico feliz que tenha gostado. – Uraraka assentiu vitoriosa e alegre. Ela se levantou da cadeira para deixar com que Bakugou tivesse sua privacidade para terminar de comer e enquanto isso foi até o balcão atender uma mulher que queria comprar pão. Ficou observando o loiro com o canto dos olhos, interessada nele sem saber o motivo. Se observasse Katsuki bem, e excluísse o fator dele ser a pessoa mais rude do planeta terra, ele era bonito. Extremamente bonito. Enquanto Deku era fofo, Katsuki era bonito. Ele tinha uma aura de algo a mais que Uraraka não conseguia decifrar o que era. Corou ao cruzar o olhar com o dele e fitou o chão. Não deveria pensar daquela forma de seu próprio colega de aula.

A chuva estava forte o suficiente para que logo as ruas se tornassem uma piscina e ela lamentou porque não trouxe guarda-chuva, ignorando os avisos de sua mãe. Qual era a chance de chover dois dias seguidos?! Seu devaneio foi cortado quando Bakugou se posicionou na frente do caixa, com dinheiro para pagar.

— Ei, Bakugou-kun. Pode me dar uma carona até minha casa? S-se não for muito... – Ela respirou fundo após questionar seu colega aquilo. Era inofensivo o pedido de ajuda, não era? O garoto colocou as mãos no bolso do casaco leve que trajava, e demorou alguns segundos para responder. — Eu já vou ter que fechar o café, por favor só espere até eu lavar seu prato! Por favor!

Ele suspirou, dando-se por vencido e observando a chuva que caia rapidamente.

— Certo, cara redonda. Vê se não demora limpando essa porra. Tô com pressa. – Disse e apoiou o corpo no balcão de vidro enquanto Uraraka corria para todos os lados para deixar o local o suficientemente limpo para fechar.

Assim que ela terminou tudo, pegou sua mochila rosa e colocou nas costas. Bakugou já estava lhe esperando na frente do café, com um olhar impaciente.

— Desculpe a demora, Bakugou-kun! – Uraraka sorriu e correu até ele depois de fechar a porta. Ele não disse nada, apenas abriu o guarda-chuva com estampa de gatinho e andou pela rua. Ochako teve que se apressar para acompanhar o passo dele, mas logo o garoto pareceu ter notado aquilo e começou a caminhar mais devagar, para a surpresa dela que já estava com algumas gotas de água em seus ombros.

— Você iria se molhar se continuássemos naquele ritmo, Uraraka. Lenta demais. – Bakugou comentou e disse o nome da colega automaticamente, o que causou uma pequena surpresa para Ochako. Ela encostou mais o seu corpo pequeno ao do rapaz na tentativa de ficar embaixo do guarda-chuva e protegida da água, e segundos depois ambos estavam com os rostos vermelhos.

— Até que você é um cara legal. Eu acho que entendo Kaminari agora. – Uraraka disse, com uma simplicidade na voz assustadora. Bakugou mordeu os lábios, tentando conter sua raiva. — O que aquele retardado disse? – Não conseguiu controlar completamente. Impossível. Kaminari era um idiota.

— Nada, ele só disse que você não é tão ruim quanto parece. Acho que concordo com ele. – Os olhos castanhos se fixaram nos vermelhos e Uraraka jurou que viu o rosto de Bakugou ficar do mesmo tom antes dele virar o rosto para o chão e observar os canteiros da calçada.

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Chegaram em frente aos portões da casa da garota e ela deu uma leve risadinha ao perceber que Bakugou não tinha notado aquilo, porque continuava se movendo, fitando o chão irritado.

— Obrigada! – Ochako puxou a mão de Bakugou para que ele parasse e então o garoto a fitou, irritadiço. A mão de Katsuki estava gelada e ele parecia estar suando frio. Porque diabos estava daquele jeito só por estar ao lado de uma garota?!

Enquanto Uraraka subia os degraus que levavam até a porta de sua casa, Bakugou esperava impacientemente sobre o poste que iluminava a rua já escurecida.

— Espero te ver amanhã, Bakugou-kun! Vou desenhar de novo pra você! – Ela acenou alegre para ele e Bakugou sentiu seu coração falhar uma batida. Segurou o guarda-chuva com força o suficiente para quebra-lo e seu olhar surpreso ao analisar a frase de sua colega foi tudo o que Uraraka precisava para ficar vermelha como um tomate e entrar dentro de sua casa com rapidez.

— Que porra é essa, cara redonda?! – Ele comentou para si mesmo como se ela conseguisse ouvir. A última coisa que Bakugou esperava era que Ochako gostasse de sua companhia.