Flores e Morte

Prólogo


A voz de Deméter era alta e estrondosa, enquanto abraçava desesperadamente a filha Perséfone, que ainda segurava um romã em suas mãos. Hades a olhava com receio, tentando defender-se inutilmente, já que a mais velha parecia persistir em seu ponto de vista. Zeus assistia a cena calado, com a mão direita segurando o queixo firmemente.

— Você é um monstro! Como pôde prender a minha filha a esse lugar horrível e sombrio? — berrou, silenciando Perséfone que tentava ter voz ativa.

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O deus do submundo franziu o cenho e novamente tentou falar.

— Nenhum deus é suficiente para a minha Koré. Se você tomá-la será como uma seca imensa, matando-a lentamente até sobrar apenas resíduos. É isso que você quer?

Perséfone parece incomodada com tudo isso e se afasta brutalmente dos braços da mãe, chamando a sua atenção, para então retirar a coroa de flores da sua cabeça, jogando-a no chão até levantar o rosto e revelar lágrimas.

— Chega, vocês dois! — berrou em meio às lágrimas.

Deméter olha com um semblante dolorido para a garota, ainda com os braços estendidos esperando o encaixe do corpo da filha. Hades não parece surpreso e cruza os braços, esperando a nova fala da amada.

— Eu não quero escolher entre vocês, mamãe. Eu preciso de Hades e preciso de você em minha vida. Sempre estive presa lá em cima, nunca podendo conhecer outro lugar. Aqui eu tenho uma chance de me conhecer e explorar outros limites.

A mãe da deusa abaixou a cabeça e também adotou uma expressão de choro.

— Eu sempre fiz de tudo para te proteger… — ela aponta para Zeus e Hades. — Eles não nos respeitam, criança. Somos apenas diversão.

Perséfone nega com a cabeça e se aproxima de Hades, o abraçando.

— Eu o amo, mamãe. E tenho certeza que ele sente o mesmo por mim.

Hades deposita um beijo em sua testa e segura sua cintura de maneira protetora.

— Com toda certeza.

— Você vai embora comigo agora, Koré! — Deméter olha para Zeus com fúria. — Ande logo com isso, Zeus! Diga a esse monstro que ela retorna comigo.

Zeus parece entediado com toda aquela cena e se prepara para falar, porém uma risada ecoa pelo submundo, apagando as velas presentes no recinto para em seguida acendê-las com chamas rosas. A silhueta de uma mulher esbelta aparece, revelando-se como Afrodite um segundo depois. Os cabelos longos tinham um tom loiro e estavam soltos em ondulações que lembravam as ondas do mar. Atrás de si, um garoto seminu- com apenas uma tanga cobrindo suas partes- segurava um arco e parecia contente.

— Ainda não tomou sua decisão, Zeus? — a bela deusa perguntou, chegando perto do rei do Olimpo.

— Você sabe que não, Afrodite, ou não teria feito essa entrada totalmente desnecessária e dramática. — a resposta vem desinteressada, criando uma reação carente em Afrodite, que caminha e afaga sua barba.

— Acho que alguém está precisando de um pouco de diversão… — fez uma pausa enquanto passava a mão por seu ombro, apertando-o firmemente. — E isso eu consigo nesse momento.

Eros também se aproxima, olhando curiosamente para o casal que permaneceu unido em meio a reviravolta. O deus do céu olha para a filha de Urano, esperando que ela prossiga.

— Já que vocês estão tão interessados eu vou dar uma resposta. Eros, querido da mamãe, pode contar aos presentes o seu feito grandioso naquele dia ensolarado.

A postura de Hades se torna rígida, contudo não solta a amada, olhando atentamente para o cupido. Sua boca entreaberta e olhos confusos preocupam a donzela ao seu lado. Eros apoia o arco no chão e se espreguiça, puxando do bolso a ponta de uma flecha.

— Eu e mamãe estávamos sentados observando Perséfone colher algumas flores, mas então Hades apareceu e seu caminho cruzaria-se com o dela. Eram duas almas com um potencial alto de amor, mas ambos enfrentam alguns obstáculos que os mantém presos em suas cascas. O coração de Hades é sombrio e gelado. O de Perséfone é devoto a mãe e segue o mesmo caminho que nossas deusas donzelas. Eu, como cupido, não pude deixar essas almas ficarem uma sem a outra. Então eu agi em Hades, que caiu nos encantos de sua filha. — enquanto narrava os fatos, deslizou a mão pela ponta da flecha, dando a todos a visão do ocorrido. Quando a projeção acabou, ele devolveu a peça para o bolso.

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Perséfone se separou de Hades, com a cabeça baixas e mãos tremendo. Ela olhou para a mãe e para Eros.

— Como você pôde? — a voz do deusa foi alta e precisa. — Não se pode brincar com o sentimento das pessoas!

O seu amado tentou caminhar em sua direção, entretanto ela recusou o afago e foi para perto da mãe.

— Eu te disse, querida. — a voz de Deméter a consolou. — Eles não têm respeito nenhum com as mulheres.

Hades parecia possesso de raiva e tentou atacar Eros, que apenas se escondeu atrás de Afrodite.

— O que eu sinto por Perséfone é verdadeiro e mais forte que a sua flecha. — ele olhou para a figura da donzela. — Você sabe que eu te amo.

Zeus rolou os olhos e suspirou fundo.

— Já resolvemos o problema, não é? A garota pode voltar com a mãe.

A aura sombria de Hades começa a se manifestar e seus olhos ficam negros.

— Não!

As chamas das velas adotam um tom negro e o ambiente fica escuro.

— Vocês ainda não entenderam que eu tenho um jeito mais divertido para resolver esse pequeno feito do meu filho? — ela caminhou pelas pessoas e assistiu Hades se acalmar lentamente, para ouvir sua solução. — Todos sabem que Morfeu é muito bom com sonhos e agora pode até criar alguns interativos que imitam perfeitamente nossas escolhas. Podemos colocar nossos amados pombinhos em um. Lá, suas personalidades alternativas terão a chance de se apaixonaram… — um risinho. — ou não.

O deus do submundo tentou se aproximar novamente de Perséfone, ainda sem sucesso.

— Não preciso de um sonho para saber que te amo. — sua voz parecia um pouco amedrontada, machucada e fragilizada.

Perséfone secou as próprias lágrimas.

— Mas eu preciso. Se eu ficar com você agora, nunca vou saber se o que sente por mim é real ou uma ilusão de Eros. — sua voz parecia decidida.

Deméter aproveitou o momento para ter a filha novamente em seus braços.

— Se eles não se apaixonarem, ela volta comigo e terá as memórias apagadas! Não vou deixar esse monstro continuar na mente e coração da minha filha.

— Feito! — Afrodite bateu palmas. — Eu adoro aventuras românticas!

Perséfone olhou para Hades e deixou que ele se aproximasse. Com os dedos trêmulos, tocou suas bochechas e selou seus lábios por alguns segundos.

— Por favor, continue me amando.

— Você não tem que fazer…

— Eu aceito.

E tudo escureceu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.